Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 54
Inevitável


Notas iniciais do capítulo

"Se as nossas linhas não fossem tão tortas, elas não teriam se cruzado."... (Autor desconhecido)



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“Não fala mais com os amigos?”

Brinquei e segurei o braço de Dinho para impedir que ele subisse as escadas do Hostel.

“Oi pra você também, Fatinha.”

Disse um pouco ríspido. Soube na hora que algo tava rolando, algo muito grave para deixar meu amigo assim.

“Vem cá, que bicho te mordeu hein?”

“Fatinha, por favor, agora não tá? Eu não to com cabeça...”.

Deixei a caixa que trazia nas mãos sobre o balcão da recepção e olhei analiticamente Adriano. Logo me veio à mente um único motivo para ele estar assim, ‘sem cabeça’: Lia.

“Aconteceu alguma coisa entre você e a Marrenta? Eu não entendo, vocês tavam tão bem.”

“Eu também não entendo, mas esse é um assunto meu. Não quero ser grosseiro, mas eu preciso ficar sozinho para pensar na minha vida. Então...”.

“Certo, sobrei aqui! Tudo bem, mas se quiser conversar pode me procurar quando quiser tá? Tchau!”

Abracei meu amigo por algum tempo. Ele resistiu no início, e a minha barriga também não facilitou muito, mas valeu a pena senti-lo perto. Depois disso, ele foi para o seu quarto. Peguei a caixa com o resto das coisas que tinha deixado no Hostel e fui para o ‘meu’ apartamento e do Bruno. Cheguei em casa e não vi sinal dele, mas o som do chuveiro ligado me fez deduzir que ele estava tomando banho.

“Cheguei em casa, mas você não tava.”

Falou saindo do banheiro com apenas uma toalha enrolada em volta da cintura. Concluí que a convivência com o Moreno ia ser mais dura do que imaginava se fosse vê-lo andar assim, apenas de toalha, pelos cômodos. Coloquei a caixa na mesa de centro e segui para a cozinha. Precisava me afastar da visão linda que era o corpo de Bruno.

“Eu fui no Hostel pegar o resto das minhas coisas.”

“Você não devia carregar peso, Fatinha! Isso não é bom pra você nem para a bebê.”

“AFF, é só uma caixa! Eu to grávida e não inválida!”

Impliquei com ele, embora no fundo me alegrasse com a sua preocupação. Nunca imaginei que o meu Brunito... Quer dizer, que o Bruno fosse se mostrar tão atencioso. Sei que é mais pela filha, mas era bom me sentir protegida.

“Tá, tá... Eu quero falar com você.”

Parei o copo de água que segurava a caminho da boca. Não sei por que, mas esse ‘eu quero falar com você’ não pareceu boa coisa.

“Sobre?”

“Minha mãe. Ela nos convidou para jantar, e, bem, pensei que a gente poderia ir lá. Mas só se você quiser, é claro.”

Marta... Estranho. Muito estranho isso. Desde quando a mãe dele se importava comigo para nos ‘convidar’ para jantar? Ou talvez ela só quisesse ficar perto do filho... Há muito tempo notei que ele e a mãe não se falam. Cheguei a pensar que Bruno a evitava, mas logo esqueci essa ideia. E agora, ela queria que nós dois fossemos a sua casa, mesmo eu tendo certeza que ela preferiria ver o ‘capeta’ do que a mim. Mas ela me considerava ‘o capeta em forma de gente’ mesmo. Então, por que não?

“Tá, eu acho que não tem problema. Espera só eu me arrumar que a gente vai.”

Bruno sorriu satisfeito e por mais que quisesse dizer algo desagradável para irrita-lo, não pude. O seu sorriso era bonito demais para me fazer pensar em bobagens. Fui para o meu quarto, já que quando alugou o apartamento, Bruno estabeleceu que dormiria na sala. Peguei um vestido branco com decote em v, chegava à altura dos joelhos, e apesar de simples, era mais que apresentável. Pelo menos, a ‘simpática’ da Marta não ia poder me acusar de ser uma esculhambada.

Tomei um banho rápido, troquei de roupa e passei um pouco de perfume no pescoço e pulsos. Não tinha ânimo para colocar maquiagem, então optei apenas por um brilho nos lábios. Peguei uma bolsa, calcei uma sapatilha e fui para a sala. Bruno estava sentado no sofá e ficou a me olhar por um bom tempo. Ficamos assim, por alguns minutos, num silêncio constrangedor. Mas a pessoa mais afetada ali, com toda certeza era eu. Olhei-o de cima abaixo, também não estava mal, usava calça jeans preta, uma camisa social azul e uma jaqueta. Definitivamente, estava lindo. Não, ele era lindo.

“Você está linda.”

“Valeu... Podemos ir?”

“Claro!”

Saímos e Bruno fechou a porta. Ele ofereceu o braço e sem nem pensar, enganchei o meu no dele. Apesar da barreira formada pelas roupas, era como se pudesse sentir o calor da sua pele e, surpreendentemente, me dei conta de que adoraria realmente poder toca-lo. Bruno exalava um cheiro bom e eu quase me inclinei para encostar a cabeça no seu ombro, mas graças há um pouco de sanidade que restava em mim, consegui me manter firme.

Por que ele tinha que ser tão ele?

“Oi, seu Bruno! Dona Fatinha...”.

Cumprimentou Severino quando passamos pela recepção do antigo prédio do Moreno nos olhando maliciosamente. Sorri um pouco vermelha.

“Desde quando eu sou ‘Dona’ para você, Seve?”

“Ah... é questão de respeito, sabe? E sem querer ser intrometido... Faz um tempo que eu queria felicitar pelo bebê. Parabéns para vocês dois.”

“Obrigado, Severino!”

Falou Bruno com aquele jeito bobo que só ele tinha quando alguém se referia à filha. Parecíamos um perfeito casal de verdade, bastante felizes com o futuro filho, mas não éramos. E eu precisava me lembrar disso. Fomos para o elevador e em poucos minutos, Bruno tocava a campanhia da casa dos pais.

“Bruno, filho! Que bom que vocês vieram!”

Exclamou Marta muito feliz, feliz ate demais, para meu gosto. Entramos no local e logo o meu ex-futuro sogro veio nos cumprimentar também.

“Cadê a Ju?”

Não tinha interesse em saber o que ela fazia, mas achei melhor arranjar algo para me distrair e parar de pensar na mãe do Moreno me olhando sentada no sofá.

“A Juliana saiu com o namorado. Esses casais jovens de hoje não se desgrudam!”

Minha língua coçou para dizer que era a filha dela que era ‘chiclete’ demais, mas não seria de bom tom. Afinal, era a casa dela, a filha dela, e eu estava ali como convidada. Sem falar, que me portar mal só daria razão a todos os pensamentos e preconceitos que ela tinha sobre mim. Estava decidido: Hoje, eu seria a pessoa mais educada daquela sala!

Chupa essa manga, Marta!

“Hum, pena...”

A noite transcorreu sem incidentes, e vez ou outra, Marta se dirigia a mim muito gentilmente. Ou ela caiu e bateu muito forte com a cabeça ou ela era a prova real de que a humanidade tinha salvação. Seja lá o que fosse, ate que estava sendo agradável... Ate ela falar o que não devia.

“Então, Fatinha... Seus pais, o que eles estão achando da sua gravidez? O primeiro neto é sempre inesquecível!”

É, era bom demais para ser verdade. Foi inevitável não pensar no meu pai e na minha mãe. Há muito tempo que não ligava mais para Dona Vilma e pela falta de interesse deles ficou claro que nada mudou e que o acontecia comigo não faria muita diferença na vida dos dois.

“Os pais da Fatinha moram longe. É natural que eles fiquem um pouco afastados, mas tenho certeza que eles devem estar muito felizes. A Fatinha é filha única, e a nossa filha é a primeira neta, sei que na primeira oportunidade, eles virão para o Rio.”

Sorri agradecida para o Moreno sentado ao meu lado. O nó que se formou na garganta dificultou a liberação de uma resposta, mas ele veio ao meu socorro.

“Entendo... Enfim, não vejo a hora dessa criança nascer! Apesar de me achar muito nova para ser avó, não poderia estar mais feliz.”

“Nisso eu tenho que concordar, vou adorar ser avô! E preparassem, pois nosso papel é estragar os nossos netos!”

Enquanto os seus pais falavam sem parar da maravilha que seria ter uma criança correndo pela casa, Bruno segurou minha mão. O olhei acusadora, mas ele não se importou e sorriu muito lindo me fazendo derreter. Engraçado, mas ele tinha dessas coisas, não ficava muito tempo longe ou sem tocar em mim, acariciar meu rosto, segurar minha mão. Claro que eu podia fazer uma cena, mas pra que né? Eu adorava cada momento.

“Acho que já deu a nossa hora. Foi bom jantar com vocês, pai... Mãe.”

Marta abraçou o filho e nós seguimos para a saída.

“Espera! Antes de vocês irem eu tenho algo para dar...”.

A mãe de Bruno foi ao quarto voltando logo depois. Tinha uma caixinha preta na mão, provavelmente um presente para o filho. Qual não foi a minha surpresa quando ela estendeu a caixa para mim? Fiquei sem reação com o gesto e apenas olhei tentando entender que droga era aquilo.

“Pode pegar, Fatinha! Não é nenhum bicho... É um presente, na verdade. Pra você e para minha neta.”

Peguei a caixa da mão dela e abri. Dentro havia duas pulseiras. Uma maior que a outra, acho que era de ouro, com três pingentes: um coração, uma cruz e um pássaro.

“Era do Bruno e minha. É um par, para mãe e para o bebê. E agora é sua e da minha neta.”

“Eu não posso aceitar, sério, eu não...”.

“Por favor, Fatinha. É um presente, eu quero que fique com você. Sei que é estranho esse gesto meu, mas bem... Pensemos nisso como uma forma de recomeçar. Eu quero ter uma boa relação com você, e se você faz meu filho feliz me faz feliz também. Eu amo o Bruno e sei que não existe ninguém que mereça mais essas pulseiras do que você.”

Não tive como dizer não.

“Obrigada.”

Depois de nos despedimos, Bruno e eu voltamos para casa no mais completo silêncio. Estava bastante confusa com a atitude da Marta, surpresa positivamente, para dizer a verdade. Fiquei um bom tempo olhando para as pulseiras, já no abrigo do quarto, ate que desisti de tentar entender. Bruno dormia na sala, e como sempre acontecia, quis que ele estivesse ali. Sem conseguir dormir, fui ate a cozinha e peguei sorvete de morango para tomar.

“Por que ainda tá acordada?”

Perguntou o Moreno surgindo por trás de mim e quase me matando de susto.

“Eita, tá planejando me matar do coração é?”

“Desculpa, não foi minha intenção...”.

Suspirei e fechei os olhos para tirar da mente a visão dele vestindo apenas a calça do pijama.

“Acho que a culpa foi minha também... Eu vim pegar sorvete, mas já to indo pro quarto.”

“Sorvete? Há essa hora?”

Bruno me olhou com aquele ar de ‘dono da razão’ que só ele tinha. Minha paciência que não é lá essas coisas foi pelos ares.

“Culpe a sua filha! Foi ela que me viciou nesse negócio! Acha que é fácil se sentir uma baleia? Meus dedos parecem salsichas de tão inchados! Meu humor nunca é normal, eu choro por bobagem, dou risada das coisas mais estúpidas! Experimenta ficar grávida pra você ver como é bom ter milhões de reações acontecendo ao mesmo tempo no seu corpo! E droga, é só sorvete!”

“Devagar aí! – Ele levantou as mãos em sinal de derrota – Eu não quis te repreender, só acho que é um pouco tarde, se quiser algo para comer eu posso preparar. E você não está uma baleia, você está grávida e linda.”

“Tô?”

Perguntei insegura. Droga, era impressionante como meu humor mudava de uma hora para outra. Num momento, eu inicio uma briga e no outro só falto pedir colo para ele. Bruno se aproximou de mim e encostou a sua testa na minha.

“Não. Você é.”

Seus lábios tocaram os meus num beijo calmo, sem exigências, mas tão instigante quanto um dos mais apaixonados.

“Hum... Morango, meu preferido!”

“Para de ser babaca!”

Soquei-lhe o peito de leve. Ele voltou a me beijar, mas me afastei.

“Vai com calma, Moreno! Lembra-se do que você disse: Somos amigos! E amigos não ficam se pegando na cozinha durante a madrugada.”

“E amigos nem tem filhos juntos, mas a gente bem que foi capaz!”

Ele riu e não pude conter o riso, ri junto.

“Falando sério agora, eu sei que você tem todos os motivos para se sentir insegura comigo, mas eu juro, juro que não quero te magoar. Eu te amo Fatinha...”

“Bruno...”

Tentei impedir que ele continuasse, mas ele estava decidido a me fazer escutá-lo.

“Espera, me deixa terminar. Eu te amo e tenho noção do quanto te fiz sofrer, por isso não to pedindo nada. Só queria ter uma chance para provar que eu posso te fazer feliz, você e essa pequena que daqui a pouco vai nascer para alegrar ainda mais a nossa vida.”

“Eu não sei... Sinceramente, eu não sei. Com você eu nunca estou certa de nada, do que você sente. Acredita que cheguei a duvidar que estivesse feliz com o fato do bebê ser uma menina?”

“O QUÊ?!”

Exclamou Bruno. Mas ele não estava com raiva, acho que a palavra que define seu estado era surpresa.

“Bem, eu... Ah, eu pensei que você fosse querer um menino. Todo homem quer um menino, por que seria diferente com você?”

Falando agora vi que esse pensamento não poderia ser mais estúpido. O bruno apesar de ser machista, nunca se ressentiria de ter uma filha, pelo contrário. A prova disso é como ele gosta da irmã e da azeda... Digo, da querida Marta.

“Eu não sou igual a todos os homens! E para a sua informação, desde o inicio, eu torcia para que fosse uma menina.”

“Serio? Por quê?”

“Para poder amar uma miniatura de você.”

Minhas emoções que já estavam inconstantes entraram em estado de ebulição. Pô, como é que ele dizia uma coisa dessas, assim, sem nem avisar? Lágrimas escorreram pelo rosto, mas eram lágrimas de felicidade.

“Não quero que você chore, Fatinha. Nunca mais – Bruno passou as mãos pelo meu rosto para enxugar as lágrimas – Agora é melhor você voltar para o quarto. Boa noite.”

Como um autômato, segui para o quarto e me joguei na cama. Hoje certamente, foi um dia para entrar na história. Primeiro a Marta, agora o Bruno e todas as coisas que ele disse. Há tanto tempo esperei por isso que nem sabia como reagir. Claro que eu estava feliz, mas devia esperar o tempo dizer se ficar com o Bruno era o melhor. Embora meu coração já gritasse que a resposta era sim, vou dar tempo ao tempo. Embora, soubesse que ficarmos juntos seria inevitável.


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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

Olá! E olha eu de novo aqui... Hum, para quem tava com saudades de BruTinha, tá aí um capítulo fofinho pra vocês. Quem diria que a Marta tinha concerto, né? Sem falar que esse Bruno pra lá de carinhoso é demais pro meu coração. Ate esqueço do quanto ele já foi babaca... Gostou? Comente! Beijos!



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