A Biblioteca escrita por Amber Brownie


Capítulo 5
Peças Que Começam a Se Mover


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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[...]

Oliver fitou o pássaro de papel mexendo lentamente sobre a sua mão e assustou-se. Os espelhos o confundiam brilhando ansiosos e determinados a explorar o sabor de sangue fresco e ainda intacto. Tremeu internamente pensando o quanto o banheiro de espelhos o afetava e ignorando mais um movimento do origami saiu, receoso e desconfiado em direção a sala da lareira. Lá era o único lugar onde podia pensar com clareza.

Enquanto andava, lutava contra si mesmo para não prestar atenção no caminho silencioso que o pássaro traçava girando lentamente como os ponteiros de uma bússola. Estava na entrada da sala da lareira quando fitou o pequeno papel dobrado.

Espere, uma bússola!?

O pássaro estava parado, seu bico perfeitamente fino apontando para um corredor longo e escuro que Oliver ainda não passara. O rapaz virou para o lado e o pássaro se mexeu mais uma vez, novamente apontando para o mesmo corredor.

Franzindo as sobrancelhas sentiu seu instinto voltar a se rebelar contra sua mente. Precisava voltar e ficar na sala da lareira, pensar calma e friamente lhe daria um resultado melhor do que se levar por sua curiosidade. O rapaz fitou indeciso a sala da lareira e em seguida o corredor mal-iluminado, que seduzia sua curiosidade a explorá-lo.

Sua curiosidade explodiu, inquieta e seduzida pelo mistério obscuro que o pássaro apontava. Quem seria Lionel? O que a garota tinha que entregar à ele? Agora sabia que existiam cinco pessoas ali além dele, haveriam mais? Seria a biblioteca tão grande e cheia de outros mistérios além desse?

Oliver piscou e fitou o pássaro. As palavras da garota ecoaram em sua mente de forma distante tentando alcançá-lo em meio a sua batalha mental.

"Eu preciso entregar algo para Lionel"

Isso queria dizer que esse "algo" devia ser a causa dos três homens estarem atrás dela, apesar de que Oliver não tinha a mínima ideia do que seria isso. Provavelmente, algo valioso... Não, algo que poderia ser útil neste lugar. Sim, isso fazia mais sentido.

Ela entregou para ele?

"Garota esperta" ecoou sua consciência sorrindo de lado.

Ela queria que ele entregasse, porque seria pega. Infelizmente a consciência de Oliver riu dele, afinal ele havia se escondido quando poderia ter ajudado. Ou talvez ela quis que fosse assim. Oliver balançou a cabeça tentando dissipar seus pensamentos.

Tentou, suavemente com a ponta dos dedos, levantar o pássaro de papel e ver o que tinha embaixo. Realmente, havia algo parecido com uma bússola, apesar de muito pequena era perfeitamente redonda, se encaixava no papel, presa com uma gosma amarelada de uma forma que não podia ser tirada sem destruir o origami.

O pescoço do pássaro estava servindo como uma extensão da agulha da bússola.

Aquela garota provavelmente tinha construído a minúscula bússola ali dentro. Oliver arregalou os olhos espantado, será que  haviam livros que ensinavam como fazer? Enquanto colocava o origami novamente em sua mão, ponderou que dessa vez poderia fazer algo.

O pássaro continuava a espera, quando Oliver virou na direção indicada, mesmo que um pouco temeroso fitando a corredor de aspecto envelhecido e mal-iluminado por falta de muitas tochas. Decidido, pegou uma que havia em frente a sala da lareira, guardando o livro em uma bolsa improvisada e colocando-a para trás com o pássaro em uma mão e a tocha em outra.

E começou a andar pelo longo e sombrio corredor deixando ser guiado pelo pássaro.

[...]

Já haviam se passado 3.297 passos desde que Oliver havia saído da frente da sala da lareira. Não havia noção de tempo-espaço nesse lugar, portanto tudo que pudesse fazê-lo ter essa ilusão já era bom o bastante.

Andar também estava o distraindo, mesmo que não tivesse a mínima ideia de onde chegaria ele já mapeara o longo corredor a cada cem passos. Estava se sentindo cansado e com fome, mas não havia comida. A cada cem passos ele se sentava no chão para descansar e abria as páginas finais do livro para mapear o caminho.

3.298...

A sonolência confundia sua contagem e ele sabia que devia continuar andando, pois o único lugar seguro para dormir era a sala da lareira. Estava cambaleando, mas se mantinha em pé. Não podia ser pego ou morto, não quando achava que poderia fazer algo dessa vez.

3.299...

Só mais um passo...

3.300...

Oliver desabou, começando a achar que cem passos eram muito, mas ao mesmo tempo pouco para o corredor que parecia não ter fim. Pelo menos, o exercício estava espantando o frio, pensava enquanto enxugava a testa molhada de suor e tentava amenizar a respiração entrecortada.

Suas pernas pareciam ter sido cortadas ao meio enquanto sentia o coração bombeando sangue de forma urgente como se fosse um peixe fora d'água e estivesse contorcendo-se para continuar vivo. Ele juntou as poucas forças que tinha e as puxou contra seu corpo, sentado embaixo de um suporte para tochas, onde havia colocado a tocha que carregava.

Não...!

Tentava gritar seu instinto, fraco demais para fazer o corpo o escutar. Seus sentidos estava sobrecarregados e queriam descanso. Um longo e despreocupado. Sua mente desligou-se e o corpo começou a ceder, lentamente... Caindo um um lago grande e profundo de calmaria.

A respiração se tranquilizou e o corpo entrou em um estado leve de dormência. Como resistir a si mesmo, quando seu corpo não respondia a nenhum dos seus comandos?

Então Oliver ouviu passos que vinham a sua direção, eles pareciam tão amedrontados e receosos quanto ele, preso dentro do próprio corpo sem conseguir se mover. Era quase como se virasse pedra, pouco a pouco. O tempo parecia não ter pressa.

Ainda lutando contra a vontade de fechar os olhos que piscavam tontos, tentando inutilmente focar quem se aproximava, sentiu que algo o puxava para o lado e, logo, para cima. Ele se deixou ceder ao peso das pálpebras, cerrando os olhos cansados e adormeceu, sentindo seu corpo ser levado à um lugar desconhecido.

Talvez à morte...

[...]

...Ou não.

Foi o que Oliver pensou quando reabriu os olhos, ainda tonto e cansado. Apoiou-se na palma da mão esquerda, ficando sentado e olhou ao redor, atordoado com a intensidade de luz. Estava acostumado com a constante penumbra das tochas. O último flash de memória que tinha era de que havia encontrado uma garota com uma capa vermelho sangue quando fazia o mapeamento da biblioteca e decidira seguir o caminho do estranho pássaro que ela lhe dera.

Levantou-se com urgência e procurou pelo pássaro, não podia tê-lo perdido, mesmo que soubesse como voltar para a sala da lareira pelo mapa se sentiria ainda mais inútil. Então, finalmente ele percebeu que não estava mais no corredor.

Não saberia como voltar para a sala da lareira quando não tinha a mínima ideia de como chegara ali.

Era uma sala parecida com a da lareira, mas havia muito mais estantes com livros e ela parecia muito menor. O fato de ter mais tochas e ser redonda como um cilindro deixava o recinto mais iluminado do que o que estava acostumado, isso incomodava.

De repente, desejou ter uma capa para se esconder da claridade. Entretanto, ali era muito mais quente e confortável. Poderia dizer que usá-lo como dormitório era ideal, se não fossem as tochas, é claro.

Oliver ouviu passos na escada e automaticamente virou o rosto para observar os rostos estranhos que o recebiam com desconfiança e uma leve surpresa.

Oh, ele acordou – murmurou uma garota de cabelos negros cacheados, atrás de três pessoas, todas com capas pretas, que o fitaram imediatamente. Entre as três haviam dois homens, um com o cabelo loiro preso o brilho ofuscado pelo capuz, lhe dava um ar mais velho do que aparentava. Suas sobrancelhas grossas estavam unidas em uma linha em cima dos olhos escuros, puxados com olheiras.

O outro usava óculos perfeitamente redondos, escondendo parcialmente os olhos castanho escuro como madeira polida, totalmente pacíficos. Ao lado deles havia outra garota que se locomovia de um jeito curioso como se suas pernas se movessem, mas ele tinha noção de que não podiam. Atordoado, Oliver piscou evitando pensar para que sua curiosidade não se manifestasse. Seu olhar pousou no pássaro de papel que agora vira perto da sua bolsa, mas longe de si.

– Quem é você? – perguntou o loiro, fazendo todos concentrarem sua atenção em Oliver, isso o deixou um pouco desconfortável.

Oliver, meu nome é Oliver... E você é...?

Oliver esperou, paciente, porém esperando que ele rejeitasse a pergunta como a garota da capa vermelho-sangue. Mas, ele não o fez.

Lionel. Há algo que preciso que me responda, Oliver. Diga-me a verdade.

Franzindo o cenho, Oliver estranhou o pedido e hesitante apenas assentiu mantendo seus olhos fixos no semblante de Lionel, Lionel... a garota tinha mencionado aquele nome, antes de ser pega.

Quem lhe deu isso?

Ele apontou para o pássaro de papel que Oliver reconheceu ao piscar, estava repousando em cima de uma mesa empoeirada com livros, seu longo pescoço de papel antigo parado.

Uma garota... retrucou Oliver aparentemente calmo, mas confuso pela surpresa do grupo que o fitava ansioso por mais  Ela tinha... Uma capa vermelha.

Você encontrou Vivian? perguntou Lionel, desconfiado e surpreso. Finalmente agora a garota tinha um nome, mas pela expressão de breve alívio e nova tensão parecia não havia voltado. Sua consciência zombou dele, novamente.

"Não, você deixou que ela fosse pega, seja o que for que ela tenha feito"

O rapaz ignorou a voz e observou atento as reações das quatro pessoas no recinto. Apesar de surpresas elas pareciam ponderar entre si em silêncio, como se comunicassem somente pelos olhos. Até que  o homem ao lado de Lionel falou.

E aonde ela está?

A resposta que estava na ponta da língua de Oliver, hesitou debatendo-se e ameaçando sair, porém ele a segurou um pouco a contra gosto. Lionel o olhou parecendo enraivecido como se houvesse lido nos pensamentos a muda resposta de Oliver.

Você a abandonou? – rugiu como um trovão a voz de Lionel. Ele mencionou ir em direção ao rapaz de cabelos castanhos, mas o homem de óculos o impediu com o braço esquerdo.

Acalme-se Lionel. Tenho certeza de que Vivian deve estar bem, você a conhece – dizendo isso os dois sustentaram o olhar por alguns segundos e Lionel bufou concordando, mas pareceu que as rugas de seu rosto se atenuaram e o homem continuou, calmamente agora fitando Oliver – Além disso, se ela o entregou o pássaro ele não deve ser como eles. Sabe me dizer há quanto tempo está aqui?

Acho que quase dois meses – retrucou Oliver inseguro.

Como ele previra, o homem se adiantara a ele, ele via clara como água a próxima pergunta que ele lhe faria.

Que método usa para ter certeza?

Oliver viu que não sabia explicar, sabendo provavelmente que tropeçaria nas palavras ou pior, mas revolveu responder.

Uso o tempo que durmo como noite e o de dia quando estou acordado.

– Interessante – murmurou o homem arrumando pensativo, talvez  um movimento automático, os óculos que deslizavam com mais lerdeza que o normal pelo longo nariz ossudo.

Mas, não é totalmente eficiente, não é Arthur? – perguntou Lionel, ácido, procurando algum motivo para poder enfrentá-lo. Oliver também rebateu o olhar, ambos quase soltando faíscas pelos olhos.

Porém, Arthur como sem perceber o clima tenso que se instalara entre os dois rapazes com seus óculos redondos comentou pensativo sendo fitado pelas garotas que continuavam em silêncio.

Sim, o trabalho de Vivian é impressionante, mas temo que deveríamos buscá-la. Penso que, se não voltou até este momento é o que devemos fazer.

Devo chamar os outros, Arthur? – indagou a garota de cabelos castanhos longos e lisos, com feições muito jovens para ser uma mulher, que não havia falado até então o tom de sua voz parecia ansiosa, como se esperasse muito que aquilo acontecesse seu semblante parecia irradiar de uma euforia contida.

Não será necessário, Helena. Acho que nós quatro apenas deve ser o suficiente.

O semblante radiante de ansiosidade de Helena morreu no instante que Arthur dissera "nós quatro". Oliver ficou um pouco curioso em saber o porquê. Estava claro que iriam os dois homens, Artur e... Lionel. Seu cenho voltou a franzir quando o nome do rapaz de cabelos quase prateados veio a mente. Ignorando a crescente fúria a curiosidade atenuou-se. Quem seriam os outros?

Ele vai com vocês e eu não, não é? É isso que quer dizer – Helena pareceu cuspir as palavras com raiva e mágoa, mas a expressão de Arthur continuava a mesma, serena e tranquila como se estivesse discutindo com uma criança emburrada à sua frente.

Sim, e você sabe o porquê, quantas vezes já não o falamos?

A mente de Oliver estalou, é claro que ele iria junto nem deveria estar surpreso por isso. Pensou por um momento que poderia voltar à solidão do crepitar do fogo na sala da lareira, procurando uma saída daquele lugar ou mapeando dos cômodos da biblioteca para diminuir sua contante curiosidade.

Helena então assentiu e saiu do recinto bufando, seus cabelos lisos esvoaçaram levemente enquanto descia as escadas, o som de seus pseudo-passos sumindo após os ecos se espalharem rebatendo-se contra si mesmos pelo lugar dando uma leve sensação de tontura em Oliver. Ele apenas pegou sua bolsa e se pôs de pé, esperando. Parecia que a quarta pessoa referida era a garota de cabelos cacheados que tinha a mesma aura de tranquilidade de Arthur.

Bom, precisamos nos apressar – dissera ela e saiu da sala, a capa negra maior do que ela a fazia parecer minúscula nas sombras do topo da escada, Lionel mencionou a seguir relutante, mas foi só um gesto rápido de Arthur e ele desapareceu tão rápido quanto um trovão.

Talvez precise disso – Arthur lhe estendeu uma capa negra como a dos outros e Oliver aceitou sem questionar. O tecido grosso era pesado, mas achou que deveria ficar confortável no frio dos corredores. Porém, seus pensamentos seguiam por uma linha desconfiada enquanto ele fitava o sobretudo.

Porque eu estou indo com vocês?

Oliver sabia que a resposta poderia ser óbvia, mas precisava saber. Arthur sorriu como se divertisse.

Bom, acho que você não tem muita escolha.

Como previsto ele se esquivara. Como Vivan. Decidiu não perguntar mais, e teve que controlar-se ao máximo quando, guiado por Arthur, eles passaram por uma sala enorme com longas mesas de madeira brilhando límpidas como a luz da lua refletida na água. Haviam mais pessoas ali, observando curiosas o estranho que acompanhava o homem esguio se sentindo menor do que o normal.

Repentinamente, Oliver estava sentindo uma sensação estranha como se ele fosse um prisioneiro agora e lamentou internamente se isso fosse mesmo verdade. Por algum motivo, os três estavam preocupados com a garota da capa vermelha, Vivian. E ele ainda não tinha ideia se tinha feito a coisa certa. O pássaro parecia ser importante, porém a peça principal ao observar as reações dos três era Vivian.

Sua mente estava muito ocupada pensando nisso e no que eles poderiam fazer com ele, afinal ele não tinha mesmo muita chance, eles eram três contra um. Também não era impossível, ponderou Oliver fitando os três caminhado pelo corredor. Arquitetar um plano para distraí-los e sumir na parte que ele conhecia da biblioteca seria fácil.

No entanto, ainda estava curioso.

Sobre a garota, o pássaro e os demais. Duas cabeças pensam melhor do que uma, diziam. Será que eles tinham descoberto como sair da biblioteca? Por essa única razão, ele não fugiu imaginando se não se arrependeria mais tarde quando a chance tivera sido desperdiçada.

Eles passaram pelo lado de trás da sala da lareira e Oliver ficou tentado a voltar lá, mas manteve-se seguindo os três que olhavam a todo instante para os lados como se esperassem um ataque a qualquer momento. Um grito ecoou pelos corredores e todos pularam assustados procurando de onde vinha o som.

Algo havia ecoado novamente tão forte quando um urro, mas Oliver não sabia distinguir se era apenas outro grito ou rugido, descartou a ideia imediatamente balançando a cabeça, o som parecia tão difuso chocando-se contra as paredes deixando os quatro tontos, sem direção como se estivessem encurralados sem saber o que deviam fazer.

O que Oliver viu quando virou o rosto, automaticamente, procurando de onde vinha o som do novo rugido o paralisou e ele arregalou os olhos em choque.

um imenso dragão rugiu enraivecido e cuspindo fogo na direção do grupo.

[...]


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Notas finais do capítulo

Bom, aí está! Mais tarde do que nunca! xD Talvez... Cada vez mais confuso? Ok, ok, no próximo teremos uma breve explicação, mas o mistério vai continuar um pouco... já que o próximo tem mais ação!

Talvez o próximo demore um pouco mais mesmo que eu já tenha a história praticamente feita na minha mente não estou tendo muita inspiração e isso complica um bocado x_x

Então, peço logo desculpas se demorar muito a postar o próximo capítulo! Deixem comentários do que acharam desse capítulo! Beijos e até o próximo!