Quero Ser Um Cavaleiro escrita por Maia Sorovar


Capítulo 22
O primeiro dia de aula deles...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/3311/chapter/22

Sara teve o desprazer de surgir diante de Shion. Este a olhou indiferente e perguntou:

- Recebeu outra bronca?

- Sim... Gostaria de um favor, se for possível, mestre. - Pediu de supetão.

- Fale, farei o que for possível. - Com uma cara que dizia exatamente o contrário.

- Quero ter passagem livre pelos templos. Mestre Dohko pediu que eu treinasse nas escadarias sagradas duas vezes ao dia e isso não será possível se eu for barrado.

- Permissão concedida. Amanhã pode dar cambalhotas nos degraus que ninguém o incomodará. Agora suma que não desejo mais ver essa sua face mentirosa.

A garota inclinou-se numa reverência e saiu muda. Chegou na casa de Libra pisando duro e encontrou o burrico zurrando de fome.

- Calma, calma meu bem. Desculpe deixá-lo assim, uma pessoa malvada quis me ver. Tá certo que era muito lindo mas mesmo assim não precisava me humilhar tanto. Ele vai ver só, esse lugar vai ficar um brinco e todinho novo. E ainda vou construir um estábulo decente pra você viu? - O bichinho lambeu sua mão, agradecido. - Ih, isso me lembra que sem material não dá pra treinar. Lá se vai meu dinheiro de novo... Vai ter que me ajudar, amiguinho.

Dirigiu-se então para a vila onde comprou lixas, pincéis e vários baldes de tinta branca. Adquiriu também cadernos, canetas, lápis, borrachas, um apagador e uma grande caixa com giz. Por fim, um ramo de cenouras foi a última coisa que pagou.

- Aí está seu jantar, Shion. - Dando para o burrico comer. - Ah, oi Hebe. - Sorriu para a garota parada à sua frente.

- Oi cavaleiro.

- Daniel. Ou Dan, se quiser.

- Oi cavaleiro Daniel. Amanhã vai ter aula né?

- Claro, minha querida. Espero você lá.

- E vai ter merenda?

- Por quê? - Perguntou franzindo o cenho.

- Porque a Iola não tem dinheiro pra comprar. E na casa do Loukas não tem café da manhã.

Imediatamente a morena entendeu. A vila era tão pobre que as crianças passavam fome. Decidiu fazer o que pudesse para reverter aquela situação degradante.

- Vai ter merenda sim. E peço que todos venham.

- OBA! Até a amanhã, Dan! - Despediu-se a menina rindo.

- É amigo, esse coração grande aqui vai nos fazer passar um aperto de novo. Mas prometo que te dou cenouras sempre que puder. - Ele zurrou aprovando a idéia. - Agora vamos comprar alguma comida para nossos aluninhos. - Dito isso ela procurou uma padaria e de lá saiu com pães e uma peça de presunto. Ao voltar para o templo, cuidou de sua horta, cujos vegetais começavam a despontar e passou algum tempo preparando sanduíches. Guardou-os quando terminou e foi dormir.

Acordou mais cedo que o normal no dia seguinte e trabalho duro no refeitório. Comeu o quanto agüentou antes de ir embora, sabia que por algum tempo só teria uma refeição diária. Esperava que seu canteiro crescesse depressa ou morreria desnutrida. Abanou a cabeça para se livrar dos pensamentos ruins e se dirigiu rumo à escola. Arrastava o burrico consigo e este vinha carregando o lanche e o material escolar. Ao chegar, colocou um caderno, um lápis e uma borracha em cada uma das mesinhas e escreveu com letra caprichada na lousa: PROFESSOR DANIEL. Terminado, sentou-se aguardando.

Pouco depois diversas crianças adentraram a sala. Sara reconheceu Hebe e seus amiguinhos, e havia mais alguns. Milagrosamente eram em número exato para as cadeiras existentes. Ao ver que todos estavam acomodados, ela se levantou e cumprimentou-os:

- Bom dia, classe!

- Bom dia, cavaleiro! - Responderam num uníssono.

- Não, não. Nem aqui e nem lá fora eu sou um cavaleiro. Me chamo Daniel e será assim que irão me chamar. - Mostrou o escrito no quadro. - Professor Daniel. Agora quero conhecer os nomes de todos. Primeiro você. - E apontou para uma garotinha ruiva.

- Kore, professor.

- Muito bem. Prazer, querida. O próximo?

- Leda!

- Frona

- Melina.

- Atlas.

- Hagne

- Phile.

- Elias...

- Iola.

- Akaios.

- Cadmus.

- Erebos....

- Loukas!

- Hebe.

- Kastor.

- Paion...

Eram ao todo 8 meninos e 8 meninas. Sara sorriu, ia dar trabalho lembrar o nome de todos.

- Agora que já nos conhecemos, vamos à primeira lição. - E ela iniciou a aula, introduzindo-os no fascinante universo das palavras. Duas horas depois percebeu que os antes atentos e interessados alunos estavam inquietos. Olhou o sol e viu que já ia alto: era hora do recreio.

- Vamos fazer uma pausa. Todos trouxeram merenda? - Eles mexeram-se nervosos e ninguém se pronunciou. - Então façam uma fila aqui que eu tenho sanduíche sobrando.

- OBA! - E rapidamente os lanches tinham desaparecido da cesta.

- Agora vão comer lá fora, voltem quando eu chamar. E não se afastem. - Acrescentou.

As crianças saíram e brincaram tranqüilas no terreno em volta da casa. A morena aproveitou para limpar o quadro negro e varrer a sala. Ia chamá-los quando uma cabecinha azulada entrou correndo:

- Professor, briga! - Exclamou Hagnes.

- Droga, mas já? - E correu com a garota. Deparou-se com dois os alunos se socando. - Kastor! Erebos! O que estão fazendo?

- Eu estou defendendo o Grande Mestre, professor! O Erebos disse que Shion é um burro.

- Mas Shion É um burro, seu burro!

- Mentiroso! Ele não é, é o homem mais forte do Santuário! Não é asno.

- Asno não, burro! - E voltaram a se digladiar.

- JÁ CHEGA! Parem agora ou ficarão sem recreio por uma semana! - Ao ouvir a ameaça, ambos pararam de imediato e se afastaram. - E Kastor, Shion realmente é um burro. O MEU burrico. Venha comigo. - Foi seguida pelo garoto e pelos outros até onde estava o animal pastando. - Shion, vem cá. - Ao ouvir o chamado, ele se aproximou e ofereceu a cabeça para um carinho que lhe foi aplicado com prazer. Logo todas as crianças estavam alisando o bichinho. - Ele será nosso mascote, vou trazê-lo todos os dias e poderão brincar juntos. E quanto aos dois, quero que me prometam que nunca mais vão brigar. Quando não se entenderem, conversem. E se mesmo assim não tiver acordo, procurem alguém de fora pra ajudá-los. Lutar sem motivos muito fortes não é bom e a Deusa Athena bem sabe disso.

- Sim, professor... - Responderam num uníssono.

- Muito bom. Vamos voltar lá pra dentro.

Nesse segundo período ela resolveu administrar matemática básica. Como imaginou, alguns alunos mal sabiam contar nos dedos mas com um pouco de esforço isso foi rapidamente revertido. Ao meio dia as aulas se encerraram.

- Muito bem, classe. Gostei de ver, se esforçaram bastante. Tragam a lição de casa amanhã, sem falta. E se sentirem dúvidas ou não puderem fazer, resolveremos juntos. Estão dispensados. - A maioria das crianças pegou seu material saiu da sala atabalhoadamente porém uma manteve-se quieta, sentada. - Loukas, o que houve?

- Professor... O senhor vai trazer lanche amanhã de novo?

- Claro, não se preocupe. Não vai ficar com fome aqui. - Disse num tom doce.

O garoto sorriu e foi embora cantando. Sara ficou olhando a sala vazia, feliz com o resultado de seu esforço. Mas agora teria que guardar todo o dinheiro que ganhasse no refeitório para alimentar seus pobres alunos.

 

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quero Ser Um Cavaleiro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.