Quando chegaram à Grécia os três já não conseguiam mais ficar parados dentro de um carro tampouco conseguiam olhar para o asfalto. Já estavam tempo demais na estrada.

– Ian, vamos parar um pouco. – Disse Erick.

– Está bem. – Falou Ian. – Precisamos de um novo plano para prender Rafael. Ele não cairá tão facilmente na armadilha do símbolo.

Ian não conseguiu encontrar nenhuma casa ou garagem abandonada para que eles pudessem ficar, então apenas estacionou o carro em um lugar afastado onde não havia absolutamente nada, apenas ruínas.

– Onde estamos? – Perguntou Sophie.

– Ruínas da Grécia antiga. – Respondeu Erick. – Ao leste da Ágora de Atenas.

Sophie deu uma olhada em volta, ela já havia visto aquele lugar em um livro de história antigo que lia para seu irmão dormir quando eles estavam fugindo juntos.

– Precisamos de um novo plano. – Disse Ian olhando para Erick.

Sophie também olhou para Erick e quase pôde ver a engrenagens do cérebro dele rodando.

– Não consigo encontrar outro jeito. – Disse Erick. – Teremos que usar a mesma armadilha.

– E se apenas jogarmos o óleo? – Perguntou Sophie. – Ele irá ficar sem os poderes e poderemos pegar o selo.

– Não é tão simples Sophie. – Disse Erick. – O óleo só funciona quando o arcanjo está debaixo da armadilha. Temos que encontrar outro jeito de coloca-lo lá.

Os três ficaram em silêncio por alguns minutos pensando em como fazer isso, mas nenhum conseguiu chegar a uma conclusão lógica. Sophie sabia de um jeito. Usar seus poderes. Mas Erick e Ian discordariam, por isso não comentou nada.

– Vamos com o que temos. – Disse Ian. – Não sabemos se Rafael cairá ou não, mas temos que tentar. Não temos muito tempo.

Erick queria protestar, dizer que era muito arriscado, mas Ian estava certo, eles não tinham muito tempo. Ian não tinha muito tempo.

Eles entraram no carro e pegaram a estrada em direção a Ilha de Creta onde estava o Templo da verdade.

Quando chegaram ao templo Sophie decidiu que era o mais bonito entre todos que já haviam visto. As paredes eram de um verde claro que dava a sensação de calma e de um branco cristal que dava mais beleza ao lugar. As janelas eram espelhadas e no altar havia uma estatua do arcanjo. Como sempre, Erick desenhou o símbolo do arcanjo no teto do altar e Ian na entrada do templo como precaução. O símbolo desse arcanjo também era bem simples, Erick desenhou um triângulo e em cada ponto do triângulo desenhado havia uma cruz.

– Está tudo pronto. – Disse Erick. – Agora é só chama-lo.

Antes dos três começarem a fazer a roda para a oração de convocação, as luzes do templo começaram a piscar. Dentro de alguns segundo Rafael se encontrava diante deles.

– Não precisam me chamar crianças. – Disse o arcanjo. – Já esperava por vocês.

Rafael balançou sua mão fazendo com que as armadilhas desenhadas no teto se apagassem.

Sophie já não esperava nada das aparências dos arcanjos, mas a cada arcanjo novo ela era surpreendida. Rafael tinha um rosto belo. Seus cabelos eram compridos até o ombro, mas lhe davam um certo charme. Seus olhos eram verde mar e seu corpo era de tirar o folego de qualquer mulher, pensou Sophie. Ela não pensaria nisso se ele tivesse tido o trabalho de colocar uma camisa. Sim, o arcanjo Rafael estava sem camisa. Seu corpo brilhava. Uma chama verde o rondava.

– Se nos esperava sabe o que queremos. – Disse Erick.

– Sim sábio anjo. – Disse Rafael se aproximando. – Irei ajuda-los.

Os três ficaram surpresos. Arcanjos não costumam ajudar, eles só pensam em si próprios.

– Irá? – Perguntou Ian.

Rafael fez que sim com a cabeça.

– Sim, demônio Ian. Irei. – Disse Ele.

– Por quê? – Perguntou Sophie, ganhando a atenção do arcanjo.

– Vocês precisam de ajuda e eu ajudarei. – Disse Rafael olhando fixamente para Sophie. – Mas, quero algo em troca.

Claro, pensou Sophie, era bom demais para ser verdade.

– O que você quer? – Perguntou Sophie.

Ele se inclinou para ela.

– Você. – Respondeu Rafael.

Ian empurrou Rafael para longe de Sophie.

– Deixe Sophie em paz. Peça outra coisa. – Disse Ian.

Rafael olhou para Sophie.

– Filha de Lúcifer, você não quer salvar a humanidade? – Perguntou ele.

Sophie queria. Se existia um jeito de trazer os humanos e a normalidade de volta Sophie iria fazer de tudo para que isso acontecesse, mas ela não poderia deixar Ian e Erick sozinhos. Ela não poderia cometer o erro que Ian quase cometera com Uriel.

– Por que eu? – Perguntou Sophie.

– Quero seu poder. Assim que vocês conseguirem acabar com Lúcifer, com minha ajuda, claro, eu serei o mais poderoso dos arcanjos com você do meu lado. – Respondeu Rafael. – Você faria o que eu mandasse.

– Não. Eu não irei. – Disse Sophie, para o alivio de Erick e Ian que estavam tensos ao seu lado.

– O que te impede? – Perguntou Rafael. – Eles?

Sophie ficou tensa. Erick e Ian era o motivo pelo qual ela continuava a lutar. Um era o motivo do outro para que eles continuassem a lutar. Juntos.

– Tudo bem, eu os mato então. – Disse Rafael.

Ian e Erick caíram Imunes no solo frio do templo. Rafael estava usando o mesmo truque que Uriel usara nela.

– Sophie. – Disse Erick com dificuldade. – Não use seus poderes.

Sophie o encarou. Como ele queria que ela não os usasse naquele momento? Era a única chance que eles tinham.

– Não. – Disse Ian quando Sophie ia erguer a mão. – Não use. – Falou ele por entre os dentes. Estava sentindo muita dor, mas tentou sorrir. – Nem está doendo Sophie.

Rafael andou até Ian.

– Agora dói? – perguntou ele aumentando a intensidade da dor.

Ian gritou e encarou o arcanjo.

– Não, seu bicha. – Disse Ian.

Ian conseguira toda a atenção do arcanjo que esquecera Erick. Sophie correu até Erick para ver se ele estava bem enquanto Rafael se concentrava em torturar Ian.

– Erick, eu preciso usar meus poderes. – Disse Sophie.

– Você não pode. – Falou Erick. – Seria como se entregar de bandeja para seu pai.

Ela sabia disso, mas não conseguia suportar vê-los sendo torturados. Ela nunca se acostumaria a isso.

– Não importa se eu ou Ian estamos sendo machucados Sophie, me prometa que não irá usar seus poderes. – Disse Erick.

– Não posso prometer isso. – Falou Sophie ajudando Erick a se levantar. Ela olhou para o lado e Rafael estava quase matando Ian. – Desenhe novamente a armadilha Erick.

– Sophie. – Disse Erick. E mais um grito de Ian ecoou nos ouvidos de Sophie.

– Agora Erick. – Disse Sophie olhando em seus olhos. – Deixe-me fazer isso.

Erick redesenhou a armadilha.

Sophie sentiu o poder emanar de suas mãos e o direcionou para Rafael que caiu no chão sentindo a mesma dor que Ian sentira segundos atrás.

– O que é isso? – Gritou ele. – Pare com isso.

Os olhos de Sophie já não eram mais da cor do mel como costuma ser. Eles estavam vermelhos como os de seu pai.

Ela ergueu a mão fazendo com que Rafael se erguesse também e o levou em direção a armadilha.

– Erick, o poder está indo embora. – Disse Sophie. – Jogue o óleo agora.

Erick despejou o óleo em volta do arcanjo e pegou um colar espelhado de seu pescoço. Mais um selo conquistado. Mais um arcanjo com raiva deles.

Erick andou em direção a Sophie.

– Você está bem?

– Eu estou queimando. – Gritou Sophie. – Erick faz parar.

Sophie se contorceu e caiu no chão seus olhos continuavam vermelhos. Quando se ergueu Sophie não era mais Sophie.

– Erick. – Disse Lúcifer através de Sophie. – Sua inteligência é louvável. Mas não há como me vencer. Desista e serei misericordioso. Me entregue Sophie e viverá.

– Não sou traidor como você. – Respondeu Erick.

Lúcifer soltou uma gargalhada estridente e começou a se contorcer. Sua filha estava tentando lutar.

Sophie estava presa em seu próprio corpo sem poder controla-lo. Ela tentou ter sua consciência de volta, mas não conseguiu. Tentou de novo com mais força. Ela não deixaria ninguém controlar seu corpo. Sophie era Sophie novamente.