Fui carregada pra casa pelo Gabriel. Eu não sabia, mas estava com um corte do tamanho do mundo na perna... Ele me colocou deitada no sofá e foi ver o estado da minha perna.

-O que aconteceu? Quem te atacou? –ele perguntou, parecia com raiva

Ele tinha ficado mais protetor desde que eu voltei da jaula. Geralmente ficava sério e as brincadeiras eram raras.

-Eu não sei quem eram, eu coloquei todos os símbolos conhecidos, elas passaram todos... –falei

-Elas? –minha mãe perguntou

-Duas garotas... Elas tinham praticamente 10 anos... –falei

Gabriel me olhou esperando que aquilo tivesse sido uma piada.

-Está brincando... Não é? –minha mãe perguntou

-Não, não estou. Elas levaram o papai... –falei

-Elas disseram alguma coisa? –Gabriel perguntou

-Uma palavra: “Vingança”. –respondi

Nesse momento todos chegaram carregando Stela, que parecia não estar muito bem.

-O que aconteceu com ela? –perguntei

-Se meteu numa briga e apanhou feio... –Dean falou

Stela estava com o olho roxo e gemia de dor. Parece que eu não tinha sido a única a levar uma surra. Eles subiram com Stela e Gabriel me pegou no colo para me levar para o meu quarto.

Ele me deixou na minha cama e me mandou descansar.

-Você não pode curar minha perna? –perguntei

-Meus poderes tem estado limitados esses dias. –ele respondeu e sai do quarto

Me ajeitei do jeito que podia no travesseiro tentando parar de pensar no meu pai. E nas crianças.

Elas tinham alguma coisa familiar, só não sabia o que era. Fechei os olhos e dormi.

***

Meus sonhos foram os piores da minha vida. Sonhei com a jaula. Eu tentava ao máximo não pensar nisso, mas toda noite esses sonhos vinham.

A jaula era completamente formada de fogo, sentia minha pele queimar e como se isso já não fosse o bastante, Lúcifer me esquartejava toda hora. Mas ao mesmo tempo me tratava bem. Era muito estranho. Mesmo num sonho, sentia a dor e parecia que iria me despedaçar. Então vi a garotinha de vestido preto da noite anterior. Seus olhos escuros como a noite me fitavam, me fazendo sentir medo. Lúcifer parou de me torturar um momento e olhou para a pequena garota enquanto sorria.

O cenário mudou completamente. Estava em um campo de trigo, o sol brilhava e o vento curvava a plantação. Era um cenário lindo, até uma mão segurar meu pescoço e me levantar no ar. Miguel me olhava e sorria cruel para mim. Estava ficando sem ar, quando vi. A garotinha de vestido branco. Os olhos azuis cintilavam ao me ver daquele jeito. Quando estava ficando sem ar, acordei e caí da cama.

Não foi muito legal, por que eu fui tentar parar a queda com minha mão quebrada e logo depois a perna que estava machucada bateu numa cadeira que estava de lado da minha cama. Gritei de dor. Cara, será que podia piorar? Desde que conheci os rapazes parecia que tinha virado a garota mais azarada do planeta.

Ouvi a porta abrir e o namorado da minha mãe entrou correndo pelo quarto com ela.

-Ai meu Deus! Bruna, você ta bem? –ela perguntou

Uma maravilha! Só acabai de machucar ainda mais meus machucados... A dor era tanta que nem falar eu conseguia. Baron me colocou na cama tomando o máximo de cuidado. Pegaram esparadrapos e começaram a enfaixar minha perna. Provavelmente estava sangrando.

Depois de um tempo sentindo uma grande dor, eu estava cansada.

-O que aconteceu? –minha mãe perguntou sentando do meu lado

Olhei para Baron e minha mãe entendeu.

-Será que poderia sair um pouco? –ela pediu para ele

Ele assentiu e saiu do quarto.

-Pesadelos? –minha mãe perguntou

-Os piores... –respondi

Ela passou a mão no meu cabelo.

-Tem haver com aquela jaula?

-Sim. –respondi –Onde está todo mundo?

-O Sam e o Dean saíram para beber. Castiel e Laura foram dar um passeio no parque, Marcelle foi pra casa de Stela com ela.

-E Gabriel?

-Ele sumiu assim que te deixou nesse quarto. –respondeu

Olhei para o teto e respirei fundo.

-Acho melhor ficar deitada. Vou preparar seu almoço. –ela disse e saiu

Fiquei encarando o teto. Odiava ter que ficar parada, era quase que impossível pra mim...

-Gabriel... –chamei na esperança que ele viesse mas não veio

Bufei. O que será que ele estava tentando fazer? Sinceramente, espero que ele não esteja com uma vadia qualquer por aí... Se estivesse, seria um arcanjo morto.

Ouvi uma risada e me assustei até ver de quem era.

-Não estava com nenhuma vadia. –Gabriel falou

-Desde quando está aí? –perguntei

-Desde que me chamou.

Sorri. Ele se sentou do meu lado da cama.

-Estava tentando descobrir quem eram aquelas garotas que você falou... Como elas eram? –ele perguntou

-Baixinhas e assustadoras. –falei

-Iguais a você? –ele perguntou e eu bati nele

Mas, como eu não deixo de ser idiota nunca, eu acabei batendo nele com a mão quebrada. Alguém rogou praga forte pra mim. Gabriel riu.

-Você tem que prestar mais atenção nas coisas. –ele disse

-Hã?

-Agora, fala, como elas eram?

-Uma usava um vestido preto e tinha longos cabelos negros. Os olhos se podiam dizer o mesmo. Parecia uma gótica. A outra tinha cabelos dourados cacheados e olhos azuis com um vestidinho branco. Diria que uma típica menininha rica. –falei

Ele riu.

-Elas estavam juntas?

-Sim.

Ele pareceu pensar mas não chegou a nenhuma conclusão.

-É, não sei quem são... –ele disse

-Então somos dois. Ei, me dá chocolate.

-Não pode, está machucada.

-E o que isso tem haver com o chocolate?

-Eu não sei, mas não vou dividir meu chocolate.

-Nossa, como você é legal.

-Eu sei. –ele disse e nós rimos

Meu pesadelo veio na minha cabeça e eu me encolhi. Gabriel provavelmente leu meus pensamentos.

-Deve ter sido horrível... –ele disse

-E foi. Não gosto nem de me lembrar. –falei

Ele passou a mão nos meus cabelos.

-Que droga... –ele disse

-O que foi?

-Não posso nem te agarrar com você machucada desse jeito. –ele resmungou

Esse era o Gabriel que eu conhecia. Eu ri.

-Tem alguma coisa nessa cabeça que não seja sobre sexo? –perguntei

-Chocolate. –ele respondeu

-Ah, claro. Sexo e chocolate, por que não? –falei irônica