Mais uma vez as buzinas ressoavam altas pela construção decadente que chamo escola. Os olhos de meus colegas se arregalam como nas outras vezes, mas sendo esta a décima ocorrência do mês, eu estou mais entediada do que assustada.

A chuva bate na janela ao meu lado, e encosto minhas bochechas frias na janela congelante. Espero todos saírem da sala de aula e reúno o meu material, sobrando somente eu e o menino Robb. Termino de me arrumar antes dele e, evitando contato visual, me apresso a sair.

Já fora da escola, vejo que a chuva não consegue apagar mais um incêndio causado pelos rebeldes em greve. Bufando, abro espaço pela multidão para ver qual outro matadouro foi aos ares, mas a resposta que obtenho não é a esperada.

Com o coração acelerando começo a empurrar todos a minha frente, até chegar à primeira fileira de pessoas – professores e adultos em geral – e ainda mais além. Só paro de andar quando meu pé direito escorrega no declive na terra causado pela chuva meses atrás.

–Não. – Murmuro repetidamente, balançando a cabeça. – Não!

Para o meu desespero, não é uma fábrica que pega fogo.

É a casa de Alex.

Pareço perder a voz ao descer correndo a montanha de lama escorregadia, mas meus lábios continuam a resmungar negações. Posso escutar professores corajosos correndo em meu encalce, mas isso não importa. Tudo o que importa agora é chegar ao incêndio!

Minhas pernas se movem por conhecer o caminho, já que as lágrimas bloqueiam minha visão. Passo a manga encharcada nos olhos quando finalmente chego até a calçada em chamas e rasgo a linha amarela dos bombeiros, entrando na construção.

Fogo estala a madeira ao meu redor e estico minha pobre blusa até o nariz.

–Alex! – Grito, tossindo. – Alex! Alex!

Não consigo nenhuma resposta... Chego ao seu quarto e encontro sua porta trancada. Não há gritos. Com uma exclamação e uma queimadura dolorida na ponta dos dedos, abro a maçaneta.

Fogo.

Flamejantes rabos de luz atingem meus braços, por pouco meu rosto. Grito, estridentemente, mas não ouso chamar socorro. Quase não consigo escutar a mim mesma entre o queimar do fogo.

Rolo no chão, mas minhas roupas só pegam ainda mais calor. Com lágrimas que não apagam meu corpo, eu acabo por deixar a casa correndo, sem verificar o quarto de Alex. Porque, afinal, ninguém poderia sobreviver a um incêndio desse tipo trancado em seu quarto, e eu realmente não preciso ver ser cadáver queimado.

Fora, rolo na lama e apago. Também literalmente.