A sorte definitivamente não estava a seu lado.

O tempo ainda menos.

Seus olhos buscaram avidamente por informações na pilha de papeis em suas mãos, não deixando qualquer detalhe passar em branco, mas no fim o resultado foi o mesmo.

Após o rápido vaguear das orbes azuladas por mais uma imensidão de fichas, suas mãos pálidas mergulharam novamente na gaveta, desenterrando um novo bolo de pastas e folhas.

Olhou de soslaio para sua má influência esparramada numa poltrona reclinável, que para seu desgosto, parecia ter tanta sorte quanto ela.

Enquanto investigando mais arquivos, manteve-se alerta; atenta a qualquer evidência pela qual pudesse deduzir que o perigo estava próximo; ou no caso, o diretor, conhecido popularmente como "senhor balão ".

Suspirou e voltou a procurar, imergindo novamente os dedos pela lastimosa bagunça presente na gaveta entreaberta.

Algo está se aproximando.

Toda a extensão de seu corpo congelou ao som de passos no corredor afora. Um grande grupo se aproximava, e em pouco tempo, provavelmente em questão de minutos, os alcançariam.

Ainda assim... como Juvia poderia ser capaz de ouvi-los de tão longe?

Talvez devesse incluir a questão na lista de assuntos a serem discutidos com Masaya; mas agora seu único objetivo era sair daquela sala o mais rápido possível.

Apressadamente recolheu os papéis e os deslizou novamente na gaveta, fechando-a silenciosamente logo em seguida. Correu para o lado do ruivo e se inclinou em sua direção, estendendo as mãos para recolher as folhas, mas o rapaz desviou e levou-as para longe de seu alcance.

– Temos que ir! - exclamou em voz baixa.

– Olhe - sussurrou o rapaz sem tirar os olhos dos papéis, se movendo para o lado de Juvia e inclinando levemente as folhas, o suficiente para permiti-la ler seu conteúdo.

Bloqueou seu olhar no amontoado de sentenças, que cada vez pareciam chocá-la mais.

"22 de setembro: Reunião com a aliança da guildas"

Como assim uma aliança?

Saiu de seu transe momentâneo e voltou a procurar por mais evidências, até que em meio a outro amontoado de sentenças uma frase em especial lhe chamou atenção.

Ataque previsto a ser iniciando 15 de outubro/ Data ainda não confirmada.

A declaração da linha seguinte quase fez seu coração parar.

"Alvo primário: Fairy Tail"

Seguiu em frente em sua leitura, tendo consciência de que o tempo era curto.

"Guildas envolvidas..."

Pulou o nome de incontáveis alianças banidas, e algumas da qual nunca ouviu falar.

"Em caso de falha a data poderá ser adiada..."

Inconscientemente disparou algumas linhas mais para baixo.

"Projeto Inner Monster. Resultados obtidos..."

O que ele queria dizer com "projeto"?

Seria tudo parte de um experimento, ou teria algo mais por trás daquilo?

E antes que pudesse continuar, seu companheiro de crime a puxou pelo braço e devolveu os papéis a mesa, que aparentemente era onde estavam antes da leitura.

Antes que pudesse decidir se deveria ou não protestar,ambos já haviam atravessado a luxuosa porta de vidro por trás da cadeira do diretor, e se localizavam na sacada, encobertos por uma infinidade de cactos e plantas mortas.

Os adolescentes se entreolharam, e com uma rápida olhada para baixo, ficou claro que sua única opção seria pular; ou então ser pegos,é claro . Mas no instante tal ato não seria considerado sábio.

O ruivo pulou a grade sem hesitação, sendo recebido pela nada confortável dureza do chão. Apesar disso, sorriu e sinalizou para que a garota fizesse o mesmo.

Juvia ergueu a sobrancelha e se sentiu tentada a sorrir da posição do colega, que parecia ter sérios problemas em sua tentativa de sentar. Infelizmente não poderia sorrir daquilo, já em que breve estaria em situação não muito diferente.

"Anda logo! A porta está se abrindo! "

Será que uma voz acabara de falar em sua mente?!

Balançou a cabeça e passou a perna por cima na cerca metálica e passando a outro logo depois. Se agarrou nas barras de metal e apoiou os pés no parapeito, que para sua sorte estava ali.

Tomou um pequeno impulso com os pés, e sem um segundo pensamento soltou-se das barras.

Balançou os braços de forma cômica, como se tentasse descobrir se podia ou não voar.

Bem, ela não podia.

E a próxima coisa da qual soube era estar sentada por cima de um delinquente semi-consciente, que absorvera a maioria do impacto de sua própria queda.

Soltou um suspiro exasperado quando sua mente fez questão de lembrar suas recentes descobertas.

Todos os relatos desse dia - seu primeiro e catastrófico dia de aula - iriam para interminável lista de questões a serem discutidas com sua mestra.

Infelizmente não poderia garantir que suas respostas lhe seriam entregues.

Talvez grande parte disso tudo ainda permanecesse encoberto por um longo período de tempo.

Mas de uma coisa estava certa.

Não desistiria tão facilmente.