Cabelos loiros como nunca vi igual. Olhos azuis, que me lembravam o imenso céu azul refletido nas águas do oceano. Pele branca, macia e brilhante. Magra e alta. Corpo esbelto com curvas bem definidas. Sua cor favorita era vermelho. Ela tinha o poder de controlar as rochas. Quando ela vinha voando em cima da sua enorme rocha na minha direção, o meu coração acelerava. Ver os seus cabelos voando ao vento, e seu sorriso aberto, que preenchia boa parte do seu rosto, me dava vontade de tê-la pra mim, para ser o autor desses seus sorrisos que tanto mexiam comigo. Ela se chamava Terra, assim como o nome de um mundo, o meu mundo.

          Eu finalmente havia conseguido chamá-la pra sair, e para a minha sorte, ela aceitou, com um sorriso no rosto, sem hesitar! Então lá estava eu, sentado em um dos bancos do parque central da cidade, esperando ela chegar. Olhava de relance para o relógio, ela estava atrasada. Havíamos combinado às três horas da tarde, já haviam se passado quinze minutos e nada de ver aqueles cabelos loiros radiantes se aproximando. 

          - É acho que ela não vem mesmo... deve ter se esquecido... - suspirava ao olhar pra baixo.

          - Quem deve ter se esquecido do que mesmo? - ouvi uma voz doce, como de um anjo, e senti duas doces mãos pousando nos meus olhos, impedindo a minha visão.

          - T-terra - perguntei com o coração acelerado.

          - Acertou! - exclamou ela se revelando pra mim com um lindo sorriso.

          "Uau, que linda." - pensei corado enquanto soltava um assovio que fez com que as bochechas dela corassem um pouco.

          Terra estava usando um belo vestido "tomara que caia" preto, com um laço amarelo na cintura, e com a saia indo até a metade das coxas. Além disso, estava com a presilha de borboleta que eu havia dado pra ela, e uma gargantilha preta muito sexy no pescoço. Seus sapatos pretos eram lindos também, pareci com aqueles de boneca que a Estelar adora. Me senti até mal perto do jeito em que ela estava vestida. Eu estava apenas com o meu uniforme de sempre.

          - Aonde você quer ir? - perguntei sorrindo pra ela.

          - Ah, não sei! Me surpreenda! Afinal, qulaquer lugar que eu vá será perfeito desde que eu esteja com você, não é Mutano? - ela sorria ao aproximar o seu rosto do meu.

          Corei, obviamente. Nenhum cara seria capaz de resistir ao charme da Terra, e eu definitivamente poderia me considerar o mais sortudo do mundo por estar saindo em um encontro com ela!

          - Nesse caso... o que você me diz de irmos ver um filme, e depois comer uma pizza?

          - Pra mim parece perfeito! Mas sabe por quê? Porque estarei com você! - ela sorria mais uma vez, parecia até que era pra me provocar.

          - Certo, então vamos nessa! - devolvi com o meu melhor sorriso.

          Começamos a caminhar lado a lado em direção ao cinema. A tarde estava muito bonita, um céu azul com poucas nuvens e por sorte não estava fazendo um calor escaldante. Enquanto caminhávamos, a mão esquerda da Terra às vezes esbarrava na minha direita, e isso se repetiu uma série de vezes ao longo do percurso. Quando já começávamos a avistar o cinema do outro lado da rua, Terra segurou a minha mão com tudo, olhou pra mim, mais uma vez com aquele sorriso lindo e disse:

          - Vamos apertar o passo Mutano! Caso o contrário não vai ter mais nenhum filme pra gente ver! - me puxou com força, correndo num ritmo agradável. Enquanto corria olhava pra tr´s para ver o meu rosto, e mostrava mais um de seus belos sorrisos. Já estava convencido de que ela provavelmente estaria fazendo aquilo de propósito. Mas eu não ia reclamar também, estava adorando.

          Chegando no cinema, entramos na fila dos ingressos e começamos  decidir qual dos filmes em cartaz iríamos ver. Estávamos discutindo entre dois filmes, um deles era a minha escolha, uma comédia romântica, já a Terra estava insistindo em ver um filme e terror, o que não era nem um pouco o meu estilo. Quando chegou a nossa vez de comprar os ingressos, acabamos comprando pra o filme de terror, digo, ela literalmente me obrigou a comprar jogando too aquele charme provocante pra cima de mim de novo.

          - Quanto tempo falta para o filme começar? - ela perguntou.

          - Falta uma hora ainda. - respondi.

          - Que tal darmos uma volta pelas redondezas o invés de ficarmos aqui parados esperando? - ela sugeriu sorrindo.

          - É uma ótima ideia! Sério mesmo! - me empolguei.

          Saímos do cinema, e não demorou muito para que ela agarrasse o meu braço direito com os seus, puxando-o para perto de si, posicionando exatamente entre os seus seios. Meu coração acelerou, e comecei a corar. A sensação era calorosa, minha respiração ficou ofegante, e enquanto caminhávamos, de vez em quando tinha o prazer de sentir de leve o formato redondo o qual o meu braço encostava. É, eu estava mesmo no paraíso.

          Terra continuava andando comigo daquele jeito, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mas de fato, estava estampado na nossa cara de que éramos um casal. Pelo menos era o que parecia para quem nos olhava. Passamos perto de uma cabine de tirar fotos. Terra não tirava os olhos dela já de longe, deixando bem claro que ela queria tirar uma foto lá comigo, só faltava eu me oferecer:

          - Que tal, tirarmos uma foto? - sugeri apontando para a cabine.

          Terra nem me respondeu, apenas pude ver claramente o brilho nos seus lindos olhos azuis, um enorme sorriso abrindo nos seus lábios, e sua força me puxando correndo para dentro da cabine. Acho que eu podia interpretar isso como um sim. Sentamos na cadeira que havia dentro da cabine, estava apertado, mas a sensação era boa. Tiramos tantas fotos que eu até perdi a conta. Afinal, nunca fui bom em matemática mesmo. Eram fotos dos mais diferentes tipos, mas todas estava realmente lindas e engraçadas. Eram fotos da gente sorrindo, fazendo careta, fazendo cócegas um no outro, de um fazendo chifrinho no outro, dela me abraçando e me beijando de surpresa no rosto, o que fez o meu coração acelerar... e muito.

          Depois de tirar todas essas fotos, iniciamos o nosso percurso de volta para o cinema, faltavam apenas quinze minutos pro filme começar. Enquanto caminhávamos, Terra pegou na minha mão e apoiou a sua cabeça no meu ombro. Me senti muito bem com isso. Ficamos um tempinho andando assim. té que ela resolveu quebrar o silêncio com a sua bela voz:

         - Ei... Mutano... - ela sussurrou.

         - Sim? - retruquei curioso.

         - Você... gosta de mim? - ela perguntou baixinho no meu ouvido.

         - Cl-claro que eu gosto de você! Você é a garota mais incrível que eu já conheci, e você sabe disso! - respondi corando um pouco.

         - Lembra quando eu te disse, que você é o melhor amigo que eu já tive? - ela comentou cabisbaixa esperando pela minha resposta.

         - É claro que eu lembro! Foi a coisa mais legal que alguém já disse pra mim! - respondi na intenção de animá-la.

         - Então... naquela época era verdade... mas agora... acho que não é mais bem assim... - ela finalizou ao olhar séria para mim com os olhos brilhando.

         Fiquei em silêncio. Não sabia mais o que dizer. Tudo estava indo tão bem naquela tarde, até ela dizer isso. O que ela quis dizer com isso? Quer dizer que ela tá me tratando bem desse jeito por pura consideração? Ela conheceu outro cara? Alguém que ela goste mais do que eu? Estava em choque, literalmente. Não conseguia mais sorrir. Até que ela mais uma vez puxou o meu braço para entre os seus seios e disse:

         - Acho que agora, eu te vejo bem mais do que como um amigo! - ela sorriu, abraçando o meu braço com mais força.Dessa vez consegui sentir perfeitamente o formato de seus seios. Eita garota provocante! Ela era realmente perfeita pra mim!

         - Eu gosto muito de você, Terra, muito. - fiquei tão nervoso no meio da minha confissão que acabei mudando de assunto bruscamente - E agora vamos comprar um sorvete para levar pro cinema! - exclamei percebendo que tinha falado a maior merda do mundo.

        Seu rosto ficou desanimado e olhando pra baixo. Dei uma lambida no sorvete e o estendi na frente dela. Ela continuou cabisbaixa. E lá fui eu mais uma vez com uma das minhas perguntas idiotas:

        - Que foi? Não gosta de sorvete?

        - Não é isso. - ela suspirou. Eu de fato sabia que não era isso. Ela provavelmente ficou chateada porque eu consegui ser um completo idiota no meio de uma declaração romântica! É, eu realmente estraguei tudo, e precisava compensar isso!

        Terra me surpreendeu ao lamber o sorvete, e disse:

        - Acabamos de dar um beijo indireto sabia? - comentou sorrindo.

        Não consegui responder, apenas corei olhando pra ela.

       - Haha! Você é um bobo mesmo, Mutano! E eu adoro isso em você! - ela riu corada, dando mais uma lambida no sorvete. Apenas sorri e continuamos andando de volta para o cinema.

       Chegando lá, nos deparamos com o quiosque de pipocas, e confesso que me deu uma água na boca terrível, mesmo depois de já termos tomado sorvete e combinado de que iríamos comer pizza depois do filme.

       - Você quer pipoca? - ofereci pra ela.

       Ela sacudiu  cabeça como quem estivesse rejeitando, olhou pra mim e disse:

      - Eu algo muito melhor do que pipoca. - ela sorriu como alguém que estivesse tramando algo.

      - E o que é? - perguntei curioso.

      - Nada não. Você vai descobri já, já. - ela respondeu sorrindo. Ela definitivamente era uma expert em me provocar!

      Entramos no cinema, sentamos nos nossos lugares. Terra já se adiantou, levantou o descanso de braço que estava entre nós, e sorriu. Ela definitivamente estava tramando algo. E eu estava ansioso para descobrir.

      Quando o filme começou, eu estava literalmente me sentindo como um gatinho assustado. E quando eu digo literalmente, é literalmente mesmo. A Terra estava normal, apenas sorrindo enquanto assistia ao filme normalmente. Nesse ponto ela era bem parecida com a Ravena, ambas gostam de filmes de terror. Eu estava com tanto medo que não resisti: agarrei o braço dela com força. Terra reparou nisso e riu baixinho. Agarrou o meu braço com força, e apoiou o seu rosto no meu ombro direito.

       Depois de mais algum tempo de filme, Terra aproximou o seu rosto perto do meu ouvido e sussurrou:

       - Que filme de terror mais sem graça, não é? Nem dá pra sentir medo... - não sabia se ela estava zombado com a minha cara ou não. Porque eu realmente estava como um gatinho medroso dentro daquela sessão. Mas depois comecei a entender o por quê.

        Terra começou a se aproximar muito do meu rosto. Muito mesmo. Soltou o meu braço e começou a levar as suas mãos até o meu rosto. Levando-o até o seu, selando com um beijo. Nessa hora fui parar em outro planeta, minha mente se desligou da realidade, e ficou focada somente na doce sensação daquele beijo. Seus dedos deslizavam pelos meus cabelos esverdeados, inciando uma bela massagem no meu coro cabeludo. A sua outra mão, deslizava pelas minhas costas, e podia sentir suas unhas arranhando levemente a minha pele esverdeada que se sentia no paraíso.

        Nos beijamos de vários jeitos, selinhos, beijos de lingua, curtos e longos. Mordidas de leve na parte inferior dos lábios, e nas orelhas, beijinhos pelo pescoço e olhares apaixonados que me excitavam bastante. No meio de tudo isso ainda trocávamos uns amassos, que não estavam muito legais de serem vistos por qualquer pessoa no cinema. Por sorte estávamos nas duas poltronas do canto da última fileira. Assim ninguém podia reclamar da gente.

        O filme terminou, as luzes acenderam e eu ainda estava meio tonto com toda aquela troca de amor. Nem parecia que era real. A Terra estava meio descabelada, mas feliz. Dava para ver a felicidade nos olhos dela, e principalmente no sorriso estampado nos seus lábios.

        Saindo do cinema fomos até o Pizza Hut, comer a tão esperada pizza. Já era de noite, havia uma lua cheia bem no meio do céu estrelado. Eu e Terra caminhávamos felizes, com os corações acelerados e sorrindo que nem dois bobos, andando de mãos dadas na rua. Chegando no restaurante, fizemos o nosso pedido e ficamos esperando pela pizza enquanto conversávamos:

        - A lua está linda hoje, não é Mutano? - ela corava ao olhar pra mim enquanto entrelaçava a sua mão na minha bem no centro da mesa redonda do restaurante.

        - Não mais do que você. - respondi devolvendo ao sorriso e orgulhoso da minha super utra mega resposta de galanteador!

       Ela apenas gargalhou baixinho e ainda com as bochechas vermelhas. Ela estava realmente muito feliz, e eu estava bem satisfeito por isso.

       - Terra, você quer namorar comigo? - me surpreendi com o que acabava de perguntar impenávelmente. Meu coração acelerou. Formou-se um minuto de silêncio em que eu e ela apenas ficamos olhando fixamente um para o outro, sérios, com os olhos um pouco arregalados e com duas maçãs no rosto.

       - Claro que eu quero "my beast boy". - ela retrucou vermelha e sorrindo, fazendo um pequeno uso do inglês.

       - Como quiser, "my beauty" - finalizei respondendo da mesma maneira.

       E esse, foi o dia mais feliz da minha vida.

FIM.