Viciante Morte - THALICO escrita por Caroline Tarquinio


Capítulo 1
Dear Death




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Acordei atordoada. Me lembro exatamente do que senti, era como um daqueles sonhos em que você confunde com a vida real. Só que aquilo era a vida real, eu estivera morta por 7 anos, e isso é muito ou pouco tempo, depende do seu ponto de vista. Pra uma pessoa morta não faz muita diferença. Talvez você pense que como sou filha de um deus grego eu tenha sido envolvida em lindos sonhos com heróis e ninfas e milagres, mas a verdade é que eu estava morta, ser filha de Zeus não fez muita diferença na hora de esperar no mundo inferior, esperava alguma cortesia de meu tio, mas Hades obviamente não se preocupou em me tirar daquela interminável fila. Eu até entendo que talvez ele tenha agarrado a única oportunidade de vingança contra Zeus que ele algum dia iria ter.

O tempo foi passando e eu me acostumei de novo a estar viva, embora sentisse que uma parte de mim estaria sempre morta, a parte capaz de amar, de me apaixonar. Quando eu morri eu tinha acabado de recusar o convite de Artémis para me juntar a caçada, a verdade era que eu queria me juntar mas não conseguia deixar Luke para trás, meu coração parecia conectado ao dele e quando acordei ele foi a primeira coisa na qual pensei, apesar de não ter sentido com a intensidade que eu sentira antes de morrer. Depois de descobrir o que Luke havia se tornado eu nada senti, não algo que me destruísse, nem decepção, nem coração partido, então cheguei a conclusão de que aquele amor por Luke fizera parte da minha vida anterior, e que havia morrido comigo, infelizmente, ou felizmente, não sei ao certo, o velocino de ouro não fora capaz de revivê-lo. Acho que amor é impossível de ser ressucitado, uma vez perdido, perdido pra sempre.

Passei um tempo no acampamento como um campista normal, antigamente isso me fazia sentir viva mas dessa vez não foi o mesmo dessa vez, algo dentro de mim não podia ser reanimado, como se agora a morte fizesse parte de mim. Mesmo depois que saímos em missão, eu procurava me envolver com as partes mais perigosas da missão, como se estivesse buscando a morte, como se a precisasse, algo viciante. Eu não queria morrer de verdade, mas para me sentir viva eu precisava de contato com a morte.

No dia que conheci os Di Angelo e me encontrei com as caçadoras foi a primeira vez que me senti desse jeito, morta-viva, de certa forma feliz, satisfeita. Achei que era um sinal de que eu precisava entrar para a caçada. Eu já vinha pensando nisso e comentando com Annabeth, as caçadoras estavam em constante busca por monstros e essa seria a oportunidade perfeita pra se aproximar da morte. Entrei para a caçada mas essa sensação não aliviou, aliás, era como se estivesse mais distante, achei que esse fator devia-se à imortalidade.

Quase dois anos depois eu fui conduzida a algum lugar seguindo o cervo de Artemis e lá encontrei meu amigo e primo, Percy Jackson, ele era o cara mais legal e causador de confusão que eu conhecia. Eu gostava de ir em missão com Percy, quando não estávamos brigando é claro. Ouvimos um barulho e nos pusemos em posição de luta, preparados para destruir qualquer um que tentasse nos atacar mas foi aí que senti aquilo de novo, aquela sensação morta-viva que me levava a loucura, eu estava sendo atraída àquilo, era incontrolável, iria me destronar em uma batalha, eu não sabia de onde vinha, e foi quando o vi, meu primo, filho de Hades, Nico Di Angelo, e naquele momento soube que era ele. Havia sido ele o tempo inteiro, mesmo quando eu o conheci, quando ele tinha apenas 10 anos e que ele irradiara aquele sentimento anos atrás, não as caçadoras, mas ele, o filho da morte.

Nico era lindo, ele era atraente, ele era viciante. Seus cabelos estavam desgrenhados como se houvesse acabado de acordar, ele vestia preto, diferentemente da ultima vez que eu havia encontrado com ele, preto o fazia parecer mais com seu pai. Ele parecia quase adulto, usava uma jaqueta de aviador também preta contrastando com a sua pele tão branca que era quase transparente, em sua mão, um anel de prata com uma caveira em cima e pendendo de sua calça uma espada negra de ferro estígio que irradiava terror. Ele era anos mais novos que eu e anos mais velho, eu não sabia explicar, ambos havíamos nos perdido no tempo. Mas isso não importava. Eu estava atraída por ele e aquilo jamais passaria. Ele olhou para Percy e em seguida para mim, diretamente nos meus olhos e todos os meus órgãos se retorceram dentro de mim. Ele se aproximou de Percy e o cumprimentou com um aperto de mão, eles eram amigos. Em seguida olhou novamente pra mim e acenou a cabeça de um jeito formal. Não nos conhecíamos muito, mas imaginei que ele havia pensado que eu não era uma grande fã de abraços e outros contatos físicos, apenas com os mais íntimos, mas tudo o que eu desejava era que ele me tocasse e que ficasse perto de mim, eu não poderia ficar longe dele mais um segundo. Mas fiquei. Depois daquela missão só nos encontramos depois na batalha dos titãs em Nova Iorque e no Olimpo depois disso, eu jamais pensei que o encontraria de novo, e que sentiria de novo aquilo, até hoje, quando nos encontramos por acaso no acampamento:

-- Thalia! – Annabeth gritou e eu me virei.

-- Annabeth! – eu respondi tentando me equilibrar depois do impacto de seu abraço.

-- Senti muito a sua falta! As coisas nunca foram as mesmas desde que você partiu – ela disse com um sorriso triste no rosto.

-- Ahn, onde está o Percy? – perguntei, tentando reanimá-la, desde que eles haviam começado a namorar Annabeth parecia sempre radiante.

-- Ah, está vindo aí – disse ela com uma alegria contagiante – Acontece que você não é a única visitante aqui no acampamento.

-- O que quer dizer? – eu perguntei confusa, até que ouvi um grito animado:

-- Ei Thalia! – eu olhei por trás de Annabeth e meu coração quase parou. Percy  acenava animado, usava sua calça jeans e sua camisa laranja do acampamento e na mão direita sua espada de bronze celestial, Contracorrente, caminhando em nossa direção. E ao seu lado uma figura de preto, irradiando energia, acho que só para mim, considerando que ele era conhecido como o rei espectral e eu era a única ali que havia estado morta. Nico di Angelo estava ali, olhando para mim, parecendo um fantasma em plena luz do dia mas com os olhos mais vivos que nunca, ele era como um anjo da morte. Eles se aproximaram e eu não tirei meus olhos dele.

-- Oi – disse ele pra mim ainda meio tímido – nossa, acho que não te vejo desde que eu tinha doze anos.

-- O-oi – finalmente consegui falar – é mesmo, faz muito tempo – sorri sem graça, não sei porque, mas não queria enfatizar muito essa questão da idade, já que para mim não contava muito.

-- Então... – falou Percy – Acho que eu e o Nico já vamos nos arrumar pra o almoço, nos encontramos em alguns minutos.

-- Ahn, eu e a Thalia também já vamos – comentou Annabeth – nos vemos em alguns minutos -- ela disse e deu um rápido beijo nos lábios de Percy enquanto eu e Nico ainda nos olhávamos.

Annabeth me puxou e fui com ela enquanto olhava para Nico, se afastando com Percy e dando uma olhada para trás, nossos olhares se cruzando mais uma vez.

Chegamos ao pavilhão e oferecemos parte de nosso alimento aos deuses como de costume. Me dirigi à mesa de Zeus sozinha, Annabeth se juntou aos filhos de Atena e Percy foi direto para a sua mesa de Poseidon, Nico, assim como Percy e eu, se sentou sozinho, como era de costume dos filhos dos Três Grandes, que não tinham irmãos. Durante o almoço meu olhar alcançou o de Nico algumas muitas vezes, meu estômago estremeceu só se saber que ele também estava olhando pra mim, e quando eu não estava olhando, podia sentir seu olhar em mim também, isso me fez estranhamente feliz e inquieta. Avistei Rachel Elizabeth Dare, o nosso Oráculo de Delfos, no outro lado da sala, sentada com Quíron, o Sr. D (o sempre mal-humorado e ranzinza Dioniso, deus do vinho, e diretor de nosso acampamento) e alguns sátiros nervosos. Acenei para Rachel, que parecia perturbada e voltei a comer. Quando estava no final de minha sobremesa, Rachel caminhou para perto da minha mesa, que ficava à frente da mesa de Nico. Ela pôs-se entre nós e uma névoa verde a envolveu e seus olhos brilharam no mesmo tom, ela se curvou para a frente e sua voz falou triplicada.

“A filha do raio e o filho da morte,

Andam sozinhos numa busca

Consequências desastrosas para os grandes

A mudança de sua sorte”

Eu estava em choque, essa era a profecia mais confusa que eu já ouvira, olhei para Quíron e ele parecia nervoso. Em seguida olhei para Nico e ele olhava para mim, não como olhara antes, com curiosidade, mas surpreso, assim como eu. Então percebi, eu e Nico sairíamos em missão, apenas nós dois, e embora eu me sentisse um pouco alegre, um pânico tomou conta de mim. Uma filha de Zeus e o filho de Hades, “consequências desastrosas para os grandes e mudanças de sua sorte.”. Eu já podia sentir a fúria de nossos pais. Isso não poderia ser bom. 


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