O homem de idade avançada caminhava sem pressa pelos corredores desprovidos de iluminação, seu semblante remarcando a repulsa em relação aos pensamentos que rondavam sua mente.

Não desejava ser parte disso, tampouco se portar tão ativamente perante a ascendente e vagarosa revolução — aquela que seu mestre traria à tona no momento que mais lhe fosse conveniente.

Deu um longo suspiro, percebendo estar diante da porta que já abrira tantas vezes; agindo como mensageiro, trazendo notícias de acontecimentos infelizes — observando com repulsa o homem a sua frente exibir aquele triunfante e imperturbável sorriso que dedicava a tais ocasiões.

Ergueu a mão e dispôs de três leves batidas.

— Hardric? — a voz chamou-o, ora surpresa, ora autoritária — Entre.

O senhor inspirou o máximo de ar em seus pulmões e exalou o conteúdo aos poucos, conforme empurrava a madeira para fora de seu caminho para revelar um homem de testa franzida e inabaláveis orbes cinzentas — que agora se voltavam para ele.

— O que o fez levar tanto tempo? — arqueou a sobrancelha em tom provocativo, discretamente desafiando-o a tentar enganá-lo. Sua voz, apesar de contida e ligeiramente divertida, demonstrava com clareza sua insatisfação referente a seu subordinado.

Hardric se apressou em reverenciá-lo, caindo sob seus joelhos e baixando a cabeça em sinal de respeito. Pigarreou para ajustar o timbre da voz, e finalmente se atreveu a respondê-lo.

—E-eu tive problemas no caminho, senhor. — pressionou as mãos contra o tecido da calça social, torcendo para que a desculpa obtivesse eficácia. — Os magos da Fairy Tail me atrasaram quando estava na estação, por isso perdi o trem e precisei esperar por outro.

O homem, do qual Hardric só então ergueu o olhar para encarar, endireitou-se na cadeira e bufou, recruzando as pernas. O trono no qual estava empoleirado erguia-se metros acima de seu criado, cumprindo com sucesso seu papel em intimidá-lo.

Com o vislumbre de um sorriso curto e dissimulado, balançou a cabeça em reconhecimento.

— Entendo, ouvi dizer que são uma guilda barulhenta. — seus olhos tempestuosos brilharam com intensidade vívida — Conte-me sobre eles. — ele exigiu com moderação, descansando o cotovelo na coxa e encaixando o queixo entre os dedos de sua mão.

Hardric engoliu em seco, capaz de sentir o ar a seu redor tornar-se mais denso.

— S-senhor, eu...

Um gesto ríspido foi o suficiente para que se calasse.

— Não me interessa, Hardric. — revirou os olhos com desdém — Faça o que quiser em seu tempo livre. Há apenas algo de que precisa ser informado. — seus olhos se voltaram para ele, buscando por sinais de compreensão.

O senhor assentiu com veemência.

— Não fique no meu caminho, ou então, vai terminar como aquela criança que um dia tentou chamar de filho.

Seu subordinada cerrou os punhos, trincando os dentes com força e reunindo uma força de vontade inimaginável para não atacá-lo, consciente do sorriso maléfico e sorrateiro que se apossou de seus lábios enquanto o observava.

— Sim, meu senhor.

A expressão de homem ao trono murchou, desmotivada com a falta de caos presente. Esperava uma reação explosiva, algo que demandasse sua imediata atenção e punimento. Mas, pela reação de seu inferior, percebeu que seria difícil levá-lo a agir baseado no impulso; logo, teria de aguardar a hora certa para descartá-lo— assim com fizera com todos os anteriores.

Assim como faria com qualquer um que ousasse desafiá-lo.