Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 22
Nano-Espionagem




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– Cebolinhaaaaa! Vem cá!
– Já vou, mãe. – ele respondeu desanimado e largou o que estava fazendo.
– Me ajuda a levantar aqui, eu quero ir ao banheiro.

Apoiar sua mãe, com todos seus 120kg, não foi nada fácil para ele. Além de pesada, a mulher exalava um cheirinho ruim, indicando que não tomava banho há um bom tempo.

– Ô mãe, porque a senhora não aproveita que tá aí e não toma um banho?
– Por quê? Tô fedendo por acaso?
– Não, é que tá fazendo calor e achei que a senhora ia querer tomar um banho pra refrescar e...
– Eu não tô sentindo calor nenhum, é coisa da sua cabeça. Agora espera aí fora pra me ajudar a voltar pro sofá.

Depois de levá-la de volta, ele ainda teve que lhe providenciar um pedaço de bolo com um copo de achocolatado.

“Fala sério, essa vida é uma droga mesmo!” ele pensou consigo mesmo remoendo sua insatisfação. Por mais que fizesse, nada saía do lugar. Ajudar sua mãe era uma tarefa impossível porque ela não queria ser ajudada.

– Aposto que a vida dele deve ser muito melhor que a minha. – ele murmurou olhando a foto onde o seu duplo aparecia com o da Mônica.

Todas as suas tentativas de descobrir alguma informação a mais não tinham dado em nada. Após invadir o computador da Mônica e vasculhar cada arquivo, ele viu que não tinha nada de interessante ali. Falar com ela não adiantava muito porque ele não podia fazer as perguntas que queria sem levantar nenhuma suspeita. O que lhe restava?

– Só se eu fosse na casa dela. É... de repente tem alguma coisa de interessante por lá. Caramba, por que não pensei nisso? Não, peraí... a casa dela é enorme, não vai ter como eu olhar tudo. Deixa eu pensar direito.

Ele andava de um lado para o outro, tentando bolar algum plano que lhe permitisse examinar melhor aquela casa. Será mesmo que havia alguma coisa ali? Talvez uma máquina que permitia viajar entre universos? Mesmo não achando que ela pudesse ter algo assim dentro de casa, ele resolveu não descartar nenhuma possibilidade. Afinal, se ela tinha imagens de um universo paralelo em seu celular, poderia muito bem ter mais coisas escondidas naquela casa. Bastava saber procurar. E ele sabia muito bem como procurar.

O rapaz se pôs a vasculhar sua caixa de criações a procura de algo que pudesse ser útil. Examinar aquela casa ia gastar muito tempo e ele acabaria sendo pego no meio do caminho. Então só havia uma coisa a fazer.

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– O que ele está fazendo? Que coisa é aquela? – Astronauta perguntou olhando os pequenos dispositivos que Cebola montava.
– Ai, que coisa esquisita! – Magali exclamou fazendo careta e Cascão discordou.
– Esquisito nada, é maneiro demais, véi! Seu duplo é muito sinistro, careca!
– É... bem sinistro... – Cebola falou não muito empolgado. Estranho, quanto mais conhecia seu duplo, mais receoso ele ficava. Ora, do que ele teria medo? Aquele sujeito podia ter lá suas esquisitices, mas não havia razão nenhuma para ter medo dele, havia?

Ainda assim Cebola se sentia bastante desconfortável com seu duplo. Se ele fosse apenas o Mané perdedor, até que daria para suportar. Mas não, ele parecia até ser mais inteligente e ardiloso também. O que ele pretendia fazer caso descobrisse a verdade?

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– Sai pra lá, mocréia! Eu não sei do que você tá falando! – DC falou com cara feia.
– Você pensa que eu sou burra, é? Sei muito bem que você invadiu meu território pra recuperar o celular da burguesinha!
– Fala sério, você é doida por acaso?
– Doido é você que agora vai levar muita porrada. Tonhão!

Quando o grandalhão avançou na sua direção, DC logo tratou de gritar.

– Encosta a mão em mim que meu tio vai fazer uma vistoria completa naquele ferro velho! Aposto que deve ter muita coisa roubada ali!

Tonhão parou no meio do caminho e olhou para Magali.

– Se você sabe disso, é porque andou xeretando o que não é da sua conta!
– Bah, deixa disso! Eu sei muito bem que você rouba, tá ligada? Só que eu não fui no seu ferro velho!
– Então quem foi?
– E eu sei lá! Deve ser algum maluco! Na boa, eu tô avisando! Encosta a mão em mim e você vai se ver com meu tio! Ele tá de olho na sua turma a um tempão e só não fez nada porque não sabe onde vocês escondem! Olha que eu falo tudo pra ele!

Magali agarrou a gola da sua camisa e levantou o punho para lhe dar um bom soco. DC tremia um pouco, virando o rosto para o lado e fechando um olho esperando pelo golpe iminente.

– Eu vou falar pro meu tio, vou sim!
– Escuta aqui, seu bundão! Não fica fazendo pinta de valente pra mim porque você não passa de um bosta! – Ela soltou a gola da camisa, empurrando o rapaz para longe. – Você é tão ridículo quanto o cobaia, fala sério!
– Qualé, sou muito melhor que ele!
– Se escondendo atrás do titio delegado? Pfff! Aquela burguesinha é mais valente do que você, pelo menos ela não esconde atrás de ninguém. Agora sai da minha frente, valeu?

DC bufava de raiva e só não partia para cima dela por causa do Tonhão e do Titi que também estava com ela.

– Fica ligado, seu bosta. Eu vou ficar de olho. Se foi mesmo você quem invadiu minha área... – Ela estalou os dedos e Tonhão quebrou um grande pedaço de pau para enfatizar o que ia acontecer com aquele enxerido. – Agora vaza logo daqui.
– E agora? – Denise perguntou depois que DC foi embora correndo como um gato assustado.
– O jeito vai ser perguntar pra burguesinha. Ela deve saber quem foi.
– E como vamos fazer isso? Ela quase não sai de casa e quando sai, é com os pais dela.
– Então vai ter que ser na escola. Tranqüilo, pra mim não tem problema. A gente pega ela no cantão e pronto. Aquela ali vai ter que explicar essa história direitinho.
– Se quiser, eu dou uma força! – Titi se ofereceu, fazendo Denise torcer o nariz. Era óbvio que ele só queria se aproveitar da situação.

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– E aí, tudo bem? – Cebola cumprimentou ao entrar na sala onde Mônica ainda se debatia com o piano. – Você já tá tocando alguma coisa?
– Ai, nem quero falar disso. Então, vamos lá pro quarto? Vai dar pra estudar ali.
– Claro. – O rapaz a seguiu, espantado com o tamanho da casa e mais espantado ainda com o tamanho do quarto dela. Realmente, examinar aquela casa poderia ser muito demorado e trabalhoso. Felizmente ele estava bem equipado.

Os dois foram para a área externa, onde tinha uma mesa e cadeiras e Cebola começou a lhe ensinar sobre a matéria que ia cair na prova de física.

– Muito bem. Vamos começar com esse exercício:

“Um campo magnético que exerce influência sobre um elétron (carga -e) que cruza o campo perpendicularmente com velocidade igual à velocidade da luz (c = 300 000 000 m/s) tem um vetor força de intensidade 1N. Qual a intensidade deste campo magnético?”

Mônica olhou para as fórmulas no caderno, tentando encontrar alguma que pudesse lhe ajudar com aquela confusão.

– A gente usa essa fórmula aqui?
– Sim. É essa fórmula que calcula a intensidade do campo magnético. Nós já temos F = 1N, tem a carga do elétron que é 1,6 x 10 elevado a -19 e tem a velocidade da luz que é 3 x 10 elevado a oito. Tenta aplicar a fórmula.
– Essa fórmula é pra calcular a força exercida sobre a carga elétrica, não a intensidade.
– Aí você vai ter que mexer com a fórmula. Vai substituindo as variáveis pelos valores que você consegue.
– Tá bom.

Ela fez os cálculos e ele conferiu.

– Viu só? Não é difícil!
– Puxa, eu tava quebrando a cabeça com isso a um tempão!
– Beleza. Vamos que ainda tem mais.

Estar ali com ela, a sós e sem ninguém para interromper, era tão prazeiroso que ele acabou esquecendo do tempo. Ela era tão encantadora com aqueles olhos castanhos e seu jeito forte e independente! Quando se deu conta de que tinha se distraído, ele resolveu colocar o plano em prática.

– De tanto falar, fiquei com sede. Dá pra me arrumar um copo d’água?
– Hum... acho que vou mandar a Durvalina trazer um suco pra nós.
– Valeu.

Assim que se viu sozinho, Cebola abriu sua mochila e tirou dali pequenas máquinas feitas com nanotecnologia. Os dispositivos eram um pouco maiores que uma ervilha e tinham pernas bem finas, lhes dando o aspecto de aranhas. Quando foram colocados no chão, as pequenas máquinas se espalharam pela casa e logo sumiram da sua vista bem a tempo de a Mônica voltar trazendo uma bandeja com uma jarra de suco e dois sanduíches. A primeira parte do seu plano estava concluída. Faltava apenas esperar que suas máquinas começassem a mandar imagens da casa e pronto. Nada ia ficar escondido para ele.


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