Escutei um barulho distante, achei que estivesse sonhando. Infelizmente não estava, era o meu despertador mostrando que já era hora de levantar e me arrumar para ir trabalhar. Desliguei o despertador e virei na cama e respirei fundo esperando alguns segundos para levantar.

Não havia dormido muito bem. Na verdade, estava tão preocupado com algumas coisas que estavam acontecendo lá na empresa recentemente que talvez não tivesse dormido mais que duas ou três horas.

–Ei... Kagami-kun. – escutei alguém chamando. –Acorda.

–Hum? – abri os meus olhos devagar e notei que depois de desligar o despertador eu havia pegado no sono novamente, afastei a coberta de cima do meu corpo.

–Você está vinte minutos atrasado... – falou Kuroko Testuya, o meu namorado.

No colegial estudei na escola Seirin, e no clube de basket eu conheci o sexto membro fantasma da “Geração dos Milagres”, Kuroko Tetsuya, um garoto baixo, magro, de olhos e cabelos azuis e uma pele clara, ele não era muito forte ou muito habilidoso no esporte, mas dominava os passes como ninguém. Passávamos bastante tempo juntos, e éramos bem próximos, sempre estando numa sincronia perfeita nos jogos. E fora deles também.

Desde o começo nós nos completávamos, e com o tempo a amizade, companheirismo, admiração, amor, e tudo mais foram evoluindo naturalmente para outro tipo de amor, o amor romântico.

Levantei rapidamente da cama e sai em direção ao banheiro. Tomei uma ducha rápida, escovei os dentes e voltei ao quarto. Eu tinha uma reunião importante da qual não poderia me atrasar, eu não esqueceria agradecê-lo mais tarde. Não pude deixar de sorrir quando vi que ele havia até já separado um terno, uma camisa social e minha gravata vermelho vinha (a preferida dele).

Você pode até pensar que isso é algo normal, que não tem nada de especial, mas eu ficava feliz porque sabia que tinha, cada pequena coisa que ele fazia por mim era sempre com muito amor.

No primeiro ano do colegial, um pouco antes do Intercolegial de Inverno, nós começamos a sair juntos. Tivemos nossas brigas, nossos altos e baixos é claro, mas só olhar para aquele rosto adorável com aquela personalidade que sempre me surpreendia, eu não sei dizer bem o porquê, sempre sentia muita calma e felicidade, e assim os pontos altos da nossa relação sempre superavam os pontos baixos.

Fui até a cozinha, abri a geladeira e bebi um copo de um vitaminado que havia preparado na noite anterior. O Kuroko vestia uma blusa branca, uma bermuda azul marinho e um avental azul, ele estava terminando de arrumar alguma coisa, mas não dei muita atenção, pois estava com bastante pressa.

Mesmo depois de terminar o terceiro colegial nós continuamos namorando. Eu fui para uma grande universidade aqui em Tóquio enquanto o Kuroko começou a estudar pedagogia numa universidade menor. Não que fosse menos inteligente que eu, ele só não tinha o dinheiro que meus pais tinham para pagar a minha faculdade, e por isso além de estudar ele tinha trabalhos de meio período.

Fazia três anos que havíamos terminado a universidade. Depois dela eu fiz um estágio de seis meses em Los Angeles, mas não conseguia mais viver tanto tempo longe do meu pequeno e amado Tetsuya, então decidi voltar para o Japão assim que acabasse o estágio. Consegui um bom emprego numa multinacional e desde então passamos a viver juntos. Nessa época o azulado já estava estagiando numa pré-escola daqui de Tóquio, e adorara o trabalho continuando lá mesmo depois do fim do estágio.

Há poucos meses atrás a escola havia fechado, e desde então ele tem cuidado do meu - agora nosso - apartamento. Ele não precisa trabalhar porque eu posso muito bem cuidar de nós dois, mas ele diz que se sente mal por eu estar trabalhando fora de casa e ele não sendo que ele gostaria de contribuir nas despesas e também me dar muitos presentes. Então ele continua procurada uma nova vaga como professor de pré-escola, pois ele havia gostado de dar aula para crianças pequenas.

Peguei minha mala porta documentos cor de café e sem muitos detalhes, sai da cozinha cruzei a sala de estar indo em direção à porta. Estava quase abrindo-a quando escutei Kuroko dizer:

–Vá com cuidado. – Ele estava a uns dois passos de distância e segurava um obentou embrulhando num tecido laranja nas mãos. Ah, então era isso que ele estava fazendo na cozinha aquela hora. – Eu sei que você não teve tempo de tomar o café da manhã, então fiz o seu café para você comer se estiver com fome antes do horário do almoço. – ele completou com aquele rosto inexpressivo de sempre.

Eu definitivamente não poderia encontrar um namorado mais atencioso e fofo do que ele, não importa a onde eu procurasse. Quando estudava nos Estados Unidos, junto com o Tatsuya, havia ficado com duas garotas que eu gostava na época, mas junto com nenhuma eu senti tanta felicidade, carinho e amor quanto eu sinto todos os dias que eu passo ao lado de Kuroko, mesmo que eu ainda me sentisse meio desconfortável e envergonhado em falar esse tipo de coisas para ele.

Eu me aproximei e coloquei a mão no obentou para pegá-lo -Obriga... – Kuroko me interrompeu com um delicado beijo sobre meus lábios. Ele estava nas pontas dos pés e a mão que não estava segurando o obentou ele apoiou no meu braço que segurava a mala. Depois afastou o rosto voltando a pisar com os pés normalmente no chão. Eu estava um pouco corado pela surpresa, mas ele estava com aquele seu sorriso tranquilo que poucos podem presenciar.

Rápida, mas cuidadosamente, larguei a mala no chão e o abracei nos ombros sem me importar que uma das minhas mãos segurasse o obentou, e o pequeno retribuiu o abraço prontamente apoiando seu rosto em meu ombro.

–Agora eu estou um pouco atrasado, desculpe. Eu já volto, ok ?! – falei sorrindo discretamente.

–Sim. Tome cuidado.

Separamo-nos do abraço, eu peguei a mala do chão, abri a porta e sai não sem antes virar mais uma vez para trás e ver o azulado dando um pequeno aceno antes de fechar a porta.

Peguei o elevador em direção ao estacionamento do edifício sabendo que nunca enjoaria de viver com aquele homem chamado Kuroko Tetsuya.