Quero Ser Um Cavaleiro escrita por Maia Sorovar
Sara saiu da casa de Áries com cuidado, espiando todos os cantos para se certificar que Mu não voltara. Ao chegar às escadas, suspirou pesado e iniciou o treino diário. Novamente a subida correu bem no começo porém ao final ela foi obrigada a se arrastar pelos degraus.
Voltou para o templo de Libra e dessa vez lixou o chão dos quartos e a parede lateral, até onde alcançava. Depois de descansar por uma hora, tornou a sair e se preparar para repetir as dez voltas. Não contava contudo que teria platéia e maior que no dia anterior. Além dos aprendizes lá estavam Milo e Angelo.
- Daniel, vou apostar em 9 subidas hoje! - Exclamou Shan.
- Vai perder dinheiro, eu sempre farei 10, não importa se tiver que me arrastar. - Disse de volta.
- Então as apostas hoje serão diferentes, vamos ver em que estado você chega ao 13º templo. - Solucionou Enos, tendo aprovação geral. A garota ficou possessa, estava servindo de diversão para um bando de desocupados.
- Mestres de Câncer e Escorpião, não podem fazer nada? - Pediu ela quase suplicando.
- Claro que posso. Dez drakmas que ele vai subir de joelhos. - Falou Milo, entrando na jogatina.
- Não completa o percurso. - Era Angelo, dando o dinheiro à banca e olhando-a indiferente, enquanto fumava um cigarro.
Sara corou de ódio, ainda não podia enfrentar os colegas e devia respeito aos cavaleiros. Mas se pudesse, esganaria um por um. Virou-se e foi a Áries, iniciando seu treinamento. Dessa vez contudo não sentiu-se mais tão cansada e ofegava apenas na quinta vez. Na sétima subiu devagar, andando com dificuldade e na décima estava de quatro, para a alegria do Escorpião.
- Oba, essa eu já ganhei! - Gritava pulando de alegria.
Encontrava-se agora a poucos degraus do templo de Athena quando uma sombra projetou-se do alto.
- Não ouse vir aqui assim! - A voz gelada de Shion perfurou-lhe os ouvidos, atingindo fundo o seu orgulho já muito ferido.
Com as poucas forças que lhe restavam, a morena ergueu-se e subiu a passos lentos, atingindo seu objetivo de pé. Olhou então para o Grande Mestre, desafiando-o. A resposta que teve foi no mínimo surpreendente:
- Agora age como um cavaleiro, pivete. Pode se retirar. - Finalizou, fazendo um movimento de desprezo com a mão.
A menina retornou cambaleando e encontrou os rapazes contando o dinheiro. Não resistiu e perguntou:
- Quem ganhou?
- Eu. - Respondeu Enos.
- Mas você é a banca!
- É que ninguém apostou que chegaria de pé. Então tudo fica comigo! Quer sair comigo para gastar uma parte, Dan? - Questionou, olhando-a malicioso.
- Não, você mesmo não disse que seu mestre era um pão duro? Que vive sem dinheiro? Aproveite para ver se compra um pouco de decência! - Terminou, entrando na casa e não podendo ouvir as risadas que todos deram do israelense.
- É, amigo, a florzinha não foi com a sua cara. - Ria Damien.
- Inveja. Ele está passando fome e mesmo assim prefere agir como se fosse o mais rico de nós. - Falou dando de ombros.
- E talvez ele seja mesmo. - Uma voz fez com que todos se virassem; era Aioros. - Não têm vergonha de apostar na derrota de um colega? E Rickertt, como pôde se associar a isso? Vou reduzir seu treinamento por esse ato degradante.
O alemão gemeu, ao contrário dos outros aprendizes, ele preferia ficar horas batalhando e se exercitando, por isso menos tempo desses afazeres era realmente um castigo.
- Ah, Aioros, que é isso, deixa pra lá. - Dizia Milo.
- Vocês dois eram os que deviam mais se envergonhar, cavaleiros e homens feitos, apoiando uma idéia tão tola?
- Nem vem com bronca agora que não estou de bom humor, Sagitário. - Ameaçou Máscara da Morte com um olhar perigoso.
- Resolveremos isso amanhã, durante o treino, Câncer. - Retorquiu o homem, lançando-lhe o mesmo olhar. - E os aprendizes voltem imediatamente às suas casas. - Ordenou frio.
No templo Sara evitou deitar-se para que não dormisse uma segunda vez. Lembrou-se que faltava fazer o lanche do dia seguinte e corrigir todas as lições e pôs mãos à obra. Primeiro preparou um bolo simples e cortou-o, arrumando-o numa cesta de vime que ainda possuía. Depois sentou-se à mesa da cozinha e corrigiu todos os deveres, rindo dos erros infantis de seus alunos. Quando terminou, já era noite. Decidiu ir para o ginásio.
Chegou ao local sem problemas mas percebeu que ainda havia gente treinando lá. Entrou discretamente e posicionou-se embaixo das arquibancadas de madeira para observar os homens. Havia muito mais do que os que tinha visto até aquele momento e alguns estavam de armadura. Percebeu então que deviam ser os cavaleiros de prata. Distraiu-se vendo as lutas em dupla que não notou que alguém se aproximava. Subitamente teve seus braços presos às costas e foi arrastada até o centro do lugar.
- Ei, olhem só, peguei um intruso.
Os lutadores pararam o que faziam e formaram uma roda em torno dos dois.
- Quem é esse, Argol? - Perguntou um loiro.
- Não sei nem se seria ESSE, Misty. Parece uma garota, olhe como é franzino.
- Me larga! Eu sou homem!
- E qual seu nome, pivete? - Quis saber seu aprisionador.
- Daniel.
- Ah, eu sei quem ele é, é o novo aprendiz da casa de Libra. - Disse um homem enorme e moreno.
- Hum, futuro cavaleiro de ouro hein? Vamos mostrar nossa recepção de boas vindas, rapazes?
- Claro! - Responderam num uníssono. Argol a largou no chão e Sara recebeu uma chuva de chutes em todas as partes do corpo.
- Parem, o que eu fiz? - Tentando em vão se defender com os braços.
- Nada, AINDA! Mas quando ganhar sua armadura fará pior. - Falou um ruivo enquanto acertava-lhe a barriga. Uma voz veio então em seu socorro.
- JÁ CHEGA! Sumam daqui agora! - A menina atreveu-se a olhar e viu Aioria a seu lado. Notou também que todos haviam se dispersado e apenas o cavaleiro que a prendera permanecia ali. - Não ouviu o que eu disse? Sai fora.
- Espero que tenha gostado dos nossos cumprimentos, aprendiz. - Sorriu, ignorando o Leão.
- Por que fizeram isso comigo?
- Para mostrar como as coisas funcionam por aqui, pirralho. - Finalizou dando-lhe as costas e indo embora.
- Você está bem? - Perguntou o cavaleiro examinando-a.
- Estou, vai sarar logo...
- Aqueles vermes, não sabem o lugar deles! Mas não se preocupe, quando ganhar sua armadura vai poder mostrar quem manda aqui.
Sara então entendeu as palavras de Argol. Era vingança o que faziam. Talvez todos já tivessem sido vítimas desses abusos e um círculo vicioso se perpetuava nas gerações seguintes. Nem sabia se seus colegas tinham sido linchados e preferiu manter segredo para evitar um confronto que certamente viria, não por sua causa mas por um sentimento besta de orgulho e superioridade.
Ela esperou o ginásio esvaziar e começou a fazendo as abdominais. Após cinqüenta teve que parar sem fôlego e com a barriga contraindo-se terrivelmente. As seqüências de exercícios seguintes não foram muito melhores. Já fraca e beirando a desnutrição, a garota sentiu grande dificuldade para elevar-se nas barras e realizar as flexões. Saiu do lugar quase à meia noite, seguindo aos tropeços para a casa de Libra.
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