Jail escrita por imsodirtyhoney


Capítulo 1
Jail




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O banco de pedra era seu luxo no momento. O cômodo era ventilado por uma pequena janela com grades, no alto, bem no alto. Naquele alto onde ele não alcançava. Não conseguia, ao menos, ver a rua. A paisagem se resumia a cela vizinha da frente - o que não ajudava muito, sendo que a visão de um homem por volta dos cinqüenta anos, dormindo, com a barriga avantajada a mostra era tudo o que ele tinha.

           

            Soltou uma risada curta e seca de sua própria situação. Seria hilário se não fosse ridículo. Apoiou os cotovelos em seus joelhos, e com o apoio, afundou seu rosto nas mãos. Quando fosse solto, certamente voltaria para a prisão, uma vez que a primeira coisa que faria quando conseguisse sair, seria matar Gregory House.

 

            James Wilson estava preso, por culpa e infantilidade do outro.

 

            Os dois estavam viajando para ir ao funeral do pai de House, contra a vontade deste, deve-se esclarecer. Quando passavam por um sítio – no quilômetro 15 da Rodovia Austin – House viu que um carro da patrulha policial estava estacionado no acostamento um pouco mais a frente. Ele faria qualquer coisa para não comparecer ao funeral. Então quando passavam pelo carro da polícia, House fez algo que rendeu um belo par de algemas para Wilson.

 

- ESTOU SENDO SEQÜESTRADO! SOCORRO! – gritou, desesperado, com a cabeça para fora do veículo.

 

Wilson, que se assustou com o grito, perdeu, por um breve instante, o controle da direção. Freou o carro, e como estavam em velocidade razoável, apenas deslizaram uns metros e pararam. Quase imediatamente a viatura parou ao lado deles. Um policial desceu, com a arma em punho e mirando no motorista.

 

- Saia do carro com as mãos para o alto. – ordenou.

- Senhor, desculpe, mas...

- Saia agora do carro. – ordenou uma segunda vez, sua voz era firme, Wilson resolveu não testar se arma estava ou não carregada e decidiu sair do carro. Antes de fazê-lo, fitou House e tentou lhe enviar toda sua raiva com um olhar, e então com as mãos atrás do pescoço, saiu para fora do veículo.

 

House estava sorridente. O policial franziu o cenho ao ver uma vítima de seqüestro que acabara de ser salva sorrir.

 

- É alegria de ser salvo. – explicou, acrescentando uma expressão de profundo terror ao olhar para Wilson.

- O que ele fez? – perguntou o policial.

- Ele me seqüestrou. Você é surdo?

 

O oficial ignorou a grosseria. House prosseguiu. Era muito perigoso dar brecha para ele prosseguir nessas situações, e sabendo disto, Wilson rolou os olhos.

 

- Ele me convidou para ir tomar um café, eu muito ingênuo aceitei. E então... olha onde estamos! – sua voz estava falsamente amedrontada – Eu pensei em pular do carro ou algo assim... mas... eu não posso me locomover sem minha bengala. – finalizou dramático.

 

O policial estava perplexo da ousadia e falta de caráter do outro: seqüestrara um deficiente físico e agora ria. Bem, Wilson ria, mas não era por falta de caráter, era pela falta de vergonha na cara de House.

 

E Wilson estava preso.

 

Faria House engasgar com a própria bengala ou o jogaria do carro em movimento, assim que fosse liberado.

 

Deitou-se no banco duro e contemplou o teto sujo. Sua mente vagava em idéias impossíveis de matar House. É claro que eram impossíveis, Wilson jamais mataria House. Jamais mataria o homem que ama.

 

As horas se arrastaram enquanto Wilson acompanhava as idas e vindas de uma mosca chata, que parecia gostar muito de sua cela. Imaginando que a mosca fosse House, ele a mirou por longos segundos e, com um barulho que ecoou no espaço quase vazio de sua cela, fechou as duas mãos em volta da mosca a aprisionando. Queria esmagá-la como queria esmagar House, mas a expressão ‘não é capaz de matar uma mosca’ foi feita para ele. Abriu as mãos devagar e olhou o que fizera, a mosca estava viva, mas não conseguia voar, estava cambaleando na mão dele.

 

Podia ser a imaginação causada pelo estresse que Wilson estava sofrendo, mas ele jurava que a mosca estava mancando. Transformara a mosca, definitivamente, em House, só faltava ele soltar algum comentário mordaz.

 

- Caramba, até trouxe a câmera e você não está usando aquela roupinha sexy xadrez. – brincou uma voz familiar.

 

Wilson arregalou os olhos e por um segundo insano pensou que a mosca estava falando com ele, até que se deu conta da idiotice que pensou e se virou para a grade que o separava de um sorridente House.

 

Wilson ficou imóvel, calculando se sua mão passaria entre duas barras de ferro e alcançaria o pescoço do outro.

 

- O que você ‘tá fazendo? – perguntou, confuso, olhando para um pontinho preto nas mãos de Wilson.

- Brincando de polícia e ladrão, eu fui preso. – resmungou soltando a mosca e deixando a coitada cair no chão.

- Olha, eu paguei sua fiança.

 

Wilson deixou o queixo cair alguns centímetros.

 

- Eu vou te matar. É sério. – fechou os olhos e sua boca tremeu de raiva.

- Não é sensato você falar em assassinato, Wilson. Você está preso. – House virou-se pra trás ao ouvir um ronco particularmente alto do vizinho de cela do amigo. – Que horror.

- Você pagou a fiança. Tudo bem. E o que disse pro delegado? Você fingiu que foi seqüestrado e depois vem soltar o seqüestrador?

 

House mexeu num dos bolsos de seu paletó, retirou uma pequena folha dobrada e a estendeu. Wilson pegou, desconfiado, desdobrou o papel e leu.

 

- Isso... é um atestado. – olhou sério para o outro – O que você fez?

- Saber ler e não saber interpretar é uma forma de analfabetismo, sabia? – olhou para os lados, procurando alguém que pudesse ouvir, mas como não havia voltou-se para Wilson e explicou – Tinha um bloquinho no seu porta-luvas, eu atestei que tenho uma espécie de distúrbio mental. Ás vezes me esqueço de onde estou, quem sou... essas coisas. Apresentei o atestado, me desculpei profundamente e paguei sua fiança. Disse que você é meu médico e que estávamos viajando porque eu precisava fazer um exame. Agora você está solto, voltamos pra casa e fica tudo certo.

 

Wilson rasgou o atestado, furioso. House levantou as duas sobrancelhas, não acreditava porque alguém seria tão burro pra querer ficar preso.

 

Um policial se aproximou, tirou um molho de chaves da cintura e abriu a cela de Wilson.

 

- Desculpe pelo transtorno, doutor.

 

Mas Wilson não se mexeu.

 

- Você está liberado, já sabemos que esse aí é seu paciente e é louco. – disse sem se importar com a careta que House fez ao ser chamado de louco.

- Sabe... você é louco, House. – afirmou, sentando-se no banco e cruzando os braços.

- E você também. Anda... sai daí. – House saiu caminhando até desaparecer da vista de Wilson, quando notou que o amigo não o seguia, voltou andando pra trás.

- Peça desculpas. – Wilson falou claramente, fazendo House gargalhar, mas quando este viu que o outro falava sério, arregalou os olhos.

- É sério?

 

Wilson confirmou com um aceno de cabeça. Estava descontando o que House lhe fez, e estava se divertindo.

 

- Vamos... eu quero ir pra casa e preciso que você dirija.

 

Mas Wilson continuava tão imóvel quanto antes.

 

- Se ajoelha e peça desculpas de uma vez, oh da bengala. Vão embora e me deixem dormir em paz. – a voz arrastada do outro preso fez House, Wilson e o policial o olharem espantados. – Não se pode nem descansar numa cadeia hoje em dia.

 

O velho virou para o lado e segundos depois seus roncos tomaram conta do silêncio.

 

House e Wilson se encararam por um longo tempo.

 

- Eu não tenho tempo pra esperar. – rosnou o policial.

- Tudo bem. – House respirou fundo várias vezes antes de dizer: - Desculpe-me, Wilson.

- Você é um idiota. – Wilson se levantou, mas no fundo sorria. Valia a pena ser preso só pra ouvir House pedir desculpa.

 

O policial girou os olhos, impaciente e fechou a cela quando o ocupante saiu.

 

- Se você contar a alguém sobre isso, espalho sobre sua tatuagem de dragão que você tem na bunda. – House ameaçou enquanto caminhava, se apoiando na bengala, até o carro do outro que estava estacionado ao lado da pequena delegacia.

- Eu não tenho tatutagem, muito menos de dragão, e muito menos ainda na bunda. – defendeu-se enquanto entrava no carro e abria a porta, pelo lado de dentro, para o amigo entrar.

- Ninguém sabe que você não tem. – finalizou o assunto, sentando-se no banco e jogando a bengala sobre seu ombro, a deixando cair no banco de trás.

 

Wilson o ignorou e ligou o carro.

 

- Eu acho que te amo. – House falou, depois de tantos anos e tantas tentativas de esquecê-lo, mas da maneira errada. Ele era péssimo em assuntos amorosos e desconfiou que havia escolhido uma ocasião imprópria pra se declarar.

- Não adianta vir com gracinhas, nós vamos ao funeral do seu pai. – e Wilson fez a volta com o carro, pegando a pista contrária da que os levaria para casa.

 

House balançou uma única vez os ombros e passou o resto da viagem olhando pela sua janela.

 

Wilson estava em meio a uma mistura de sentimentos. Estava nervoso por ter passado horas preso, com raiva pela infantilidade de House, alegre por ter assistido o amigo pedir desculpa – e isso era um acontecimento único, talvez – e com uma sensação estranha, que ele nunca sentira por isso não sabia descrever.

 

Supôs que House falou que o amava na tentativa de amolecer o coração dele e o convencer a desistir da viagem, mas... e se fosse verdade? Seria possível que Gregory House correspondesse seus sentimentos?

 

Olhou para o lado, dividindo sua atenção entre House e a pista. Uma ruga se mostrava mais funda, acima de suas sobrancelhas. Quando aquela ruga se acentuava era porque House estava concentrado. Então Wilson voltou sua atenção completamente para a pista.

 

Um dia descobriria que era amado. Talvez.

 


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