A Filha Dos Mundos escrita por Devill666


Capítulo 35
Morte da Tsuki




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Kai contou primeiro ao Povo da Luz que fizera em Omnirion tudo o que acontecera em Ranthlin. Talvez aquele não fosse o fim perfeito, mas era suficientemente bom para que pudessem voltar a admirar o céu azul onde o luminoso sol brilhava e caminhar por entre a maravilhosa natureza vermelha, verde e fresca da floresta. A preocupação nunca os abandonaria, porque os povos sábios não conseguem viver completa paz se sentirem uma sombra, por mais ténue que seja, a pairar no ar. Eles sabem que uma sombra pode sempre crescer até se tornar numa completa e tenebrosa escuridão, e que crescerá a menos que seja travada. No entanto, a sombra era agora de facto extremamente ténue e a preocupação não era tão terrivelmente urgente como o fora há dias.

Só depois de contar as novas que trazia do campo de batalha é que Kai procurou a mãe. Mas Tsuki não estava no palácio, nem em Omnirion. Alguns tinham-na visto dirigir-se para as margens do Enyel, no lugar onde a bela ponte de pedra branca cruza o leito.

Tsuki estava efetivamente lá, sentada na margem do rio, muito calma, muito bela. Os cabelos soltos ondulavam ao vento, o vestido branco reflectia os raios dourados do sol. Parecia uma grande luz, suave e sábia. Mas algo nela fez estremecer Kai, e ele achou que ela parecia uma grande luz que lentamente se apagava, até que por fim deixaria de iluminar o Mundo.

- O meu tempo está a acabar - disse ela na sua voz profunda, mas na qual não havia qualquer dor - Os sonhos avisaram-me, e agora as águas disseram-mo. Por isso, as dúvidas devem ser esclarecidas. Mesmo aquelas que o não seriam se a mente não estivesse cega.

Kai aproximou-se e sentou-se ao lado da mãe.

- A minha mente está então cega? - perguntou

- Todas as mentes que amam o ficam durante algum tempo - respondeu ela - Mas não te preocupes. A cegueira passará e continuarás a amar.

Fez uma pequena pausa. Os dedos longos e brancos desenhavam pequenos círculos na água, mas ela não estava distraída nem procurava as palavras certas para proferir. Apenas se demorava um pouco na certeza de muitos anos de que mesmos os assuntos importantes não precisam de ser explicados depressa e com palavras atabalhoadas, umas a seguir às outras.

- Saya regressou ao Mundo da sua mãe. Ela tinha de regressar antes de poder ficar aqui a viver. A altura do seu regresso não foi tarde nem cedo de mais. Foi a altura certa. Acalma o teu espírito, Kai. Ela regresserá. Assim o vi e assim o senti - fez novamente uma pausa - A sombra ainda não morreu, mas não voltará até que a alma da filha dos Mundos voe livre pelos os céus. Há uma profecia, que não te contarei, mas que será cumprida. Aqueles que devem conhecê-la, ela revelar-se-á, e se eles forem deveras sábios compreendê-la-ão. Se não, a compreenderem é porque afinal não devem conhecê-la - parou mais uma vez - Saya tem muitas dúvidas. Esclarece-as quando souberes de facto a resposta, e quando não souberes pede conselho a Elianor. Ela será agora a mais sábia de entre os sábios - e mais uma vez parou - Agora vai, Kai. Nas estrelas habitará para sempre a luz dos meus olhos e eles estarão sempre fixos no Povo da Luz.

Kai sabia que a mãe não diria mais nada, por isso regressou a Omnirion.

Tsuki ficou ainda algum tempo a observar as claras límpidas águas do Enyel, suas conselheiras. Até que por fim, naquelas verdes margens, a sua alma deixou para sempre o corpo que por dois mil e oitecentos anos habitara.


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