Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 48
Surpresa desagradável


Notas iniciais do capítulo

"O ódio, tal como o amor, alimenta-se com as menores coisas, tudo lhe cai bem. Assim como a pessoa amada não pode fazer nenhum mal, a pessoa odiada não pode fazer nenhum bem."... (Honoré de Balzac)



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“SURPRESA!”

Gritaram em uníssono varias pessoas na sala de Marcela ao me verem passar pela porta. Ao que parecia, o telefonema de Gil me pedindo para ir ate sua casa nada mais era do que uma desculpa para me prepararem uma festa surpresa.

“Parabéns, amiga!”

Falou Juliana ao me abraçar. Aposto como ela foi uma dos idealizadores dessa festa, mesmo eu tendo dito que não tava a fim de comemorar.

“Você sabia sobre isso, né? Valeu, Ju!”

“Ah, para de drama e vem ver todo o pessoal que veio te desejar feliz aniversário. Foi tudo de ultima hora, mas com a ajuda da Marcela e do meu namorado, ficou perfeito.”

Logo fui interceptada por uma imensidão de felicitações e abraços. Praticamente, todas as pessoas que conhecia estavam lá: Ju, Gil, Fatinha, Bruno, minha família, ate mesmo a pirralha da Tatá deu o ar da graça. Só havia uma pessoa que eu não vi lá: Dinho.

Após cumprimentar todo mundo, puxei Juliana para um canto afastado.

“Ju, eu disse que não queria festa...”.

“Pode parar dona Lia Martins! Não é todo dia que se faz 18 anos de vida, eu não podia simplesmente ignorar esse fato.”

“Concordo plenamente!”

Marcela se aproximou de nós e me deu um abraço caloroso. Ao seu lado estava o Doutor Lorenzo, meu pai, com quem, ultimamente, não tinha uma relação muito amigável.

“Oi, pai!”

“Parabéns, Lia. Espero que a idade te traga juízo também.”

“Ai, Lorenzo para de ser chato! Hoje é dia de comemoração, então trate de ser menos pai e se divertir um pouco. A sua filha não merece ser repreendida no próprio aniversário.”

Sorri grata para Marcela. Era mais que nítido que aqueles dois se amavam e saber que ela fazia meu pai feliz era o suficiente para recebê-la de bom grado na nossa família. O Doutor Lorenzo merecia alguém que o amasse na mesma medida que ele e que não largaria tudo por uma ideia utópica como fez Raquel.

Pensar na minha mãe me fez lembrar os motivos pelos quais eu não gostava de datas comemorativas: aniversários, natais, dia das mães... Em nenhum desses momentos ela esteve presente. Claro, como poderia se estava em algum ponto do mundo socorrendo pessoas que precisavam mais dela do que a sua família? A Raquel fez uma escolha, ela decidiu viver para o mundo, e qualquer coisa que não fosse isso, não tinha importância.

“Nossa que anel lindo, Marcela!”

Falou Ju me trazendo a realidade. Não me dei conta que havia permitido que os pensamentos fossem em direção da pessoa que menos pensava em mim. Olhei para a mão direita da mulher Loira e vi um lindo anel cravejado com pequenos diamantes.

“É... Sei que esse pode não parecer um bom momento, mas eu preciso dizer. Não, eu preciso gritar: O Lorenzo me pediu em casamento!”

“Isso é maravilhoso!”

Exclamou Ju animada. Olhei para meu pai que apesar de estar um pouco envergonhado, assentiu afirmativamente. Fiz o que há muito tempo não tinha coragem de fazer: Abracei o meu pai, em seguida, fiz o mesmo com a minha futura madrasta.

Assim que o casal de noivos se afastou, me voltei para Ju para perguntar pelo meu namorado.

“Ju, porque o Dinho não tá aqui?”

“Ah, ele foi buscar o bolo, mas daqui a pouco ele chega. Nossa, que grude hein? E eu que pensei que a senhorita não era dessas coisas!”

Juliana sorriu ao me deixar e ir em busca do próprio namorado. Passei por entre as pessoas e fui conversar com uma loira grávida que estava sozinha num canto.

“E aí?”

“Oi, pra você também Marrenta!”

“Cadê o Moreno?”

Me encostei na parede enquanto observava meus amigos dançarem.

“E eu que sei?”

Disparou ríspida, mas não me importei.

“Pensei que vocês fossem amigos, agora.”

“Amigos! Amigos! Sério, se alguém me disser que eu sou ‘amiga’ do Bruno eu sou capaz de jogar essa pessoa pela janela!”

“Calma aí, mamãe! Acho que ‘Cê’ tá precisando tomar um pouco de ar. Vamos lá fora um pouco?”

Fatinha me seguiu, e sem que os convidados percebessem, escapamos da barulhenta festa. Foi com alivio que respirei o ar frio da noite ao chegar à saída. Caminhamos lado a lado ate a pracinha e nos sentamos no balanço. No céu, as estrelas estavam encobertas por nuvens que indicavam que choveria em breve.

“Então, por que todo esse mau humor?”

Perguntei começando a me movimentar no balanço.

“É menina.”

“O que?”

Falei confusa. Fatinha mirou um ponto qualquer e suspirou.

“O bebê... É uma menina.”

“E você não queria que fosse?”

“Não. Quer dizer, não sei... Só acho que a vida é mais simples para os meninos.”

“E o Bruno já sabe? O que ele disse?”

Fatinha suspirou ainda mais forte tentando conter as lágrimas. Apiedei-me da Loira, por quem, agora, cultivava um grande carinho.

“Nada. Ele não disse nada e é isso que tá acabando comigo. Não sei se ele ficou feliz ou se tem medo que ela seja uma doida que nem eu. Sei que ele mudou, que é outro cara, mas velhos hábitos não desaparecem tão facilmente. E se ela for igual a mim Lia?”

Senti vontade de socar a cara do Bruno ao ouvir a voz chorosa de Fatinha. Nenhuma mãe deveria ter medo que a filha fosse igual a si, mas ela tinha. Tinha receio que a bebê fosse tão ‘Fatinha’ que seu pai não a entendesse, assim como, o pai da loira não foi capaz de aceitá-la.

Mas aquele Moreno que me aguarde!

“Não tem motivos para você pensar assim, Fatinha! Se o Bruno não gostar, o que eu duvido, azar o dele! É ele quem vai perder! E pode ficar certa que se isso acontecer, eu terei o imenso prazer em passar com o carro do Dinho por cima dele!”

Consegui arrancar umas risadas da jovem grávida.

“Falando no idiota cadê ele?”

“Foi buscar meu bolo, mas ainda não chegou. Anda, vamos voltar antes que comece a chover.”

Andamos de volta para o sobrado, mas antes que pudéssemos entrar, a ultima pessoa que eu desejava ver nesse mundo apareceu.

“Ora, ora! Mas o que temos aqui: Uma Marrenta e uma Periguete juntas! Acho que hoje é meu dia de sorte!”

Debochou Sal enquanto eu paralisava de medo. Fatinha diferente de mim manteve-se calma, e sorriu para o ‘lobo em pele de cordeiro’.

“Acho que não, Sal. A gente tem uma festa pra animar, sabe? Se quiser companhia, melhor procurar em outro lugar.”

Salvador não deu valor às palavras de Fatinha e continuou a me fitar intensamente. Minhas pernas fraquejaram enquanto eu tentava, a todo custo, esconder o pavor que a sua presença me causava. Desde o dia em que ele me agrediu que não o vejo, mais por esforço de Dinho, e acredito que ele também não tenha quisto se arriscar a cometer um novo ataque. Mas ao que parece, Sal decidiu se mostrar mais uma vez. E se ele quisesse continuar o que deixou pendente aquele dia, dificilmente eu ou Fatinha poderíamos fazer alguma coisa contra ele.

“Festa? Hum, interessante. Quer dizer que as gatas dão uma festinha e nem convidam o amigo para curtir com elas? Que coisa mais feia, Lia. Logo você que, de todas, sempre foi a minha cunhadinha preferida!”

“Como você pode ser tão cínico Sal?”

Falei por impulso, pois se tivesse raciocinado bem teria medido cada palavra. Mas a capacidade dele de mentir, de fingir ser o que não era, pior, me cobrar qualquer tipo de gesto depois de ter tentado me matar era demais para eu suportar. Sal era um maldito com quem tinha pesadelos terríveis e só o fato de respirar o mesmo ar que ele me enojava.

“Que isso, Roqueira? Você já foi mais carinhosa comigo. Aposto que tá ‘bravinha’ assim porque o Vitor te mandou pra escanteio! Mas pelo que eu andei vendo, você arranjou consolo rapidinho, né? Se não me engano, é Adriano o nome dele. Sabe, tenho que confessar que não gostei nada, nada disso.”

Salvador se aproximou lentamente de mim.

“Qual é Sal? Desde quando a Lia tem que te prestar contas da vida dela?”

Brincou Fatinha me olhando receosa. O rapaz simplesmente a ignorou e pegou no meu braço.

“Acreditou mesmo que ia conseguir fugir de mim? Pensou que seria tão fácil assim?”

O hálito quente atingiu a pele do meu rosto. Estava acontecendo tudo de novo, o calor do corpo dele reavivando as lembranças daquele dia no qual senti que iria morrer. Não conseguia reagir, por mais que tentasse ou quisesse meus músculos não respondiam ao comando do meu cérebro. Era como se visse aquela cena de fora, observasse ele se aproximar, mas não tivesse a força necessária para repeli-lo.

“Deixa disso! A gente tem que ir agora. Vamos Lia!”

Fatinha puxou minha mão, mas Sal não permitiu que eu a seguisse. Num rápido movimento, empurrou a Loira que cambaleou, mas por sorte, não caiu no chão.

“Não se mete nisso, vadia! Vai procurar um macho que dê conta de você. Mas pelo visto, ninguém vai te querer assim. Nunca pensei que fosse tão burra ao ponto de deixa-se engravidar, Facinha.”

“ME SOLTA!”

Gritei em desespero, mas em nada meu pedido abalou o meu agressor. Fatinha me olhava numa mistura de medo e fúria, mas também não podia fazer nada contra ele. Sal era homem e mais forte do que nós, sem falar que ele não pensaria duas vezes em feri-la, e consequentemente, ferir o bebê.

“Nada disso! Você vem comigo, nós temos muito que conversar e aproveitar também.”

“Solta ela ou eu juro...”.

“Jura o que?”

Ele me soltou e avançou em direção a Fatinha. Estava completamente descontrolado e temendo o que faria a ela, me pus entre os dois.

“Vai embora! Sai daqui ou eu chamo a policia!”

“Sabe o que eu faço com pessoas que me ameaçam, Lia?”

O maluco agarrou novamente meu braço e o torceu contra minhas costas. A dor causada pelo ato foi lancinante e por pouco ele não o quebrou. Queria manter-me forte, mas inadvertidamente lágrimas rolaram por meu rosto. Não suportava tê-lo tão perto, me sentia suja com o seu toque e pedia mais que tudo para que ele desaparecesse como nos pesadelos que eu tinha.

“ME SOLTA! Socorro!”

Como se atendendo ao meu pedido, um carro prata parou na rua ‘cantando’ pneus. Imediatamente, a porta se abriu e de dentro saiu Dinho que a passos largos chegou onde estávamos. Quase corri ate ele, mas Sal ainda me mantinha presa a ele. O psicopata olhou desconfiado para Adriano que avançou contra ele e o agarrou pela gola da camisa.

“SOLTA ELA!”

Vociferou Dinho me dando a oportunidade para livrar-me de Sal. Meu braço estava dolorido e com marcas vermelhas formadas pelos dedos dele. Fui para perto de Fatinha e vi que apesar do que aconteceu ela estava bem.

“Qual é cara? Isso foi só uma brincadeira!”

“Experimente encostar um dedo nela de novo e eu te mostro o que é brincar de verdade!”

“Ate parece que você pode alguma coisa contra mim, moleque! Acha mesmo que essa vagabundazinha vale todo esse esforço?”

Sal sorriu zombeteiro olhando para mim, mas ao invés de uma resposta foi um soco que ele recebeu. O golpe o fez andar alguns passos para trás, a mascara de fingimento esquecida dando lugar a uma expressão insana.

“Você vai pagar por isso!”

Sangue escorria de sua boca. E foi como um louco que ele partiu para cima de Dinho e lhe socou o rosto.

“Vai pedir ajuda, Fatinha.”

Foi tudo o que tive tempo de dizer antes que visse Adriano e Salvador começarem a brigar.

“DINHO!”

Gritei em desespero. Fatinha subiu as escadas enquanto eu permaneci parada, mortificada, assistindo a tudo o que acontecia. Os dois trocavam socos, chutes e eu não sabia o que fazer.

“Eu vou matar você, seu idiota!”

Falou Sal ao ser derrubado no chão. Dinho avançou sobre ele e novamente trocaram golpes.

Para meu alivio, em poucos minutos, que mais pareceram uma eternidade, Fatinha apareceu com Bruno que tratou logo de puxar Dinho de cima de Sal.

“Me solta, Bruno! – Gritou Dinho tentando se desvencilhar do moreno – Ele machucou a Lia!”

“Cara, ele não vale a pena! Esfria essa cabeça!”

Sal permaneceu no chão rindo descarado da fúria do meu namorado.

“Deixa ele, Moreno! Quero ver do que esse idiota é capaz!”

“Para Dinho, para!”

Corri ate ele e o abracei. Encostei a cabeça contra seu peito e pude ouvir seu coração bater rápido. Meu corpo tremia e eu dizia coisas inteligíveis, a voz abafada pelas lágrimas, mas surtiram efeito e logo Dinho começou a se acalmar. Olhei para seu rosto e vi um corte na parte superior do olho esquerdo, sangue escorria da sua boca e nariz, a visão do seu estado só me fazendo chorar ainda mais.

Os ânimos exaltados foram contornados, e por mais que sorte, mas ninguém percebeu o que acontecia na entrada do sobrado. O clima tenso era palpável e ao ver outra pessoa se aproximar, soube que a briga estava longe de ter um fim.

“Sal? O que vocês fizeram com meu irmão?!”

Indignou-se o rapaz de olhos azuis ajoelhando-se ao lado do mau caráter para ajuda-lo a se levantar. Por pouco não deixei a histeria tomar conta de mim e gritei o quanto ele estava enganado, que a pessoa a fazer mal ali havia sido Salvador.

“Vitor, o namorado da sua ex me atacou! Acredita? Por puro ciúmes!”

Sal fez expressão de inocência e se eu não soubesse o ser odioso que ele era, teria dificuldades para dizer se mentia ou dizia a verdade.

“Eu deveria é quebrar a sua cara, seu marginal!”

“Primeiro, você vai ter que passar por mim antes de encostar no meu irmão, tá me ouvindo?”

“Vai ser um prazer para mim! Mas eu na vou precisar. Prefiro que a policia lide com o seu ‘maninho’. Ele vai para onde deveria estar há muito tempo: NA CADEIA!”

“Policia?”

O rosto de Sal empalideceu e vislumbrei, se é que era possível, um brilho de medo nos seus olhos. Se ele não fosse quem era, sentiria pena, mas não sentia nada em relação a ele, exceto desprezo. Ao contrário de Vitor, que inocente em toda essa situação, não fazia ideia do que seu irmão era capaz de fazer. Aos olhos do meu ex, o irmão era um herói, isento de defeitos, mas era só aparência e condoia-me pelo sofrimento que ele teria quando, por fim, descobrisse a verdade.

“Do que você está falando?”

Indagou Vitor olhando atentamente Dinho. Eu estava ao seu lado, e próximo a nós, estavam Fatinha e Bruno que permaneciam calados.

“Eu falo do que seu irmão fez a Lia. Demorou, demorou muito, mas finalmente eu vou fazer o que você não teve coragem: Vou entregá-lo a justiça! Ele vai ter que pagar por tudo o que fez a Lia, a Luana e quem sabe tantas outras.”

“E o que você vai dizer? Não tem provas contra mim!”

“Quem disse? Você se acha muito esperto, mas errou ao machucar quem eu amo. Nunca deveria ter cruzado o caminho dela... Sabia que a oficina que seu irmão trabalha tem câmeras de segurança? – Dinho fez uma pausa proposital – Essas mesmas câmeras gravaram tudo o que aconteceu no dia que você atacou a Lia. Foi um pouco complicado obter as imagens, o dono, Axel? Ele Não sabia do que se tratava e também não queria prejudicar o Vitor, mas com as palavras certas ele me deu acesso às provas do seu crime.”

“Você tá blefando! Eu não fiz nada, foi ela quem se desequilibrou! E se essas imagens existem porque não as entregou antes?”

Sal tentou jogar com as palavras de Dinho, mas ele estava impassível.

“Simples: o flagrante havia passado e, dificilmente, você seria preso imediatamente. Mas hoje você fez o mesmo, na frente de testemunhas, e tenho certeza de que com a ajuda de um bom advogado e as imagens você não vai escapar dessa! E se for necessário peço a Luana que deponha contra você. Quantos crimes não, Sal? Agressão, ameaça, tentativa de homicídio... Todos esses crimes somados te renderão um bom tempo atrás das grades!”

Esse foi o golpe final de Dinho. Sal estava preso a uma ‘armadilha’ e tenho a ligeira desconfiança, que, felizmente, ele não escapará dessa vez.


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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

Um dia de atraso, mas estamos aqui! :D E esse PsicoSal não desiste da Lia. Agora pouco importa que existam testemunhas, o que ele quer é ter a Marrenta. Mas para a sorte de Lia, Dinho chegou na hora certa e pelo visto tem o marginal onde queria: Nas mãos! Será o fim de Sal? Gostou? Comente! Beijos e quero reviews, hein?



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