Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 68
Eu sou... Esperança.


Notas iniciais do capítulo

"Agora a porta está aberta, o mundo que eu conhecia está destruído, não há volta. Agora meu coração não está mais com medo, só de saber que você está lá fora me observando. Então, eu acredito que... Eu estarei esperando. Esperando e rezando para que esta luz o guie para casa quando você se sentir perdido. Vou deixar meu amor escondido no sol quando a escuridão vier."... (Colbie Caillat)



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“For when the darkness comes…”…♫

O quarto estava morbidamente silencioso, sendo audível apenas o barulho dos aparelhos conectados ao corpo dele e que o mantinham nesse mundo. Um passo de cada vez, havia decidido ao fechar a porta e deixar a figura apreensiva de Raquel lá fora, esperando. Um passo... Mas no primeiro acabei estacando onde estava.

“Dinho...”

Murmurei bem baixinho por medo, não sei do que, mas tinha medo de mesmo minha voz machucá-lo. O que era irônico, ele já foi tão ferido. Tantas vezes e quase todas por mim. Mas agora era pior, era mais grave e talvez... Definitivo. Se... Ninguém sabia, ninguém poderia imaginar que isso nos aconteceria. E a noite em que o reencontrei há quase um ano – o tempo voou – pareceu tão distante. A música dele, Vitor, o palco. Quando fui ao Misturama aquele dia nem sonhava em vê-lo e agora não posso imaginar mais minha vida sem a presença dele.

“Eu senti tanta saudade...”.

E ainda sinto. Por favor, acorde e olhe para mim.

Assumindo o controle do meu corpo, exigi que minhas pernas caminhassem para mais próximo da cama. O corpo dele sobre a cama permaneceu imóvel como quando ele foi atingido. E parecia tão sem vida, que se não fossem os fracos sinais vitais mostrados no visor seria difícil acreditar que ele estava vivo.

“Pode me ouvir?”

Sem resposta.

“Eu... Sinto muito.”

Novamente, nada.

“Meu pai disse que você não sente nada – Segurei a mão fria contrastando com o calor da minha – Pode sentir isso? Sabe que estou aqui?”

Mas era como falar com o vazio. Minhas perguntas fugiam, mas as respostas não chegavam e ele permaneceu da mesma forma de quando entrei, há pouco. Se ao menos ele me desse um sinal de que... Bem, um sinal de que ainda está aqui.

“Vim ver como você está... Eu passei a noite no hospital, mas tive que ir para casa. Mas eu voltei, eu não ficaria longe de você.”

Engoli em seco, as lágrimas ameaçando escapar dos meus olhos. Mas eu não queria chorar, não queria que ele me visse fraquejar. Vê-lo ali, daquela forma tão... Inerte, já era sofrimento o suficiente. Água e sal não ajudam em nada.

“Todo mundo tá preocupado com você, sabe? A Ju, o Gil, o Bruno... O Orelha passou a noite toda aqui. A Morgana o levou para dar uma volta... Entendo porque gosta tanto dele, ele gosta muito de você também. E apesar de ser um imbecil, ele é um grande amigo. Sem falar da Fatinha... Nem sei explicar como ela deve tá arrasada.”

Nenhuma alteração, nada que indicasse que ele me entendia. E por isso, as lágrimas que tentava a todo custo segurar começaram a cair, uma por vez. Cada uma esperando a sua vez e um motivo se ser.

“O Sal não é mais um... Ele pagou pelo que te fez, é o que eu quero dizer. A Luana veio aqui ontem, me falou sobre o que vocês fizeram... Por que não me contou? Por que escondeu isso de mim, Dinho? Você me deixou alheia a tudo o que se passava e eu nem sequer imaginei que aquele maldito estava de volta. Você tinha razão... Lembra do que me disse? Que temia por mim? Eu devia ter te escutado, mas foi tão mais fácil mandar o problema para longe.”

Como se o fato dele estar em Brasília também acabasse com o perigo. Porém, não foi assim... Por sentir-se acuado ou apenas por maldade, ele veio para o Rio e fez o que fez. Não menti para Luana quando disse que não lamentava a morte dele, somente ele é o responsável pelo o que aconteceu. Vitor deu todas as chances ao irmão, mas ele preferiu continuar no caminho errado. A única coisa que lamento é que isso tenha respingado na minha vida, que a sujeira da vida dele tenha atingido quem eu amo.

“Eu tenho que ser rápida, mas... Droga, isso não é justo! Não é justo o que fizeram com você! Eu, eu... To com tanto medo. Medo de que você vá embora e me deixe aqui, sozinha. Tenho medo de te pedir para ficar também... Porque também não é justo com você.”

Mas isso nada tinha a ver com justiça, certo ou errado. Não dependia de mim decidir, eu apenas deveria deixá-lo livre de culpas ou o quer que seja que ele sinta. Se é que ainda sente.

“Eu tive um sonho tão lindo com a gente, Dinho... Mas foi tão confuso, porque eu ainda não compreendi o que ele queria dizer. Mas foi tão bom também, porque de alguma forma eu pude te ter por mais um tempo do meu lado. E todos os nossos planos, pareciam tão reais... Mas não era. E isso tem me feito pensar. Tantas perguntas rodeiam minha mente, sobre o que eu quero e o que vai acontecer.”

E se ao menos você estivesse aqui eu não me sentiria tão perdida.

“Eu juro que to tentando ser forte, ter fé e confiar que você vai sair dessa... Mas parece que não é o suficiente. Os médicos dizem que é muito provável que, bem... E eu quero tanto acreditar que eles estão errados, mas você me conhece. Eu sou filha de médicos e quantas vezes vi eles tristes por perderem um paciente? Muitas, para ser sincera. E eu já tive tanta merda nessa vida que talvez perder você seja só a maior e mais terrível delas. E você mesmo disse que nada dura pra sempre, lembra?”

Dado os últimos acontecimentos, cheguei à conclusão que só mesmo em contos de fadas o ‘felizes para sempre’ funciona. E de repente eu quis tanto ser personagem de alguma história louca e que só por caridade o autor me fizesse ficar com ele, mas na vida real pessoas morrem. Na vida minha vida real qualquer felicidade é sempre acompanhada de muita dor, e embora eu deteste isso e as cicatrizes demorem a desaparecer, eu gosto de sentir que fui feliz. E ele me fez tão feliz, além das expectativas, de uma forma simples. Nada de grandes romances,‘Romeu e Julieta’ ou ‘Edward e Bella’, mas nossa história foi tão bela quanto.

“Eu só quero dizer que se... Se for pesado demais, se for doloroso demais para você ficar, eu vou entender. Eu não te culpo, nunca, e sabe foram tantos os momentos e sempre serei grata por eles. E você sempre estará presente em mim, no meu coração, como mais ninguém estará. E embora eu vá sentir muitas saudades, só de saber que você tá em algum lugar melhor e feliz... Eu vou ficar feliz também, mesmo que um pouquinho. Eu sei que você vai ser uma estrela lá no céu e que sempre vai olhar por mim e eu sempre vou olhar para você também, Dinho. E vou te amar... Eu juro que te amo. Se não puder ficar, só quero que lembre que eu te amo.”

“Lia, você precisa sair agora.”

Raquel apareceu do nada ou talvez eu tivesse tão envolvida com meus sentimentos que não tenha notado a sua presença. Era o fim, aquele que toda história tem, mas esse final não foi o que eu esperava nem feliz. Mas nosso começo também não foi, nem o meio, pelo contrario, foram tantos os obstáculos e tristezas, as brigas memoráveis que tivemos. E as lágrimas que arrancamos um do outro... Nosso amor nunca foi normal ou dentro dos padrões. Talvez esperar por um final como os outros tenha sido perda de tempo. Eu e ele sempre fomos tão... Exceção. Ninguém poderia imaginar que daríamos certo, mas demos. E quem sabe isso tenha sido tudo o que conseguimos, e se apenas dar certo seja o ponto mais alto? Porém, nós acreditamos nesse sentimento. Acreditamos, porque ele é tão grande que venceu tudo.

“Lia...”

Chamou Raquel novamente.

“Eu acredito em você.”

Sussurrei ao ouvido dele soltando a mão sua mão devagar. E se Dinho me ouvisse, ele saberia.

Deixei o quarto sem olhar para trás. Raquel ficou do meu lado o tempo todo, ate quando chegamos em casa. Fui para meu quarto e passei o resto do dia lá apenas revivendo as lembranças. E de todas, a que mais me emocionou não foi uma recente, mas uma de muito tempo atrás. E engraçado, eu não me lembrava dela e agora ela surgiu do nada, apenas para me lembrar de que talvez nada seja por acaso. E que momentos tristes guardam alegrias maiores... Uma esperança que ainda queima. Era sobre o começo, como nós começamos.

“LIA! Volta aqui, filha!”

Corre, Lia! Corre! Era o que dizia para mim mesma enquanto fugia do meu pai. Não queria que ele estivesse perto de mim, nem ele nem ninguém eu só queria minha mãe. Mas ela foi embora... ‘Mãe!’ Ela deixou a gente, me abandonou e a minha irmãzinha também. E meu pai disse que ela volta, mas eu sei que é mentira. Eu vi no olhar dela que ela não vai voltar. E nada do que ele ou a vovó digam vai me fazer ficar aqui! Eu vou com ela, eu vou!

E eu corri atrás do táxi, um perto dentro do peito me impedindo de respirar. Mas eu ia conseguir, eu ia... Mas o carro desapareceu na esquina e eu não vi mais e por mais que corresse ele só se afastava.

“MÃE! Volta, por favor!”

Mas ela não me ouviu e eu a perdi para o mundo. E o mundo é tão grande, mas nunca será maior que minha saudade. E isso fere de tantas formas diferentes, tão fundo.

“Mãe...”

“Lia, vamos...”

Meu pai tinha me alcançado e me estendia à mão, mas eu não o queria, eu queria minha mãe.

“Me deixa em paz! Você deixou ela ir, eu odeio você!”

“Por favor, filha!”

“Lorenzo, deixa ela. A guria precisa de um tempo... Promete ficar aqui na praça, Lia? Quando se sentir melhor você volta para casa.”

“Mãe...”

Interviu meu pai, mas minha vó Paulina o levou para casa. E eu fui ate o balanço, me sentei e deixei minha dor cair em forma de choro. “Por que ela fez isso comigo? Por que ela foi embora? Eu a odeio também”, disse para mim mesma. Eu odiava Raquel por ter me deixado. Eu não entendo, por mais que tente, eu sempre me comporte, fiz tudo certo. Acho que sou uma boa filha... Sou? Sim. E do que adiantou? Nada.

“Ninguém nunca mais vai fazer eu me sentir assim, eu juro! Ninguém nunca vai estar perto demais do meu coração para machucá-lo. É uma promessa.”

“Posso me sentar?”

Perguntou um garoto que nunca vi antes. Enxuguei o rosto com as costas da mão e o olhei furiosa.

“NÃO!”

Não queria que ninguém me visse chorar, só desejo estar sozinha. Mas ignorando minha resposta mal criada ele sentou-se no outro banco.

“É surdo?! Eu disse que NÃO podia se sentar!”

“Eu perguntei se podia, não disse que ia te obedecer.”

“Então, por que... Olha, quem é você?”.

“Ah, ela tem educação! Prazer, meu nome é Adriano, mas todo mundo me conhece por Dinho. E o seu?”

“Não te interessa!”

“Tá, nome estranho para uma menina. – Ele riu, ele riu de mim! – Eu sou novo aqui, me mudei para aquele prédio ali. Você mora aqui também, ‘Não te interessa’?”

“Não é da sua conta!”

“Ah, se decide! Ou é não te interessa ou é não é da sua conta. Acho que eu vou ter que arranjar um nome para você, sabe? Me deixa pensar, você é mal educada, respondona, bem bravinha, marreeenta... É isso: Marrentinha!”

“Me chama de marretinha que eu te quebro a cara, idiota!”

“Calma aí, Marrentinha!”

Eu não o soquei, mas o deixei sozinho.

E foi assim que a Marretinha e o Idiota se conheceram. Depois de ameaçá-lo, voltei para o meu prédio e no caminho, pude ouvir o riso debochado dele. E eu ri um pouco também, ele era mesmo um Idiota e senti tanta raiva dele que acabei esquecendo a raiva que sentia de Raquel. Como se odiá-lo fosse uma cura para os sentimentos angustiantes que eu tinha. E eu o odiei, muito. Pelo seu descaso, seu sorriso chato, aquela droga de cabelo que mais parece um ninho de passarinho de tantos cachos... E de tanto odiá-lo, ao chegar em casa, eu já não chorava mais.



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Notas finais do capítulo

:* Hum... Contagem regressiva. Hoje é o primeiro do fim, sexta postarei os três últimos. Juro que to caprichando para ser bom... AWN, não quero que acabe, mas... Bem, espero por vocês e pelos reviews, hein? Até sexta e que meu emocional me ajude! Beijos, LiDinhos!