A Donzela De Olhos Vermelhos escrita por Khaleel


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Agradecimos a Tanya-chan, por todo seu apoio e por sua correção e avaliação.



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A Donzela de olhos Vermelhos

“A tatuagem nas suas costas. Todo ódio que foi implantado em seu corpo e na sua alma.”

“Você sofreu muito, muito mesmo.”

“Essas cicatrizes... Ren, posso curá-las?”

Jeanne x Ren

XXX

O saguão do hotel estava repleto de sussurros e boatos, nenhum funcionário, nem mesmo o gerente, atrevia-se a comentar algo em voz alta quando ele estava por perto. Era comum que pessoas famosas e ricas viessem a Paris, mais precisamente, Versalhes, para apreciar a culinária francesa e visitar os pontos turísticos.

Geralmente eram celebridades com seus próprios problemas, mas que ao menos vestiam a máscara de simpatia que a televisão ou a internet as jogava, mas esse não era o caso de Tao Ren, dono de uma das maiores companhias de eletrônicos da China, o Grupo Raitei.

Aquele homem usando um terno feito sob medida, possuía algo ameaçador. Diziam que era um monstro nos negócios e que pouquíssimas pessoas conseguiam se aproximar dele. Educado, mas frio e distante como se uma muralha de gelo estivesse separando-o de qualquer desconhecido que tentasse se aproximar.

Nem aqueles que jantavam próximo conseguiam ignorar isso. Apenas pedira por 3 copos de leite, que bebia periodicamente, enquanto observava, desinteresado, a capital francesa pelas grandes janelas do hotel.

Passaram-se 5 anos desde a batalha final contra Hao. Ele, assim como Chocolove, Horo Horo e Lyzerg, conseguiram. Ajudaram Yoh a acertar as contas com seu irmãozão e impedir o massacre pretendido pelo monge.

Faz... Tanto tempo assim?

Depois de se recuperar da batalha, ele foi o segundo a separar-se do grupo. Chocolove decidiu se entregar a policia e pagar por seus crimes do passado, enquanto Ren seguiu caminho oposto, para Pequim.

Desde aquele dia... Tao Ren jamais retornou.

Após se formar em Tsinghua como Engenheiro Eletrônico, ele fundou a Raitei Company e passou a expandir seus negócios por toda Ásia e Europa, mas nunca voltou a Tóquio.  Era provável que, assim como ele, os outros também tivessem seguido em frente.

Apesar disso não ser tão ruim. Eles são meus amigos afinal.

Após esse pensamento, os olhos dourados de Ren se arregalaram. Sim... Eles eram seus amigos. Até ele mal acreditava no que pensou. Mesmo tão distantes, ele sentia que seus amigos estavam sempre com ele e que aquela amizade era eterna.

Ele não era mais Tao Ren, a criança nascida e criada pelo ódio e a solidão. Seu coração tinha sido aberto para alguém mais além de sua irmã Jun. Embora que no parecesse o mesmo exterior, aquele garoto solitário e cruel de 6 anos atrás desaparecera.

– Eu sabia que também o encontraria aqui – uma voz feminina disse, poucos segundos antes da cadeira a sua frente ser puxada.

– Não me lembro de tê-la convidado a sentar – ele respondeu, movendo seu rosto para a garota sorridente sentada do lado oposto.

– É mesmo? Eu lembro vagamente de termos conversado no Palácio – a garota retrucou fazendo um gesto com a mão para chamar a atenção de um garçom. – Tem certeza de que não se lembra? Eu disse “nos veremos novamente”.

As sobrancelhas do homem de terno se estreitaram, embora ele quisesse parecer mais irritado, algo em seu coração dizia... Que ele a queria ali.

Por quê? Poucas foram às vezes que Jeanne, a Donzela de Ferro, se encontrava com ele. Berlim, Bruxelas, Moscou... Apenas três oportunidades, entretanto, como se fosse uma manipulação das linhas do destino, ela e seu grupo de caridade sempre se hospedavam no mesmo hotel que ele.

Maldição, Em Pequim há mais de 50 hotéis de Luxo! Esse é o único em Paris?

– O que você quer, Donzela de Ferro? Eu já disse que não faço doações para grupos de caridade. A Raitei tem uma divisão própria responsável por essas coisas, não é necessário que me peça diretamente – ele disse, tomando mais um gole do seu leite.

– Você... Bebe muito leite. – Foi o que ela disse antes do seu prato chegar. Ren esperava que ela ao menos pagasse pelo prato, mas tudo indicava que não.

Essa não é a questão! Beber leite faz ajuda a crescer, por isso eu bebo 3 copos todo dia!

Ren suspirou, desistindo de tentar entender aquela garota. Nos últimos três encontros que tiveram, ela sempre tentava fazê-lo assinar um cheque para a X-Charity. Todos os pedidos foram negados, mas o jovem chinês tinha de concordar que a garota era insistente.

– Me dê o talão de cheques. Eu assino. 600 milhões de yuans é uma quantia aceitável? – na verdade, era mais do que o faturamento da X-Charity, mas Ren possuia muito mais do que isso na sua conta bancária. Ele não era um daqueles ricos esnobes que gastavam com coisas inúteis ou desnecessárias, além disso, ele ainda possuía o dinheiro da família Tao, embora não o considerasse.

Porém, Jeanne permaneceu comendo calmamente e trocando olhares com ele de vez em quando. Ela sorria, como se observasse algo divertido.

Qual o seu problema? Não era isso que você queria?

Como se estivesse lendo seus pensamentos, Jeanne respondeu:

– Ei, sabe... Você está aceitando assinar justamente quando não vim falar disso.

– Então, o que você quer? – Ele retrucou, dando os ombros.

– Entender.

Entender?

As luzes do restaurante foram apagadas, mas nem Ren, nem Jeanne reagiram a isso. Uma música lenta, aparentemente uma apresentação do hotel, começou a tocar.

– Toda vez que venho comer, o vejo no mesmo lugar. Distante dos demais. Sozinho. No começo, eu pensava que essa era apenas sua natureza, a natureza de alguém que precisa ficar só, porém, com o passar do tempo, algo mais me veio a mente... E preciso confirmar isso.

– É isso que você quer entender? Por que eu estou aqui?

– Não, Ren. O que quero entender... É o que há no seu coração.

Aquela garota disse isso com uma expressão tão séria. Tão direta. Por quê? Por que o rosto de Ren parecia arder? Ela desejava enxergar o que estava dentro do seu coração. Será que não entendia?

Ela, um anjo da pureza que um dia foi chamado de santa e salvadora, tentando adentrar o coração escurecido pelo ódio?

Novamente, como se realmente analisasse sua alma, ela continuou:

– Não pense que seu coração é feito apenas de trevas. Nem mesmo você acredita nisso. Pouco a pouco, você foi mudando, não foi? Eu estava lá, cinco anos atrás. Eu estava lá quando você morreu, e quando ele me pediu para devolvê-lo. A pessoa que você era não tinha ninguém tão determinado para compartilhar tais sentimentos.

Você nunca foi tão querido.

Você nunca foi tão respeitado.

Eles. Seus companheiros. Pessoas a quem você deve a vida. A vida que você daria em troca de qualquer um deles sem pensar duas vezes. Se você possui esses sentimentos, então seu coração não feito de ódio, Tao Ren.

–...O que você quer de mim, Donzela de Ferro?

– Já disse. Quero entender, assim como você. Você escapa para sua mente toda vez, você não volta para eles e se sente completo? É esse sentimento que eu quero entender.

– Creio que você tem seus companheiros para isso, não precisa de mim para algo assim – Ren disse, tentando encerrar aquela conversa, não importava de que modo. Algo o incomodava. Ele não conseguia, pela primeira vez, dar uma resposta à altura.

Entretanto, ela respondeu, antes que Ren pudesse se levantar.

– É verdade. Também tenho companheiros que amo. Porém, o que desejo entender é esse sentimento, “amor”, pode nascer por apenas uma pessoa.

Pela segunda vez naquela noite, os olhos de Tao Ren se arregalaram. A garota moveu os lábios, disposta continuar com aquele estranho diálogo.

– Não me pergunte achando que tenho a reposta.

Virando-se, sem aguardar uma resposta da garota, ele saiu do restaurante. Aquelas palavras, por que elas o traziam lembranças? Um lado dizia que elas deveriam ser aceitas e respeitadas enquanto que o outro lado...

Amor.

Que bobagem.

Embora tentasse fazer sua mente relaxar, Tao Ren não conseguia esquecer aquelas palavras e o significado por de trás das linhas. Seu corpo o impedia de dormir.

Amor.

Que bobagem.

Aquela garota desejava descobrir se o que ela sentia era real? Se era aceitável? Se ele sentia o mesmo?

Não era primeira vez que escutara uma confissão. Aquilo era uma confissão? Porém, foi a primeira vez que ele esboçou uma reação além de desinteresse. Não apenas uma vez, mas várias e várias vezes. Várias e várias garotas e nenhuma delas... Conseguiu.

Sua memória o jogou em um túnel do tempo repleto de fatos e dados.

Ela foi... Não!

Seu rosto aquecia-se ao lembrar. Mas a escuridão de seus olhos fechados o lembrou de quando esteve morto, vagando em um mar escuro, sozinho... Ele pensou que ficaria ali para sempre.

Era um fim justo para uma pessoa como ele.

Mas ela... o salvou.

Sim, ele estava naquele mundo porque ela aceitou salvá-lo. Ele devia tanto assim àquela garota?

Ela o fez apenas para que Yoh abandonasse a Shaman Fight. Que abrisse mão do seu sonho em troca da minha vida, por seus próprios interesses. Não devo nada a ela.

Ainda assim... Ele lembrou do calor.

Em meio a escuridão entre a vida e morte, ele voltou a sentir o calor de seu corpo. A primeira sensação em sua volta a vida.

Foi ela. E seus lábios.

Seu primeiro beijo. Ela pagaria por isso! Certamente pagaria por lhe ter roubado o direito de escolher a garota que beijaria!

Então por quê... Me sinto tão bem com isso?

Lembranças. Resquícios das sensações. A volta a vida. Jeanne.

Em todos os encontros ele havia posto uma muralha de gelo contra ela, impedindo-a de perguntar qualquer coisa que não fosse relacionada a negócios. Ela era só uma mulher irritante.

Porém... Ele não a proibiu de tentar destruir essa muralha que o separava das outras pessoas. Não tentou. Permitiu. E ela se aproximou, pouco a pouco. Cada palavra, cada frase, como um golpe contra sua muralha dita indestrutível.

 Foi então... que ele percebeu o que significava.

O que ela ansiava por entender.

Antes que percebesse, ele já vagava pelos corredores vazios do hotel, indo em direção do restaurante onde deixara donzela sozinha.

Quando voltou, para sua surpresa, ela ainda estava ali. Parada no mesmo lugar.

Esperando por ele.

– Bem vindo de volta, Ren. Fico feliz que tenha voltado.

Você... Não dormir não faz bem para saúde. Que garantias você tinha de que eu voltaria?

– Então... Você conseguiu a resposta?

Ele respondeu que não, mas isso era uma mentira. Eles eram opostos, ícones de filosofias completamente diferentes. Implantado pelo ódio e a destruição, símbolo da justiça suprema e da pureza humana.

Entretanto, havia algo nisso que os fazia com que se completassem.

Era algo que nenhum de seus amigos podia alcançar. Ao abandonarem tais ícones, eles se tornaram verdadeiros humanos, mas não existia ninguém no mundo que pudesse entender a transformação em seus corações.

A transição da água para o vinho.

Mesmo tão diferentes, eles possuíam isso em comum.

– Jeanne. O que você quer descobrir é se o amor pode destruir a última barreira do coração?

As palavras apenas saíram, sem analises ou sinais de dúvida. Aquilo era o que Tao Ren acreditava. Ele não era mais uma criança criada pelo ódio. Ele era livre e essa era a última mágoa em seu coração.

Ela olhou para ele diretamente, sem nenhum sinal de medo. Era a primeira vez que Ren a chamava pelo nome.

– Sim, tudo que eu quero é entender se podemos destruir as barreiras um do outro.

Era tarde, muito tarde. E o amanhecer estava muito longe. Porém, para Tao Ren e Jeanne, aquele era o amanhecer.

Eu pensava que você precisava ser curado...

...Mas todo esse tempo era de você que meu coração precisava.


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