Recomeçar escrita por LoaEstivallet


Capítulo 1
O preço da traição


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu , mais uma vez, dando uma segunda chance a essa fic aqui...
Deixando de lado tooooodos os problemas passados que tive com ela, estarei repostando um capítulo por semana, até o seu final, no décimo capítulo.
Agradeço aos leitores que a acompanharam previamente, e que se mantiveram fiéis, acompanhando-a pelo blog...
Espero que curtam.



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Isabella não cabia em si de tanta felicidade.

Estava tão radiante que as aeromoças sorriam em resposta ao sorriso bobo que ela sustentava fixamente nos lábios.

Preso firmemente pelos dedos delicados, o exame que comprovava sua realização. Sua e de seu marido.

Edward não vai acreditar! Pensou.

Três anos. Por três longos anos eles tentaram, sem descanso, ter um filho. Tantos médicos e exames, tantos tipos diferentes de tratamento. E quando haviam se conformado com a impossibilidade de gerar o próprio bebê, vinha essa surpresa.

E justamente faltando apenas três dias para mais um aniversário de casamento.

Um ótimo presente de quatro anos!

Por isso decidiu protelar alguns compromissos, e deixar outros por responsabilidade de Alice, sua sócia, cunhada e melhor amiga, antecipando seu retorno a Boston, previsto apenas para dali há dois dias.

Ainda repassava na mente o momento da descoberta.

Depois de desmaiar na sala de reuniões de um de seus clientes e ser levada ao hospital por sua sócia, Bella esperava ansiosa por uma explicação para seu súbito mal-estar.

– Aqui está, senhora Cullen – A médica de plantão que a atendia falou, entregando-lhe o resultado do exame de sangue – A queda de pressão foi apena um sintoma de sua gravidez. Está tudo bem agora, e eu irei libera-la.

– E-eu estou grávida? – Ela perguntou enquanto os olhos ficavam rasos.

Alice apertou suavemente sua mão, abrindo um sorriso triunfante. Sabia de todo o processo sofrido que a amiga e o irmão haviam passado até ali.

– Sim – A médica sorriu.

– Deus... – Bella sussurrou – Alice...

– Eu sei! – A baixinha falou – Você precisa contar a ele logo!

Bella virou-se para a doutora e agradeceu, preparando-se para a liberação.

Horas depois estava embarcando no vôo.

– Tem certeza que não vai ficar pesado pra você? Eu posso esperar até depois de amanhã para contar.

– Não! – Alice a repreendeu – Vocês esperaram muito por isso. Você precisa correr pra casa e contar a ele!

– Eu vou. Estou indo! – Bella falou esfuziante.

Suas divagações foram interrompidas pelo informe da tripulação. O avião havia pousado.



******************************************************

Edward não aguentava mais. Sua cabeça explodiria a qualquer momento.

Terminaria tudo com Ângela.

A culpa o consumia dia após dia, apesar de ele ter se mantido fraco, justificando a si mesmo que aquilo era devido à crise em seu casamento, que era apena uma válvula de escape.

Ele havia sido fiel a Isabella a vida inteira, desde o começo da relação, quando ela tinha apenas quinze anos recém-completos e ele dezessete, e tivera apenas ela de mulher desde que se entendia por homem, quando eles perderam juntos a virgindade no aniversário de dois anos de namoro. Descobriram tudo juntos, a paixão, o amor, o desejo. E por isso ele acreditava que o anseio que sentira quando conhecera Ângela, a ânsia em tê-la se devia muito a seu lado macho falando, ávido para desvendar um corpo desconhecido.

Ele a conhecera num péssimo momento, em que seu casamento enfrentava uma dificuldade delicada e significativa, e ele estava extremamente vulnerável.

Edward e Bella não conseguiam gerar um filho, por mais que tentassem há três anos. Decepção em cima de decepção, mês a mês, a angústia fazia com que os dois se afastassem do amor, do sexo com paixão, com ternura, e o ato se tornasse mecânico, por um objetivo. Em meio a tudo isso, sua assistente fora promovida a chefe de ala no hospital, e ele recebera uma nova residente para ocupar o posto. Obviamente Ângela era bonita. Uma morena alta e de olhos amendoados, cabelos de mogno, compridos e sedosos a alcançar-lhe a cintura. Algo nela despertou seu interesse, algo que o fazia lembrar da Bella adolescente, doce e feliz por quem ele se apaixonou, que estava escondida debaixo da personalidade abatida e sombria que ela havia adotado desde que começaram a enfrentar todas aquelas dificuldades.

A menina era tão delicada, tão meiga e solícita, e também muito atraente. Edward pouco conseguia disfarçar seu interesse, que era claramente correspondido. E então começou o jogo de sedução mútuo.

Ele se condenava por aquilo, mas não conseguia evitar. Sua desculpa era sempre a mesma.

É só uma distração... Não vai passar de flerte... Não vai acontecer nada. Pensava.

Mas pouco depois ele cedeu.

A primeira vez havia sido tão impulsiva! No meio do plantão, dentro de seu consultório. Nem as roupas foram tiradas completamente. Se arrependeu assim que atingiu o clímax, ao pensar na mulher de sua vida que dormia inocente em sua casa àquela hora.

Desesperado e constrangido, havia pedido mil perdões à garota que ainda estava em seus braços sorrindo. Explicou-lhe como se sentia e afirmou veementemente que aquilo nunca mais se repetiria.

Doce ilusão.

Noite após noite Edward se via inventando desculpas à esposa para sair mais cedo de casa para o plantão, corroendo-se de culpa por dentro, mas incapaz de se deter, e seguia para a casa da moça, com quem mantinha relações já há quase oito meses.

Mas não conseguia mais. Tinha que terminar com aquilo.

Bella era sua vida, sua alma, seu coração. Sem ela não existia motivo para viver.

E ela já vinha dando sinais de desconfiança, sempre fazendo mais perguntas do que o normal, sempre observando seus gestos, suas atitudes, além do que costumava.

Ele tinha medo que ela descobrisse. Conhecia muito bem sua mulher. Ela era altruísta e compreensiva. Seria capaz de perdoar tudo e qualquer pessoa. Mas traição era um assunto muito bem definido.

Isabella havia perdido sua harmonia em família devido a uma traição. Sua mãe havia mantido um relacionamento paralelo durante meses até que ela descobrisse tudo. Não contou ao pai para poupa-lo, mas ele logo descobriu por si mesmo quando René, não suportando o desprezo da filha, contou a verdade e pediu o divórcio. Bella nunca mais falou com a mãe. E isso já tinha mais de treze anos.

Edward sabia. Sempre soube. Ele esteve lá quando ela entrou em depressão com a separação dos pais. A ouviu dizer que nunca perdoaria a mãe. Prometeu a ela que aquilo nunca aconteceria a eles. Escutou suas palavras ameaçadoras quando ela jurou que esse seria o único ato capaz de destruir o relacionamento deles.

Além de tudo isso, ele estava mais do que ciente, dadas as últimas palavras de Ângela, que aquilo estava indo longe demais.

Com um estremecimento ele pegou o celular e discou o número tão familiar.

Foi atendido no terceiro toque.

– Oi... – Ângela atendeu com a voz arrastada, devido ao sono. Fazia poucas horas que largara o plantão.

– Oi. Desculpa te acordar, mas eu preciso conversar com você.

– Agora? Você estava de folga, mas eu trabalhei a noite toda... Não pode ser de noite, quando formos nos ver?

Edward suspirou. Seria um rompimento difícil. Ele gostava de Ângela, apesar de não ama-la. Não queria magoa-la. Mas não queria mais arriscar perder o amor de sua vida.

– Não nos veremos mais essa noite, Ang... Na verdade, nós só nos veremos... Profissionalmente... A partir de hoje. No hospital.

A moça despertou prontamente com aquela frase.

– Edward, o que... O que você tá dizendo?

– Eu quero conversar pessoalmente com você, mas as razões são as mesmas. Não posso mais...

– Você está terminando comigo por telefone? – Ela gritou.

– Não... Quer dizer... Sim... Eu estou terminando. Mas não quero fazer isso desse jeito. Quero te encontrar pra conversarmos, mas, o objetivo é esse... Sinto muito.

– Edward...

– Não vou passar aí hoje à noite... Eu não quero que aconteça mais nada entre nós. Mas eu gostaria de te encontrar, pra almoçar talvez, e conversamos melhor.

– Não... – A voz de Ângela denunciava seu choro – Não faça isso!

– Ang... Vamos... Você sabe o que sinto, eu sempre fui sincero com você...

– E você sabe o que eu sinto, Edward... – O embargo na voz da moça já era mais que evidente – Não faz dois dias que eu te falei que te amo!

Edward apoiou o cotovelo do braço livre no joelho, e na mão escondeu seu rosto.

Sentia-se o pior dos canalhas. Enganando a esposa que amava, ferindo a garota doce e meiga por quem adquirira um enorme carinho.

– Na verdade este foi o estopim... – Murmurou – Por favor, não vamos fazer isso pelo telefone, Ang. Eu não queria te magoar, mas sei que é impossível dada a situação...

– Eu tô indo ai. – Ela falou subitamente decidida, interrompendo-o.

Edward se retesou de imediato.

– Está louca?

– Chego em vinte minutos.

E falando isso desligou o telefone.

Edward encarou o aparelho abismado. Não queria ter aquela conversa em sua casa, no lar de sua esposa. Seria como macular a pureza dela, trai-la da pior forma possível.

Discou o número novamente, mas a chamada nem completou. Ângela devia ter desligado o telefone.

Tentou se acalmar. Bella só chegaria dali há dois dias, e não haveria problemas em receber sua assistente em sua casa. Poderia ter vários motivos para isso.

**************************************************

Eram dez e quinze da manhã. Suas mãos suavam e seus joelhos tremiam.

Nunca, em seus trinta e um anos de vida, se sentira tão nervoso, mas por alguma razão desconhecida, a ida de Ângela até seu apartamento estava despertando seu instinto de autopreservação. Estava com um péssimo pressentimento com relação àquilo.

Tentou dissipar o medo infundado. No final das contas ele nem faria nada demais mesmo. Só queria acabar com aquilo logo.

Levantou num pulo quando a campainha tocou, mesmo tendo sido avisado pelo porteiro da subida da moça.

Abriu a porta num rompante, e nem teve tempo de piscar.

Ângela se agarrou a ele cheia de fúria e desejo, colando os lábios nos de Edward.

– Espera... – Ele falou, segurando-a pelos braços para afasta-la – O que pensa que está fazendo?

– Edward, não... – Ela choramingou – Não faça isso... Por favor.

– Ang, vamos conversar...

– Eu não quero conversar! Eu quero que você, diga que não vai terminar!

Edward soltou a moça e fechou a porta, encostando-se nela e fitando o chão.

Deu um longo suspiro antes de encarar os olhos castanhos.

– Eu não vou dizer isso. Eu quero terminar. – Falou decidido.

Ângela o olhava atônita e descrente. Andou meio lerda até um sofá e se sentou pesadamente, chorando.

Edward caminhou lentamente até ela, se agachando em sua frente.

– Não chora, linda... Me perdoa. Mas eu não quero e não posso pôr meu casamento em risco mais do que já coloquei.

– Separe-se dela... Fique comigo... – Ela falou numa voz fraca.

Edward, tomado pela pena e pela culpa a abraçou fortemente.

– Eu não posso, Ang... Eu gosto de você. Mas eu amo minha esposa. Sei que deve ser horrível você ouvir isso, apesar de saber que essa sempre foi a verdade porque eu sempre deixei muito claro... Mas eu não posso continuar enganando ela, correndo o risco de perdê-la se ela descobrir, e continuar te iludindo num relacionamento que não tem nenhum futuro.

Sentiu o corpo da garota convulsionar devido à intensidade de seu pranto.

Ficou ali firme, paciente. Esperou que ela se acalmasse. Mal sabia que esse seria seu maior erro.

Ângela não conseguia aceitar, e tendo-o ali tão próximo, aproveitou-se da situação.

– Me beije Edward – Falou virando o rosto para ele.

– Ang...

– Por favor... Um último beijo.

Edward relutou, mas vendo o olhar suplicante dela e conhecendo seus sentimentos por ele, resolveu ceder. Afinal seria só um beijo.

Mas o que seria um beijo, queimou no seu corpo como sempre queimava. Ângela conhecia muito bem seus pontos fracos, e o beijava com o furor que ela bem sabia que o provocava.

Edward mais uma vez foi fraco, entregando-se ao desejo impulsivo e vazio, e a arrastou para o escritório, que era o cômodo mais próximo, sem desgrudar os lábios do dela.



******************************************************

Bella chegou esbaforida ao apartamento. Ansiosa para encontrar seu marido e contar-lhe a novidade. Passava um pouco das onze da manhã quando entrou.

Assim que pôs a mala no chão, próxima à porta, abriu a boca para chama-lo. Mas um gemido abafado a calou.

Seu coração acelerou e seus olhos se arregalaram com o instinto. Apurou os ouvidos e escutou novamente, o mesmo gemido.

Aquele som era muito conhecido dela, afinal eram doze anos o escutando. Mas atrelado a ele vinha um som agudo, como gritinhos, que destoavam daquela realidade.

De repente uma cena antiga preencheu seu pensamento.

Fora exatamente assim que encontrou sua mãe com seu amante, Phill, no quarto que pertencia a ela e ao seu pai, num dia em que Bella, na época com dezesseis anos, não deveria estar em casa.

Quanto mais ela se aproximava da origem dos sons, mas a cena de Renée ficava vívida em sua frente.

Lembrou-se que estacou nas escadas ao ver, pela fresta da porta entreaberta, apenas o rosto de sua mãe e de um homem desconhecido que a beijava com ferocidade, enquanto ela soltava gritinhos como esses que ela escutava agora.

Não... Eu não posso acreditar nisso... Isso não está acontecendo. Repetiu em pensamento.

Mas ao escancarar a porta do escritório, de onde os sons vinham, sentiu o chão abrir e seu mundo ruir naquele exato instante.

Houve uma comoção. Gritos e correria. Duas pessoas tentando desesperadamente se cobrir e disfarçar o que era indisfarçável.

Mas Bella permanecera imóvel. Incrédula daquela cena.

– Bella... – Ouviu Edward chamar ao longe – Eu... Eu... Me deixe explicar.

Mas ela não respondia. Estava em choque, o olhar desfocado.

Isso é um pesadelo... Eu vou acordar a qualquer momento na minha cama, suada e com meu marido ao meu lado, ainda adormecido... Pensou.

Sentiu que uma das duas pessoas saia às pressas, ainda vestindo as roupas, passando por ela como um furacão, enquanto a outra se aproximava.

O toque da mão de Edward em seu braço a despertou, provocando uma reação automática e violenta.

PAFT!

Edward sentiu a pele arder com o tapa, e notou que tinha lágrimas rolando por seu rosto, não pela dor, ou pela humilhação do gesto de sua mulher, mas pela constatação de que iria perde-la.

Antes que pudesse articular qualquer palavra, a mão de Bella atingiu seu rosto novamente.

Ele não reagiu. Não tinha por que. Ela tinha mais do que direito de fazer aquilo. Ele apenas se resignou e esperou que ela descarregasse toda a raiva e frustração que sentia na face dele.

– Você é imundo! – Ela falou, a voz baixa e fria, mas foi como se gritasse.

As palavras penetraram o peito de Edward com a fúria de lanças, fazendo com que ele perdesse a firmeza em seus joelhos.

– Bella... Pelo amor de Deus... Só... Só me dê a chance de explicar... – Implorou em meio às lágrimas.

Bella o olhou de cima.

Ajoelhado, o rosto banhado em lágrimas e vermelho de um lado pelos tapas que recebeu. Segurando as calças em frente ao seu membro. Ele ainda estava nu. Parecia arrependido.

Óbvio que está arrependido. Foi pego em flagrante. Ela refletiu.

– Quanto tempo?

Edward levantou os olhos até o rosto da esposa sentindo um calafrio percorrer-lhe a espinha devido à indiferença da sua voz. Não tinha mais pra onde correr. Estava encurralado. Só lhe restava contar a verdade.

– Oito meses. – Sussurrou sem forças.

Bella olhou para o divã, onde a pouco havia visto o marido em cima de outra mulher.

Fez menção de sair dali, mas Edward agarrou suas pernas, impedindo-a.

– Pelo amor de Deus, Bella... Eu só te peço que me escute...

Ele pediu, acreditando que ouviria um não, ou simplesmente não ouviria nada. Não tinha esperança. Mas sua esposa sempre o surpreendia, e dessa vez não foi diferente.

Internamente Bella ainda se debatia com a dura realidade dos acontecimentos, mas uma apatia sem precedentes se apoderou dela, permitindo a ela a frieza necessária para enxergar claramente os fatos e fazer o que tinha de ser feito.

– Me solte e se vista! – Ela ordenou sem encara-lo – Eu vou esperar na sala.

Edward sentiu seu coração se aquecer um pouco, apesar do desespero já ter lhe tomado há muito. Pelo menos ela o ouviria.

Vestiu-se sentindo um vazio gigantesco no peito, e o medo do fim de tudo lhe assombrava.

Chegou à sala e sentou na mesa de centro, de frente para Bella, que estava sentada no mesmo sofá onde, ha alguns minutos, ele consolava sua amante.

Ela mantinha um papel nas mãos, um envelope. Em seu semblante toda a frieza e desprezo que ele um dia vira direcionado à sua sogra.

Estremeceu internamente, certo de que as chances de não perdê-la eram ínfimas.

– Eu não tenho uma justificativa para isso... – Começou com a voz tremula – Eu me deixei levar pelo impulso, pela curiosidade de conhecer algo novo... Eu nunca tive outra mulher a não ser você e, acredito... Acredito que isso tenha reforçado minha atitude inconsequente... E tudo entre nós vinha sendo tão difícil... Nós mal nos tocávamos o mês inteiro, apenas quando você estava fértil eu podia ter você...

Bella o olhava impassível. Não podia acreditar nisso. Então ele usaria todas as atribulações que passaram como desculpa para uma traição?

Apesar da indignação, manteve-se firme. Prometeu a si mesma que ouviria a tudo sem interrupções, daria a ele essa chance pelos anos de relacionamento. Mas sua decisão já estava tomada desde o momento em que o vira gemer sobre outra.

Alheio ao turbilhão que consumia sua mulher, Edward continuou.

– Eu estava carente... E ela... Ela estava lá... Disponível.

Bella bufou, incrédula de sua justificativa tão indigna.

– Eu sei que nada vai desculpar o que eu fiz, amor...

– Não me chame de amor. – Bella sibilou.

– Bella... – Edward engasgou, nervoso – Eu... Eu sei o que eu fiz... Sei que fui um canalha... Mas eu não pude evitar...

Ele nem sabia mais o que dizer. Nem ele mesmo aceitaria qualquer explicação para uma coisa daquelas se fosse com ele. Mas precisava fazer alguma coisa, não podia perdê-la.

Seu corpo todo tremia pelo desespero. Queria tocar nela, sentir que ela não iria embora, mas temia que uma aproximação a afastasse ainda mais rápido.

– Eu ia terminar tudo com ela... Eu não queria continuar te enganando.

Ele ouviu o riso baixo e sarcástico da esposa, e sentiu a vibração da angústia em seu estômago.

Claro que ele vai apelar e começar com o teatro de vítima e homem arrependido, blá blá blá... Bella desdenhou em sua mente.

– Bella, eu te amo. Você sabe disso. – Edward falou num tom implorativo – Eu errei, mas isso não mudou o que sinto e sempre senti por você. – Suspirou, notando a indiferença dela – Nós estamos juntos há catorze anos... Você me conhece desde que éramos adolescentes... Olhe em meus olhos... Me diga se não estou sendo honesto com você...

Bella podia ver naquele mar de esmeraldas que sim, ele estava sendo sincero. Mas isso não mudava o fato de que ele a traía há oito meses.

Não. Não voltaria atrás. Não saberia conviver com isso.

– Só me responda uma pergunta... – Ela falou no mesmo tom frio de antes, o olhar duro – Se eu não tivesse visto tudo que vi... – Engoliu em seco com a lembrança fresca – Se você tivesse terminado com ela antes que eu descobrisse... Você teria sido tão honesto quanto está sendo agora?

Edward sentiu sua garganta se fechar. Sabia o que sua resposta causaria. Mas não tinha como mentir, nem queria fazer isso. Se houvesse ainda uma chance dela perdoa-lo e eles retomarem o relacionamento, ele queria agir corretamente.

– Não. – Respondeu num fio de voz.

Bella não falou. Apenas assentiu com a cabeça, indicando que era o que ela esperava ouvir.

O silêncio dela serviu para deixa-lo ainda pior.

– Tome. – Bella lhe estendeu o envelope – Foi por causa disto que eu antecipei minha volta.

E não esperando que ele abrisse e lesse o resultado, levantou-se do sofá e seguiu para o quarto.

Edward não reagiu a seu afastamento, confuso com o conteúdo do objeto. Abriu devagar, esperando encontrar uma carta o denunciando, ou fotos dele com Ângela.

Quando viu do que se tratava teve a certeza de que era melhor que tivesse sido mesmo uma delação. Porque o resultado positivo naquele exame de sangue lhe dizia que perderia, não só sua mulher, mas também o filho que tanto ansiou ter com ela.

O pranto irrompeu por sua garganta, impiedoso, e Edward escondeu o rosto entre as mãos, tentando amparar um pouco do peso que o esmagava naquele momento.

Bella o ouviu do corredor, quando ainda abria a porta do quarto, e sentiu finalmente o peso da realidade a abatendo.

Suas lágrimas silenciosas escorriam pela face até o pescoço, profusas e incontroláveis, enquanto ela pegava devagar seus pertences e colocava numa mala.

Edward caminhou desanimado, ainda chorando, até o quarto, e sentiu seu estômago afundar e seu coração falhar miseravelmente ao ver o que Bella fazia.

– Não vá embora Bella... – Pediu, parado à soleira da porta – Por favor... Por tudo que vivemos juntos... Pelo amor de Deus... Não me deixe.

Bella parou onde estava, sem o encarar.

– Não há como eu ficar aqui... Não depois de... Eu não sou capaz de perdoar você Edward. Eu não conseguiria conviver com a lembrança do que vi, ou com a verdade me martelando cada vez que eu olhar pra você...

– Mas você está grávida... Nós vamos ter um filho...

– E isso pesa, eu sei... Mas eu não vou afasta-lo de você, não se preocupe. – Ela falava com a voz embargada e carregada de tristeza – Sabe que eu não seria capaz de fazer algo do tipo. O bebê não tem culpa, o que aconteceu foi entre nós e ele não sofrerá consequências por isso.

– Como não? Ele nascerá num lar desfeito, com seus pais separados... Pense nisso Bella... Nossas decisões afetam a ele também.

– O que você quer, Edward? – Ela explodiu – Que eu finja que não vi você transando com outra mulher em nosso escritório, em cima do divã onde você me teve por inúmeras vezes? Ou que eu esqueça que isso é só uma amostra do que se repete pelas minhas costas há oito meses?

Edward não respondeu. Encolheu-se minimamente com as palavras afiadas e a gravidade na voz de Bella.

– Eu farei primeiramente o que é melhor pra mim – Ela disse virando-se para fitar o olhar atormentado do marido – Eu preciso estar bem para fazer esse bebê feliz, para poder cuidar bem dele. E eu não ficarei bem aqui. Não ficarei bem ao seu lado.

Ele enxergou a determinação no olhar dela e, mais uma vez sentiu seu corpo tremer de cima a baixo.

Num ato espontâneo caminhou até ela, a mão estendida para tocar-lhe a face, um pedido desesperado na ponta da língua.

– Por favor... Não... – Sussurrou.

Mas antes que seus dedos conseguissem o contato que almejavam, Bella deu um passo pra trás, acuada e ferida.

– Não me toque. – Sentenciou – Você ainda está sujo... Dela.

Mil bofetadas não seriam equivalentes ao impacto que aquela frase causou em Edward. Ele sabia que ela estava certa. Como podia tocar em sua esposa, imundo do jeito que estava, maculado pelo ato vil que cometera contra seu próprio casamento?

Sentiu nojo de si mesmo. Mais do que nunca.

Abaixou a mão e ficou ali, estacado, observando a mulher de sua vida se preparar para abandona-lo.

– Não sei ainda onde vou ficar, mas te avisarei assim que me instalar, por causa do bebê. – Bella falou com a voz serena depois de fechar a segunda mala – Só lhe peço que respeite minha decisão, por que ela é irreversível. Não venha atrás de mim ou fique insistindo.

Dito isso ela passou por ele, que permanecia imóvel, e se dirigiu à porta.

Edward acordou do transe e correu até a sala, vendo sua mulher dar instruções ao porteiro pelo interfone.

– Não existe nada que eu possa fazer para que você me dê outra chance? – Falou, mas sua voz era apenas um murmúrio dolorido.

Bella sentiu o coração apertar no peito. Nunca imaginou que sua história com Edward acabaria assim. Que o homem a quem ela dedicara sua vida, a quem ela entregou todos os seus sonhos e anseios, a quem ela amou e ainda amava desesperadamente, a trairia de maneira tão baixa, debaixo de seu próprio teto.

Ela buscou em seu âmago uma pequena fagulha que fosse, qualquer indício de que pudesse superar aquilo, ainda que fosse com muito esforço. Mas não. Não havia nada. Apenas o vazio e a dor.

– Não. – Respondeu categórica.

E enquanto ela saia pela porta carregando a mesma mala com que chegou há algumas horas, acompanhada pelo porteiro que levava o restante da bagagem, Edward caia sobre seus joelhos e chorava, o corpo espasmando violentamente, a mente girando contra a aceitação da realidade.

Seu casamento havia acabado.


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Notas finais do capítulo

Semana que vem tem mais um... Beijos