Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 23
Surge um novo herói




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- Ai, credo! Ele ainda tá te olhando! – Marina falou ao perceber que Cascão olhava para Cascuda com insistência.
- Eu heim! Daquele porco eu quero distância! Vamos sair daqui!

As duas correram para dentro da loja e ficaram ali até o rapaz desistir e ir embora.

- Por que ele não entende que eu não quero mais nada? – Cascuda perguntou já irritada com aquela situação. Se ele largasse aquela gangue, tomasse banho e usasse roupas decentes, ela até poderia pensar no caso. Mas do jeito que estava ela não ia querer de jeito nenhum.
- Sei lá, esses garotos são muito teimosos. Acredita que o Franja ficou me olhando um tempão ontem?
- É? Pelo menos ele não fica pegando no seu pé que nem o Cascão faz comigo.
- Ainda bem mesmo. Uma pena ele ter cismado de andar com a Magali, viu? Lembra como ele era bonitinho?
- Hihi! E muito tímido, coitado. Mas também, né! Você deu um monte de fora nele!
- É porque eu ainda era muito nova pra namorar!

As duas prosseguiram conversando pelo shopping, aliviadas por terem ficado livres da figura lamentável do Cascão. Elas não perceberam que Denise as observava de longe.

“Aposto que elas vão olhar as lojas. Aiai, que inveja!” elas eram amigas na infância. Mas quando começou a andar com Magali, as garotas foram se afastando até Denise terminar sozinha, tendo sua gangue como únicos amigos. Por que ela não se afastou a tempo? Claro, quando Magali se tornou a “dona da rua”, Denise logo tratou de se aproveitar da situação ao ver que podia conseguir muitos privilégios. E no início tinha sido divertido mesmo. O que ela não esperava era que a situação fosse fugir do controle e agora as coisas tinham chegado a um ponto em que ela não conseguia mais voltar atrás. Magali jamais a perdoaria se tentasse sair da gangue e mesmo que conseguisse, as outras garotas não iam querer nada com ela. Que droga de vida!

Denise sentia muita saudade do tempo em que podia fofocar com as meninas, usar roupas bonitas, tomar sorvete, passear no shopping e fofocar mais ainda.

Ela acabou indo embora dali a procura de alguma loja onde pudesse roubar. Mesmo não querendo fazer mais aquilo, era preciso levar alguma coisa de valor para Magali ou poderia acabar apanhando.

“A louca! Eu era feliz e não sabia!”

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No vestiário masculino, depois do jogo, os rapazes comentavam animadamente sobre o herói desconhecido que tinha invadido o ferro velho e enfrentado Magali. Mesmo tendo aparecido somente uma vez, aquele sujeito tinha tomado conta da imaginação de todos, que se perguntavam quando ele ia aparecer novamente para dar uma lição naquela valentona.

- Ih, tem dó! Vocês vão ficar falando nesse cara até quando? – DC perguntou irritado enquanto se preparava para tomar um banho rápido.
- Eu heim, que mau humor é esse, mano?
(Jeremias) – É mesmo, você anda muito nervosinho ultimamente!
(Xaveco) – Por acaso você não sabe de alguma coisa não?
- Eu vou saber do quê? Ah, não enche, eu só tô de saco cheio de tanto vocês ficarem falando nesse cara.

Todos estranharam aquela crise repentina de mau humor e Nimbus esclareceu.

- Ele tá assim porque a Mônica prefere andar com o cobaia e não com ele.

O riso foi geral, deixando DC ainda mais furioso.

(Quim) – Vixe, ela tem mau gosto mesmo!
(Tikara) – O que ela viu naquele bobalhão?
(Felipe) – Na boa, eu sou muito melhor do que ele e ela não me dá bola!

Jeremias deu um sorrisinho malicioso e falou.

- Pois eu aposto que ela ficaria gamadona pelo tal herói mascarado, não é DC?
- Tá doido? Ela nem conhece ele! – O rapaz falou com o rosto vermelho, arrancando risos de todos.

Não tinha jeito. Quanto mais ele negava e xingava o tal herói, mais os outros desconfiavam dele. Por que ninguém o levava a sério? Daquela vez ele não queria contrariar ninguém, apenas estava falando a verdade. Além do mais, Magali já estava muito desconfiada. Se ouvisse aqueles boatos, a coisa poderia ficar feia para o seu lado. Ela já não estava mais se intimidando com o seu tio como antes.

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Do lado de fora, os alunos estavam deixando o ginásio da escola comemorando a vitória do seu time. Cebola acompanhava Mônica de longe tentando tomar coragem de convidá-la para tomar um sorvete antes que o idiota do DC passasse na sua frente de novo.

Foi quando ele percebeu Magali e Denise não muito longe dali e ambas estavam de olho nela. E essa agora! Pelo jeito que aquelas duas olhavam para ela, ele não teve mais dúvidas. A coisa ia ficar muito feia.

Mônica andava distraída entre os alunos e foi para um lugar mais afastado para poder telefonar. Quem sabe as garotas não topariam fazer uma festa do pijama na sua casa?

Ao ver que ela estava isolada dos outros alunos, Magali fez um sinal para Denise e saiu correndo dali. Cebola viu tudo e tentou segui-las a uma distância segura.

Quando estava discando o número da Marina, ela sentiu alguém segurando forte seu braço e uma mão tampando sua boca.

- Fica quieta aí, gatinha! Não faz escândalo que é pior! – Ela ouviu a voz do Titi falando no seu ouvido enquanto ele lhe arrastava por entre algumas arvores que ficavam perto do pátio da escola. Ali, onde era mais isolado, Magali esperava junto com Tonhão e Denise.
- Argh! O que você quer? – ela perguntou se soltando do Titi.
- Cala a boca, quem faz as perguntas sou eu! E você vai me falar quem foi aquele babaca fantasiado que invadiu meu ferro velho!
- Eu não sei do que você tá falando!

Magali tirou a corrente da sua cintura, enrolou nas mãos dando algumas voltas e falou de forma ameaçadora.

- Vai falando ou eu arrebento essa sua carinha! E ainda mando o Titi cuidar do resto!

Ela olhou e viu que o rapaz estava cheio das piores intenções.

- Credo, você ficou louca? Tem mesmo coragem de fazer isso? Magali, você não é desse jeito!
- Não começa com esse papo idiota que hoje eu não tô com paciência! Titi, segura ela!
- Pode deixar!

O rapaz a segurou por trás, prensando seu corpo contra o dela de forma bem abusada. Antes que ela esboçasse alguma reação, Magali ameaçou.

- Se gritar, vai ser pior. Agora fala logo quem foi o babaca quem invadiu meu território!
- Eu já disse que não sei! Me solta, seu safado sem vergonha! Foi bem feito a Aninha ter te deixado!
- Olha lá como fala, mocinha! – ele falou apertando seu corpo mais ainda.

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Na nave Hoshi, Cebola acompanhava tudo roendo as unhas, enquanto Cascão tremia de medo e Magali tampava o rosto para não ver aquela cena horrível. Sua melhor amiga estava sendo ameaçada pelo seu duplo? Mesmo não tendo nada a ver com aquilo, sua consciência começou a pesar terrivelmente.

- Ai, pindalolas! Por que a Mônica não reage? Vamos, dá uma surra em todo mundo!
- Eu acho que ela não quer machucá-los. – Astronauta falou também preocupado com o andamento das coisas.
- Que menina boba... ela ainda não consegue enxergar a realidade e age como se aqueles fossem seus amigos. – Paradoxo também lamentou balançando a cabeça. Aquele era um dos motivos de ela não estar conseguindo se adaptar a nova realidade. Se continuasse assim, ela não ia conseguir nunca.  

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“Essa não, o que eu faço agora?” Cebola perguntou acompanhando tudo de longe. Era só questão de tempo até eles a machucarem muito. E ela estava ali por sua causa. Claro que ele só tinha invadido o ferro velho para ajudá-la, mas não era justo deixá-la apanhar só para se proteger.

Ele tirou uma espécie de relógio da sua mochila e colocou no pulso. Ainda bem que ele passou a levar aquilo em sua mochila apesar de achar que não ia usar aquele disfarce nunca mais.

“Muito bem, está na hora de agir!”

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- É isso aí, sua vaca! Se você não vai falar, então vai perder os dentes. Tonhão, manda ver!
- Quebrar dentes! – ele falou estalando os dedos e partindo para cima da Mônica, que ainda estava sendo segurada pelo Titi. Certo, não havia mais alternativa. Ou ela dava um jeito de reagir, ou acabaria apanhando.

Quando o valentão ergueu o braço, ela preparou-se para jogar Titi para longe e dar uma surra naquele brucutu.

- Parem aí mesmo, seus malfeitores!

Tonhão parou no meio do caminho e todos olharam para uma grande arvore e viram que tinha alguém em cima de um dos galhos. Ele usava a mesma roupa, porém dessa vez com uma cartola da mesma cor que o casaco enfeitada por uma pluma de cor azul. Ele também usava uma máscara no rosto que era bem mais elaborada do que a anterior e combinava com a capa.

Mônica mal pode acreditar nos seus olhos. Apesar de ser mais bem trabalhada e com mais detalhes, aquela era praticamente a mesma fantasia que o Cebola usou como o Fantasma Vigilante. E como ele tinha ficado bem naquela roupa!

- Resolveu aparecer, né seu filho da puta?
- Que linguajar mais baixo, você realmente não tem classe! E você, Titi, como ousa tratar uma linda donzela desse jeito?

O rosto da Mônica ficou vermelho e se não fosse pela situação, ela teria dado um suspiro apaixonado.

- Credo, esse cara é manezão demais! – Titi falou irritado com aquela pose de herói.
- Então vamos arrebentar geral! Pra cima dele, galera!

Todos foram na direção do desconhecido, que desceu do galho dando um salto ágil.

Outros alunos foram atraídos pelo barulho e agitação e todos ficaram empolgados ao verem, em primeira mão, o herói misterioso.

- Tonhão, pega ele! – Magali ordenou e foi prontamente obedecida. O grandalhão foi para cima do Cebola, que desviou agilmente colocando sua bengala no meio do caminho. Por ser muito grande e pesado, ele caiu como o tronco de uma arvore sendo derrubada. O próximo foi Titi.
- Pensa que esse pedacinho de pau aí me assusta? Você vai ver só! – ele sacou uma faca e foi para cima dele, tentando golpeá-lo.

Cebola se desviava dos golpes exibindo um sorriso debochado.

- Você tem os reflexos de uma tartaruga, seu dentuço!
- Como é? Grrrrr! – ele perdeu o controle e partiu para cima do oponente balançando a faca. Uma dor aguda atingiu seu estomago, fazendo-o se dobrar até chegar ao chão. Outro golpe da bengala foi dado nas suas costas, fazendo-o cair totalmente.

Gritos, aplausos e palavras de incentivos ecoaram pelo local.

- Uhuuuu! Acaba com eles!
- Detona com a Magali!
- É isso aí, manda ver!

Tonhão levantou-se novamente e tentou partir para cima do Cebola, que por pouco não foi pego de surpresa.

- Ora, ora, ora! Tão sutil quanto um rinoceronte!
- Eu vou te triturar todinho!
- Estou pagando para ver!
- Grrrrr! – Tonhão tentou atacá-lo novamente com toda sua força e Cebola aguardou até o último segundo e segurou o braço dele, golpeando suas costelas com a bengala e jogando o sujeito no chão.

Com os dois mais fortes fora de ação, ele encarou Magali com um sorriso de vitória.

- Muito bem, parece que você está sem capangas.
- Melhor contar de novo! – ela falou aquilo e Franja e Cascão apareceram dispostos para a briga.

Cascão estava com uma barra de ferro nas mãos enquanto Franja segurava um tchaco.

- Seus covardes, isso não é justo! – Mônica gritou furiosa.
- Então vem pra briga, sua vaca! – Magali chamou desafiadoramente, ansiosa por dar uns bons socos na cara daquela burguesinha.
- Nada disso! – O mascarado protestou. – É o cavalheiro quem deve proteger a bela dama! Essa luta é minha!

Dito aquilo, ele partiu para cima do Franja e girando a bengala entre os dedos, fez com que o tchaco voasse para longe. Cascão também tentou atacá-lo, decidido a não lhe dar mais nenhuma chance de fugir.

Como não queria machucar o amigo, Cebola afastou-se para trás de alguns arbustos e depois surgiu com uma mangueira jorrando água.

- Talvez eu devesse lavar um pouco essa alma suja, meu caro sujinho!
- Argh! Tira isso daqui, credo! Socorro! – a barra caiu no chão e ele saiu dali em debandada, deixando Magali furiosa.
- Volta aqui seu desgraçado!
- Pra tomar banho? Nem vem! Tô fora!

Depois daquele show, os outros rapazes não ousaram se aproximar daquele sujeito. Tinha que ser muito bom de briga para conseguir encarar todos eles praticamente de uma vez. Sobraram apenas Magali e Denise, sendo que a ruivinha era a mais fraca da gangue e jamais tentaria enfrentar aquele mascarado.

- Muito bem, Magali. Agora somos só você e eu!
- Eu vou quebrar todos os ossos da sua cara agora mesmo!
- Pois eu quero ver você tentar!

Ela balançou sua corrente no ar, pronta para lhe dar outro golpe. Cebola posicionou sua bengala preparando para se defender, mas ela lhe enganou e ao invés de tentar acertar seu rosto, enrolou a corrente nos seus pés fazendo-o cair no chão.

Os outros alunos gritaram apavorados diante da sua queda. Será que nem aquele estranho herói ia conseguir vencê-la?

- Magali, pára com isso! Já chega! – Mônica gritou tentando parar com tudo aquilo.
- Fica fora dessa! Ele vai ver só uma coisa.
- Não se preocupe, bela dama! Eu posso me cuidar sozinho!

Quando Magali ia para cima dele, Cebola pegou o outro lado da corrente e usou para segurar seu pulso dando algumas voltas. Com ela imobilizada, ele a jogou para o lado e tratou de se levantar libertando-se do restante da corrente.

- Seu filho da...
- Eu sugiro que lave essa boca suja com sabão, mocinha! Em guarda! – ele bradou apontando sua bengala para ela, que ficou sem saber o que fazer.
- Eu vou acabar com você!
- Se liga, galera! Tem gente chegando! – Denise gritou ao ver que alguns policiais estavam chegando junto com dois professores.

Ao ver que não dava outra opção, Magali resolveu bater em retirada.

- Isso não acabou, seu desgraçado! Eu ainda vou acabar com sua raça!

Ela saiu dali, seguida pelos outros membros da gangue. Todo mundo aplaudiu, assoviou, riu e bateu palmas.

- Aê! Mandou bem!
- É o nosso herói!
- Arrasou!

Ele até que gostou dos aplausos, mas viu que também devia sair dali. Antes, ele chegou perto da Mônica e perguntou com a voz quente e sedutora.

- Eles te machucaram, bela dama?
- Heim? Não, eu tô bem, obrigada!
- De nada! – ele falou pegando em sua mão e pousando um beijo suave, deixando as garotas espumando de inveja.
- Ai ai... – ela murmurou ao vê-lo se afastando agilmente entre as árvores. – Ele realmente fica lindo nessa roupa!

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Cebola olhava para a tela com os olhos esbugalhados, mal acreditando no atrevimento daquele cara. Como ele se atreveu a beijar a mão dela? Que abusado!

- Ué, o Titi fez coisa muito pior e você não ficou afetadinho! – Magali o recriminou. – O que foi, tá com ciúme?
- Ciúme? Eu? Nem vem! Eu só não quero que ele... er... fique xavecando a Mônica, é isso! Porcaria, por que ela mesma não deu um jeito neles? Tinha que esperar pelo metido a herói? Que droga, isso tá ficando cada vez pior!

Todos olhavam Cebola praguejar e xingar sem entender nada. Não era para ele estar feliz ao ver seu duplo se tornando cada vez mais corajoso e seguro de si?

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No banheiro do vestiário, alguém ligou a descarga e pouco depois um rapaz saiu do banheiro esfregando o estômago e fazendo cara de alívio.

“Caramba, acho que exagerei na torta de frango com geléia!” embora não tivesse gostado nem um pouco daquela combinação, ele precisava manter sua fama de contrariado a todo custo. Uma boa reputação não se construía da noite para o dia. Após lavar as mãos, ele saiu do banheiro e deu de cara com um grupo de rapazes que vinha na direção oposta.

- O que foi, gente? – ele perguntou estranhando aquela agitação.

Eles se entreolharam de um jeito malicioso e Nimbus perguntou.

- Onde você estava?
- Aqui, ué! Aquela torta de frango não caiu bem no meu estômago e eu tive que fazer um número dois!
- Número dois? Aham! – Xaveco falou piscando um olho e os outros riram.
- O que tá pegando?
(Lucas) - Ah, sem essa! Você deve saber muito bem! E aí, cadê sua fantasia? Mostra pra gente, vai!
- Como é? Fantasia? Vocês piraram?
(Tikara) – Anda, vai! Não amarra não!

Todos começaram a insistir em alguma coisa que DC não fazia a menor idéia. Foi só quando Nimbus explicou sobre a briga da Magali com o misterioso herói que ele se deu conta do que estava acontecendo: todo mundo pensava que ELE era o tal herói e não havia como desfazer aquele mal entendido. Quanto mais ele negava, mais o pessoal ficava convencido do contrário. Aquilo era muito ruim. Ou não?


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