A Filha Dos Mundos escrita por Devill666


Capítulo 20
A viagem recomeçou




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Saya abriu os olhos. Lembrava-se! Lembrava-se do pai, das suas histórias, do dia do seu desaparecimento. Levantou a cabeça e deparou-se com o rosto de Kai. Ele sorria tenuemente e tinha uma mão esticada para ela.

- Está a fazer-se tarde. Temos de ir - disse

Ela agarrou-lhe a mão e levantou-se.

- Então vamos.

Kai foi até ao outro extremo do quarto e murmurou para a parede coberta de plantas uma palavra indecifrável. Imediatamente a parede se afastou, revelando a entrada de um comprido e escuro túnel. As paredes eram de cristal transparente. No inicio ainde se viam as águas do lago, escuras e paradas, e o dia a tornar-se cada vez mais em noite. Depois o túnel ficou ainda mais escuro e à sua volta só se via terra.

Percorreram o túnel durante que pareceu a Saya uma eternidade. Não falaram mais até sairem de lá de dentro. E assim a caminhada, além de longa, foi silenciosa e pesada. Por fim, Kai paraou. À frente deles estava apenas algo parecido com uma parede. Por um segundo, Saya ficou assustada a pensar que tinham chegado a um beco sem saída. Mas o youkai inclinou-se e murmurou uma outra palavra indecifrável. Acto continuo, a parede desapareceu e eles saíram. ao olhar para trás, Saya viu que acabavam de sair de dentro de uma árvore.

Caminharam ainda um bocado por entre a bela floresta. Felizmente estava lua cheia e eles podiam ver razoavelmente bem. Por fim ele parou e declarou que iam passar ali a noite. Deitaram-se no chão e cobriram-se com as mantas. Novamente sozinha com os seus pensamentos, Saya recomeçou a chorar. Primeiro um choro silencioso, depois acompanhado por débeis soluços. Nem sequer sabia bem porque chorava, mas não conseguia evitá-lo.

Kai levantou-se e sentou-se ao lado dela a entoar, numa voz límpida e harmoniosa, uma música suave. Saya ergueu-se supreendida. E sem que tivesse tempo de reagir, deu por si aconchegada nos braços de Kai. Impulsivamente soltou-se, mas depois deixou-se cair de novo para ele. Sentia-se bem assim; sentia-se protegida. Chorou ainda mais, decidida a chorar naquela noite todas as mágoas passadas e também todas as futuras. Lentamente, Kai sentiu os seus soluços a diminuir. Ela estava a ficar mais calma. Levantou-lhe a cabeça para lhe dizer que ia ficar tudo bem e que ela devia descansar. Mas em vez disso os seus lábios uniram-se aos dela num tímido beijo. Afastaram-se ambos a olhar um para o outro. Nenhum deles estava à espera daquilo. E mesmo depois de se passarem muitos anos, Kai continuou sem perceber por que razão a beijaria naquela noite tépida e clara. Não que alguma vez o tenha lamentado, agradecia mesmo tê-lo feito, mas não tivera intenção de o fazer naquele momento.

Estiveram assim algum tempo, sentados muito próximos um do outro e sem dizer nada. Finalmente ele quebrou o silêncio.

- Gomenasai - disse calmamente - Nunca o deveria ter feito.

Voltou a cara para ela e Saya viu que os seus olhos era de um lindíssimo verde líquido. Então, um tanto ou quanto estupidamente, inclinou-se para ele. Inclinou-se tanto que voltaram a beijar-se e finalmente perderam-se ambos na profundida do seu beijo. Quando se separam, nenhum deles murmurou sequer uma palavra.

Deitaram-se simplesmente de novo com os olhos postos no céu. Saya não sabia se ele já tinha adormecido, mas também não precisava de saber. Sabia apenas que, depois de tanto chorar, de se sentir tão triste e só, parecia-lhe agora ser a pessoa mais feliz de ambos os Mundos que conhecia.

E antes de adormecer profunda e tranquilamente, soube que não queria sair daquela terra à qual o seu pai pertencera, onde Kai vivia e também à qual ela pertencia. Muito lá em cima, no céu de veludo azul escuro, a lua parecia sorrir, assim como a alma do seu pai.


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