Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 42
Traição em massa




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- Tem certeza? A Denise? – Mônica perguntou com desconfiança. – Achei que ela preferisse andar com a Magali!
- Ela anda porque tem medo. Se a gente dar apoio, ela vai sair daquela gangue.

Aquilo até que fazia sentido. Sabendo que era possível fazer novas amizades, Denise ia reunir mais coragem de deixar aquele bando de desordeiros. Só que havia ali uma coisa que ela ainda não estava entendendo.

- Por que você tá tão interessado em ajudar a Denise? – ela perguntou olhando para ele com aquela cara zangada que ao mesmo tempo assustava e fascinava.
- Calma, não é nada disso que você tá pensando!
- É o quê então?
- Er... Sabe... Eu tô dando um jeito de ajudar todo mundo a sair daquela gangue.
- Quê? Todo mundo? – a ficha caiu e ela acabou entendendo tudo. Num movimento rápido, Mônica o pegou pela gola da camisa e o ergueu bem alto, deixando o rapaz apavorado.
- Ei, calma, faz isso não!
- Grrrr! Já tô entendendo tudo!
- Peraí!
- Você tá armando um daqueles planos infalíveis pra derrotar a Magali, não é? É por isso que você quer desfazer o grupo dela?
- Deixa eu falar, por favor!
- O que você pretende fazer com ela? Pode ir falando agora mesmo!
- Então me coloca no chão, pindalolas! – Ele pediu com os pés balançando no ar e foi atendido.

Após se recompor um pouco, ele conseguiu falar.

- Olha, tudo isso começou entre a Magali e eu, então tem que terminar entre nós dois! Nós temos que acertar as contas sem mais ninguém pra interferir! Se eu enfrentar ela agora, toda a gangue vai arrebentar minha cara!
- Você já enfrentou eles.
- É, só que sempre aparecia alguém pra interromper e a briga não dava em nada. Se todos eles forem pra cima de mim, eu posso não dar conta!
- Eu te ajudo, ora!
- Não, eu tenho que cuidar disso sozinho.
- Aff! Vai complicar tudo agora, é?
- Eu não tô complicando nada, que coisa! Você não entende que eu preciso dar um jeito por mim mesmo? Não posso ficar a vida toda pendurado na barra da sua saia! Eu sou capaz, juro que sou! Posso fazer isso porque tenho você para me dar forças.

Ela acabou se derretendo toda, mas ainda estava meio zangada por causa daquele plano.

- E o que você vai fazer com a Magali? Bater nela? Isso eu não vou deixar.

Ele não gostou nem um pouco.

- Peraí, ela me bateu a vida toda, agora eu não posso bater nela?
- Desde quando brigar adianta? Olha, de vez em quando eu me defendo como posso, mas sair por aí batendo em todo mundo é errado! Se você partir pra violência, vai acabar ficando igual a ela!
- Calma lá, eu sei disso! Claro que eu não vou bater em ninguém! Eu só quero acabar com isso de uma vez por todas! Cansei dela ficar me atormentando!
- E como você vai fazer isso? Vai humilhar ela na frente de todo mundo?
- Também não. Eu ainda não sei, tá legal? Isso eu vou ver na hora. Só que precisa ser entre ela e eu, sem mais ninguém pra meter o nariz. É por isso que eu tenho que separar a gangue dela. E isso também vai ajudar os outros, como você quer.
- Pode ser, mas eu também quero ajudar a Magali. Não é justo ajudar todos e deixar ela de fora.

Aquele olhar suplicante tinha o poder de derreter seu coração e Cebola percebeu que para agradá-la, ele teria que dar um jeito de ajudar Magali também. Ele não podia simplesmente brigar com ela e derrotá-la na frente da escola inteira, era preciso mudar de estratégia.  

- Fica tranqüila que eu não vou fazer mal nenhum pra ela, tá bom? Eu prometo! Ainda não sei o que fazer, mas vou dar um jeito, eu te garanto.
- Então tá bom. – Ela falou dando um sorriso, mostrando-se mais calma e ele acabou não resistindo.
- Você me dá um beijo?
- Um beijo... – ela mal terminou de responder e ele a abraçou forte, beijando-a com vontade.

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Toc, toc, toc, toc...

- Hã... por que o Cebola está batendo com a cabeça na parede? – Xabéu perguntou.
- Deixa quieto, o careca tá muito bolado. Uma hora ele pára. – Cascão respondeu sentindo pena do amigo.

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Titi estava do lado de fora do trailer do ferro velho, sentado em uma das cadeiras enquanto esperava. Toda hora ele se remexia nervoso, tentando encontrar as palavras certas para acabar com aquilo. Não demorou muito e Denise apareceu. De cara ele estranhou suas roupas.

- O que foi? Eu não posso variar um pouco não? cansei daquelas roupas que a Magali me obriga a usar.
- Tá, que seja. Se ela ver, é problema seu mesmo.
- Hunf! E o resto do pessoal, cadê?
- Eles já vem. Eu te pedi pra vir mais cedo porque queria falar uma coisa sem aqueles dois por perto.
- Então fala.

Ele esfregou a nuca com uma das mãos, ainda meio sem jeito. Por fim ele criou coragem e falou.

- Olha, esse nosso lance tem andado meio parado ultimamente, sei lá. Acho que não tá rolando mais química entre nós.

Ela balançou a cabeça concordando, já imaginando o que ele queria dizer.

- Então eu achei se não seria melhor a gente dar um tempo... – Não, não era aquilo que ele queria, mas na hora H o rapaz acabou fraquejando. Terminar um namoro era sempre tão difícil!
- Quem dá tempo é relógio, gatz. Eu prefiro terminar de uma vez porque também tô achando que isso tá muito borocochô.

Titi levou um susto e não gostou muito de ter ouvido aquilo. Seu ego não aceitava saber que Denise não fazia tanta questão dele e parecia até aliviada por acabar o namoro. No fundo ele queria que ela chorasse e implorasse.

- Você tem certeza? De repente, no futuro...
- No futuro nada, melhor cada um ir cuidar da sua vida. Você fica livre e eu também.

Ao ouvir a frase “você fica livre”, Titi se sentiu mais animado e acabou esquecendo seu orgulho ferido. Não era hora de ficar com bobagens. Se ela estava tranqüila em terminar, melhor para ele.

- Então tá tranqüilo. Só não fala nada pra Magali agora não, tá bom? Ela pode causar encrenca pra nós.
- Pode deixar que essa fofoca eu não passo. Ah, olha lá os dois.

Cascão e Franja chegaram logo depois e cada um tomou seu lugar.

- Por que chamou a gente aqui? – Franja quis saber.
- Se ela descobre que a gente tá tramando coisas pelas costas dela... – Cascão falou já imaginando uma provável surra. Titi balançou a cabeça, seguro de si.
- Ela não vai ficar sabendo de nada. Não por enquanto. Eu chamei todo mundo aqui pelo seguinte: já tô ficando de saco cheio de andar com a Magali e agüentar os desaforos dela, então tô saindo da gangue e não quero nem saber.

O susto foi geral. Como ele tinha coragem de sair assim, sem mais nem menos? Será que não tinha medo nenhum de apanhar da Magali?

- Tá doido, bofe? A Magali vai te esganar!
(Franja) – Pensa que ela vai deixar por menos? Você conhece a criatura!
- E vocês?

Os outros ficaram em silêncio. Titi continuou.

- Vocês vão fazer alguma coisa? Vão partir pra cima de mim? – Denise se apressou em responder.
- Se depender de mim, você pode ir com Deus.

Ele olhou para Cascão e Franja.

- E vocês dois? Como vai ser? Na boa, eu acho que vocês deviam sair também.

Franja se remexeu inquieto na cadeira. Sair daquela gangue era tudo o que ele queria. Só então ele estaria livre para levar uma vida decente. Cascão também sentia um frio na barriga imaginando a liberdade iminente.

(Denise) – É agora ou nunca, galera. Se todo mundo sair de uma vez, ela não vai poder fazer nada.

Cascão pensou um pouco e perguntou para Franja.

- E aí, cara? O que você diz? Já vi que esses dois estão fora. Eu não vou querer ficar sozinho com a Magali.
- Argh, nem eu! Se vocês vão sair, então eu também vou!
- É isso aí, tá combinado então! – Titi falou dando um pequeno soco na mesa como que selando o acordo entre os quatro. – Espero que ninguém resolva amarelar na hora. Eu vou sair de qualquer jeito, quem quiser ficar problema dele.

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Luisa e Souza ouviam atentamente enquanto Mônica fazia sua performance ao piano. Eles fizeram a filha tocar algumas vezes, como que certificando de que tudo ia sair perfeito. E realmente saiu. Mônica já conseguia tocar a música sem nenhum erro, executando tudo impecavelmente.

- Ai, que emoção! Você vai fazer um grande sucesso! – Luisa falou batendo palmas junto com o marido.
- Estou orgulhoso de você, filha!
- Obrigada!
- Agora que você já está mais do que treinada, vamos fazer a última prova do seu vestido. Nossa, ficou a coisa mais linda do mundo! Só falta acertarmos mais uns detalhes. E temos que pegar suas jóias novas também.

Souza voltou ao trabalho enquanto mãe e filha foram até a costureira para que Mônica pudesse provar o novo vestido.

“Minha nossa, o tempo passou rápido demais!” ela pensou fazendo as contas e vendo que faltava menos de dez dias para a grande festa. E para seu alívio, ela não ia passar nenhuma vergonha. Ela estava conseguindo se ajustar muito bem a aquela realidade.

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Denise e Cebola conversavam no quintal da casa dele, sentados em duas cadeiras que ele tinha arranjado para os dois.

- Então vai todo mundo pular fora mesmo?
- Vai sim. E você, falou com a Mônica? ela vai mesmo me ajudar com as meninas?
- Ela falou que sim. Agora, você sabe que não depende só dela, sabe?
- Mas pede pra ela fazer o possível, tá? Depois de largar a Magali, eu vou ficar sozinha!
- Você já fez alguma coisa contra as outras garotas? Tipo, já bateu, xingou, coisas assim?
- Não, disso elas não podem reclamar de mim!
- Então você tem alguma chance. Vamos esperar e torcer para que a Mônica dê um jeito de convencer as outras.
- E quando você vai enfrentar a Magali?
- Depois que todo mundo tiver pulado fora. Eu quero falar com ela sozinha, sem os outros por perto.
- Falar? Achei que fosse bater nela!
- Eu não resolvo as coisas com força física. Não pretendo me tornar o novo valentão da escola.
- Você é quem sabe. Só tenta colocar aquela ali no lugar dela porque ninguém agüenta mais.

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De onde estava, DC pode ouvir partes da conversa. Não deu para entender tudo, mas ele pode pegar o principal. Então Cebola estava mesmo armando contra Magali? O que o deixava mais surpreso era saber que todos pretendiam deixar a gangue. Com Magali sozinha, era óbvio que Cebola ia conseguir acabar com ela.

Ele saiu dali rapidamente, esfregando as mãos de contentamento.

- Então eu tava certo, ele é mesmo o herói! – ele murmurou para si mesmo. Ao ouvir Cebola conversando com Denise, DC percebeu que ele não trocava as letras e sua voz era mais parecida com a do Herói Mascarado. Quem podia imaginar que ele já tinha resolvido seu problema de fala?

Só que ele não pretendia deixar que aquele idiota passasse na sua frente, nem pensar! Ao lembrar de que toda a gangue ia ser desfeita, ele teve uma idéia. E se ele enfrentasse Magali antes do Cebola? Assim ele ia ser o herói que derrotou a valentona, não aquele careca. Assim todos iam esquecer de uma vez aquele fiasco da festa.

- Hahaha, de volta ao topo!


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