A cada passo a dor se tornava mais insuportável, a cada passo o peso da mochila, que antes era facilmente suportável, se tornava cada vez mais pesada dificultando meus passos, mas eu não podia parar, eu tinha certeza de que os outros “carreiristas” iram me procurar, eu precisava continuar me mexendo. Andei por  não mais de três metros e cai de cara na terra fofa, me arrastei para a raiz de uma arvore, me sentei e me encostei, eu precisava fazer algo naquela ferida eu já havia perdido muito sangue, fechei meus olhos e obriguei a minha mente a se lembrar de algo útil que eu tinha aprendido nas poucas aulas de sobrevivência que eu tive. Pouco tempo depois as palavras do instrutor pairavam sobre minha mente “antigamente os médicos cauterizavam feridas, ou seja, queimavam feridas mais serias com óleos ferventes ou ferros quentes para evitar inflamações”. Eu definitivamente não queria cauterizar nada, a dor de queimar algo que já trás a sensação de queimação deve ser insuportável, mas aparentemente eu não estava me saindo bem o suficiente para ganhar uma dádiva sequer então essa era minha única opção. Fiz uma fogueira o mais rápido possível para que não escurecesse, tirei meu casaco e o enrolei em minha boca, eu não podia nem pensar na idéia de alguém ouvir meus gritos, tirei a faca do cinto e deixei a lamina no fogo ate que ela ficasse alaranjada e a encarei por alguns segundos, “quanto mais rápido melhor” pensei. Fechei os olhos e levei a faca ate minha ferida, antes mesmo dela tocar minha pele já sentiu seu calor, minha mão vacilou por um segundo, mas fechei meus olhos com mais força e toquei a ferida com a lamina. Uma dor insuportavelmente causticante percorreu pelo meu corpo, meus dentes quase rasgaram o tecido, meu braço por inteiro começou a tremer, meu dedos largaram a faca com tanta força que eles se estralaram, minha visão ficou completamente turva e meu queixo começou a tremer, senti minha cabeça girar, com certeza eu desmaiaria mas não podia deixar aquela fogueira acesa, ao menos se eu quisesse morrer na certa, chutei um puxado de terra com o calcanhar fazendo as chamas diminuírem ate ficarem apenas brasas, minha cabeça começou a latejar, tirei meu casaco da boca e o joguei por cima das brasas, consegui apenas dar um único saco por cima das brasas antes de desmaiar completamente.

Acordei com o sol da manha atravessando as folhagens e batendo diretamente no meu rosto, ao tentar me sentar senti uma pontada acima de minha cintura, a dor havia saído de insuportável para latejante e persistente, me sentei encostada na arvore e um brilho prateado chamou a atenção de meus olhos, uma dádiva. “ Super generosos esses novos patrocinadores” pensei, me levantei e manquei ate a dádiva dentro havia um casaco novo, olhei para meu antigo casaco em cima do que restou da fogueira ele estava todo queimado mas pelo menos ajudou a apagar as brasas, havia também bandagens e um remédio para dor. Fiz um curativo na cintura e vesti o casaco quando peguei o cantil para tomar o remedia percebi que estava sem água então engoli as pílulas a secos, elas ficaram entaladas por um tempo mas depois acabaram descendo, tirei da mochila três tiras de carne e comecei a mastigá-las lentamente enquanto mancava em busca de água. Quando encontrei um riacho eu já havia caçado, limpado e cozinhado um coelho. Enchi o cantil e purifiquei a água antes de beber um gole, os analgésicos já tinham dado efeito e eu estava quase nova em folha, tirando a parte que eu ainda mancava um pouco. Parti em busca de uma nova forquilha já que estava quase escurecendo. Já estava escuro quando eu distingui uma forma masculina no meio das arvores, tirei meu machado do cinto e o deixei apostos, tentei andar sem fazer muito barulho, mas não deu muito certo e o sujeito se virou e me apontou uma faca, mas dois segundo depois ele a abaixou:

- Lauren? – ao ouvir a voz de James uma paz desnecessária se instalou em meu corpo – Lauren, você esta mancando! Esta tudo bem?

- Sim James, eu estou bem – eu disse quase em um sussurro, não podia acreditar que eu havia encontrado James – Cauterizei minha cintura ontem e hoje fiz esses curativos – ele fez uma cara estranha e olhou para o curativo.

- Você cauterizou isso ai? Muito corajosa você – ele sorriu e me deu um abraço delicado – Estou feliz que você esteja bem – ele sussurrou em meu ouvido – Você precisa descansar, consegue subir ate aquela forquilha? Acho que ela e suficientemente grande e forte para sustentar nos dois – disse ele olhando para a forquilha, que não estava a menos e quatro metros do chão

- Posso fazer um esforço para subir – eu disse sorrindo e comecei a escalar a arvore.

Cada um achou uma posição confortável , e então ele fechou os olhos e foi dominado pela lenta e pesada respiração do sono. E foi ali sentada naquela forquilha, com James, que eu me senti completamente segura desde que os Jogos começaram.