Segredo escrita por thana


Capítulo 14
Capítulo 14




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_ Tua mãe tá uma fera _ o pai disse quando estávamos ainda no elevador e quase chegando ao andar da cozinha _ Nós já não tínhamos pedido para você avisar sempre quando saísse?


 


_ Já _ eu disse adotando a mesma voz defensiva de antes _ Mas é como eu já disse, eu tava com o João, que é um adulto responsável...


 


_ Uma coisa que ele não é, é responsável _ o pai disse quando o elevador se abriu e nós saímos pelo corredor _ esse é outro que vai ter que se entender com a tua mãe, alias, com todos nós.


 


Nesse momento ele abriu a porta da cozinha e entramos. A primeira visão que eu tive foi um amontoado de gente rodeando duas mulheres de branco, só que uma estava sentada em uma das cadeiras da mesa.


 


_ Ai está ela _ falou o homem que tinha os meus olhos, ou seja, o Bruno.


 


_ Onde você estava _ a minha mãe falou pausadamente, com uma cara muito feia, assim que se aproximou de mim.


 


_ Eu sai com o João _ eu disse a ela o mesmo que tinha dito para o papai.


 


_ E por que você não avisou a Ana? _ ela perguntou se controlando.


 


_ Eu quis _ eu respondi _ mas ele disse que não precisava, que estaria tudo bem porque eu estava com ele.


 


Minha mão começou a abrir a boca pra dizer algo, mas foi interrompida.


 


_ Não briga com ela Marta _ era a Ana que estava sentada branca que nem papel sendo examinada pela Julia _ A culpa não é dela, é do João.


 


_ É hoje que eu enterro meu irmãozinho _ falou o Paulo enquanto serrava os dentes e segurava a mão da Ana.


 


_ Mas é um idiota mesmo _ falou a Simone que estava do lado da minha mãe _ Bem, já que achamos ela eu tenho que voltar para a minha missão _ e nesse momento ela me abraçou (o que foi muito estranho) e disse: _ por favor da próxima vez ignore ele e avise, ok?


 


Eu simplesmente balancei a cabeça positivamente quando ela se afastou para me olhar.


 


_ Espera eu vou contigo _ falou a Luiza se aproximando de mim _ faça das palavras delas as minhas.


 


Logo que elas saíram foi à vez do Paulo, que a muito pedido da Ana se foi, e o Bruno também abandonou o recinto. O único que não estava lá foi o Fabio.


 


_ Julia dá uma olhada no braço dela _ pediu o papai _ ela se machucou.


 


_ Onde foi? _ a mãe perguntou.


 


_ Em um parque perto daqui _ eu respondi enquanto o papai me sentava em uma das cadeiras vazias da mesa _ um garoto me atropelou _ eu só não quis contar com o que.


 


_ Que garoto? _ o pai perguntou.


 


Quando eu ia responder a porta da cozinha se abriu.


 


_ Pronto eu o achei _ eu ouvi a voz do Fabio, que já tinha se tornado estranhamente familiar.


 


Nesse tempo enquanto a mãe e o pai olhavam para o Fabio eu me virei e perguntei para a Julia, que já estava me examinando:


 


_ O que é que ela teve?


 


_ Queda de pressão _ ela respondeu enquanto eu olhava para a Ana que ainda estava branca.


 


_ Desculpa _ eu pedi para a Ana, que, simplesmente, me deu um sorriso e passou a mão pela minha cabeça. Eu, sinceramente, me sentia mal.


 


_ Agora tá tudo bem _ ela me disse.


 


_ Então Suzan, quem foi que te atropelou? _ a mãe insistiu.


 


E foi ai que eu vi o chato do lado do Fabio, eu não sabia o que ele estava fazendo ali, mas foi bom porque me poupava de ter que descrevê-lo.


 


_ Foi ele _ eu apontei, despreocupadamente, para o chato.


 


_ Mas foi sem querer _ ele se defendeu.


 


_ Tudo bem _ disse a mãe se voltando para mim _ isso foi castigo por você não ter nos avisado aonde ia, agora vá para o seu quarto, você está de castigo.


 


_ Eu pensei que o atropelamento fosse o castigo _ eu disse me levantando.


 


_ E foi _ a mãe falou _ mas não foi o suficiente, pense nisso como um complemento, agora vá.


 


_ Espera Marta _ pediu a Julia _ eu ainda tenho que limpar o ferimento _ e ela me fez sentar novamente.


 


_ Então depois que a Julia terminar com isso, vá direto para o seu quarto _ ela mando.


 


_ isso não é justo _ eu retruquei _ eu tava aqui dentro o tempo inteiro e vocês sabiam disso, não era necessário que eu realmente avisasse, eu não corria nem um perigo.


 


_ Eu não quero discutir mais isso _ a mãe falou com uma voz autoritária.


 


_ Calma Marta _ pediu a Ana.


 


_ Não Ana _ a mãe disparou para ela _ ela conhece bem as regras, ela não pode sair sem avisar, não é só porque ela veio para cá que as coisas mudaram totalmente, ela errou e vai sofrer um castigo por isso. Onde já se viu deixar todo mundo preocupado desse jeito, quando a Julia acabar vá para o seu quarto _ ela me disse.


 


_ Mas antes _ o Fabio disse querendo quebrar o clima chato _ deixa eu te apresentar o seu parceiro.


 


Ele deu um empurrão no Filipe que ficou a frente dele.


 


_ O que? _ eu perguntei sem prestar muita atenção no que o Fabio dizia por que naquele momento a Julia passava um liquido nos meus ferimentos e os fazia arder.


 


_ Ele é o seu parceiro _ repetiu o Fabio.


 


_ E o que isso quer dizer? _ eu falei enquanto a Julia passava mercúrio incolor na ferida.


 


_ Ninguém te explicou como as coisas funcionam por aqui não? _ a Ana perguntou.


 


Eu balancei a cabeça negativamente. Todos olharam para o pai, que estava mais interessada em ver o trabalho que a Julia tinha feito no meu braço.


 


_ Julius _ chamou o Fabio, ele ergueu a cabeça, eu reparei um pouco de relutância nesse movimento _ Você não explicou nada para ela?


 


_ Ei, esse não era o meu trabalho _ ele disparou.


 


_ Você disse que se incumbiria disso _ a mamãe falou.


 


_ Devo dizer que já foi difícil convencê-la do que estava acontecendo _ papai se defendeu _ talvez eu tenha esquecido de contar uma coisa ou outra _ falou encolhendo os ombros.


 


_ Tudo bem _ falou a Julia em voz alta, ela reparara que a mãe tava quase começando outra discussão _ Suzan a organização trabalha com sistema de parceiragem, ou seja, quando iniciamos alguém damos a ele um parceiro ou uma parceira, no seu caso é um parceiro, e de agora em diante vocês vão ter que trabalhar juntos como se fosse um só.


 


Eu ouvia tudo aquilo em um silencio pesado.


 


_ Todo mundo tem um parceiro ou parceira _ a mãe continuou _ eu, por exemplo, sou parceira de trabalho dele _ e ela passou o braço pelo ombro do papai, ela teve que ficar nas pontas dos pés.


 


_ E eu sou parceira do Fabio _ a Julia disse apontando para ele.


 


_ O meu é o Paulo _ a Ana falou ao meu lado _ A Luiza e a Simone são parceiras de trabalho uma da outra.


 


_ Ok, o que você tem que entender é que seu parceiro é uma das coisas mais importante que você tem _ o pai disse _ Que vocês têm que se proteger, como se sua própria vida dependesse disso.


 


Nesse instante eu olhei para o chato, sinceramente, eu não sabia se eu não queria que nada de ruim acontecesse a ele, afinal ele tinha me machucado.


 


_ Vocês têm que se resguardar como se a vida do outro fosse à extensão da sua própria _ o Fabio continuou.


 


Vou te contar, se o chato era a “extensão” da minha vida então ela não tava era valendo nada.


 


_ Deixa eu ver se eu entendi _ eu pedi _ Alem de eu ter que conviver com ele _ eu apontei para o chato _ por um bom tempo...


 


_ E põe “bom tempo” nisso _ o Fabio me interrompeu _ a tua vida inteira.


 


Eu engoli seco e continuei:


 


_ Enfim, eu vou ter que conviver com ele a minha vida inteira _ um calafrio macabro passou por mim _ isso quer dizer que eu não posso deixar que nada de mal aconteça com ele?


 


_ E ele não pode deixar que nada de mal aconteça a você _ completou a mamãe _ É isso ai você entendeu.


 


Que ótimo, eu não ia poder matar ele, nem esquartejá-lo e espalhar os pedaços dele por ai (isso foi uma piada... de mal gosto, mas foi).


 


_ Quem diria _ falou o chato.


 


Eu ignorei o que ele falou.


 


_ Já terminou com ela Julia? _ a mãe perguntou.


 


_ Já sim _ a Julia respondeu com um sorrisinho no rosto _ Ela já foi devidamente assistida.


 


_ Suzan _ a mãe olhou para mim com calma _ pode ir para o seu quarto.


 


_ A senhora quer dizer meu castigo? _ eu perguntei ironicamente.


 


_ Exatamente _ ela respondeu.


 


Eu fiquei de pé e a encarei de cara feia, eu adoro a minha mãe, mas quando ela quer ela pode ser muito cruel.


 


_ Por quanto tempo é o castigo? _ eu indaguei.


 


_ Por tempo indeterminado _ ela disse. Eu fiz uma cara de “eu não acredito” _ É do treino ou do refeitório para o seu quarto, eu não quero ver a senhorita perambulando por ai.


 


Até parecia que eu queria ficar andando por aquele lugar infernal. Treino? Que treino era aquele do qual ela falava? Enfim, eu não disse mais nada, virei e sai pela cozinha.


 


Que horas deveriam ser? Mesmo depois de ter passado quatro ano já aqui eu ainda me perco quando o assunto é hora.


 


Enquanto caminhava entre os cozinheiros eu erguia, mentalmente, as mãos para o céu e agradecia por aquele dia estar acabando. Como tanta coisa podia acontecer em um dia?


 


Balanço do dia: eu quase fui esmagada viva, conheci os meus oito pais biológicos, na verdade só foram sete, um tio, que me levou para um bar que eu fui estranhamente assediada, bebi o tal do leite de camelo (eu quase morri por causa disso), fui atropelada por um skate e descubro que o chato que me atropelou é a pessoal na qual eu tinha que proteger e ser protegida por ele... eh ainda bem que o dia já tava acabando.


 


_ Espera _ eu ouvi uma voz quando já estava à porta, virei para ver o que era e me deparei com o chato vindo em minha direção.


 


_ O que você quer? _ eu perguntei carrancuda assim que ele chegou perto de mim.


 


_ Mandaram que eu te acompanhasse até o quarto _ ele disse respirando profundamente.


 


_ Mas eu sei onde fica o meu quarto _ eu respondi mais carrancuda ainda.


 


_ Eles mandaram que eu me certificasse que você chegasse lá _ ele respondeu encolhendo os ombros.


 


Que bom, bastou eu errar apenas uma vez para os meus pais perderem a total confiança em mim.


 


Eu não falei mais nada, bufei, dei as costas para ele, abri a porta e sai pelo refeitório com o chato me acompanhando. É como diz o ditado: “Uma desgraça nunca vem só”, sábio aquele que disse isso pela primeira vez.


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