Sarah escrita por AnaCarol
Notas iniciais do capítulo
"You have the right to food money / Providing of course you / Don't mind a little / Investigation, humiliation" (Know Your Rights - The Clash)
Quando caio de pé ao seu lado minhas pernas fracas reclamam. O velho fecha o alçapão sobre nós e me guia por um túnel escuro e úmido lotado de curvas. Suspiro de alívio quando finalmente subimos uma “escada” de dois degraus e emergimos em um salão vazio, tão silencioso que nossas respirações podem ser ouvidas.
-Seja bem-vinda. – Ele diz, fechando o alçapão pelo qual saímos. – Se é que pode se dizer isso.
A tinta descasca das paredes e o teto é manchado pela umidade; pequenas e grandes manchas de sangue seco se espalham por todo o chão. Wereo verifica a tranca da portinha e caminha até um canto do salão, onde pedaços curvados de madeira descansam, desgastados.
-O que é isso tudo? – Eu pergunto, enquanto ando até ele e ajudo-o a levantar do chão um dos pedaços.
-Essas madeiras vão formar um círculo. – Ele fala. – Fazemos isso e então eu te explico.
Minha cabeça concorda, mas meus braços ainda resistem. Tontura preenche minha mente a cada vez que faço força física para tirar as partes do círculo do chão, e mesmo assim continuo a movê-las.
Depois do que se pareceram cem peças, o círculo está formado. Wereo está suado e eu estou jogada de costas no chão mirando as lâmpadas elétricas do teto. A fome toma conta de meu inconsciente e me pego pensando se essa luz é tão brilhante como a luz da morte.
Sinto meu braço mole ser arrancado para fora de meu organismo quando o grisalho me puxa e me põe de pé. Reclamo em voz baixa e esfrego o ombro, ouvindo sua gargalhada.
-Quer comer?
-Sim! – Minha voz soa tão desesperada quando minha barriga, o que parece apressá-lo. Ele anda em minha frente e sobe escadas onde um rico bem alimentado não passaria, de tão estreitas. Chegamos a um sótão escuro como breu; e Wereo acende uma vela que não sei - e nem me importo – de onde veio.
Sentamos no chão empoeirado e engulo com voracidade a sopa de legumes fria que me é dada. Sou observada. Quando termino de repetir o prato pela terceira vez, abro a boca.
-Disse que explicaria. – Cobro.
-Você provou ser uma das minhas. – Ele afirma. – Então agora eu te acolho em meu ringue, Rixard.
-Como sabe meu sobrenome? – Desconfio.
-Termine a sopa que eu te explico.
-Como, se nem terminou de esclarecer o que tudo isso significa? – Reclamo.
-O que quer saber sobre meu ringue? – Ele desafia.
-O que estou fazendo aqui? – Pergunto.
-Eu já disse! Você provou que é uma das minhas crianças!
-Como fiz isso?
-Dava para ouvir o ronco do seu estômago retorcido do outro lado do grande salão. – Ele diz. – E mesmo assim você continuou a me ajudar. Gosto de gente assim; que luta pelo seu objetivo.
-Obrigada?
-De nada! – Ele sorri e se levanta, abrindo a porta para as escadas. – Mas estamos em cima da hora! Sua luta vai ser uma das primeiras.
-Minha o quê?!
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PI: Você iria a um lugar como o ringue, se estivesse na situação da Sarah?