Dois anos se passaram.

  Percy tornara-se Capitão-Tenente. Aquilo era um recorde, ninguém ascendia tão rápido na marinha. Mas meu marido tinha uma vantagem: era filho de Poseidon. O Cabeça de Alga se destacou, e muito, no Colégio Naval, mesmo tentando parecer discreto para que os mortais não desconfiassem de seus "talentos especiais". 

  Eu? Bem, meus trabalhos eram muito requisitados. Estava cumprindo meu sonho de construir monumentos que perdurariam ao longo dos anos.

  Ainda morávamos em L.A., mas não mais em um apartamento alugado. Nossa nova casa era própria, espaçosa e bonita, eu mesma planejara sua reforma. O quintal ficara enorme, grande o bastante para abrigar um cão infernal, e essa era a intenção. A sra. O'Leary morava conosco, era a babá canina da pequena Alex, que precisava de proteção extra já que os monstros estavam aparecendo com mais frequência.

   Sim, Alexandra atraía monstros, mas não como eu ou Percy, felizmente. Mesmo assim, tomávamos cuidado.

  Fisicamente, minha filha ficava cada dia mais parecida comigo. No entanto, tinha o gênio e a personalidade do pai; teimosa, levada e divertida. Além disso, ela possuía seus lindos olhos verdes. Já mostrava certa habilidade com a água, nadando como um peixinho; e, com apenas dois aninhos, sabia escrever seu próprio nome, conhecia todas as letras e falava com dicção perfeita. Logo estaria lendo... Era realmente neta de Atena.

  Eu observava enquanto Alex corria, seus cachinhos dourados balançavam ao vento, o som das ondas, que vinha de longe, era abafado pelos risos de minha filha. A noite já mostrava seus primeiros sinais, era hora de jantar e eu tinha que cumprir a difícil tarefa de colocar Alexandra para dentro. 

  - Venha, Alex, seu pai já está chegando. - Falei firme.

  - Papai vai me deixar brincar! - Ela gritou enquanto corria desajeitada por sob as patas da sra. O'Leary, que tentava lamber seus cachinhos sem nenhum sucesso. 

  Ouvi o som do carro de Percy, ele estacionou e Alexandra interrompeu sua correria para olhá-lo. Meu marido saiu do automóvel e veio ao nosso encontro.

  - Papai! - Alex riu e correu para seus braços, pulando enquanto Percy a pegava no colo.

  - Ainda aqui fora, Pirulita? - Ele riu e bagunçou os cabelos dourados da filha.

  - Acabei de mandá-la entrar, não é mesmo, Alexandra? - Usei seu nome todo, para que ela soubesse que eu estava falando sério.

  Percy levantou uma sobrancelha.

  - Desobedecendo a mamãe? - Perguntou.

  Alex baixou os olhos, sabia que estava errada.

  - Eu só queria brincar mais um pouquinho. - Levantou o rosto e fez carinha de anjo. - Por favorzinho, papai, posso brincar mais um pouquinho?

  Ela fez biquinho, e eu soube que tudo estava perdido. Alex já tinha o pai em suas pequenas mãozinhas.

  Percy olhou-me e eu revirei os olhos.

  - Está bem, só mais quinze minutos.

  - Sim, senhora. - Meu marido bateu continência e eu ri.

  Fiquei vendo-os brincar, o Cabeça de Alga também parecia uma criança, correndo e jogando Alex para o alto. 

  Quando entramos para o jantar, tivemos uma boa surpresa. Nico di Angelo e Mare Laudes vieram nos visitar. O filho de Hades usava roupas negras, ficara bem bonito com o passar do tempo, agora tinha vinte e um anos. Mare estava linda como sempre, suas feições de Nereida ainda despertavam o desejo dos homens e causavam inveja às mulheres. Os dois viviam em Los Angeles também, por isso nos víamos muito. 

  Nico parecia nervoso, não parava de mexer no bolso, sussurrou que queria falar com Percy e os dois saíram para uma volta depois de comerem.

  Eu e Mare colocamos Alex para dormir, minha filha adorava a tia. 

  Voltamos para o quintal e ficamos conversando e escutando o som das ondas. A noite estava tranquila, o clima, agradável. Nada de mau poderia ocorrer em uma noite como aquela. 

  Apesar disso, uma inquietação estranha me dominava. Tentei acalmá-la, sem sucesso. Uma vozinha sussurrava em meus ouvidos "Algo está errado. Algo está muito errado."

  Os garotos tinham levado a sra. O'Leary para passear, ela precisava dar umas "voltinhas" de vez em quando, ou o gramado do quintal ficava cheio de "presentes". 

  A ausência de nossa amiga canina só aumentou minhas preocupações. Não aguentei, fui ver como minha filha estava. Entrei em seu quarto devagar, para não acordá-la. 

  O que vi fez-me vacilar. Ou melhor, o que não vi.

  Meu coração congelou, meus olhos se arregalaram.

  Não. Não... 

  Percy's POV

  Eu e Nico caminhávamos pela areia observando a Sra O'Leary, o filho de Hades tremia um pouco. Estava curioso, queria saber o porquê de tanto nervosismo. 

  - Então, o que queria falar comigo? - Perguntei, não aguentando mais o silêncio.

  - Bem... - Ele interrompeu a caminhada. - Percy, eu preciso de sua ajuda.

  - Farei o que puder. Mas... Precisa de ajuda com o quê, exatamente? 

  - Eu... - Ele coçou a cabeça, tateou o bolso e pegou alguma coisa ali dentro. - Com isso.

  Nico segurava um anel. Aquilo era ferro estígio? Todo decorado com prata e lindas pedras verdes. Um belo anel, devo dizer.

  - E... - Incentivei.

  - Quero... Eu quero pedi-la em casamento, Percy. - Ele despejou as palavras.

  - Quem? - Perguntei estupidamente, acabei me distraindo com os latidos da sra O'Leary. Algo parecia errado.

  - Como "quem"? Mare, é claro! - Nico revirou os olhos.

  - Espera. - Aquilo fez com que eu voltasse a realidade. - Quer casar com a minha irmã? Agora? Não são novos demais para isso?

  - Percy, nós nos amamos e eu...

  Nico não terminou a frase. Senti um calafrio horrível e, logo depois, escutamos um grito vindo da direção de minha casa.

  - É a Mare... - O filho de Hades e eu voltamos correndo.