Possuídos - EM REVISÃO, POSTAREI MAIS EM BREVE escrita por Naiara


Capítulo 1
Pega




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Há alguns meses a terra fora invadida. Seus invasores capturavam os humanos e os possuíam. Os usavam como "roupas" para poderem se misturar. Pai entregando filho, irmão entregando irmão. Boa parte da humanidade havia sido possuída por eles. O lar dos humanos continuou sendo o mesmo, mas seus habitantes mudara. As criaturas dentro dos humanos capturados permaneciam vivendo como os humanos sempre viveram. Trabalhando, indo para a escola, se alimentando e fazendo o que qualquer ser humano normal sempre fez, pois assim eles não levantariam suspeitas e os humanos que restaram na terra seriam capturados mais facilmente. Poucos humanos perceberam o que estava acontecendo com seu mundo. Alguns dos humanos que sabiam o que estava acontecendo acabaram mortos, pois preferiram se matar antes que fossem capturados, outros tentaram contar ao mundo, mas fora dados como loucos e alguns fugiram e agora vivem escondidos, assustados, com medo…

Sophie estava tentando dormir, fazia horas que não conseguia se deitar e tirar um cochilo, mas estava quase impossível conseguir fechar os olhos e descansar na condição em que estava. Estava sentada no chão de uma casa em ruínas e não havia nada naquele lugar além de poeira e umidade. Ela e seu pai acabaram achando aquela casa enquanto procuravam por comida e decidiram se instalar ali. Quando Sophie finalmente decidiu tirar um cochilo depois de horas vagando atrás de comida e abrigo, seu irmão mais novo também decidira e preferiu fazer as pernas da irmã como travesseiro. Os dois estavam no chão do que um dia fora uma cozinha, imaginou Sophie. Ela estava sentada e encostada em uma parede fria enquanto seu irmão dormia em seu colo. A posição do seu corpo não era o que mais a incomodava, mas sim o som da barriga de seu irmão roncando e o nó em seu próprio estômago vazio. Sophie percebeu que seu pai também não estava conseguindo dormir.

– Tente dormir um pouco pai. - Disse Sophie.

– Você também docinho. - Disse ele.

– Não consigo, a barriga do Cris não para de fazer barulho. - Disse Sophie triste. - Ele deve estar com muita fome.

– Todos nós estamos querida.

Sophie queria ajudá-los, ela sabia que conseguiria pegar comida para eles sem ser vista, era bastante rápida, mas seu pai não a deixava fazer nada. Seu único dever era cuidar de seu irmão quando ele estivesse procurando comida. Sophie adorava seu irmão e não se importava de cuidar dele enquanto seu pai estava fora, mas ele passava muito tempo do lado de fora e quase não arranjava comida. Seu pai já estava com cinquenta e seis anos, mas o modo como eles estavam vivendo nos últimos meses fazia com que ele parecesse mais velho. Ele estava cansado.

– Pai, por favor, me deixe sair para procurar comida. - Disse Sophie.

– Não Sophie. - Disse ele ríspido. - Já tivemos essa conversa várias vezes.

– E vamos continuar tendo até você me deixar sair. - Insistiu Sophie.

Seu pai pressionou a têmpora com uma das mãos, parecia muito cansado e discutir com sua filha não estava em seus planos para a noite.

– Sophie, escute. - Começou ele. - Aquelas criaturas lá fora pegaram sua mãe, você presenciou a cena.

Ao se lembrar, Sophie levou sua mão esquerda até seu pescoço para tocar o colar que seu pai lhe dera no dia em que sua mãe se fora, o colar era dela. Sophie sempre se lembraria daquele dia. Dois homens que ela jamais vira, invadiram sua casa e levaram sua mãe. Por sorte, ela conseguiu se esconder e seu pai e seu irmão não estavam em casa. Quando eles estavam indo embora, ela conseguiu ver algo se materializar nas costas dos homens e percebeu que eram pares de asas escuras e assustadoras. Toda vez que fechava os olhos ela conseguia ouvir os gritos de sua mãe pedindo por ajuda. Perder sua mãe foi algo horrível que aconteceu na vida de Sophie, e ela não queria que o mesmo acontecesse com ela ou com seu pai, mas não aguentaria mais uma noite acordada se preocupando por seu irmão estar com fome.

– Pai, não tem um dia que eu não pense na mamãe, mas eu sou rápida, eu sei que conseguiria arranjar comida com mais facilidade para você e Cris. Deixe-me ajudar.

– Sophie já chega, ajeite seu irmão no chão e tente dormir. Não quero mais falar disso filha. Eu te amo muito, não suportaria perdê-la também.

Sophie ficou em silêncio por longos minutos, retirou Cris de cima de sua perna e esperou seu pai adormecer. Decidiu sair por conta própria. Ela provaria que estava certa, conseguiria comida para todos eles sem ser pega. Já havia esperado tempo demais para tomar essa decisão. Ela esperou até ouvir o primeiro ronco de seu pai e se levantou com muito cuidado para não perder o equilíbrio e esbarrar em seu irmão. Saiu da casa e começou a caminhar em direção de algumas luzes que estavam bem distantes. Sophie percebeu que os locais habitados ficavam a quilômetros de distância de onde estavam. Ela nem sabia onde estava, não sabia nem o nome da cidade, mas sabia que teria uma bela caminhada pela frente.

Após uma hora caminhando, Sophie já se arrependera da ideia de sair sozinha para procurar comida. Pensou em seu pai, ele iria ficar uma fera quando acordasse.

Estava muito frio e Sophie não conseguia enxergar nada, estava escuro, muito escuro, mas de repente uma forte luz aparece e quase a cega. Sophie conseguiu ver com muita dificuldade uma forma através daquela luz que ofuscava seus olhos, uma forma humana, porém tinha algo nas costas, algo grande. Asas. E estava chegando perto dela. O coração de Sophie parou de bater por um momento, ela fora descoberta. Estava acontecendo.

Ela sabia o que aquele ser com asas iria fazer com ela, ela não sabia o que eles eram de verdade, mas sabia o que aquele grupo de seres fizera com o restante da humanidade, ela tinha que impedir, tinha que levar ele para longe dali, tinha que tentar proteger seu irmão e seu pai, os únicos humanos que ela conhecia que haviam sobrevivido.

Sophie correu o mais rápido que pôde, porém o ser já estava quase a alcançando, flutuando rápido e graciosamente atrás dela. Com o pouco tempo que lhe restava, Sophie retirou seu colar do pescoço e o deixou cair na estrada, esperando que seu pai e seu irmão o encontra-se. Era um aviso para eles.

Fui capturada.

A luz a estava cegando, mas ela conseguiu ver o rosto da criatura. Era belo, tinha os olhos azuis mais lindos que ela já vira, e foram esses olhos a última coisa que ela viu, quando a criatura a tocou, Sophie não viu mais nada além da escuridão...

Quando acordou, estava tonta e muito desorientada, percebeu que estava deitada em uma cama que parecia com uma maca de hospital. Olhou envolta e percebeu que estava mesmo em um quarto de hospital. Ela tinha sido capturada, estava com as criaturas que tinham matado sua mãe e todos que conhecia, menos seu pai e seu irmão. Por que ainda estava viva? Se perguntou.

Levantou uma de suas mãos para ver se algo havia mudado, levou os dedos até o rosto e o tocou, nada estava fora do lugar, imaginou.

Lentamente foi se levantando da maca em que estava deitada, viu que em cima de um pequeno móvel ao lado da maca havia um objeto metálico, Sophie o pegou, percebeu que era um bisturi e o escondeu sob seu shorts desbotado. Ela ouviu vozes do lado de fora e voltou a se deitar.

– Creio que a humana já acordou, vamos encontrar alguém para entrar nela. - Disse a voz de sua mãe. A voz de sua mãe? E do que ela estava falando? Pensou Sophie.

Ela ouviu alguns passos se afastando e imaginou que os seres que estavam com sua "mãe" tinham ido buscar esse alguém para entrar no corpo dela, como faziam com todos os humanos que eram capturados. Alguns minutos depois, Sophie voltou a ouvir passos do lado de fora e então as criaturas entraram no quarto.

Sophie certamente não sabia como reagir ao olhar para o corpo de sua mãe. Tantas lembranças lhe vinham à mente que seus olhos não conseguiram conter as lágrimas. Ao total, quatro pessoas entraram no quarto. A criatura que estava no corpo de sua mãe, outra que estava em um corpo de um homem corpulento e com uma bela barba, uma terceira criatura que estava em uma mulher morena muito bonita, com os cabelos pretos muito longos, e a outra... Sophie arregalou os olhos reconhecendo-o, era a mesma criatura que a capturá-la e a trouxera para aquele lugar, o ser estava no corpo de um homem muito bonito, com incríveis olhos azuis e cabelos loiros. Enquanto os outros discutiam sobre o triste futuro de Sophie, ela não conseguia ouvir nada, estava hipnotizada com o olhar do ser que a capturá-la.


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