Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 49
Mal presságio


Notas iniciais do capítulo

"O ódio tem melhor memória que o amor."... (Honoré de Balzac)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/329760/chapter/49

“Lia... Isso é verdade?”

Vitor parecia atordoado com tudo o que Dinho disse e por mais que quisesse poupa-lo, nada poderia fazer diante das evidencias. Seus olhos buscaram os meus, aflitos, e por instante, me coloquei em seu lugar. Não seria fácil dizer tudo o que tinha para falar, mas era inevitável.

“É, Vitor. Eu sinto muito, sinto mesmo, mas é tudo verdade. O Sal, bem, ele me machucou e tentou fazer o mesmo hoje, mas o Dinho chegou antes disso.”

“Não acredita neles, Vitor! Estão todos mentindo. Querem te colocar contra mim, irmão! Querem separar a gente e inventaram toda essa história. Você tem que confiar em mim!”

“Mas é muito cara de pau!”

Gritou Fatinha que foi contida por Bruno.

“Eu, eu... – Vitor olhou para o irmão – Sal, eu não sei o que dizer! Como isso tudo pôde acontecer? Que droga você fez dessa vez?”

Descrença acentuava o azul dos olhos de Vitor. Pela primeira vez, ele via a imagem criada para enaltecer o irmão se rachar.

“Eu não vou ficar aqui sendo acusado de nada! Vitor, eu pensei que a gente fosse irmão, mas você não acredita em mim. Prefere dar ouvidos a eles do que a pessoa que sempre esteve ao teu lado! Pra mim chega!”

“Chega coisa nenhuma! Isso ainda não acabou!”

Mas ignorando os protestos de Dinho, Salvador andou rapidamente ate desaparecer das nossas vistas. Segurei a respiração ao ver meu namorado segui-lo, mas logo ele foi detido por Bruno.

“Dinho, brigar com ele não vai resolver nada! Você tem que deixar tudo nas mãos da policia, agora é com eles.”

O Moreno conteve Dinho que desistiu de ir atrás de Sal, mas o brilho do seu olhar não escondia a raiva que sentia. Bruno tinha razão, Sal era um problema da policia e era a justiça que o faria pagar.

“Acho melhor a gente entrar. Vão dar por nossa falta e se souberem do que aconteceu aqui, podem ter certeza que o problema será ainda maior.”

Pronunciou-se Fatinha segurando a mão de Dinho que ainda olhava para o ponto onde Sal desapareceu. Ele pareceu não escutá-la, como se estivesse a quilômetros dali, mas um puxão na sua mão o fez recobrar os sentidos. Respirei aliviada e fui ate ele.

“Desculpe.”

Não sei por que me desculpei, mas senti a necessidade de fazê-lo. De alguma forma, acreditava ser responsável por tê-lo envolvido nessa confusão.

“Fatinha tem razão, não podemos continuar aqui. Mas eu não vou para festa, nesse exato momento, vou prestar queixa contra aquele marginal.”

A determinação emanava de todo o corpo de Adriano. Ele não blefou quando disse que faria Sal ser punido, e vê-lo assim fez eu me sentir um pouco temerosa. Não havia motivos para isso, mas foi algo mais forte que eu.

“Espera! Por favor, vocês não podem fazer isso!”

Desesperou-se Vitor. Estava tão preocupada com meu namorado que me esqueci que ele ainda estava ali. Foi com ar suplicante que ele dirigiu-se a mim.

“Lia, por favor, me escuta!”

“Escutar? Não há nada para escutar ou ser dito! NADA! Não importa o que você pense ou faça, seu irmão não vai ficar impune.”

Disparou Dinho rispidamente contra Vitor.

“Lia, só um minuto. Por favor, você me deve isso.”

Quis jogar na cara de Vitor que não lhe devia nada, mas por algum motivo muito estranho, não o disse. Ele parecia tão desamparado, sozinho, simplesmente, não pude ignorar a dor que via no seu semblante. Ele era quem mais sofria ali, e apesar do seu irmão, não tinha culpa do que me aconteceu.

“Vitor, eu não...”.

“Lia, eu te imploro!”

“Tá... Eu, só um minuto.”

Ele conseguiu me desarmar, alem do que, uma conversa não poderia ser tão má assim. Entretanto, Adriano não pensava como eu.

“Sério, Lia? Vai mesmo fazer isso?”

“Dinho, por favor, procura me entender...”.

“Não. Não há nada para entender. Faça como quiser!”

Ele saiu em disparada a caminho do Hostel. Fatinha o seguiu, mas não antes de me lançar um olhar acusador. Eu estava errada, eu sabia, mas não queria admitir.

“Bem, acho melhor eu ir também.”

Falou Bruno que diferente de Fatinha me olhou compreensivo. Assim ficamos somente Vitor e eu.

“Obrigado, Lia! Eu...”.

“Não me agradeça ainda. Se decidi te ouvir foi apenas por amizade a você, mas isso não significa que vá rever minhas ações contra seu irmão.”

Ele suspirou pesadamente os ombros caindo em sinal de cansaço

“Eu sei... Bem, não vou negar que foi uma surpresa imensa o que eu descobri essa noite. Há algum tempo que eu já vinha reparando no jeito do Sal, as suas atitudes, mas confesso que nunca pensei que ele chegaria a esse ponto. Agredir você, machucar uma pessoa, eu não sei o que dizer para me desculpar.”

“Você não tem que dizer nada, Vitor. Foi ele e não você que me feriu, já tá na hora de você aprender que não é responsável pelos maus feitos de Sal.”.

“É, pode ser... Mas ele ainda é meu irmão e eu o amo. Eu sei que parece egoísta o que eu vou te pedir, mas, por favor, tenta ver o meu lado. Eu não posso permitir que meu irmão vá preso.”

“Lamento, mas o que ele fez não pode ficar por isso mesmo. Essa não foi a primeira vez, eu não posso correr o risco de deixa-lo livre e isso se repetir. Sinto muito, mas não dá.”

Um silêncio pesado se instalou entre nós dois, porém o que me afligia era a reação que Dinho teve diante da minha decisão de escutar Vitor. Ele deveria estar furioso comigo. Ao pensar nisso, minha garganta se fechou e mal pude respirar ao imaginar seu rosto decepcionado.

“Eu não tenho o direito de te pedir, mas, te imploro... – Vitor passou a mão desajeitada pelos cabelos – Meu pai, ele tá doente ainda. Eu te disse, nós pensamos que não era nada sério, mas o médico diagnosticou um problema numa das válvulas do coração. Você não tem nada a ver com isso, mas tenho que dizer que se ele souber que o Sal pode ser preso não sei se ele resistiria. Sem falar da minha mãe. É a minha família, Lia. As pessoas que eu amo, assim como amo você...”

“Não faz isso, Vitor!”

“Deixa eu terminar... É um momento delicado, eu tenho que protegê-los. Eu te juro que o Sal não vai ser um problema. Amanhã mesmo eu vou manda-lo para Brasília e nunca mais você vai ter que se preocupar com ele. O meu irmão sabe que corre risco aqui e não vai querer pagar para ver. Eu te peço, não denuncia ele para policia. Eu te peço, por tudo o que nós vivemos, não destrói minha família.”

Família... Minha cabeça rodava com tantas informações. Se por um lado eu tinha o grande desejo de entregar Sal, por outro me doía saber que o pai dele estava doente. O Vitor não era uma má pessoa, estava tentando cuidar da família, talvez eu não tivesse que ir tão longe.

“Sinceramente, eu não sei se isso é uma boa ideia.”

“Por mim, Lia! Se não pela minha família, por mim! Eu nunca te pedi nada e juro que nunca mais pedirei. Só isso, por favor!”

Eu não parei para pensar no que fazia, pois se o fizesse teria negado o pedido de Vitor. Mas era tarde, e eu já acenava afirmativamente com a cabeça para alicio de Vitor. As palavras me custariam muito, e aquele gesto foi tudo o que consegui fazer naquele momento. Ele sorriu agradecido, mas eu não sorri de volta. Sentia um peso na consciência e no coração, e por algum motivo, sabia que tinha feito a maior burrada da minha vida. Mas era o Vitor ali, o cara que fez tanto por mim e, como ele mesmo disse, nunca me pediu nada em troca. Era justo que eu retribuísse de alguma forma, embora essa não fosse a ideal.

“Obrigado!”

“Eu não quero agradecimentos, Vitor. Eu não vou fazer nada contra seu irmão contanto que você cumpra com o que disse. O Sal tem que ir embora amanhã, nenhum dia a mais. Se eu o vir por aqui de novo, esqueço o que te prometi e vou direto para a policia.”

Saí de perto da companhia do meu ex sem olhar para ele. Lá em cima havia uma festa em comemoração ao meu aniversário, e embora devesse uma explicação para os convidados, não era neles em que pensava enquanto caminhava ate o Hostel. Festa, pessoas, presentes... Nada importava. Só Dinho e o que ele acharia da minha decisão. Talvez me odiasse pelo que havia prometido, mas não voltaria atrás na minha palavra, por mais doloroso que fosse.

Já no Hostel, não vi ninguém na recepção, apenas vozes vindas da direção do quarto de Fatinha. Subi a escada e fui para o quarto de Dinho que estava com a porta entreaberta. Entrei sem me anunciar. O vi sentado na cama, o rosto ainda manchado por sangue, fitando o chão.

“Eu já disse que quero ficar sozinho, Fatinha.”

Falou ao ouvir eu me aproximar.

“Sou eu, Dinho.”

“Lia... – Ele levantou a cabeça e olhou para mim – O que tá fazendo aqui?

Sua voz era neutra, mas senti o impacto das palavras. Ele estava decepcionado comigo.

“Dinho, eu... Bom, eu preciso te falar sobre a minha conversa com o Vitor. Ele me pediu para não fazer nada contra o Sal e...”

Desviei o meu olhar dele, culpada.

“Não precisa continuar. Pela sua cara já posso imaginar que ele te convenceu, né? Aquele imbecil te convenceu a deixar o bandido do irmão livre.”

“Por favor, Dinho... Não faz assim. Não é o que eu queria, se pudesse...”.

“Você pode! É só fazer a escolha certa. O Vitor não tem o direito de te pedir uma coisa dessas, Lia. Ele não tem.”

Interrompeu-me Dinho. Deus, como explicar que essa situação é mais complicada do que se imagina?

“Quer saber de uma coisa, Lia? A vida é sua e você faz dela o que quiser. Só não me peça para concordar com isso. Não há mais o que falar, então... Eu quero ficar sozinho.”

Ele estava me afastando propositadamente. Dentro de mim queimou um sentimento mais forte que a tristeza, queimou a raiva por ele me mandar embora.

“SEU IDIOTA!”

“Me agredir não vai nos levar a lugar algum, Lia.”

Disse ele indiferente levantando-se da cama. Quis muito socar-lhe o rosto, bater com a sua cabeça contra a parede só para fazê-lo reagir, porém meu corpo encontrava-se numa completa letargia. Tudo o que me restou foi chorar.

“Droga, por que não me entende? Eu só quero que isso acabe! Eu quero que o Sal desapareça das nossas vidas, Dinho. Não quero ter que andar na rua com medo de encontrá-lo ou de que ele faça algo contra minha família, meus amigos... Você. Eu só quero paz. Eu não to fazendo isso para te contrariar! O pai do Vitor tá doente, ele me pediu, disse que o Sal vai embora... Eu não soube o que fazer, eu só quero que essa angústia que eu sinto acabe, Dinho. Eu só quero que acabe...”

Com a visão turvada pelas lágrimas que escorriam sem controle pelo rosto, caminhei ate a saída. Queria ir para bem longe dele, das pessoas e de tudo o que me lembrasse Sal. Encontraria um lugar calmo e solitário onde pudesse derramar todas as minhas lágrimas sem ser condenada por desejar ter um pouco de paz.

Antes de passar pela porta, fui agarrada pelo braço. Dinho me puxou em sua direção, e sem forças, chorei contra o seu peito molhando toda a sua camisa. Meu corpo tremia pelos soluços e nem sei por quanto tempo ficamos assim, em silêncio, abraçados.

“Desculpa, eu não... Desculpa. As coisas não deveriam ser assim, é tudo culpa minha. Desculpe.”

“Shhh... Tá tudo bem. Me desculpe, você. Eu que sou um idiota e não pensei em tudo o que você passou hoje, e fico aqui querendo ser o dono da verdade. O problema é que eu tenho medo, Lia. Medo de que ao me omitir, permita que esse canalha faça algo contra você. Eu nunca me perdoaria se algo te acontecesse.”

Apertei meus braços em volta dele, com força.

“Ai!”

Olhei confusa para Dinho que sorriu desgostoso.

“Ele ficou bem pior do que eu.”

Brincou para descontrair. A verdade é que não tinha me dado contra da gravidade dos ferimentos dele. Obriguei Adriano a sentar na cama e fui ao banheiro onde encontrei álcool e algodão. Retornei ao quarto, e com cuidado comecei a limpar os ferimentos do rosto de Dinho. Mais lágrimas rolaram por meu rosto enquanto executava essa tarefa.

“Pode fazer o favor de parar de chorar? Eu to bem.”

“Desculpa, é que...”.

“Dá para parar de pedir desculpas também? Não to te reconhecendo! A minha Lia estaria brigando comigo e não chorando desconsoladamente.”

Ele sorriu e me puxou para o seu colo.

“Idiota.”

“Assim é bem melhor. – Dinho beijou meu rosto molhado – Hoje é o seu aniversário, não pode passá-lo se afogando em lágrimas. Falando nisso... O que todo mundo vai pensar do seu sumiço?”

“Não sei e nem me importa. Eu tava mais preocupada com você. Qualquer coisa, a Ju arranja uma desculpa. Não to a fim de voltar para lá e fingir alegria, quero ficar aqui... quietinha com você. Pode ser?”

“Claro que pode.”

Beijei Dinho nos lábios suspirando feliz. Deitamos na cama e ele me abraçou levando meu corpo de encontro ao dele. Ficamos assim, calados, ouvindo o silêncio quebrado pelo som das nossas respirações. Lentamente, dormi para acordar muito tempo depois.

“Dinho?”

Sentei na cama, minha visão se adaptando a escuridão do quarto. Ele estava parado próximo à janela. A chuva que ameaçava cair mais cedo, finalmente, aconteceu como um mal presságio.

“O que tá fazendo parado aí?”

“Nada importante.”

Ele caminhou de volta a cama e deitou-se ao meu lado.

“Liguei para seu pai e disse que você ia passar a noite comigo. Ele não ficou muito contente, mas pelo menos não veio aqui te arrancar das minhas garras.”

“Esqueci completamente de avisar minha família... Obrigada.”

Dei um selinho calmo nos seus lábios.

“Agora dorme Marrentinha. A noite foi longa demais...”.

A noite foi mais que longa, mas nada adiantaria ficar remoendo o que passou. O que nos restava, agora, era seguir com nossas vidas, da melhor maneira possível. Não imaginei que noite do meu aniversário iria acabar assim, mas pelo menos, ele estaria fora das nossas vidas. Só espero não me arrepender da escolha que fiz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

É, pelo visto não foi dessa vez que Sal vai se ferrar. Esse Vitor também, sempre arrumando um jeito de proteger o irmão. O problema é qual será a consquência disso... Lia, espero que você não se arrependa. Gostou? Comente! Beijos pessoinhas! :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Para Sempre Lidinho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.