Os dias passavam e eu ainda não fazia ideia de onde estávamos. O mapa que Marcos nos dera estava sendo de grande ajuda, mas ainda assim estávamos perdidas e sem nada além de água que conseguíamos nos postos de gasolina.

Naquele momento já não tínhamos noção de horas, sabíamos somente quando era noite ou dia. Não sabíamos o quanto já tínhamos andado, pois um dia, enquanto paramos para comer, o vento levou o mapa. Avistei uma casa dentro de uma enorme cerca, onde não conseguia ver o fim, julguei ser uma fazenda.

– Vamos até lá. – Disse. Annabelle concordou e andamos até lá.

Quando chegamos a casa, a porta estava entre aberta e o barulho da TV era notável. Bati na porta algumas vezes e logo uma mulher a abriu e sorriu ao me olhar.

– Melissa! – Ela me abraçou apertado. Quando ela me soltou eu a olhava confusa. – Não se lembra de mim?

– Desculpe, mas... Não... – Disse observando-a.

– Sou filha de Margot! Costumávamos brincar juntas sem sua mãe saber. – Ouvi Annabelle suspirar. Ciúme.

– Emily?! – Ela balançou a cabeça confirmando minha pergunta, eu sorri e a abracei. – Como está?

– Eu estou bem, mas você... Está encrencada...

– Estou... – Annabelle fez um barulho com a garganta e eu e olhei. – Oh, podemos entrar?

– Podem... Mas não por muito tempo... Poderia nos trazer problemas.

– Tudo bem... Será só por algumas horas para que Annabelle possa descansar.

– Você está em todos os jornais, desde que se tornou suspeita, seu rosto aparece em todos os lugares possíveis. – Annabelle foi em direção ao banheiro e eu me sentei no sofá com Emily. – Mas afinal, por que fez isso?

– Eu... Eu fui estúpida e fútil, Em... – Suspirei. – Não era para chegar a esse ponto, era para conseguir dinheiro, e sair fora, parar de depender da minha mãe.

– Você fez tudo isso por atenção, Melissa? – Ela negou com a cabeça. Quando concordei com aquela loucura, tudo fazia sentido, mas agora, com o tamanho que isso se tornou, eu me sentia uma completa idiota, e de fato, eu era. Sou. – Eu jamais esperaria isso de você... – Encolhi os ombros, estava completamente envergonhada. – Você devia tomar um banho e descansar, acordo vocês em uma hora.

– Obrigada, Em. – Me levantei e fui até o segundo andar, eu conhecia muito bem aquela casa por dentro.

– Melissa? –Me virei e olhei Emily, esperando que ela falasse. – Você pretende se entregar?

– Assumirei a culpa por tudo que aconteceu com Annabelle, - Sem esperar qualquer resposta, e continuei subindo as escadas.

Acordei alguns momentos depois com forte movimentação no primeiro andar, olhei para o lado e Annabelle dormia encolhida com a mesma expressão doce em seu rosto. Ouvi algum móvel ser arrastado na sala de estar, fui domada pela curiosidade e me levantei para ver o que era. Antes de sair, percebi que minha mochila não estava mais onde deixei, senti um arrepio percorrer toda a minha espinha, eu estava com um péssimo pressentimento, quanto ao que estava do outro lado da porta.

– Mel? – Annabelle me chamou com sua voz sonolenta. – O que está acontecendo? Temos que ir?

– Belle... – Voltei para seu lado na cama e a abracei com toda força e carinho que eu tinha. – Temos que ir...

– Tudo bem. – Ela levantou-se e dói em direção ao banheiro e eu fui em direção à porta. Girei a maçaneta lentamente, fazendo o mínimo barulho possível. Assim que abri a porta o suficiente, para passar minha cabeça pelo espaço, pude ouvir vozes.

– Ela está mesmo lá em cima? – Era a voz de um homem. – A Senhorita não está nos fazendo perder tempo? – Um policial.

– Não. Ela está lá em cima com a Annabelle! – O silêncio tomou conta por alguns segundos. – Ela disse que assumirá toda a culpa pelo que fez com Annabelle.

– Vamos subir então. Preparem-se, homens. – Emily havia me entregado. Olhei para a porta do banheiro fechada e suspirei, eu não seria flagrada com uma delinquente. Mesmo que eu fosse uma. Abro a porta por completo e saí. Minhas mãos tremiam, eu mordia meu lábio com tanta força, que a qualquer momento eu poderia sentir o gosto de sangue. Andei com passos hora rápidos, hora lentos até a escada. Quando cheguei em seu topo, o policial estava em seu meio. Ele me observou com surpresa, e apontou a arma para mim, levantei as mãos em sinal de que estava me entregando.

– Melissa! – Olhei para trás e vi Annabelle totalmente surpresa com o que estava vendo. – Por que...? – Seus olhos se encheram de lágrimas, balancei a cabeça negativamente, ela não deveria chorar, eu era uma criminosa.

– É a filha do Senador. Ela está viva! Chamem os médicos para examiná-la. – Outro policial disse para o aparelho de rádio. Examiná-la? Ela parecia machucada?

– Melissa... – Annabelle deu um passo em minha direção, eu iniciei um passo imitando seu gesto, mas o policial imobilizou meus movimentos rapidamente. – Solte-a! – Balancei a cabeça novamente.

– Annabelle, não me defenda, por favor... Eu sou culpada.

– Senhor, temos um caso de Síndrome de Estocolmo aqui. – Um dos policiais disse. Suspirei. Eles estavam completamente errados.

– A senhorita, vai para a cadeia. Você está presa, senhorita Thompson. – Ele me algemou e me guiou até aporta. Olhei para Emily que desviou seus olhos dos meus.