Recomeçar escrita por LoaEstivallet


Capítulo 5
Perto do olhos, longe do coração


Notas iniciais do capítulo

Demorei porque tô escrevendo duas fics novas ao mesmo tempo... Em breve tem estória fresquinha e diferente pra vocês... Agora curtam o cap!



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Edward sentia-se estranhamente ansioso.

Não era um encontro de verdade. Apenas um jantar informal em sua própria casa, com seu filho presente. Então nada demais aconteceria.

Mas seu estômago revirava.

Não com a ansiedade comum a um homem muito envolvido com uma mulher. Mas como um homem que já fora casado com a mulher de sua vida, por quem ainda era apaixonado, e acreditava ser incapaz de mover-se adiante.

A angústia de Edward não era pela espera de Kate, com quem havia iniciado uma agradável ligação desde a festa de abertura da clínica há duas semanas.

Sua aflição era não conseguir ir além, dar um passo à frente naquela amizade que, no fundo, ambos sabiam o objetivo.

Kate não escondera seu interesse. Fora inclusive ela quem ligou para Edward no dia seguinte à festa, convidando-o para um passeio à tarde. E ele aceitou, levando o Tony a tiracolo.

Foram momentos muito agradáveis e o menino pareceu se encantar com a moça, sempre delicada, gentil e divertida, o que fez Edward ser ainda mais cativado por ela.

Nos dias que se seguiram eles mantiveram contato por telefone. Se falavam duas ou três vezes ao dia, sempre trocando amenidades e comentários sobre suas rotinas. Se encontraram novamente no sábado, rapidamente, para levarem o Tony numa sorveteria.

Isto estava fazendo bem a Edward. Ele se sentia preenchido de uma maneira diferente, seu coração estava mais quieto, a dor controlada.

Sabia que aquilo não era paixão, e provavelmente nunca seria amor, mas precisava se esforçar um pouco, permitir acontecer.

Pensar em Bella todo o tempo era doloroso e estafante. E inevitável. E se ele não quisesse enlouquecer novamente (e definitivamente), como havia acontecido há um mês e meio atrás, precisava trancar seus sentimentos no canto mais escuro de sua alma, e ser prático.

Era difícil pensar em si mesmo sem Bella, mais ainda com outra mulher no lugar dela. Mas a verdade é que ele realmente tinha que seguir em frente, tocar sua vida. Por seu filho, por sua família, por si mesmo.

O interfone tocou na cozinha, fazendo o pequeno Anthony se assustar e correr para o colo aconchegante do pai.

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– Estava tudo maravilhoso... – Kate falou ao se sentar no sofá ao lado de Edward.

Eles tinham acabado de retornar à sala depois de colocar o menino no berço, adormecido depois de jantar e brincar até a exaustão.

– Que bom que gostou. – Edward falou um pouco desconcertado – Eu não sei fazer muitos pratos, mas os poucos que aprendi com minha mãe foram tão incessantemente produzidos desde que vim morar aqui, que acredito ter alcançado a excelência pela insistência.

Edward a acompanhou nas risadas e se aproximou, disposto a dar o primeiro passo.

Kate corou com a intenção evidente dele, e sua risada morreu num sorriso nervoso.

Ah! Aquela imagem era tão familiar! Lembrava tanto Isabella no começo do namoro, quando qualquer sorriso mais pronunciado dele lhe fazia ruborizar.

Por um segundo Edward recuou, sentindo em seu peito a resistência. Como ele conseguiria beijar outra mulher quando era Bella que queria? Como poderia estar com outra mulher quando desejava estar com Bella?

Repreendeu-se ao lembrar a facilidade com que cedera aos encantos de Ângela no passado. Ele não era inocente assim.

Suspirou, hesitante entre a aproximação e o afastamento. Levantou a mão vagarosamente, tocando o rosto de Kate com delicadeza, ainda se debatendo em seu dilema intimo.

Precisava tentar. Precisava arriscar.

Se forçou a não pensar na ex-mulher, não sendo assim tão bem sucedido, e puxou suavemente o rosto da moça para o seu.

O beijo fora quase terno, dado o cuidado com que Edward agiu. Incitou-lhe uma sensação agradável de satisfação, mas não era o beijo certo, não eram os lábios certos, e de repente ele se sentiu um canalha novamente, por estar usando uma garota tão especial como Kate.

Afastou-se com lentidão, reprimindo o desapontamento e desviando o olhar.

– Me desculpe... – Murmurou constrangido – Eu...

– Está tudo bem, Edward... – Kate disse, forçando-o a olha-la – Eu sei que ainda não se sente a vontade... Mas o momento vai chegar... E eu gostaria muito de estar ao seu lado. – Falou com doçura.

– Você... – Edward começou, encarando-a embasbacado.

– Eu sei de algumas coisas... Coisas que Alice me contou.

Ele engoliu em seco.

– Coisas que a Alice te contou?

– Nada muito horrível – Ela sorriu – Apenas que você ainda sofre pelo divórcio que aconteceu há mais de dois anos... Que tem sido complicado seguir adiante.

Edward abaixou a cabeça, atormentado.

– Isso resume bastante...

– Eu percebo que você tem sempre esse olhar meio perdido... Como se estivesse fisicamente no presente, mas sua mente, sua alma, estivesse no passado... – Ela respirou fundo e prendeu a mão dele entre as suas, deixando a grossa aliança em evidência – Olha... Eu não quero que se sinta obrigado a coisa alguma. Eu gosto de você, e tem sido maravilhoso tudo que está acontecendo... Eu só quero que saiba que... – Levantou um pouco a mão dele para mostrar o anel – Eu posso esperar.

Edward a encarou maravilhado e incrédulo.

– Não se incomoda em estar ao lado de um homem que ainda ama a ex-mulher? – Perguntou cuidadosamente, rodando a aliança no dedo – Um homem que talvez não seja capaz de se apaixonar de novo?

– Um pouco... – Kate falou com sinceridade – Mas eu acabei de chegar, não é mesmo? Não posso exigir muito. – Eles riram levemente – Acho que posso ter um pouco mais de paciência.

Edward sorriu, se sentindo um pouco melhor. Tocou a pele macia das bochechas de Kate novamente.

– Você é muito especial, Kate... Eu não quero magoa-la...

– Eu estou ciente dessa possibilidade... – Ela replicou séria – Mas estou disposta a arriscar. Acho que vale à pena.

Ela sorriu, contagiando-o com sua segurança.

– E afinal, eu confio no meu taco. – Edward riu, enquanto ela suspirava novamente – Eu só peço que seja sincero comigo... Sempre. Eu sou adulta, e acho que posso lidar com tudo isso. Contanto que eu esteja a par da situação. – Completou dando de ombros e o olhando fundo nos olhos.

– Tudo bem... – Ele disse, buscando coragem – Mas não é uma história fácil de se contar, muito menos de se ouvir.

Kate assentiu em silêncio, aguardando.

Edward expirou pesadamente, antes de começar.



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Isabella entrou na sala de Alice sem bater, como era costume entre elas, sentando-se em silêncio quando a notou ao telefone.

– Que bom, meu irmão... – Falou, pedindo um minuto a Bella com o dedo suspenso – Então nos vemos hoje à noite... Um beijo.

Bella se aprumou ao perceber que ela falava com Edward, o coração aos saltos.

Alice desligou em seguida e a olhou com sobriedade.

– Ele vai ao jantar hoje? – Bella perguntou tentando disfarçar a súbita ansiedade.

– Sim... Vai. Não é um problema pra você, é? Sabe que o Jazz faz questão de sua presença.

– Claro que não é um problema, Allie... E eu não perderia a comemoração do aniversário do Jazz mesmo que fosse. Eu não me incomodo em ver o Edward... Na verdade nos vimos com frequência quando o Tony ficou com ele... Eu passava para vê-lo quase todos os dias quando saia daqui.

Alice cruzou as mãos em cima da mesa, se inclinando para frente com o ar indecifrável.

– Ele... Não vai sozinho. – Falou com cautela, observando a reação da amiga.

Bella ficou muda, tomada de surpresa.

– Eu tinha esperanças que já soubesse, mas pelo visto... – Alice continuou – Ele está namorando. E vai leva-la hoje à noite para apresentar à família.

Bella não sabia o que dizer ou fazer.

Sentiu sua garganta travar e os olhos arderem. Apertou nervosamente uma mão na outra tentando se controlar.

Alice apenas esperou, até que ela falasse.

– Tem... Muito tempo? – Perguntou controlando a voz.

– Pouco mais de um mês.

– Pouco mais de um mês... – Bella repetiu num murmúrio – Eu conheço?

Alice levantou uma sobrancelha.

– Sim, mas não deve se lembrar... – Falou cautelosa – Kate Dutton. Ela fez faculdade com a gente. Peguei algumas matérias com ela quando me atrasei por conta do intercâmbio que fiz, lembra?

Bella puxou pela memória.

– Acho que sim... Aquela que foi morar em Londres?

– Umhum... Ela retornou há quatro meses.

– Bem que o rosto dela não me era estranho...

Alice a olhou, interrogativa.

– A ruiva na festa de inauguração... – Bella explicou – Que estava com você e Jasper no bar... Era ela, não?

– Sim, era.

– Então eles estão juntos desde... – Ela se interrompeu – O que eu tô dizendo?! Isso nem é da minha conta.

Alice se levantou, prostrando-se em sua frente.

– Eles ficaram juntos cerca de duas semanas depois... – Falou com o tom complacente – E não precisa fingir pra mim, Bella. Eu sou sua melhor amiga. Conheço você. Sei que isso te afeta de alguma maneira.

Bella assentiu.

– Me afeta... Ainda é difícil pra mim, você sabe... Mas é assim que tem que ser. Ele tem que tocar a própria vida como estou fazendo com a minha. E de certa maneira... Até estou feliz por ele. – Respirou fundo – Agora vamos à pauta... Temos muitos projetos pra analisar.

Alice aquiesceu, sentindo-se desconfortável.

Sabia que a amiga estava disfarçando, mas não tinha muito o que fazer. Estava feliz por seu irmão finalmente estar caminhando com as próprias pernas, tentando continuar com a vida, ainda que isso claramente magoasse Bella.



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– Tem certeza sobre isso? – Kate perguntou antes de sair do carro – Sabe que não faço questão. Tudo que me importa é estar com você.

Edward lhe acariciou a face.

– Sabe, Kate, eu não acho que mereço você... Sempre compreensiva, sempre preocupada com o que eu estou sentindo... – Beijou-lhe os lábios delicadamente – Eu tenho certeza. – Afirmou – Quero que minha família conheça a pessoa que está me fazendo bem... Mas você está bem com isso? Eu digo, Bella vai estar ai, e... Eu não sei como ela reagirá. Pode ficar um clima estranho...

– Eu não me importo. – Disse ao dar de ombros – Se você estiver se sentindo confortável, vou estar bem.

Kate sorriu em reposta ao sorriso de Edward, antes dele colar seus lábios num beijo mais profundo.

Jasper os recebeu na porta.

– Feliz aniversário, cunhado! – Edward congratulou – Quantos anos? Cinquenta?

– Hahaha – Jasper riu sem humor – E você? Vai fazer oitenta no mês que vem, não é mesmo?

– Eu sou mais novo que você, Jazz... Sabe disso. – Edward replicou, abraçando-o – Deixe-me apresentar... Esta é Kate Dutton, minha namorada. – Brincou.

Kate riu, seguida por Jasper.

– Como vai, Jasper? – Ela entrou na brincadeira – Prazer conhece-lo pela milésima vez...

– Ah, Kate... – Ele puxou a amiga para um abraço – Fico feliz que esteja colocando um sorriso sincero no rosto deste mal-humorado...

– Chega de trocas de amenidades na porta de casa! – Alice surgiu por trás do marido – Mamãe está praticamente quicando no sofá para conhecer Kate. – Disse olhando para Edward – Entrem.

Kate passou na frente, tendo Jasper lhe apoiando pelo braço.

Alice puxou Edward discretamente um pouco para trás.

– Bella já está ai... Acha que ocorrerá tudo bem? Não quero estragar a noite do Jazz. – Falou apreensiva.

Ele ignorou a brusca aceleração de seu coração com a menção do nome da ex-esposa.

– Somos todos adultos civilizados, Al... Se depender de mim vai ficar tudo bem…

Alice o abraçou de lado pela cintura.

– Estou tão feliz por você... – Sussurrou.

Ele sorriu. Um sorriso que não conseguiu sustentar por muito tempo.

Assim que soltou a irmã para entrelaçar seus dedos aos de Kate, Edward notou o olhar fixo de Bella em suas mãos. Estranhou o fato dela não estar com o noivo, a feição levemente tensa enquanto Emmet e Rosalie, sentados ao seu lado, pareciam tentar chamar sua atenção.

Ele tentou se manter impassível enquanto seguia até seus pais, mas sentia o calor do olhar dela em seu rosto.

– Filho! – Carlisle levantou do sofá, junto com Esme, para abraça-lo.

Depois de retribuir o gesto, Edward passou a mão na cintura da namorada, puxando-a para mais perto.

– Pai, mãe... Esta é a Kate... – E virando-se para ela – Este é Carlisle Cullen, meu mestre e pai... E esta é a mulher mais importante de minha vida... Esme, minha mãe. – Falou num tom carinhoso.

Eles sorriram para a moça.

– É um prazer conhecer vocês finalmente... – Ela disse – Edward fala tanto de vocês...

– Oh, querida... Eu já não aguentava mais de tanta ansiedade... – Esme replicou – Edward mudou tanto depois que conheceu você. E meus ouvidos também não param de ouvir seu nome.

– Eu também estou muito feliz por ele finalmente ter entrado no eixo. – Carlisle falou – E mesmo sem te conhecer já gostava de você pelo bem que tem feito a meu filho. É tão evidente!

Eles trocaram sorrisos e continuaram a conversar animadamente, enquanto Bella controlava suas emoções, profundamente abalada.

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Quando Edward parou em sua frente, Bella quase não conseguiu respirar.

Sentiu a pressão consoladora dos dedos de Rosalie em seu braço, e encarou o casal que mantinha as mãos entrelaçadas.

De súbito ela notou a ausência da aliança no dedo de Edward. Forçou-se a não sentir mágoa por isso.

– Oi Bella. – Ele falou sério – Como você está?

Ela se levantou, tentando fingir indiferença.

– Bem. – Respondeu com a voz controlada – Como vai Kate? – Perguntou se voltando para a moça – Lembra de mim?

Kate sorriu, um pouco nervosa.

– Lembro sim. Imaginei que você não se lembraria de mim. – Disse sorrindo – Estou bem, obrigada.

– Nós nos conhecemos na universidade... – Bella explicou olhando para Edward.

– Eu sei... Ela me contou. – Ele disse um pouco tenso – Então as apresentações não são necessárias. E o Anthony?

– Chegou dormindo. Está no quarto de Alice.

Bella sorriu um sorriso vazio, sendo correspondida por Edward num reflexo.

– Kate, esta é Rosalie, esposa do primo de Bella... – Ele continuou, se voltando para as moças – Rose, esta é Kate Dutton... Minha namorada.

Edward não deu ênfase à última frase, mas aos ouvidos de Bella pareceu uma ofensa.

Enquanto Kate e Rosalie se cumprimentavam, Bella cedeu a sua fraqueza.

– Com licença. Vou falar com o Emmet.

Edward sentiu um impulso intenso de segui-la, de lhe perguntar o porquê daquela feição tão desgostosa, mas não podia. Não devia.

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O jantar transcorreu tranquilamente, apesar da indiferença de Emmet para Edward, que apesar do tempo que havia passado, ainda não o perdoara, e da leve tristeza estampada no rosto de Bella, que apesar de ter sido notada por todos, não foi comentada.

Todos estavam em entrosada conversa quando Edward chamou Kate num canto da sala.

– Você ficaria aborrecida se eu fosse conversar com a Bella? – perguntou com cuidado – Acho que ela não recebeu bem a noticia.

Kate não se sentiu tranquila, mas conhecia toda a história. Sabia o quanto era importante para Edward manter um relacionamento ameno com a ex-mulher.

Engoliu a leve consternação e sorriu.

– Não vou ficar aborrecida. Mas não demora, tá?

Edward assentiu, rodeando-lhe a cintura.

– Sabe que não precisa ter ciúmes, não é? – Ele perguntou com a testa colada na dela – Eu aprendi minha lição da primeira vez.

Kate beijou seus lábios com suavidade.

– Eu confio em você, Edward. É um pouco complicado me sentir à vontade... Mas eu compreendo.

Eles se abraçaram, e então Edward seguiu para o jardim.

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– Posso falar com você? – Edward perguntou para Bella, que estava de costas para ele.

Ela se voltou bruscamente, surpreendida.

– Pode sim... – Falou desnorteada – Mas... E sua namorada? Não vai se incomodar de você estar sozinho aqui, com sua ex-mulher?

Edward sorriu irônico, percebendo o ataque de Bella. Ela sempre agia assim quando se sentia vulnerável.

– Kate sabe de tudo... Cada pequeno e terrível detalhe de nossa história trágica... – Falou ponderado – Ela não se sente confortável, mas compreende minha necessidade de manter a harmonia com você.

Bella ficou desconcertada.

Não esperava que o relacionamento tão recente deles fosse tão profundo quanto parecia. Se ela sabia de tudo, se compreendia as atitudes de Edward em relação a ela, era porque ele havia sido muito honesto. Talvez mais honesto do que fora com ela um dia.

Antes que ela pudesse formular qualquer frase, ele perguntou.

– E Patrick, porque não veio?

Bella respirou com dificuldade, tentando se manter estável.

– Está num congresso de pediatria na Califórnia. – Respondeu ainda aturdida – O que quer falar comigo?

Edward enfiou as mãos no bolso da calça, imediatamente tomado pela dor.

Ainda era muito dolorido para ele estar na presença de Bella. A paixão que tinha de ser contida, as palavras medidas e pensadas antes de serem proferidas, o intenso desejo de tomar para si a mulher que amava que tinha de ser controlado com afinco, tudo isso o agredia de maneira violenta, e fazia da proximidade um tormento sem tamanho.

– Não estou sendo pretencioso ou coisa do tipo... Mas notei seu desagrado hoje à noite, e não pude evitar acreditar que tem algo haver com o fato de estar namorando a Kate.

Bella baixou o olhar.

Não admitia nem a si mesma aquela emoção. Não poderia mais sentir ciúmes dele. Ele não lhe pertencia mais, há muito tempo, e por decisão exclusivamente dela.

Ela sabia, antes, quando não tinha ninguém mais entre eles, que Edward voltaria para ela correndo se ela assim quisesse. Ele mesmo assumira isso tantas vezes.

Mas agora... Ele parecia muito melhor. Seu rosto tinha cor novamente, seus olhos tinham brilho. Ele passara a noite inteira sorrindo... A moça estava mesmo curando suas feridas. Ele estava realmente fazendo o que ela aconselhara. Não. Induzira. Estava tocando sua vida. Sem ela.

O sentimento de perda veio ainda mais forte que no dia em que o flagrou traindo-a.

Ela levantou o olhar até o rosto que amava, tomada por uma força desconhecida.

– Você está apaixonado por ela? – Perguntou com a voz firme.

Edward não esperava por aquilo.

O que responderia?

Mentiria para proteger-se? Falaria a verdade e se mostraria ainda tão vulnerável?

– O que você acha? – Escapou pela tangente.

– Acredito que sim. – Bella respondeu segura, completamente enganada – Sua postura é diferente agora... Você está... Feliz.

– É assim que eu aparento pra você? – Perguntou franzindo o cenho.

– Sim.

Edward assentiu, não querendo dar prosseguimento àquela especulação sem futuro.

– Acho que não nos conhecemos mais... – Falou com pesar – Acho que perdemos a capacidade de enxergar o outro além da aparência... Isso é tão... Triste.

– É o normal. – Bella decretou, refreando a angústia – Não somos mais um casal, não temos mais um contato profundo... É natural que nos percamos um do outro... A vida está seguindo seu curso, nos levando para nossos caminhos... Que são diferentes entre si.

– Não tinha que ser assim...

– Não, não tinha... Mas você agiu para isso... – Ela o interrompeu rudemente – Quebrou nossa ligação da maneira mais violenta que poderia... E isso não tem concerto.

– Você nunca vai me perdoar, Bella?

Ela expirou pesadamente, voltando o olhar para suas mãos.

– Acho que não sou capaz... Eu gostaria de ser... Mas não sou.

– Você nem ao menos tentou! – Edward disse um pouco alterado, jogando as mãos para cima – Nem quis me dar uma chance de provar que me arrependi, que mudei...

– Você nem cumpre suas promessas Edward... Lembra do que me disse a um tempo atrás? – A voz de Bella era amarga, apesar de linear – Que nunca estaria disponível para mulher nenhuma, pois a que você queria estava bem na sua frente, o prendendo, ainda que não intencionalmente... Lembra de quando afirmou que iria morrer sozinho e solteiro se não me tivesse de volta? – Bella voltou seus olhos a ele – Você até já tirou a aliança... Nem demorou tanto assim pra você mudar de idéia, não foi?

Edward retorceu as mãos, aflito.

Tentou se justificar.

– Eu quase enlouqueci quando soube de seu noivado, eu... – Se interrompeu, lembrando que ela não sabia de sua tentativa de suicídio – Eu não estava mais em condições de continuar naquele estado... Eu precisava, por minha família, por Anthony, prosseguir... Foi o que você me pediu pra fazer...

– Me desculpe... – Ela o cortou, parecendo recobrar a consciência – Você não precisa me dar explicações, eu... Não tenho mais direito de te cobrar o que quer que seja. Esqueça tudo o que eu disse.

– Não Bella... – Edward falou com o tom suave, tocando a mão dela e estremecendo ao sentir a eletricidade que o contato provocava – Eu quero explicar. Me deixe concluir...

Bella ignorou deliberadamente a sensação pungente que o toque de Edward lhe causou.

– Pra quê? – Ela perguntou imperiosa – Não vai mudar nada. Nem nossa condição, nem o que estou sentindo.

Edward soltou-a com relutância, impactado com suas palavras, que o deixaram surpreso e confuso demais.

– E o que você está sentindo? – Murmurou, tentando decifrar o que significava aquela intensidade atordoante no olhar dela.

Só então ela percebeu que havia deixado escapar algo que nem ela mesma aceitava.

Bella podia sentir a dor, o ciúme, a saudade, o amor e o desejo que ainda sentia por Edward queimando em seus olhos sem que ela permitisse. Era mais forte que ela.

– Eu acredito que esta conversa já perdeu o sentido, Edward... – Falou desviando o rosto da feição inquisitiva dele – Melhor voltarmos.

Ela disse isso com uma frieza sem precedentes encobrindo-lhe o pavor de ser descoberta, provocando nele um gesto desesperado e impulsivo.

– Não! – Grunhiu segurando-lhe o braço – Eu quero saber o que foi isso que vi agora... Nos seus olhos. Eu preciso saber.

– Me solta. – Ela falou baixo – Eu não quero criar uma situação constrangedora, Edward. Estamos na casa de sua irmã, no aniversário de seu cunhado. Sua namorada está lá dentro, com toda a sua família. Não me faça dar um escândalo.

Ele se aproximou, cauteloso e tomado de receio, mas incapaz de se refrear.

– Eu não me importo. Eu não vou soltar seu braço enquanto você não me disser o que está sentindo.

– Por que isso é tão importante pra você?

Eles se encararam desafiadores, seus rostos quase se tocando com a proximidade. Suas respirações aceleradas se misturavam e se confundiam, provocando em ambos uma tensão praticamente insuportável.

– Porque você é importante pra mim. – Edward falou com intensidade, levando a mão livre para dentro da camisa, tocando a corrente inseparável – Porque, independente de estarmos separados, com outras pessoas em nossas vidas, você continua sendo a mulher que eu amo.

Bella prendeu a respiração, inconscientemente, pela força daquela verdade. Sua expressão foi de segura e provocadora a estarrecida.

Ela havia passado o dia acreditando que Edward finalmente superara aquele sentimento, e quando o viu ao lado da namorada teve a certeza de que não a amava mais, que ela era realmente passado.

Mas não podia duvidar de suas palavras. Não quando elas estavam confirmadas em seu tom, em seu olhar.

Como ela não respondia, Edward insistiu.

– Eu não vou usar isso de forma alguma, Bella. – Prometeu – Eu só... Por favor... Eu só preciso saber.

Ela respirou fundo, sentindo-se ainda um pouco tonta.

Não podia fraquejar, não agora depois de tanto tempo, depois de tantas coisas... Seu casamento se aproximava, faltavam apenas três meses... Não podia voltar atrás.

– Eu não sei o que você viu... – Recuperou-se rapidamente, convicta de sua decisão.

– Bella... – Edward tentou.

– Estou feliz por você estar tocando sua vida... – Interrompeu-o, já com a feição disciplinadamente dominada – E desejo que sinta toda a realização que eu senti ao me dedicar a um relacionamento honesto, sem mentiras. – Afirmou com acidez na voz – E quanto ao que você afirmou há pouco... – Ela hesitou, sabendo o que iria causar nele – Eu espero que seja superado logo. Eu já superei.

Puxando o braço com força, ela se soltou e andou apressada para dentro da casa, controlando arduamente as lágrimas que enchiam seus olhos.

Edward ficou ali, paralisado, sentindo a dor familiar lhe cortar o peito.

Agora, mais do que nunca, estava ciente da importância de prosseguir.

Seu coração, que teimava em manter esperança pelos mínimos gestos de Bella ainda que ele tentasse evitar, retumbava contra suas costelas, como se tentasse lembra-lo que não existia nenhuma chance mais de recuperar a mulher de sua vida.

– Chega... – Murmurou para si mesmo enquanto puxava a corrente do pescoço com certa ferocidade, o olhar ainda fixo onde Bella havia entrado.

Ele já estava muito cansado de sofrer tanto. Já tinha pagado por seu erro.

Sentiu uma lágrima solitária deslizar pela face distorcida e esfregou as costas de uma das mãos com violência sobre ela. Abriu a palma e encarou o cordão de ouro onde pendiam os aros estreitos que um dia simbolizaram sua felicidade. Tomou uma decisão.

A partir daquele dia, por mais sofrido que fosse, arrancaria Bella de sua alma... Nem que fosse à força.


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Notas finais do capítulo

O próximo vai demorar só um pouquinho... Bjos