Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 29
A armadilha




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- Você entendeu, né Carmem?
- Claro, lindo! Só não sei se ela vai querer fazer isso.
- Ué, ela não toca piano?
- Só que ela nunca tocou pra ninguém ouvir, fica com um monte de frescura toda vez que a gente pede.
- Dessa vez ela não vai ter como escapar. Se tudo der certo, a gente pode dar uma volta depois da saída, quem sabe tomar um sorvete...

A oferta era tão boa que Carmem não teve como recusar. Se para ter uma chance com o DC era preciso fazer a Mônica tocar piano, então a Mônica ia tocar aquele maldito piano de qualquer jeito.

DC foi para a sala de aula já antegozando o sucesso do seu plano. Depois ele teria que dar um jeito de se livrar da Carmem, já que a loira não o interessava. Claro que com aquilo, a verdadeira identidade do herói ia ser revelada e todos iam saber que não era ele. Paciência, ele nunca tinha dito que era o herói, então ninguém ia poder acusá-lo de mentiroso. Talvez a Carmem. Bem, ele daria um jeito nela depois.

A professora daquela aula estava um pouco atrasada e com isso os alunos aproveitavam para conversar um pouco. Mônica batia papo com Marina e Cascuda enquanto Cebola permanecia no fundo da sala, sendo acertado por papeizinhos de vez em quando. Ele já não se importava mais com aquilo. Se seu plano desse certo, sua situação naquela escola ia mudar com certeza.

Enquanto isso, Carmem conversava com suas amigas.

- Então é isso, meninas. A gente tem que convencer a Mônica de qualquer jeito, viu? Dessa vez não vai dar pra escapar!
(Maria) – Não entendi... por que o DC tá fazendo tanta questão disso?
- Er... – nem ela mesma tinha entendido a razão daquele plano. De que forma fazer a Mônica tocar piano ia fazê-la dizer se sabia ou não do segredo dele? Bem, aquilo não importava muito. – Sei lá, só sei que se tudo der certo, vou ganhar muitos pontos com ele.
(Irene) – Legal, mas o que a gente ganha?
(Isa) – É mesmo! Você vai ganhar o DC. E nós?

Carmem botou as mãos na cintura, virou os olhos e falou com má vontade.

- Vamos fazer assim: se o plano der certo e eu ficar bem com o DC, eu deixo vocês escolherem uma coisa do meu guarda-roupa.

Os olhos delas se iluminaram.

(Maria) – Qualquer coisa? Até um vestido?
- Qualquer coisa, mas vai ser uma pra cada uma, entendeu?

Elas bateram palmas e concordaram com o plano.

- Aí eu consegui encontrar um colar muito bonito no meio dos arbustos e ganhei muitos pontos no jogo! – Marina ia falando empolgada sobre seu achado quando Carmem e suas amigas chegaram.
- Oi, meninas!
- Oi... – elas cumprimentaram sem grande empolgação.
- E aí, fofa? Já treinou bastante no piano? Não esquece que vai ter mais de duzentas pessoas pra ouvir, tá?

Foi com muito custo que Mônica não fez uma careta. Marina e Cascuda ficaram empolgadas.

(Cascuda) - Ué, Mô! Você não falou nada disso pra gente!
- É que eu ainda não tô tocando muito bem, sabe?
(Marina) – Ih, deixa disso! Eu já te ouvi tocar, esqueceu? Você toca muito bem!
(Carmem) – Por que não toca pra gente na hora do intervalo?
- Quêeee? Mas nem tem piano na escola!
(Cascuda) – Tem sim, não sabia? Tá meio velhinho, mas ainda toca bem. Fica lá no teatro.

Bastou Cascuda dizer aquilo para que todas começassem a pedir freneticamente para que Mônica tocasse algo para elas. Essa não! Como ela ia explicar que não sabia tocar nada?

(Carmem) – Ai, que luxo! Um conserto especial só pra nós!
- Peraí, gente! Eu ainda não estou muito boa e...
(Maria) – Você não precisa tocar a tal música da festa, ué! Deve ter muitas outras que você sabe tocar bem!
(Irene) – É mesmo! toca algo que você conhece bem!
(Isa) – Pode ser uma música simples, não tem problema. A gente só quer ouvir você tocar!
(Marina) – Ah, vai Mô! Você nunca tocou pra gente!

A situação estava fugindo do controle. Se aceitasse, ia passar a maior vergonha. Se negasse, correria o risco de perder suas amigas.

- Olha, gente, não sei se é boa idéia...
(Irene) – Por que? Acha que a gente não é refinada o bastante pra saber apreciar?
(Marina) – A gente é pobre, mas não é burra não tá?
- Ei, eu não falei isso!
(Carmem) – Então toca pra gente, querida! Nós queremos ouvir!

Cebola acompanhava toda aquela agitação e viu que a Mônica estava com problemas. Por que as garotas cismaram daquele jeito que ela devia tocar o tal piano?

Mônica olhou ao redor e viu que todas esperavam uma resposta com braços cruzados e prontas até para cortar a amizade caso ela recusasse. Que situação! Bem, ela teria que dar um jeito naquilo.

- Está bem, eu toco pra vocês depois da aula... – todas bateram palmas, deixando Mônica ainda mais angustiada. Elas não esperavam apenas um mini-concerto. Esperavam algo que fosse realmente bom sendo que ela mal conseguia tocar algumas notas na seqüência certa.

A professora entrou na sala e todas foram se sentar comentando sobre o pequeno show que estava prestes a ser dado no teatro da escola. Em pouco tempo, a sala inteira já estava sabendo e pelo jeito que os alunos mexiam em seus celulares, Mônica deduziu que a notícia estava se espalhando por toda a escola como fogo em palha. E agora?

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Assim que o celular vibrou, Denise deu uma olhada na mensagem de texto que tinha recebido e logo mostrou para Magali com um grande sorriso no rosto. A outra sorriu também.

- É isso aí! Agora a gente tem que fazer nossa parte!
- Parece que vai ter muita gente lá!
- Não tem problema. Isso vai atrapalhar o cara mais ainda. Mal posso esperar, vai ser demais!

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Vê-la tão angustiada daquele jeito era algo que partia seu coração. Que coisa, será que ele estava ficando mole? Desde quando ele se derretia todo por causa de uma garota? Claro, ela não era uma garota qualquer. Era alguém especial, que fez muita falta na sua vida no passado. Alguém que podia ter feito toda a diferença. Não, ele não podia deixá-la na mão. Era preciso cuidar muito bem dela.

Faltando quinze minutos para o fim da aula, ele chegou perto da professora fazendo a pior cara do mundo e esfregando a barriga.

- Ai, plofessola! Eu acho que vou fazer aqui mesmo!
- Como é? Nada disso, para o banheiro já!

Ele saiu correndo sob risadas e deboches do resto da turma, só que aquilo não o incomodou. O importante era poder sair da sala antes de todos. Para sua sorte, o teatro estava vazio, como costumava ficar na maior parte do tempo. O piano estava em um canto no palco e era pouco usado já que quase ninguém sabia tocar. O instrumento tinha sido doado porque estava já meio velho e com uma aparência não muito boa.

“Deixa eu ver... esse troço não pode tocar de jeito nenhum!” ele o examinou durante um tempo procurando uma forma de sabotá-lo. Era um velho piano vertical e tinha pedais na parte de baixo. Se o piano estivesse com defeito, não teria como Mônica tocá-lo e aquilo poderia dar mais tempo para ela.

Como fazer aquilo? Arrebentando as cordas? Não, radical demais. Ele dedilhou algumas teclas e teve uma idéia. E se elas não tocassem? Era uma boa solução e Cebola começou a agir depressa. E ele também deu um jeito nos pedais para que não funcionassem direito. Nada que pudesse comprometer o piano definitivamente. Seria fácil concertar depois. O importante era que o instrumento não tocasse nada.

Quando o sinal tocou, ele deu um jeito de se esconder atrás das cortinas. Só havia uma porta no teatro e se alguém o visse saindo poderia desconfiar. Em pouco tempo, ele já estava ouvindo a conversa animada dos alunos sobre o pequeno show que estava para ser dado a qualquer momento. Que droga, será que o colégio inteiro foi convocado? Que loucura era aquela?

Do lado de fora, Magali distribuía as tarefas.

- Franja e Titi, vocês ficam aqui fora pro sujeito não sair. Se precisar, fechem a porta. O resto vai lá pra dentro comigo.

Eles entraram e sentaram-se lá no fundo esperando a hora certa de agir.

Finalmente Mônica chegou seguida por suas amigas, cada uma mais empolgada do que a outra. Cebola afastou um pouco a cortina para poder olhar e viu o quanto ela estava aflita. Claro, ela não sabia tocar piano e não conseguia aprender. Como ela ia resolver aquilo depois?

- Muito bem, querida! Pode tocar pra nós! – Carmem falou sendo apoiada pelas outras garotas e Mônica não pode fazer mais nada. Ela suava frio, seu corpo tremia um pouco e imagens dos alunos vaiando o seu péssimo desempenho dançavam em sua cabeça. Depois daquele mico, ela nunca mais ia poder aparecer na escola novamente.
(Marina) - Toca pra nós, Mô!
- É que eu tô pensando numa música aqui...
(Dorinha) – Pode ser qualquer uma, não precisa tocar Beethoven.
- E... então tá... só não sei se vai ficar bom, eu não tô acostumada com esse piano aqui.

Ela respirou fundo, rezou com todas as suas forças por uma luz no fim do túnel e pressionou as teclas com os dedos. Um som muito fraco se fez ouvir.

(Marina) - Heim? O que houve?
- Eu não sei. Deixa eu tentar de novo.

Outras teclas foram pressionadas e Mônica também apertou os pedais. O som era muito fraco e o piano não tocava nada. Já sem paciência, Carmem tentou pressionar algumas teclas e viu que tinha alguma coisa errada com o instrumento.

- Ai, que droga! O piano tá com defeito!

Um murmúrio decepcionado percorreu a platéia. Outros alunos chegaram perto tentando tocar alguma coisa e todos viram que não adiantava. Era provável que depois de tanto tempo sem uso e sem cuidados, o piano tivesse ficado com defeito.

(Keika) – Ai, que pena Mônica! Eu queria tanto te ouvir tocar!
- É... uma pena mesmo. E eu tinha pensado numa música toa boa... – Mônica falou procurando simular decepção sendo que na verdade ela gritava de alegria por dentro.

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Na nave Hoshi, Cebola remoia de inveja ao ver outro plano do seu duplo dando certo. Só faltava mais essa!

- Rapaz, eu aposto que esse teria derrotado a Mônica num instante! – Cascão falou também impressionado e isso deixou Cebola mais irritado ainda.

Zé Luis também acabou colocando lenha na fogueira.

- Ele é muito inteligente, também estou impressionado!
- Grrr, ele é um idiota, isso sim! Bah, porcaria!

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Feliz por ver que seu plano tinha dado certo, Cebola já estava indo embora quando percebeu que Magali e seu grupo estavam avançando em direção a Mônica, empurrando para o lado quem estivesse no caminho. Aquilo não era nada bom.

- Como é, buguesinha? Você vai ou não vai tocar essa porcaria? – Magali falando segurando Mônica pela gola da blusa.
- Não tá vendo que o piano não funciona?
- E eu com isso? Ou você toca esse treco agora ou eu quebro o seu nariz! Eu não tive o trabalho de vir aqui a toa!

Certo, aquilo era bem estranho. Por que Magali estava fazendo tanta questão de que ela tocasse o piano sendo que a valentona não parecia apreciar esse tipo de coisa?

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- Não vai sair daqui enquanto não terminar essa redação! – Licurgo falou batendo na carteira com a régua. DC reclamou.
- Qualé, professor? Eu não posso entregar isso amanhã?
- Eu quero hoje. Anda logo, quanto mais você reclamar, mais vai demorar.

DC voltou a escrever, furioso com sua péssima sorte. Por que Licurgo sempre dava aqueles temas malucos para as redações? Geralmente ele pedia aquelas maluquices, mas quase nunca conferia nada no fim da aula. Então, naquele dia, justamente naquele dia, aquele louco cismou que ia corrigir todas?

O pior era que naquela altura, Mônica já devia estar no teatro, assim como Magali e sua gangue. Será que ele ia perder toda a ação?

- E eu não sou louco! Escreva isso aí de forma sucinta e cuidado com as pontuações!
- Argh!

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- Ai, me solta! Você tá machucando!
- É pra machucar mesmo, sua vaca! – a outra retrucou sacudindo Mônica com força. – Anda, vai logo tocar que eu quero ouvir agora!

Mônica se soltou e disse encarando-a já perdendo a paciência.

- Já falei que não tá tocando!
- Então você vai levar na cara agora mesmo, quer ver? Segura ela Franja?
- Como é? Me solta!

Ao ver aquilo, Marina fechou a cara.

- Que grosseiro! Isso não se faz!

Ao ver a reprimenda da garota de quem ele gostava, Franja acabou vacilando um pouco. Obedecer às ordens da Magali ou tentar agradar Marina?

- Se você soltar ela, eu mando o Tonhão arrebentar a sua cara! Ei, que é isso? – ela perguntou ao sentir uma luz forte na sua direção. Todos olharam para o palco, na parte de cima onde ficam os holofotes, e viram um sujeito de chapéu, capa e máscara guiando as luzes na direção da Magali.
- Ora, o que temos aqui? Parece que alguém resolveu dar o próprio show!

Ao invés de ficar zangada, Magali abriu um grande sorriso de satisfação.

- Olha só, apareceu a margarida!


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