Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 2
Perturbação a vista




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A nave Hoshi voava ao redor da Terra coletando dados para que seus tripulantes pudessem entender o estranho fenômeno que estava se passando no planeta.

- Ainda não está bom. Tenente Xabéu, reajuste esses parâmetros e tente novamente.
- Sim, comandante.

Novos valores foram inseridos pelo teclado enquanto o computador refazia os cálculos. Quando o programa terminou o processamento, Astronauta tentou sintonizar novamente o universo paralelo e para sua surpresa, viu o mesmo resultado.

- Parece que está havendo algum tipo de distúrbio nesse universo que está afetando o nosso também.
- De que maneira esse distúrbio poderá nos afetar, senhor?
- Ainda não sei. Por enquanto, nada de anormal está acontecendo com a Terra.
- Mas essa distorção...
- É uma distorção no espaço-tempo. – Alferes Zé Luis esclareceu inserindo dados no computador e observando os resultados. – um dos universos paralelos está interagindo com o nosso e criando essa perturbação.
- Interagindo? Eu não sabia que isso era possível.
- Eu também não, Tenente, mas parece que os universos paralelos têm seus segredos. – Astronauta falou olhando para o monitor tentando entender o que se passava com a Terra.

Diante dos olhos atentos dos três, algumas rajadas elétricas começaram a percorrer a Terra como se estivessem apalpando o planeta.

- O que está acontecendo aqui?
- Talvez eu possa responder, comandante.

Eles viraram-se de uma só vez para o inusitado visitante e viram um homem de cabelos pretos, usando jaleco branco e com uma espécie de óculos protetor pendurado no pescoço.

- Saudações, caros amigos.

Astronauta se aproximou do visitante e perguntou de forma autoritária.

- Quem é você e como entrou nessa nave?
- Podem me chamar de Paradoxo e como eu entrei nessa nave não vem ao caso agora. O importante é que de certa forma, eu sei responder o que está acontecendo com os universos.

O comandante se interessou levemente e procurou esquecer, ainda que por alguns minutos, o fato de aquele homem ter entrado em sua nave sem permissão.

- E o que está acontecendo?
- Equilíbrio é a palavra chave do momento, caro comandante. – ele se aproximou do computador, onde mostrava a imagem da Terra tendo seu espaço distorcido e as labaredas elétricas percorrendo o globo. – O que está acontecendo é que um dos universos paralelos a este se encontra em uma situação de desequilíbrio.
- E o que causou esse desequilíbrio?
- Um evento importante que deveria ter acontecido e não aconteceu. E como esse evento não aconteceu, a realidade foi alterada e uma situação de desequilíbrio nesse universo foi criada. Agora esse universo está tentando restaurar o equilíbrio.

Ele ficou em silêncio por instantes para processar o que acabara de ouvir e tornou a perguntar.

- Que evento é esse? O que deveria ter acontecido nesse universo paralelo que não aconteceu?
- Foi o nascimento de uma pessoa. Parece que você tem algum conhecimento sobre universo paralelo, mas acho que de uma coisa você não sabe: nem todas as pessoas que nascem em um mundo, nascem em outro. Geralmente elas não fazem falta, mas em alguns casos raros pode acontecer de alguém muito importante ter deixado de nascer, ou talvez morrido antes da hora e isso causa um desequilíbrio.

Astronauta levantou uma sobrancelha.

- Está dizendo que tudo isso é porque uma pessoa deixou de nascer nesse universo alternativo?
- Sim. E agora esse universo está se conectando ao nosso numa tentativa de restaurar o equilíbrio.

Ao ver os olhos arregalados dos tripulantes, ele esclareceu.

- Isso é complicado de explicar para pessoas que pensam de forma linear e dentro de um determinado espaço-tempo. O que eu posso dizer no momento é que os universos, o nosso e os paralelos, são dotados de uma espécie de inteligência própria que permite ajustes, adaptações e correções em casos de desequilíbrio.

Zé Luis logo ficou empolgado com aquela teoria. Como era possível um universo ter inteligência própria?

- Quer dizer que os universos são conscientes? Eles pensam?
- Sim, mas não da maneira que vocês imaginam. Se querem um conselho, não se esforcem tentando entender a dinâmica dos universos. Isso irá levá-los a loucura.

Paradoxo sabia por experiência própria como aquilo podia ser complicado. Ele mesmo tinha levado dezenas de milhares de anos para entender como funcionava as regras universais e sua dinâmica. Não seria prudente tentar explicar aquelas pessoas de mente limitada sobre as complexidades do espaço-tempo.

Vendo que o estranho cientista não parecia disposto a dar mais explicações sobre a inteligência dos universos, Astronauta lembrou-se de fazer uma pergunta importante.

- Afinal de contas, quem é a pessoa que está faltando nesse universo alternativo?
- Você a conhece.
- Eu conheço? De quem estamos falando?
- Não seja impaciente, comandante. Em breve vocês saberão. Eu não gosto de estragar as surpresas.

Astronauta procurou manter a calma e perguntou pausadamente.

- E quando isso irá acontecer, pode responder essa pergunta ou é outra surpresa também?
- Irá acontecer dentro de três dias, exatamente. – ele parou um pouco, consultou seu relógio e voltou a falar. – Nessa mesma hora.
- E o que devemos fazer quando chegar a hora? – Xabéu perguntou ainda olhando para o vídeo.
- Nada.
- Nada? – os três perguntaram ao mesmo tempo.
- Isso mesmo, nada. Quando acontecer, só nos restará observar os acontecimentos. E devo dizer que vocês tem uma boa tela onde poderemos ver tudo. Sim, sim... será bem divertido. Ops! Agora eu tenho que ir. Outro compromisso me espera. Voltarei quando tudo começar a acontecer.
- E onde será... desapareceu!
(Xabéu) – Que sujeito esquisito!
(Zé Luis) – Esquisito é apelido. Comandante, o que o senhor acha que irá acontecer?
- Ainda não sei ao certo. Pelo menos uma coisa que aquele sujeito falou faz sentido: vamos esperar e ver os acontecimentos.
(Xabéu) – Só espero que não seja nada de grave...
 
Ele não respondeu e voltou a olhar a imagem da terra, vendo que as distorções estavam aumentando. Intimamente, ele também torcia para que nada de ruim acontecesse com a Terra.

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Magali e Cascão acompanhavam a briga em silêncio, olhando ora para um, ora para outro. Pelo visto, o piquenique do dia anterior não teve nenhum efeito naqueles dois.

- Ah, qualé Mônica! Foi só uma brincadeira! Precisava apelar desse jeito?
- Uma brincadeira de mal gosto, isso sim! Você tirou a cadeira quando eu ia sentar e depois ficou me chamando de baleia? Isso é brincadeira que se faça?
- Tá, pode ter sido exagerado, mas caramba! Você nem se machucou!
- Não, mas poderia né? Credo, parece que você só aumentou de tamanho e ainda continua criança! Vê se cresce!
- Cresce você também, que apela por qualquer coisinha! Outro dia você me deu um tapa na cabeça só porque eu deixei respingar catuchup na sua mão! Precisava disso tudo?
- Eu posso ter errado sim, mas pelo menos eu pedi desculpas, coisa que você não faz!
- Então tá, majestade! Perdoe esse humilde servo por tamanho atrevimento! – ele falou em tom de zombaria, fingindo uma reverência. Aquilo só serviu para deixar a Mônica ainda mais furiosa.
- Grrrr! Tá vendo? Você não cresce mesmo, heim?

Ele acabou perdendo a paciência.

- Ah, quer saber de uma coisa? Se vira sozinha pra estudar porque eu tô indo embora! Você tá chata demais e eu nem sei como agüento tanta chatice!
- Então vai mesmo, seu crianção! Anda, fora!
- Vou mesmo, fui! E se você tirar zero em física, não vem chorar no meu ouvido depois!

Depois que Cebola saiu, Mônica bateu a porta com força fazendo os móveis tremerem.

- Ai, não acredito! Quebrei outra porta! A mãe vai me xingar até falar chega!

Magali tentou acalmar a amiga.

- Fica assim não, Mô! Vem, senta pra acalmar um pouco.
- Mas eu não quero me acalmar, que droga! O Cebola apronta comigo e eu fico como vilã?
- Também, você faltou pouco quebrar a cadeira na cabeça dele! – Cascão falou se escondendo atrás da mesa para não apanhar e logo calou-se com a cara feia que Magali tinha feito. O objetivo ali era acalmar a Mônica, não deixá-la ainda mais nervosa.
- Ah, tá! O Cebola apronta comigo e tudo fica bem, mas quando eu revido todo mundo acha ruim? Então ele pode aprontar o que quiser e eu não posso fazer nada? É isso Cascão?
- Er... hã... (glup! Tô ferrado!) olha, eu acho que vou atrás do careca pra ver se... tipo assim, sei lá! Fui!

Cascão foi se esquivando da Mônica e dos móveis usando manobras de parkour e saiu da casa rapidamente antes que fosse tarde demais, deixando as duas sozinhas, para desespero de Magali. Quando a Mônica ficava daquele jeito, era quase impossível acalmá-la.

- Ai, fala sério! O que deu nele?
- É que você tá muito nervosa, sabe? Não precisava ter exagerado tanto com o Cebola.
- Mas ele...
- Ih, tem dó! Ele apronta com você durante todos esses anos e bater nele nunca resolveu de nada!
- E você quer que eu faça o que? Que fique aturando desaforo calada?
- De repente, se você tivesse só ignorado, ele já teria cansado há muito tempo.
- Ah, tá! Queria ver você conseguir fazer isso tendo um bando de moleques te xingando o tempo inteiro! Eu não tenho sangue de barata não, Magá!
- Eles também aprontavam comigo de vez em quando, esqueceu? E eu nunca parti pra violência. No seu lugar eu não teria batido em ninguém, teria resolvido de outra forma.
- Que outra forma? Conversando? Isso não funciona!
- Você nunca tentou, como saber? Qualquer coisinha você já quer descer o braço em todo mundo, aí não dá mesmo! Mô, na vida a gente tem que ter calma.

Mônica bufou de irritação e Magali fez com que ela se sentasse.

- Amiga, pensa bem: já pensou se a gente sai por aí batendo em todo mundo que nos provoca?
- E a gente faz o que então? Deixa passar batido? Não reage? Não faz nada?
- Olha, se todo é pra ficar nessa de “olho por olho, dente por dente”, daqui a pouco todo mundo fica cego e banguela!

Aquilo pareceu surtir efeito e Mônica se acalmou um pouco, sabendo que a amiga não deixava de ter razão. O difícil era controlar o seu temperamento ruim. Muitas vezes ela tinha reações exageradas por causa de coisas bobas e acabava gritando e brigando com todo mundo. Talvez fosse por isso que Cebola tem andado arredio ultimamente, já que ela só sabia brigar com ele.

- Ainda não sei, Magá... é tão difícil! É justo eu ficar calada com o Cebola me provocando e alfinetando o tempo inteiro? Ele implica com tudo, faz piada com tudo e quando eu reajo, ele se faz de vitima e eu fico como vilã!
- É porque você reage de forma desproporcional, é isso! Olha, se ele te encher de novo, ignora e finge que não conhece. Aí ele perde a graça. Faz uma forcinha, vai! Você não quer ficar bem com o Cebola?

Ela remexeu nervosamente no sofá.

- Quero...
- E não quer que ele perca o medo que tem de você?
- Claro!
- Então? Num relacionamento, a gente precisa relevar certas coisas pra ser feliz, né? Se for pra brigar por causa de qualquer coisinha, ninguém fica com ninguém! Tenha um pouco de paciência com o Cebola, amiga!
- É tão difícil!
- Mas não impossível! No seu lugar eu respirava fundo, contava até dez e tentava levar numa boa.
- É que você é tão controlada! Eu nunca consegui te imaginar dando uma surra em ninguém!
- É porque eu não vou sair brigando com ninguém por qualquer coisa! Eu sei me controlar e você pode aprender também!

Por fim Mônica conseguiu se acalmar um pouco. Não havia outra alternativa e no fundo ela sabia que precisava dar um jeito naquele temperamento ruim se quisesse ter algum futuro com o Cebola.

As duas tentaram estudar um pouco e no fim da tarde Magali foi embora para sua casa.

- Se cuida, viu? E lembre-se: aprenda a se controlar ou vai perder o Cebola de vez.
- Tá bom, já entendi. Tchau, beijo.

Depois que Magali foi embora, Mônica subiu para o seu quarto e deitou-se na cama com roupa e tudo, relembrando das coisas que tinham acontecido naquele dia. Sua amiga estava certa, ela precisava aprender a se controlar e ficar mais calma. Não fazia sentido reagir de forma tão agressiva por causa de provocações bobas.

- Heim? Que foi isso? – pelo canto do olho, ela pensou ter visto uma faísca do lado de fora da janela, no céu. Ela levantou-se para olhar melhor e depois de alguns minutos viu, ou pensou ter visto, relâmpagos cortando o céu, o que era estranho já que não havia nenhuma nuvem.

Como não estava com a cabeça boa para pensar naquilo, ela voltou a se deitar ainda pensando no Cebola e em como as coisas estavam difíceis com ele. Será que ela ia ter algum sucesso caso seguisse o conselho da Magali? Valia a pena tentar...


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