–O que eu faço agora?- perguntou-me Jake. Ele parecia não saber se ficava feliz ou assustado.

–Como assim, o que você faz? Ela mandou você ir até a Casa Grande!- respondi, levantando-me- Vá até lá.

–Eu sei, mas... Pode ir comigo?

Franzi as sobrancelhas, mas concordei.

–Humm, claro, eu preciso falar com o Quíron sobre... Esqueça.

–Nós vamos com vocês- disse Dylan, que também já ia se por de pé.

–Não, é melhor vocês ficarem- falei- Nos vemos depois, okay?

Sem esperar nenhuma resposta, Jake e eu corremos até a construção principal do Acampamento.

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Rachel, o Oráculo, já estava lá quando chegamos, juntamente com um Quíron muito preocupado e uma Perséfone extremamente irritada.

–Estamos aqui- anunciei enquanto adentrávamos o escritório do diretor de atividades, que encontrava-se em sua forma humana, sentado em uma cadeira de rodas.

–Sim, certo- disse o homem- Rachel, poderia levar Jake até o...

Parece que nunca saberíamos para onde Jake deveria ser levado, pois os olhos da mulher ruiva escureceram e a sala foi preenchida de uma fumaça esverdeada.

–Eu deveria sair?- perguntei, já caminhando em direção à porta.

–Não!- murmurou Quíron sem tirar os olhos de Rachel- Delfos quis assim, é melhor esperarmos.

A espera não foi longa. Em menos de um minuto, nossa profecia estava feita:

Seis Meio-Sangues em uma jornada partirão

Duas vezes no Mundo Inferior se encontrarão

Com uma ajuda inesperada os onze trabalhos irão realizar

E a perda de um irmão terão de superar.

O que Parcas era aquilo? Era uma profecia praticamente inútil! Não dizia o que estava acontecendo, o que teríamos que fazer, nem mesmo para onde deveríamos ir!

–Tem alguma coisa errada!- exclamei- Seis semideuses em uma missão?

Quíron pareceu pensar por alguns instantes, grudando seus olhos cansados no chão de madeira.

–Humm, eu vou explicar tudo, apenas... Apenas vão até seus chalés e arrumem as mochilas. Teremos uma longa noite.

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Escancarei a porta do chalé e adentrei-o com pressa. Tirei minha mochila especial de dentro do baú-guarda-roupas e comecei a colocar lá dentro tudo o que achei ser necessário: Todos os meus dracmas e também meu dinheiro bruxo, uma camiseta laranja do Acampamento, ataduras, um livro de feitiços de cura que eu comprara em minha última visita ao Beco Diagonal, minha vassoura voadora (Constance havia me ajudado a por um feitiço indetectável de extensão na mochila) e outro livro, de Mitologia Grega, que era sempre útil nesse tipo de missão. Também peguei, de baixo de minha cama, meu florete e minha nova bainha, igualmente adquirida no Beco Diagonal, que além de ter um lugar para acomodar a espada, também tinha espaço para a varinha.

–Já pegou tudo?- perguntou uma voz vinda da porta.

–Dylan? Daniel? O que estão fazendo aqui?

–Fomos ver se vocês já tinham a profecia, e Quíron mandou que viéssemos pegar nossas coisas também- respondeu Dan.

Meus dois irão pegaram rapidamente algumas coisas e retornamos até a Casa Grande, onde todos já se reuniam. Ficamos de pé, lado-a-lado, esperando as explicações de Quíron e de Sr. D, que acabara de se juntar ao grupo.

–Afinal, o que foi dessa vez?- apressou Tanner.

–O que foi dessa vez, Filho da Guerra?- perguntou desconsolada a deusa da Primavera. Era impressão minha ou seus olhos estavam cheios de lágrimas?- Aquele maldito Deus, Dárion, roubou meu Narciso de Prata!

Ficamos em silêncio por alguns instantes até eu tomar coragem para perguntar:

–E isso seria...?

Perséfone bufou, desaprovando minha ignorância.

–Essa é a sua heroína, Quíron?- indagou ela.

–Acho que até aquele Peter Johnson era mais inteligente- murmurou Dionísio enquanto sacudia a cabeça cabeluda de um lado para outro.

Quíron lançou-me um olhar, dizendo-me par não levar em consideração os comentários dos dois deuses.

–Rose- começou, como sempre, a contar a história desde o início- Sabe que quando Hades raptou Perséfone para força-la a casar-se com ele, ela estava colhendo flores com as irmãs, Atena e Ártemis?

–Sim- respondi brevemente, tentando me lembrar do mito- E daí?

–Acho que é importante você saber que, quando Perséfone caiu no buraco negro aberto por Hades, ela tentou agarrar-se em algo, qualquer coisa, e acabou arrancando um narciso da terra e o levando para o Mundo Inferior. Chegando lá, Hades fez de tudo para cortejá-la e, vendo a flor em sua mão, tomou-o dela e transformou-o em prata pura. O Narciso de Prata virou, então, o símbolo dela, mas tem muito mais por trás disso.

–Como sabe, Hades é o Deus dos Mortos, portanto, não pode simplesmente transformar flores em metais preciosos, está fora de sua esfera de poder. Mas ele estava tão apaixonado que, por um instante, isso se tornou possível. Aquele simples narciso está impregnado com paixão, e isso é mais perigoso do que parece.

–Acho que entendo a história- falei- Mas não sei o que quer dizer com “perigoso”.

–Você é uma bruxa, já estudou Harry Potter, sim?

–Claro que já.

–Então deve saber que ele sobreviveu à, não uma, mas duas maldições da morte. Por quê?

–Porque na noite em que seus pais foram assassinados, sua mãe o protegeu com...- a verdade atingiu-me em cheio- Amor.

–Exato. Os outros deuses odeiam admitir, mas a esfera de poder de Afrodite é, e sempre será, a mais poderosa do mundo. Harry Potter sobreviveu por causa do amor de sua mãe, e Voldemort foi derrotado, pois nunca conheceria tal força. E aquele narciso... Ele foi feito do amor que Hades sente por Perséfone, e você nem quer saber o que vai acontecer se Dárion beber do chá produzido a partir dele.

–Ele seria indestrutível?- perguntei, mas já sabia a resposta.

–Totalmente. Completamente invulnerável.

–Mais ou menos como um mergulho no Estige?- manifestou-se Jake- Sabe, com direito à pele de aço e tudo o mais?

–Sim- respondeu o Centauro- Porém com uma vantagem: Sem ponto fraco. Sem Calcanhar de Aquiles.

–Ele não pode conseguir amor por conta própria, então tem que tomar dos outros?- murmurei, mais para mim mesa do que para os outros.

A ideia de beber um chá feito de uma espécie de flor do amor só pelo poder parecia ridícula para mim, e eu não sou exatamente romântica, sou?

–E o que vamos fazer?- perguntou Joonie- A maior missão que já enviamos foi com cinco pessoas, e mesmo assim voltaram só três! E olha que nem eram todos meio-sangues.

–Eu sei por que Delfos faria isso- disse Rachel. Ela não enrolou, nem esperou que ninguém perguntasse nada, apenas foi direto ao ponto- Vamos dividir os seis em duas equipes, uma liderada pelo Jake, outra pela Rose. Pelo o que entendi dessa profecia, vai ser pior do que parece.

–Eu estava pensando exatamente nisso- disse Quíron- Dividam os times como quiserem, escolhendo duas pessoas cada um.

Olhei para Jake e forcei um sorriso.

–Vá em frente, capitão! Você primeiro.

Ele examinou os rostos de nossos amigos por alguns minutos. Eu sabia como era difícil escolher alguém, já que não quer que ninguém saia ferido, mas isso é praticamente impossível.

–Daniel, Joonie, vocês vêm comigo- falou ele, confiante de suas escolhas, então olhou para mim e deu de ombros- Como se alguém fosse separar o casalzinho.

Era verdade, é claro. Mas, de qualquer forma, acho que foram boas escolhas. Joonie era ótima em localização, e ninguém esperto chegaria perto dela enquanto estivesse segurando uma adaga, e Daniel era o chefe dos curandeiros, e um ótimo arqueiro.

Era minha vez agora, e eu até já sabia quem escolher.

–Dylan, você está dentro, e...- hesitei por um momento antes de chama-lo- Adams, você também.

–Tudo bem- suspirou Leona, parecendo um pouco ofendida- Vou tentar não levar para o lado pessoal o fato de que meu irmão mais novo ganhou uma missão antes de mim, e que nem vai me incluir na equipe.

Jake andou até a irmã e a abraçou.

–Lena, eu adoraria ter você na equipe, mas você ouviu a profecia: A perda de um irmão terão de superar! Você não vai de jeito nenhum!

A realidade me atingiu com tanta rapidez que tive a sensação de ser esbofeteada no rosto.

–Dan, Dylan, vocês estão fora- falei, sem pensar por um segundo sequer.

Os dois me olharam como se não acreditassem em seus ouvidos.

–O que?- perguntaram juntos.

–Vocês me ouviram! Estão fora, completamente fora!

–Eu não sei se você percebeu, maninha- disse Dylan- Mas somos mais velhos e decidimos o que podemos e o que não podemos fazer.

–E eu não sei se vocês perceberam- contrapus- Que eu sou mais experiente e que sou uma das líderes dessa missão. Ouviram a profecia, não vou deixar vocês irem!

–Rose, nós sabemos nos cuidar- Daniel aproximou-se de mim e se abaixou até ficar da minha altura- E essa profecia pode significar qualquer coisa!

–Vocês não entendem! Não entendem que já foi doloroso o suficiente perder uma pessoa que eu mal conhecia? Não entendem que tenho pesadelos com Tyler todas as noites, e o quanto mais doloroso seria perder um de vocês?

Meu lábio inferior começara a tremer só por essas palavras. Eles não iriam naquela missão, não importava o que eu tivesse que fazer!

–Sim, eu entendo isso- disse-me ele- Mas eu estou indo mesmo assim. Vamos ficar bem.

–Vocês NÃO—

–Sim, nós vamos, Melrose, não importa o que você diga! Nós vamos ir.

Tomei o suspiro mais longo de minha vida e assenti.

–Certo. Mas se você morrer, a culpa vai ser totalmente sua, Garcia! Estou avisando.

–Vou assumir o risco- sorriu ele, dando de ombros e bagunçando meu cabelo.

–Só tem uma coisa que eu não entendo, Quíron- disse Joonie- Somos duas equipes. Vamos sair em missões diferentes?

–Não, Joonie. É a mesma missão, mas Rachel e eu estamos prevendo que terão que se dividir em alguns pontos da jornada. Não em todos, só para realizar algumas tarefas...

–Tudo bem!- exclamou Sr. D- Então é isso. Uma missão para Rory Lancaster, Jason Henderson, Judy Jensen, David Garcia, Travor Abbot e Derek Root- preciso dizer que reviramos os olhos quando ele disse isso?- Vamos logo, Quíron, diga logo o que eles terão de fazer!

O Diretor soltou um longo suspiro antes de anunciar:

–Vocês irão realizar os doze trabalhos de Hércules.

A menção dessas palavras, senti um puxão atrás do umbigo e o mundo todo à nossa volta virou fumaça.