O Deus Sem Nome e o Narciso De Prata escrita por Luiza


Capítulo 18
Sofro de uma divina dor nas costas


Notas iniciais do capítulo

Falei que eu ia voltar, né? Aí está o capítulo, beeem grande, eu espero que vocês gostem.
Eu sei que vão querer me matar, então deixem seus reviews de raiva aqui, que eu vou postar o próximo assim que puder, okay? Aproveitem, e se quiserem me matar, me xinguem lá no melrosing.tumblr.com
~Lu



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— Que droga! — exclamei assim que li a última tarefa. A mostrei aos outros, que gemeram contrariados.

Havíamos deixado a mais difícil por último, e por “difícil”, quero dizer “mortal”.

— Nós podemos fazer isso. — disse Jake tentando ser confiante.

— Jura? — questionou-o Dylan — Não temos nem um transporte até São Francisco.

— Podemos usar as vassouras. — sugeriu Nick, mas Irelia negou:

— Temos quatro vassouras, e nove pessoas, nunca daria certo.

Estávamos perdidos, totalmente ferrados, mas Joonie sorria.

— O que foi? — perguntei à ela, que deixou os dentes brancos e um tanto quanto tortos ainda mais à mostra.

— Eu posso nos levar.

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Me senti como uma daquelas crianças no livro do “Peter Pan”.

Uma forte rajada de vento nos carregava velozmente através do céu nublado do Illinois, atravessando alguns estados logo em seguida e, por fim, atingindo a ensolarada Califórnia, do outro lado do País. Levamos algumas horas na viajem, mas voamos tão alto que eu quase esqueci dos problemas que me atormentavam.

Porém, foi só pousar que voltei a sentir as dores fantasmas da Maldição Cruciatos e o aperto no coração, além, é claro, do medo que me consumia. Aquela missão estava acabando comigo.

— Para que lado é? — perguntou Dan, e Jake apontou uma das centenas de montanhas que cercavam a cidade.

— Lá está ele.

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Mais uma hora e meia escapou de nosso relógio. Por que toda a vez que precisamos que o dia tenha sessenta horas, ele tem quinze? O tempo escorria de nossas mãos como a fumaça cinza cliché de Eristeu, e meu coração ia parar na boca toda a vez que pensava no que estávamos prestes a fazer.

Quando chegamos ao topo do monte, já escurecia, o céu já se cobria lentamente de estrelas, tornava tudo mais sombrio e eu e meus irmãos, mais fracos pela não-presença do sol.

— Isso não é nada bom.— comentou Tanner.

— Eu sei. — respondi — Sou uma lutadora melhor de dia.

— Não, Rose. —disse Joonie. Ela também tinha um ar preocupado na face — As Hespérides são ninfas do pôr do sol, se chegarmos tarde de mais, teremos de esperar até o final do dia de amanhã.

— E por que não poderíamos esperar? — perguntei.

— Não tem olhado o calendário? Amanhã é dia vinte e um. O Solstício de Verão.

— Não lembro de ninguém ter comentado algo sobre o solstício. Não temos prazo.

Jake sacudiu a cabeça.

— Se não a devolvermos hoje, a flor morrerá, e com o tempo, o amor de Perséfone também. Isso causaria um desequilíbrio intenso nas estações do ano, não podemos deixar isso acontecer.

Eu realmente odiava quando ninguém me contava coisas importantes com antecedência. Na verdade, ainda odeio, é extremamente irritante. Mas acho que não me alertaram pois sabiam que eu surtaria, e não é legal me ver estressada, levando em consideração que já sou uma pessoa irritante.

A medida que nos aproximávamos do cume, o ambiente ficava tomado de névoa branca, enroscando-se em nossos corpos. Eu não tinha boas lembranças relacionadas à névoa, mas resolvi deixar para lá.

Depois de algum tempo, a visão clareou e nó pudemos ver: O lindo jardim da Hespérides, localizada no Monte Tamalpais, ou Monte do Desespero, como preferir. Não julgue pelo nome, na verdade, não fosse pelo enorme dragão, o jardim seria um lugar encantador, mais ou menos como eu gostaria de imaginar os Campos Elíseos.

O Jardim do Crepúsculo ela uma visão do paraíso, deixou-me paralisada. A grama estonteantemente verde reluzia à luz do sol poente, as flores tinham cores tão vibrantes que provavelmente fariam todas as outras flores do mundo sentirem-se mal consigo mesmas, pedras de mármore negro formavam uma trilha até a macieira (tão alta quanto um prédio de cinco andares), cheinha de maçãs douradas. E não me refiro a maçãs amareladas, não, eram os reais e verdadeiros pomos de ouro. As maçãs douradas da imortalidade.

— O presente de casamento de Zeus para Hera. — murmurou Tanner.

— Duvido que alguém já tenha superado um presente desses — suspirou Constance, encantada.

Os frutos emanavam um aroma tão delicioso que eu sabia, mesmo sem ter provado, que eram a coisa mais gostosa do mundo, e eu pegaria uma para experimentar, mas lá estava Ládon, o dragão, enroscado ao pé da árvore.

Bom, dragões são como névoa para mim, não trazem boas lembranças. Não que eu tenha enfrentado muitos, mas já sonhei com eles, não era algo que gostaria de vivenciar pessoalmente, especialmente esse. O que quer que esteja imaginando, não é assustador ou bizarro o bastante, acredite. Ládon tinha um corpo enorme, tanto em comprimento, quanto em largura, todo coberto por escamas de cobre, e um número incontável de cabeças, como se algum idiota continuasse cortando eternamente as cabeças de uma hidra, sem perceber que duas outras cresciam no lugar.

O jardim não era cercado, nem por um protão, nem por algum tipo de barreira, mas quando fizemos menção de entrar, as quatro Hespérides apareceram. Elas eram lindas, e estranhamente parecidas com Constance. Mesma pele negra, mesmos cabelos volumosos e corpo esguio. Uma única diferença chamava mais a atenção: Seus olhos eram completamente negros, como enormes buracos em seus rostos delicados.

Elas não paravam de encarar a bruxa, que as encarava de volta como em uma brincadeira de espelho. Percebendo que aquilo poderia nos dar alguma vantagem, Constance ordenou com voz autoritária:

— Deixai-nos entrar, a mim e meus amigos.

Uma das ninfas, que parecia a líder fuzilou-a com o olhar escuro.

— Pensei que havias morrido, irmã. Voltastes para trazer-nos mais desgosto?

A bruxa perdeu-se por um breve momento, não achava que sua encenação colaria.

— Pois estou de volta. — respondeu, recuperando-se — Agora liberem passagem, temos assuntos para tratar, que não são de vosso interesse.

A garota torceu a boca e, desgostada, liberou a passagem. As Hespérides transformaram-se em vultos e começaram a cantarolar uma música assustadora, de dar arrepios.

Adentramos o jardim o mais silenciosamente possível para não acordar Ládon, que guardava a macieira. Era isso que precisávamos fazer: pegar três das milhares de maçãs douradas, mas nem todos juntos conseguiríamos derrotar aquele monstro.

Joonie dirigiu-se ao topo da montanha, onde ruinas destroçadas e cinzas se encontravam, e onde podíamos ver parte de um enorme e maciço círculo de pedra reluzente.

— Onde está indo? — sussurrei para ela.

— Vamos fazer do jeito que Hércules fez. — respondeu-me — Segurando o céu enquanto Atlas nos ajuda.

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Fomos todos juntos ao cume, onde o Titã, suado e acabado, segurava a enorme pedra. Chegava a ser triste, eu quase fiquei com pena, mas ele merecia estar ali.

— Atlas? — chamou Jake — Precisamos de sua ajuda.

Ele esforçou-se para olhar para cima. Carregava um escárnio nos lábios.

— Ah, sim. — suspirou. Acho que o ar de seus pulmões era falho por causa do peso — Eu esperava vocês por aqui logo, Heróis de Perséfone. Quem vai ser o sortudo que fica com dor nas costas?

Antes que pudesse perceber o que fazia, falei:

— Eu vou.

— O quê? — perguntou Tanner — Rose, você não pode. Eu vou.

Sorri. Era fofo o jeito que ele sempre tentava me proteger.

— Eles precisam mais de você do que de mim. — então virei-me para o Titã — Mas nem pense em fugir, assim que terminarmos, você volta para cá.

— Fechado — foi o que ele respondeu.

Eu tomei seu lugar embaixo da pedra. Meus ossos estalaram, meu fôlego se esvaiu, minha testa se franziu. A sensação era horrível, algo que eu não desejaria para ninguém, nem para Dárion.

Se era pior do que a Maldição Cruciatos? Não sei, mas era uma dor parelha. Tive vontade de gritas, de sair dali de baixo o mais rápido que conseguia, mas era impossível. Uma força invisível me mantinha ali parada, só sairia se alguém tomasse meu lugar.

— Vou segurar para você. — Tanner exclamou, já quase tomando meu lugar.

— Nem pensar, Adams. Você já sofreu de mais por mim. Vão, peguem os pomos e vamos embora de uma vez.

___________

Não sei se se passaram minutos ou horas, mas eu estava sentindo muita dor, além de uma sensação esquisita no couro cabeludo, como se os fios tentassem se transformar. De repente, Tanner apareceu, ofegante, detonado, machucado como eu ainda não havia tido a chance de vê-lo.

— Precisamos de você. — disse ele — Agora.

— O que aconteceu? — perguntei com dificuldade, e ele respondeu entre tomadas de ar.

— As ninfas estão atrapalhando tudo, Ládon acordou, conseguimos os pomos, mas Atlas está tentando fugir. Eles precisam de você, Rose.

— E o que eu devo fazer? Não vou fazer diferença nenhuma!

— Por favor. —implorou ele — Por favor.

— Você não sabe o que vai sentir, Tan, é horrível.

— Eu não me importo!

— Mas vai se importar.

Ele ofegou uma última vez e olhou fundo em meus olhos.

— Rose, eu amo você. Eu não me importo.

E tomou meu lugar, simples assim. Sei que ele teve vontade de gritar assim como eu tive, mas não gritou.

— Vá!

Eu fui, e o caos era pior do que eu imaginava: Nick, Irelia e Constance tentavam segurar Atlas com feitiços, Jake atormentava as Hespérides com esqueletos e Joonie, Dylan e Daniel tentavam derrotar Ládon.

— Cons, leve Atlas de volta para o lugar dele! — gritei, sobressaindo-me aos protestos do Titã —Jake, deixe-as, precisamos derrotar o dragão.

Ele fizeram o que mandei, mas nem mesmo todos os nove (Atlas foi colocado novamente sob o céu e Tanner voltou) conseguiríamos matar todas as cabeças. Era um cabo-de-guerra mortal, toda a vez que chegávamos perto, o hálito tóxico de Ládon, ou uma de suas infinitas cabeças, ou sua calda, ou seus dentes nos atacavam.

As horas passaram lentamente, sem nenhuma pressa, e nós lutamos, e lutamos, e lutamos. Eu não me gabaria, mas fomos bravos, extraordinários, fomos... Heróis. Mas como todo Herói da mitologia, nascemos para servir aos deuses e, então, morrer.

Depois de infinitas tentativas frustradas de acabar com o monstro, Dylan o atingiu com uma flecha explosiva bem no coração. Ele voltaria, é claro, mas meu irmão, não.

Na explosão, uma das enormes escamas de bronze do dragão o atingiram no peito. A cena se passou diante de meus olhos em câmera lenta. Abaixei-me ao seu lado, as lágrimas inevitáveis já escorrendo por meu rosto sujo e machucado.

— Dylan? — chamei — Dylan?

Ele segurou minha mão, Daniel também ajoelhou-se desesperado.

— Deuses. — exclamou ele. Entendia de medicina, era muito ruim para ser curado. —Irmão?

Dylan sorriu.

— Não faça essa cara, Danny — sussurrou ele — Eu não sinto dor.

Um som agudo foi arrancado de minha garganta por conta do choro.

— Não morra — implorei — Não faça isso comigo, Dylan, por favor.

Mas não adiantava implorar. Nada adiantaria. Eu implorei por um pouco de néctar e ambrosia, mas o sangue vermelho-vivo escorria rapidamente por sua boca, sua pele começava a ficar pálida, e seus lindos olhos azuis começavam a ficar distantes.

Dan soluçava descontroladamente, assim como eu, os outros atrás de mim choravam em silêncio.

Ele colocou as mão machucadas em meu rosto.

—Eu tenho tanto orgulho de você, maninha. Dos dois.

Eu gostaria de dizer algo a ele, mas as palavras não saiam, ficavam doloridamente entaladas em minha garganta. Senti um enorme mão de pedra apertando meu coração.

— Eu fui uma boa pessoa. — murmurou Dylan apesar da dificuldade para falar — Vou para os Elíseos, certo?

Esforcei-me para sorrir e assentir, isso pareceu o deixar feliz. Ele olhou para cima, para as estrelas que pontilhavam o véu negro que era o céu noturno.

— Vejo vocês lá, então — com essas últimas palavras, seus olhos ficaram vagos. Ele partira.

Partira, e tudo o que Daniel e eu pudemos fazer foi chorar sobre seu corpo sem vida.


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Notas finais do capítulo

EU SEI QUE SOU UMA PESSOA TERRÍVEL, mas eu gostei muito desse cap., achei que ficou bem escrito, me desculpem, sério, eu amo o Dylan, ele vai estar sempre em meu coração de escritora assassina.
Para voltar a ser boazinha, quero reviews, hein! Vamos que já estamos quase nos 100 comentários!
RIP Dylan Rice ( 2019 - 2035)
~Lu Maléfica.



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