Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 11
Duplo Do Contra




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Magali olhava para baixo, com os braços cruzados e perdida em seus pensamentos. Aquela história seria mesmo verdade? Será que seu duplo ficou daquele jeito por causa das provocações dos meninos? Dava para acreditar, de jeito nenhum!

Durante toda sua vida, ela pensava que era calma, controlada e não se deixava levar pelas provocações dos outros. Tanto que ela sempre achava que se estivesse no lugar da Mônica, faria melhor do que a amiga e não sairia por aí espancando ninguém. A própria Mônica a admirava pela sua calma e sensatez. Saber que sob as condições certas, ela poderia ter virado uma valentona pior do que sua amiga dentuça era um golpe no seu ego.

- Magá, você tá legal? – Cascão perguntou preocupado com sua quietude.
- Não, eu não tô! Isso não é justo!
- O que não é justo? – Astronauta perguntou levantando uma sobrancelha.
- O meu duplo ser desse jeito!
- De que jeito? Pior do que a Mônica em dia de TPM?

Ela olhou para o Cebola com a pior cara possível, fazendo o rapaz se encolher todo. Ela podia não ser aquela Magali trevosa, mas ele não queria correr o risco de despertar o lado ruim dela. Ainda assim ele não conseguiu ficar quieto.

- Nem sei por que você tá achando ruim comigo! O seu duplo vive implicando com o meu!
- Porque ele implicava com ela antes! Ela só reagiu pra se defender!
- E precisava abrir uma brecha na cabeça dele?
- Ele deve ter feito por merecer! – Magali gritou começando a chorar de raiva. Cebola não quis deixar por menos.
- Só que ele não deixava de ter alguma razão! Você sempre abocanhava nosso lanche e várias vezes até mordeu a minha mão! Seu duplo era a mesma coisa!
- Pô, careca! Não fica jogando na cara dela desse jeito! A Magá não fazia aquilo por mal e você sabe disso!

Astronauta se colocou entre eles e falou enérgico.

- Não quero saber de brigas e discussões na minha nave. Os dois se comportem.

Eles ainda se olharam com cara ruim e ficavam calados. Paradoxo, que acompanhava tudo aparentemente alheio a discussão, voltou-se para ele e falou.

- Vejo que vocês estão tendo revelações interessantes sobre si mesmos.
- Nós mesmos? – Cebola voltou a falar. – Aquele ali não sou eu, é o meu duplo e não tem nada a ver comigo!
- Tem certeza?

Todos ficaram calados, tentando entender onde aquele homem queria chegar.

- Ah, olhem só! Parece que as aulas acabaram.

Paradoxo continuou olhando para a tela em silêncio, ignorando as perguntas que os três faziam. Por fim, eles resolveram acompanhar os acontecimentos para ver se algo interessante acontecia.

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Mônica ia caminhando pelos corredores conversando com suas novas amigas. Que forma estranha de se pensar... ela conhecia a todas, mas como ninguém a conhecia, então era como se fossem novas amizades. Que confusão!

Pelo menos ela ficou aliviada em saber que todas permaneciam as mesmas. Marina continuava gostando de desenhar, pintar e ainda tinha medo de cachorros. Keika, Dorinha, Cascuda e Aninha também mantinham suas personalidades, assim como outros membros da turma. Nem todos tinham ficado tão diferentes.

Após se despedir delas, Mônica foi esperar pela sua mãe ainda remoendo sua tristeza com aquele primeiro dia de aula. “Nossa, o que mais falta acontecer, heim?” ela pensou enquanto caminhava para o portão da escola. Tantas expectativas para o seu primeiro dia de aula e no fim acabou sendo uma droga. Além de ver que sua melhor amiga tinha se tornado uma valentona, ela também teve a maior decepção com o Cebola, que mais parecia uma mera sombra do seu original. Ele mal falava, andava encurvado e parecia ter medo de apanhar a qualquer momento. E como se aquilo não fosse o suficiente, ela quase vomitou seu lanche quando passou perto do duplo do Cascão. Ela nunca viu alguém cheirar tão mal em toda sua vida.

“Credo, parece que tudo aqui é bagunçado mesmo!”

- E aí, burguesa? – uma voz falou rispidamente, fazendo-a dar um longo suspiro e olhar Magali e Tonhão com ar de enfado.
- O que você quer, Magali? – Mônica perguntou meio desanimada.
- Acertar as contas! Lá na escola eu não pude quebrar essa sua cara de vaca burguesa, mas aqui do lado de fora é terra de ninguém!

Quando ela falou aquilo, o grandalhão estalou seus dedos de forma ameaçadora e ficou esperando apenas por uma ordem. Mônica não estava com medo de nenhum dos dois. Ela tinha enfrentado coisas muito piores na sua vida e aquele brutamonte não a assustava nem um pouco. Por outro lado, se reagisse poderia acabar se tornando a nova briguenta da escola. Sem falar que ela não queria machucar o duplo de Magali.   

- Eu já disse que não quero brigar com você.
- Mas EU quero brigar com você, sua vagabunda!

Olhando de longe, Cebola viu a confusão que estava sendo armada e seu coração apertou ao ver Mônica sendo ameaçada por Magali. Certamente era a vingança por ela tê-lo defendido naquela manhã. Outros alunos também viram o que estava acontecendo e formaram uma espécie de roda ao redor dos três esperando pelo espetáculo do dia.

- E aí! Vai encarar?
- Não. Eu não quero brigar e não vou brigar.
- Se não brigar, então vai apanhar! – Magali tentou empurrá-la e Mônica firmou os pés no chão com força de forma que a outra não conseguiu derrubá-la.
- Pára com isso, eu já falei que não vou brigar com você!
- Uia! Agora tá levantando a voz pra mim, é? Que medo!

O clima começou a esquentar e era só questão de tempo até Magali partir para cima da outra.

- Dloga, o que eu faço? – Cebola murmurou para si mesmo tentando pensar em alguma coisa. Nenhuma idéia vinha a sua cabeça. Ninguém ali iria ajudá-lo e se não fizesse nada, Mônica ia acabar apanhando. A única forma de acabar com aquilo seria enfrentando Magali, coisa que ele não sabia se queria fazer. Aqueles dois iam acabar limpando o chão com ele. Por outro lado... ele já estava mesmo acostumado a apanhar, diferente daquela moça que ia acabar se machucando muito. Para quem apanhava todos os dias, uma surra a mais ou a menos não ia fazer diferença nenhuma. Mas quando ele pensou em fazer algo, eles ouviram alguém falando alto para os dois.

- Ô Magali, vê se dá um tempo, tá legal? Vai caçar o que fazer!
- Tá querendo apanhar por acaso?
- Se quiser, pode vir. Pensa que eu tenho medo por acaso? Vai se ferrar, mocréia!

Magali trincou os dentes com raiva. Tonhão já ia avançar para cima do rapaz quando ela o deteve colocando o braço em seu caminho.

- Vamos nessa, Tonhão. Mas isso não acabou, vadia. Você ainda tá na MINHA escola.
- Tá, tá. Agora vaza logo daqui, sua chata! – o rapaz repetiu novamente, mostrando que não estava com a menor sombra de medo.

Um suspiro de alivio saiu dos lábios dela quando os dois foram embora. Que susto! Já
Cebola fechou a cara. Por um lado ele estava até aliviado porque aquela garota escapou da briga. Mas ela tinha que ter sido defendida justamente por aquele sujeito metido e irritante?

Ao verem que não ia mais ter briga, os outros alunos foram embora também, inclusive Cebola que deu uma última olhada nos dois antes de bater em retirada. Ele precisava correr para não ser pego pela Magali, que se o visse ia transformá-lo em bode expiatório para descontar suas frustrações.

- Oi, você tá bem?
- Estou sim, obrigada, DC. – Novamente ela mordeu a língua. Era preciso tomar mais cuidado para não cometer esses deslizes.
- Ué, como você sabe o meu apelido?
- É... eu...

O rapaz deu um sorriso enigmático e logo ficou interessado por ela.

- Legal, só que eu ainda não sei o seu nome.
- Mônica.
- Mônica? Gostei... você tem cara de Mônica mesmo. Você é nova na escola, não é?
- Sou.

Ele deu um largo sorriso.

- Aqui, ouvi falar que a você enfrentou a Magaléfica. É mesmo?
- Magaléfica?
- Uma mistura de Magali e maléfica. Eu costumo chamá-la assim, mas o apelido não pegou muito porque o povo tem medo dela. E aí, você enfrentou mesmo a fera?
- Mais ou menos... é que ela tava maltratando um pobre coitado...
- Que doido, mas não faz isso de novo não que uma hora ela pode acabar indo pra cima de você. Aquela ali, quando começa a bater não pára mais!
- Eu só não entendi por que ela não fez nada contra você...
- Porque meu tio é delegado e tá de olho na turma dela há um tempão. Acho que ele é a única pessoa dessa cidade de quem ela tem algum medo. Nem os próprios pais ela respeita.
- Ah, tá! Er... bom... agora eu preciso ir pra casa. Minha mãe tá chegando. Obrigada de novo.
- De nada. A gente se vê por aí.
- Claro.

Quando o carro da sua mãe parou em frente ao portão, Mônica acenou para DC mais uma vez e entrou no veículo sentindo o coração batendo mais depressa. Era impressão sua ou o DC daquele universo era mais gato do que o original? Ou seria apenas o contraste dele com o Cebola alternativo? De qualquer forma, ela procurou se controlar. Afinal, ela gostava do Cebola.

DC ficou olhando o carro se afastar com um leve sorriso no rosto. Aquela garota até que era bem bonita e parecia ser interessante também.

- Rapaz... eu acho que a gente vai se dar muito bem! - Ele falou consigo mesmo e foi embora já traçando alguns planos para ficar mais próximo dela. Pelo visto, ela tinha ficado impressionada por ele defendê-la da Magali e pretendia usar aquilo como arma de conquista.

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Se o som propagasse pelo vácuo, quem estivesse fora da nave Hoshi poderia facilmente ouvir os gritos histéricos do Cebola.

O restante da tripulação tampava os ouvidos enquanto Cascão tentava acalmá-lo.

- Ai, dloga! Eu não acledito! Estão me avacalhando, só pode!
- Calma, careca! Pára de gritar desse jeito ou vai ficar rouco!

Ele não conseguia se acalmar. Como se não bastasse saber que seu duplo não passava de um covarde que apanhava da Magali, ele ainda tinha que agüentar o DC alternativo dando de cima da Mônica sem poder fazer nada. Para sua raiva, o outro DC estava em condições muito melhores do que o seu duplo: boa aparência, alto, forte e também era capaz de enfrentar a Magali de frente enquanto o seu duplo se borrava de medo dela. Aquilo só podia ser um castigo divino!

Astronauta ficou cansado de toda aquela confusão e resolveu colocar um ponto final naquela gritaria.

- Acho que já chega, rapaz! Não quero saber de bagunça na minha nave.
- Mals aê...
– Pois bem, agora eu sugiro o seguinte: já que conhecemos a nova vida da amiga de vocês, que tal se olharmos um pouco a vida dos duplos dos seus amigos? Vocês acharão interessante.


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Notas finais do capítulo

Puxa... antes até que estava tendo bastante comentários, agora sumiram? O que houve, gente?