A Profecia Da Névoa escrita por Koda Kill


Capítulo 1
Olhos amarelos


Notas iniciais do capítulo

Gente minha terceira fic aqui, vou ter que me dividir em mil kkkk Espero que gostem, beijos.



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O dia amanhecera frio e indiferente como todos os outros.  O frio ainda envolvia os prédios mais altos, a névoa ainda cobria o asfalto e o sol ainda se escondia atrás das nuvens. As plantas se misturavam as ervas daninhas, balançando-se todas num compasso misterioso comandado pelo vento. Como todas as manhãs comuns. Mas aquela manhã não tinha nada de comum.

Poucos saberiam dizer o que se escondia atrás da nevoa. Menos ainda sequer pensariam em colocar os pés pra fora de casa antes das 10 horas. Era assim que aconteciam todos os dias na cidade de Ubauté. Se você está pensando em procurar essa cidade no mapa, desista. Você não vai encontrá-la. Ubauté era uma região proibida. Sim, proibida, simplesmente inexistente para o resto do mundo. Não há saída ou entrada. Ou  se está lá ou não se está.

Siga meu conselho e não tente conferir, na fronteira que divide o Piauí do ceara, aparentemente sem nada mais que a mesma vegetação que se segue pelos próximos 100 km de ida e volta. Mas Ubauté está lá. De alguma maneira invisível para todos. Todas as manhãs uma grossa névoa cobria a cidade. As pessoas que eram avistadas andando fora de casa, na névoa, nunca mais eram vistas. Esquecidas misteriosamente, apagadas da mente de todos por algum feitiço. Os poucos que se lembravam eram dados por loucos ou simplesmente seguiam suas vidas.

Ninguém estava na rua, e ninguém percebera uma figura encapuzada que cruzava esta, em direção a uma casa qualquer, em uma rua qualquer. Mas não eram quaisquer para a figura que já quase chegara à porta. Era uma data especial. Em um dia especial. Anciosidade ou excitação não eram características permitidas. Frieza e cinismo... Talvez. Mas Jennifer não tinha como evitar. Era sua primeira missão. Ela tentou recuperar a calma, respirando fundo algumas vezes e diminuindo o passo. Coisas ruins aconteciam quando ela perdia o controle. Seus poderes enlouqueciam, como se tivesse vida própria, como se alguém os comandasse de dentro dela quando havia a oportunidade. Ela precisava se manter focada.

Jennifer conseguiu se acalmar, focando-se no leve farfalhar causado pela sua capa que se arrastava preguiçosamente pelo chão. Para os mortais essa ainda era hora de dormir. Mas não pra ela. De jeito nenhum. Ela parou em frente a uma casa velha, com paredes de tijolos e telhado de madeira, totalmente indiferentes ao clima que supostamente deveria cercá-los. Jennifer concentrou seus poderes no garoto sonolento e começou a transmitir a sequência a qual fora treinada.

“Caio”. Sussurrou dentro de sua mente. “Venha ate a porta. Tem alguém esperando por você.” A garota pode sentir sua mente despertar vagarosamente, enquanto tentava transmitir a mensagem o mais silenciosamente. O que o garoto pensaria se percebesse estar escutando vozes? Ela estava impaciente, então tentou mais uma vez. “Caio... Venha aqui fora. Venha ate a sua porta.” Lentamente os olhos de Jeniffer reviraram-se, e para qualquer um que passasse por ali veria apenas olhos completamente brancos encarando a porta. A mente de caio estava desperta. Por seus olhos, ela agora via o quarto de Caio. Suas mãos grandes e ligeiramente desajeitadas, passando os dedos pelo cabelo bagunçado. Sentiu o assoalho frio debaixo de seus pés como se ela mesma estivesse ali. Guiou-o silenciosamente para a porta de entrada.

Ele hesitou na frente da porta. Porque ele andou ate ali, não saberia dizer. Seus próprios pés criaram vida e andaram espontaneamente. Talvez ainda estivesse dormindo. Mas abrir a porta... Ainda não eram nem 9 horas, a névoa continuava cobrindo o asfalto.

“Abra.” Forçou Jeniffer. Seus cabelos negros, camuflados pela capa preta, dando certo destaque a sua pele exageradamente branca e seus olhos em um tom de amarelo claro demais pra ser humano. As finas fendas que se encontravam no lugar das pupilas completavam o ar sobrenatural de seu rosto. Caio olhou confuso para a mão que se estendeu para a porta, mas não conseguiu conter o impulso de abrir-la. Quando seus olhos se fixaram em Jeniffer um sorriso cético brincava nos seus lábios finos e femininos, ele não sabia dizer se estava mais confuso ou amedrontado. Os olhos daquela garota a sua porta... Eram como olhos de gatos. Ele não sabia se corria, se fechava a porta... Tudo o que seu corpo parecia conseguir obedecer era a ficar parado, encarando-a com a boca escancarada.

─ Você demorou. Vamos, nos não temos tempo a perder.

─ Perai quem é você? E... O que é isso nos seus olhos? Eu ainda estou sonhando?

─ Encare como quiser. Eu te explico tudo no caminho. Agora vamos que nos já estamos 15 segundos fora do intinerário.

─ Não! Eu não vou embora! Ainda é muito cedo. A névoa está ai fora. As pessoas que saem a essa hora nunca mais voltam.

─ Não tem problema. Você não vai voltar.

─ O que? ─ Irritada Jennifer resolveu assustá-lo. Ela revirou seus olhos, encarou a si própria pelos olhos de caio e gritou em sua mente. “Venha! Agora!”  E seus olhos voltaram ao normal pra vê-lo com as mãos nos ouvidos.

─ Eu realmente não quero usar a forca pra te levar daqui. E nós dois sabemos que eu posso fazer isso não é mesmo? ─ Ela olhou para os pés de caio e eles começaram a se mexer contra a sua vontade para fora da casa. A porta se fechou sem que nenhum deles olhasse pra trás. Caio tentava resistir e uma gota de suor escorreu da testa de Jennifer. ─ Pare de resistir. Não vai adiantar. Você só esta nos atrasando e nossos superiores não vão gostar nada nada disso.

─ Nossos? E o que diabos têm nos seus olhos?

─ Nos meus? ─ Ela passou um tempo em silencio, apenas piscando. ─ Ah claro... Você ainda não se viu no espelho hoje. ─ Ela agarrou seu braço musculoso e o puxou com violência para frente espelhada de um carro na rua. Ele se aproximou confuso e se inclinou para seu próprio reflexo. Seus pés tropeçaram atrapalhadamente quando ele recuou assustado. Seus olhos ainda verdes tinham as pupilas levemente parecidas com as da garota pálida, só que mais grossas, ainda com o traço humano que já se fora da dela há muito tempo atrás.

─ Agora vamos. Você já nos fez perder tempo demais.

─ Eu não vou a lugar nenhum com você. ─ Ofendida Jennifer o forçou com mais insistência a dar os passos a frente. Ele tentou resistir e varias gotas de suor apareceram na testa de Jennifer. Ela olhou pra ele, pra seus olhos que ainda guardavam a cor verde, ofendida e levemente suplicante. Caio andou com suas próprias pernas a favor de Jennifer e imediatamente ela adiantou-se cambaleante alguns bons passos, praticamente caindo pra frente. Ele se adiantou para ajuda-la. Ela demorou alguns segundos para se recompor e logo empertigou-se rígida, afastando-se rapidamente e recusando seus braços fortes que tentavam ajuda-la.

─ Não era melhor terem mandado alguém mais... Forte?

─ Consigo dar conta de três de você de olhos fechados. Não me subestime! ─ Disse ela zangada. ─ So porque eu não quis te deixar inconsciente e te carregar dentro de um portal, o que te causaria aproximadamente depois da primeira viagem umas 16 horas de enjoou não significa que sou fraca. Olhe bem o que fala Caio. Os outros podem não ser tão bons quanto eu.

─ Outros... Que outros?

─ Outros magos é claro, feiticeiros maiores, menores, aprendizes...

─ E o que você seria?

─ Feiticeira menor.

─ E o que eu seria?

─ Aprendiz.

─ Quantos anos você tem? 13?

─ 17 ─ Disse ela indignada.

─ Isso não é justo. Eu sou mais velho que você.

─ Mas comparado comigo, em relação à magia, é pior que um bebe chorão. Aposto que você ainda acredita que aqueles mágicos da TV só sabem truques, que parecem magica.

─ Sinceramente? Sim eu acredito nisso. Você pode usar lentes legais e fazer coisas estranhas, mas esse lance de magia não existe.

─ Ah não? Espere aqui. ─ Disse ela parando-o de frente para uma praça. Entoando um canto antigo, ensinado por seus superiores, para revitalizar seu chacra, ela fez alguns movimentos e as folhas no chão começaram a circunda-la, assim com um pouco de terra e agua, mas nenhum dos elementos se misturava. Quando o circulo já estava firme ao seu redor ela começou outra sequencia de gestos que resultou em uma labareda clara de fogo que saiu de sua boca, subiu pelo circulo e o rodeou. Seu corpo desgrudou do chão, voando a alguns centímetros enquanto ela ainda entoava o canto e um cajado surgiu lentamente em suas mãos abertas. Seu corpo voltou ao chão e ela ajoelhou-se nele, com o cajado em uma das mãos e seus olhos reviraram-se novamente, mostrando apenas a parte branca, enquanto ela repetia freneticamente a mesma parte de um dos cantos. O circulo intensificou-se ate eclodir, unindo-se em direção ao centro e caindo diretamente onde ela estava, mas sem molha-la, suja-la ou queima-la. O cajado voltou a desaparecer e seus olhos voltaram ao normal. Seu rosto estava corado, e uma espécie de aura cintilava ao seu redor. ─ E ai? Acredita agora?

─ De duas uma. Ou eu estou muito louco, sonhando, tendo alucinações, ou isso realmente é real.

─ Finalmente a ficha caiu. E você também vai conseguir fazer coisas assim e muito mais.

─ Mas pra onde nos estamos indo afinal de contas?

─ Bom, é meio longe, quase fora da cidade, mas se você quiser agente pode ir de portal.

─ E ficar enjoado? Acho que prefiro andar. ─ Depois de alguns segundo de hesitação ele perguntou. ─ Você estava falando serio sobre nunca mais voltar? Quer dizer... Meus pais, eles vão sentir minha falta, e meus amigos, e minha...

─ Você não terá tempo para romances mortais, nem relações mortais... Você não é mais mortal. Nunca foi de verdade. E eles não vão lembrar de você.

─ Olha na boa, nada contra essa sua seita ai seja lá o que ela for... Mas meus pais vão lembrar de mim sim. Eu morei com eles tipo assim 18 anos. E um dia simplesmente eu não vou estar lá e eles não vão lembra de mim?! ─ perguntou caio levemente ofendido.

─ Não vão. Um feitiço está sendo mandado pela cidade nesse exato instante. Ninguém vai lembrar de você.

─ Isso é mentira... ─ Disse ele calculadamente.

─ Então tá! Desisto! Vamos lá. Volte pra casa. Seus pais vão acordar e perceber um cara estranho e desconhecido dormindo na casa deles! Vão armar um escaraceu, chamar a policia e vão te mandar pra cadeia! Ou pra um hospício! Afinal você é um cara estranho que afirma ser um filho que eles nunca tiveram! Vamos lá Caio! Volte pra casa! E eu não vou nem falar dos seus olhos...

─ Isso não é justo! Você não pode simplesmente chegar na minha casa, dizer vamos e me exigir que eu saia da minha vida!

─ Só que essa nunca foi a sua vida. Você é um mago. Você foi escolhido para ser da nossa espécie. Eu sei que vai ser duro. Eu sei como foi. Mas esse é o seu destino. Você tem que se conformar. Seus pais não são mais sua família. Nunca foram de verdade. Eram apenas hospedeiros de espíritos protetores que nos colocamos nos seus ‘pais’. Nos somos, sempre fomos e sempre seremos sua família.

─ Wow, wow, wow. Pera ai... É muita informação. Você esta realmente dizendo que meus pais não são meus pais? Que eu vivi uma mentira a minha vida toda?

─ Eu sei como você esta se sentindo. Eu fiquei assim também. ─ Disse Jennifer colocando a mão em seu ombro em sinal de apoio. Ele recuou e ela puxou a mão de volta rispidamente. ─ É o seu destino. Encare os fatos e siga em frente Caio. ─ Ela esperava ter essa conversa no santuário.

─ E se eu quiser fazer meu destino? E se eu não quiser esse destino?

─ Você não tem escolha. Você não entendeu isso ainda? ─ Ele passou alguns segundos de cabeça baixa, refletindo. ─ Vai ser muito melhor conosco. Acredite. Nós só queremos o seu bem. Lá no santuário todos são gentis e prestativos. Vamos Caio. Esta na hora de você seguir o seu destino e se tornar um grande Feiticeiro.

─ Não. ─ Murmurou ele tão baixo que Jennifer não pode ouvir. Ela se inclinou levemente em sua direção.

─ O que? ─ Perguntou ela.

─ Não! ─ Disse ele com mais forca. ─ Eu não vou com você e não vou ficar com a sua gente.

─ A minha gente? A nossa gente!

─ Não! Isso não é verdade. Por que eu escolhi a minha vida. A de verdade. E eu não vou com você. Eu vou agora mesmo, voltar pra minha casa, dormir e fingir que isso nunca aconteceu.

─ Meu deus... Você não aprende mesmo não é?

─ Se afasta de mim. ─ Disse ele apontando seu dedo perto da face corada de Jennifer. Ela simplesmente moveu a mão e criou uma parede invisível de proteção jogando-o a alguns metros de distancia. Ele olhou pra ela assustado, com seus olhos verdes, mas já em um tom amarelado e com as fendas estreitadas e correu de volta para cara. Contando os passos, concentrando-se apenas no ar que entrava e saia dos seus pulmões. Caio abriu a porta bruscamente, subiu as escadas correndo, se jogou na cama esperando seu coração desacelerar e rezou para que tudo aquilo realmente não passasse de um sonho.


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Notas finais do capítulo

E ai o que acharam? Comentem!!! kkk ;D



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