Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 57
Lado bom


Notas iniciais do capítulo

"Dias ruins são necessários para os dias bons valerem a pena, porque depois da tempestade sempre vem a calmaria."... (Enéas)



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Estava no aeroporto com Dinho, meu amigo prestes a embaçar para Miami. Um aperto envolveu meu coração e me senti arrasada com a possibilidade de não vê-lo mais.

“Eu não sei o que dizer. Sério, nunca imaginei que as coisas chegariam a esse ponto... Vocês pareciam tão felizes.”

“A gente parecia né? Mas era só mentira. Fachada. Acho que, em parte, a culpa é minha, ela tava certa quando disse que menti. Todo esse tempo, eu tenho mentido, mas era para mim. Eu me enganei e fechei os olhos para o fim, mas ele estava lá. Desde sempre.”

Dizer ‘sinto muito’ não faria muita diferença. Era triste ver o meu amigo assim, mas mais triste era saber que eles poderiam ter tido outro final se a Lia tivesse tentado. Não a julgo, ela tem os problemas dela, mas poxa... Será que ela não vê que tá fazendo a maior burrada da vida dela o deixando ir assim?

“Você vai voltar, né? – Inquiri mais uma vez – Não tá pensando em ficar lá para sempre, tá? Juro que se você fizer isso nunca mais olho na tua cara e retiro o convite para ser padrinho da minha filha!”

“Seria capaz?”

Perguntou risonho, mas o sorriso não escondia o que era refletido nos olhos.

“Pode ter certeza que sim!”

“Bem, então por mais que eu quisesse não poderia ficar longe, certo?”

“Não mesmo!”

Abracei forte meu amigo. Lembro como se fosse hoje o dia em que ele chegou ao Hostel e eu ameacei ir embora com ele. Desde aquela época tantas coisas mudaram, as nossas vidas tomaram rumos surpreendentes e mais uma vez eu me despedia dele.

“Eu não vou demorar, eu prometo. É só o tempo de eu organizar algumas coisas e eu volto.”

“Miami é tão longe.”

“Eu ligo todos os dias, que tal?”

“Eu quero você perto e não apenas ouvir sua voz!”

Soquei-lhe o peito de leve. Ele riu e só me restou rir também.

“Quanta carência!”

“Sou carente mesmo, e daí? Pô, você é meu irmão, por isso nem vem com essa, tá? Eu te amo Idiota.”

Vê-lo passar pelo portão de embarque era como ver uma porta se fechar também. Uma período novo estava se iniciando, como meses atrás. Mas eu sei que independente do que aconteça daqui para frente, estaríamos juntos, eu e ele. Éramos amigos, irmãos que se encontraram perdidos e acharam apoio um no outro. Nunca vou poder agradecer o quanto Dinho fez por mim, e o que estivesse ao meu alcance, faria por ele.

Fiquei ate o avião levantar voo, depois peguei um taxi para casa. Ao chegar, encontrei Bruno pronto para sair.

“Como foi?”

Me perguntou quando entrei. Joguei minha bolsa sobre a mesa de centro e encarei o meu quase ‘namorido’.

“Estranho...”

“Como assim, estranho?”

O Moreno ficou confuso. A verdade é que também não sabia explicar.

“Não sei, só foi estranho. Sabe quando você perde algo que gosta muito, mas ao invés de ficar triste deseja que isso tenha sido para o bem?”

“Não, mas acho que o Nando tem uma ótima teoria sobre isso. Ele me falou uma vez quando eu tava muito bêbado, mas não me lembro de muita coisa...”.

Caminhei ate o sofá e me sentei.

“A Lia já sabe dessa viagem?”

“Não. Ele não teve oportunidade de dizer ontem à noite. Acho que estavam ocupados demais brigando um com o outro.”

“Tão diferentes de nós dois...”.

Bruno riu sedutor me causando um arrepio. Era incrível o poder que ele tinha sobre mim, incrível como qualquer gesto seu mexia comigo.

“A gente pode brigar se quiser? Pra relembrar os bons tempos...”.

“Não, dispenso! Tá bom como tá.”

“Problema seu, pois bem que seria legal.”

O Moreno revirou os olhos em descrença.

“Eu vou trabalhar agora. Quer que eu te traga alguma coisa quando voltar?”

“Hum... Pode trazer meu melhor amigo?”

Falei manhosa fazendo bico. Droga, essa convivência com a Ju não tava sendo boa coisa!

“Não, mas posso trazer sorvete. Não é o mesmo, mas ele também te deixa feliz.”

Mas não tanto quanto o Dinho. Mas ele tava longe agora, e eu tinha que conviver com isso, mesmo que por pouco tempo. Bruno foi embora, mas não antes de me roubar um beijo. Fiquei um tempo ainda relembrando minha conversa com Dinho até que escutei o som da campanhia.

“Ju? Que tá fazendo aqui?”

“Vim saber do Dinho. O Bruno me disse que você foi acompanhá-lo ate o aeroporto.”

“Entra, vou pegar uma água...”.

“Não to com sede.”

“Quem disse que é para você?”

Juliana passou por mim de cara fechada e entrou no apartamento. Se jogou no sofá e esperou ate que eu voltasse da cozinha.

“Então, vai acabar com o mistério?”

Disse chateada, e apesar de adorar tirá-la do sério, não tinha vontade de implicar com Ju. O Dinho também era amigo dela.

“Foi normal, sabe? Abraços e toda aquela coisa que acontece numa despedida. Por que não foi ao aeroporto? Não sabia que ele ia viajar hoje?”

“Não, eu sabia. Ele já tinha se despedido de mim e disse que não precisava me preocupar... Acha que ele vai demorar?”

Juliana aparentava preocupação e soube na hora que era por causa da sua BFF, Lia.

“Ele disse que não... Você contou para Lia?”

“Não. A gente meio que brigou ontem e não nos falamos mais.”

“Brigaram? Pensei que vocês fossem ‘best friends forever’! Que foi que rolou?”

“Não sei, só aconteceu. Acho que cansei de vê-la fugindo dos próprios sentimentos e acabei descarregando minha frustração no momento errado.”

Complicado. E isso por que ela não sabia nem da missa a metade. Se tivesse visto a Lia depois que o Dinho saiu do quarto...

Flash back ON

“Lia, posso entrar?”

“Entra.”

Duvidei ter escutado mesmo a voz da Marrenta, mas mesmo assim abri a porta do quarto. Me deparei com ela sentada na cama, cabeça baixa, imóvel. Dinho tinha ido embora há poucos minutos e pela cara dele vi que as coisas não saíram como o planejado.

Entrei no quarto e me aproximei da Loira que parecia perdida nos próprios pensamentos.

“Você tá legal?”

“Por que pergunta? Tenho motivos para não estar?”

Diga-me você. Foi o cara que você ama que saiu pela porta, enquanto você esta aí, parada que nem uma estatua de cera. Quis dizer isso e muito mais, mas não tinha esse direito. Era um assunto deles, e dos dois eram meus amigos. Tomar partido nessa história era pedir por confusão.

“Não sei... Vocês conversaram?”

“Sim. E confirmamos o que já sabíamos: Nós não damos certo juntos. Ele vai viver a vida dele e eu a minha.”

“Simples assim?”

“É.”

“Bem, espero que vocês tenham certeza do que estão fazendo... Eu vou voltar para festa, se quiser pode ficar mais um pouco aqui. Sabe, para esfriar a cabeça.”

Lia levantou da cama e me olhou com sua postura superior tão conhecida. Os olhos estavam inchados pelas lágrimas que eu sei que ela chorou, mas não ia jogar isso na sua cara.

“Não precisa, eu já to de saída. Valeu pelo convite, mesmo que não tenha aproveitado a festa. Fazer o quê, né? Acho... Não, tenho certeza que foi melhor assim. Agora ele vai poder ficar com quem realmente quer. A Luana não tem tanta carga emocional quanto eu.”

Ela caminhou muito digna ate a porta, mas pelo o que eu já sabia daquela Marrenta, tudo não passava de pose. Estranhei muito ela ter tocado no nome de Luana. A morena era amiga de Dinho e não pensei que estivesse metida nessa história. Mas pelo visto, ela havia sido o pivô da separação dos dois.

“O que a Luana tem a ver com o que rolou hoje?”

“Nada.”

Falou a Marrenta desviando o olhar. Ela mentia, fingia estar tudo bem, porém, no fundo, sofria cada instante. Maldita hora essa para a mãe desnaturada dela aparecer! E maldita Luana se tiver se posto na vida do meu amigo!

“Lia...”

“Sim?”

Ela parou, permanecendo de costas. Lia desabaria a qualquer momento, e por mais que quisesse que ela o fizesse, que expusesse seus sentimentos, magoá-la mais não surtiria efeito. Se Dinho não conseguiu abrandá-la, imagina eu.

“Fica bem.”

“Eu vou.”

Flash back OFF

“Inferno, ele precisava ter ido assim também? Não podia ter esperado mais um pouco?”

“Você fala como se ele tivesse feito de propósito! É trabalho, Ju! Trabalho! E ele também tem o direito de visitar a família. Se a Lia não fosse tão estúpida talvez pudesse ir junto, mas ela se nega ate a ficar no mesmo lugar que ele.”

Saltei em defesa de Adriano. Ju podia defender sua BFF, mas não tinha o direito de julgar o meu amigo. Eu mais que ninguém sabia o quanto estava sendo difícil para Dinho abrir mão da sua Marrenta.

“AFF, não dá pra conversar com você, Fatinha! Eu não to culpando, ele... Só acho que o Dinho deveria ter tentado mais.”

“Mais do que ele tentou?”

Perguntei incrédula. Juliana fechou ainda mais a cara. Respirei fundo e resolvi mudar de assunto. Afinal, não ajudaríamos muito se brigássemos também.

Esquecemos o casal pelo resto da manhã e nos concentramos em amenidades. Ju voltou para sua casa na hora do almoço e sozinha, aproveitei para tomar um banho. Sairia depois para comprar algumas coisas que faltavam, o que me dava à oportunidade de espairecer a mente sobre os últimos acontecimentos. Só de pensar em Dinho em um avião meu coração se apertava e não importa o quanto dissesse para mim mesma que era para o próprio bem dele, não estava completamente convencida disso.

Quando acabava de me trocar, ouvi a campanhia tocar. Fui atender e ao abrir a porta me deparei com uma visita mais que inesperada.

“Pai?”

Sussurrei sem acreditar que o senhor Adolfo estivesse na minha frente.

“Maria de Fátima...”.

“Ent-tra, pai.”

Disse atrapalhada dando passagem para ele. Pedi para que sentasse e fui à cozinha buscar algo para ele beber. Na verdade, queria um pouco de tempo para respirar. Não podia estar mais surpresa por vê-lo ali, tão imponente, me fez perder a respiração por um momento.

“Cadê a mamãe? Ela não me disse que vocês vinham para o Rio... Como soube onde eu morava?”

Disparei uma pergunta atrás da outra. Não me sentia forte o suficiente pra encarar o semblante sério. Pus as mãos na barriga, gesto que não passou despercebido por ele.

“Sua mãe ficou em Carambola. Eu vim sozinho e volto ainda hoje, é só uma questão de resolver o que vim fazer aqui.”

“E o que o senhor veio fazer?”

“Falar sobre a sua situação – Ele levantou-se do sofá olhando em volta – Não sei como conseguiu dinheiro para alugar esse apartamento, mas a partir de hoje vai poder contar com a ajuda dos seus pais.”

“Tá me oferecendo dinheiro?”

“Estou cumprindo com meu papel de pai, portanto nada mais lógico que eu arque com suas despesas. Ainda mais estando você grávida. Não me orgulho de como tem levado a sua vida, mas você é sangue do meu sangue. Não posso ignorar esse fato.”

Então depois de tanto tempo sem nos ver, no primeiro encontro ele me trata apenas como uma obrigação? Responsabilidade, era isso o que eu era. Foi idiotice minha quando o vi na porta ter chegado a acreditar que havia mudado sua postura em relação a mim.

“Não se sinta obrigado a nada. Eu estou muito bem, obrigada!”

“Maria de Fátima, olhe o respeito! Eu sou seu pai!”

“Verdade? Acho que acabei esquecendo, afinal já faz tanto tempo, né? Desde que me enxotou da sua casa sem o mínimo remorso e me apagou da sua mente. E agora aparece aqui me oferecendo droga de dinheiro!”

“É o meu dever como seu pai e avó do seu filho.”

Falou ele sério como se tudo fosse muito simples.

“E o senhor, como meu pai e avó da minha filha vai permitir que nós duas frequentássemos a sua casa?”

“Eu, bem, eu...”.

Não, nada mudou.

“Tudo bem pai, não precisa responder. Eu já sei que existe muita... Qual a palavra? Moral nessa história, a opinião dos parentes. Não to pedindo nada como também não vou privar você ou a mamãe de ter a companhia da sua neta, mas, sinceramente, pensei que veio aqui com outra intenção. Mas to errada, né? Nada mudou! O respeitável senhor Adolfo não permitiria que a filha ingrata voltasse para o seio da família.”

“Não é isso que eu quis dizer...”.

Tentou explicar-se, mas eu tava de saco cheio para mais desculpas. Esperei tanto tempo para vê-lo e mais uma vez meu pai me decepciona.

“Tá, eu não quero ouvir. Se o senhor não se importa, esse não é um bom momento...”.

Fui ate a porta e abri para ele. Meu sinal era claro, queria que fosse embora, que saísse por onde entrou. Aquela era a minha casa, eram as minhas regras, e por mais que o amasse não deixaria que ele me tratasse como lixo.

“Maria de Fátima, por favor...”.

Meu pai nunca pedia por favor, ele só ordenava. Ouvir um pedido sair da sua boca era novidade para mim. Mas ainda que quisesse entender o seu lado, não sabia como.

“Por favor, digo eu... É melhor o senhor ir embora.”

Meu pai me olhou derrotado, mas não me senti vitoriosa. Assim que ele saiu, pude respirar aliviada. Hoje não era o meu dia, primeiro meu amigo foi viajar e agora meu pai aparece e me joga dinheiro na cara. Não literalmente, mas foi o que ele fez. Como se sua ajuda financeira fosse suprir sua ausência ou o afeto que me negou.

O resto do dia foi passado sem mais surpresas, para minha paz. Sem ter muito que fazer e com a viagem de Dinho e a visita do meu pai na cabeça, fui para o quarto. Deitei na cama sem intenção de dormir, mas foi o que aconteceu.

“Fatinha?”

Ouvi uma voz sussurrada, mas permaneci de olhos fechados.

“Fatinha ‘Cê’ tá legal? Quer alguma coisa?”

Abri os olhos, a visão embaçada, mas identificando o Moreno sentado ao meu lado na cama. Seus cabelos estavam molhados, vestia uma camiseta e short.

“Que horas são?”

Perguntei me sentado.

“São quase dez da noite. Cheguei, você tava dormindo... Não quis te acordar.”

“Acabei dormindo sem querer, nem vi que horas eram... Desculpa, não preparei o seu jantar.”

“Tudo bem, eu pedi comida. Já jantou?”

“Não...”

E como para que confirmar o que havia dito, meu estomago roncou faminto. Bruno riu e foi ate a cozinha voltando em seguida.

“Pizza? E quanto aquele papo de só comer comida saudável?”

Brinquei ao ver duas fatias de pizza no prato que ele trouxe.

“Hoje pode. Mas o suco é de fruta...”.

“OH, que maravilha!”

Debochei antes de morder um pedaço. Em alguns minutos, já tinha devorado tudo. Bruno ficou o tempo todo me olhando fascinado como se me ver comendo fosse a coisa mais linda do mundo.

“Meu pai veio aqui, hoje...”.

Ao ver ele ali tão solicito, senti necessidade de compartilhar essa informação com ele. Gostava de conversar com Bruno, era como se reforçássemos a nossa relação.

“Sério? O que ele queria?”

“Nada demais, só me oferecer dinheiro... Mas eu recusei.”

“E?”

“E nada. Eu o mandei embora. Sei lá, não gostei do que ele disse... Foi triste.”

“Eu sinto muito, mas seu pai é um imbecil. Não sei como pode fazer isso com você. Mas ai dele se aparecer aqui de novo para te perturbar!”

Vociferou Bruno em minha defesa. Se meu pai estivesse ali veria que apesar do que pensa, existia alguém que gostava de mim e que me apoiaria.

“Tudo bem, Oh Moreno! Agora baixa a bola que eu to afim de dormir.”

“Tá, eu vou para sala... Boa noite.”

Bruno levantou-se rapidamente da cama, mas antes que chegasse a porta, eu o chamei.

“Bruno espera!”

“O que foi?”

O Moreno me olhou preocupado e aquilo me comoveu. Eu não poderia estar mais segura na minha decisão.

“Dorme aqui, comigo... Quer dizer, na cama, comigo. A barriga vai atrapalhar um pouco e eu me mexo muito durante a noite, mas pode ficar se quiser. Você quer?”

Fingi não me importar e a resposta para minha pergunta foi um grande sorriso.

“Eu adoraria.”

“Só não ronca ou juro que te coloco para fora a ponta pés!”

Brinquei quando ele deitou do meu lado. Procurei uma posição confortável, deitando de lado e sem permissão, ele me abraçou por trás.

“Eu te convidei para dormir, mas não se aproveita não tá?”

“Já eu digo que pode aproveitar o quanto quiser de mim!”

“AFF, babaca!”

“Linda!”

E amando estar nos braços dele, voltei a dormir. Apesar do dia não ter sido dos melhores, ele teve o seu lado bom.


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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

BruTinha para quem ama esse casal tanto quanto eu! Dinho indo embora, pai mala pintando no pedaço, mas ate que a Fatinha aproveitou esse dia 'cão'! Gostou? Comente! Beijos!



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