Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 22
Cuidado com seus passos!


Notas iniciais do capítulo

"É quando eu volto a me lembrar do que pensava nem ter feito. Vem, me traz aquela paz... Você procura a perfeição e eu tenho andado sob efeito, mas posso te dizer que já não aguento mais."... (Charlie Brown Jr.)



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"A vida é feita de atitudes, nem sempre descentes. Não lhe julgam pela razão, mas pelos seus antecedentes...”. ...

Eu sei qual é a sensação. Ser um eterno culpado aos olhos das pessoas... Aos olhos dela. Uma vez traidor, para sempre traidor. Mas e o que eu fiz de bom? E o que nos uniu no inicio? Não importa eu acho. Voltava para o Hostel, quando escutei essa canção. ‘Aquela paz’... Que tipo de paz? Luto, luto e continuo lutando... Será que um dia encontrarei paz?

“Desculpe!” Disse alguém ao esbarrar em mim.

“Ju?! O que aconteceu?!” Segurei seus braços, enquanto ela tentava desvencilhar-se.

“Me deixa ir, Dinho. Só me deixa...”

“Assim? Desse jeito? Não. Vamos ate o Hostel, vou te dar uma água e você vai explicar o que aconteceu.”

Ignorei seus protestos e nos encaminhei ate o meu quarto no pequeno hotel para turistas. Ao passar pela recepção, notei a ausência de Fatinha, mas nesse momento era outra amiga que necessitava de mim. Fechei a porta e sentei-a na cama. Esperei que as lágrimas cessassem para poder iniciar a conversa. Nunca vi Juliana daquela forma, o que quer que tenha acontecido: Foi bem grave.

“Você deve me achar patética, né? Nos nossos últimos encontros tudo o que tenho feito é chorar e chorar... Acho que ate você vai se cansar de mim.” Ela desviou o rosto e mirou um objeto qualquer no quarto.

Vi-me refletido nela... Tanta tristeza guardada sem ao menos se ter ideia de como é possível suporta-la.

“Por que não deixa que eu decida qual a minha opinião sobre você? Ju... Me diz o que aconteceu. Me deixa te ajudar.”

“A Jujuba outra vez precisando de socorro... Isso já é quase uma rotina na minha vida. Fui tão protegida por meus pais e pelo Bruno que mal aprendi a caminhar com meus próprios pés. Não. Não há o que dizer ou entender. Já chega de jogar meus problemas em cima dos outros, tá na hora de eu aprender a encarar as dificuldades.”

“Acha que calar é ser forte? Não se engane Ju. Força não tem nada a ver com suportar a dor em silêncio e sim em ser capaz de pedir ajuda quando não podemos carrega-la sozinhos. Você não é fraca por dividir angustias.” Sentei ao seu lado e segurei a sua mão. Vi-a baixar a guarda, porém ainda evitava meu olhar.

“Foi o Gil...”.

Deixei que prosseguisse... Juliana precisava desabafar.

“A Marcela me ligou dizendo que ele havia se trancado durante horas dentro do quarto. Eu sabia que era um erro, mas eu fui lá. Ele foi tão frio comigo, nem parecia ele... O cara que era o meu namorado, que me ouvia ou apenas me olhava. Era uma outra pessoa.”

“E o que essa outra pessoa fez?”

“Me acusou de ser apaixonada por você. De mentir, enganar... E outras coisas que nem tenho coragem de dizer. Basicamente, eu sou a pior pessoa do mundo e ele nunca mais quer me ver na vida.” Pela primeira vez ela me olhou nos olhos.

“O Gil disse isso?”

“Ele não precisou dizer. As suas atitudes foram o suficiente para mostrar que tudo o que sente por mim é desprezo. Acha que nós temos um caso, que a Lia foi só uma desculpa minha para poder deixá-lo! Aquele imbecil... Tem a coragem de me julgar quando fez pior!”

“Eu já disse... Não creio que o Gil sinta nada – romântico – pela Lia.”

“Eu não to falando da Lia. E sim da Fatinha – Ela sorriu ao notar minha surpresa – Eles dormiram juntos. Pode imaginar isso? Gil e Fatinha juntos!”

FaGil? Não consigo imaginar. Não que eu não acredite que duas pessoas distintas possam se apaixonar, só que a Fatinha e o Gil juntos era absurdo demais ate em pensamento.

“Eu não consigo entender como isso pode ter acontecido. A Fatinha ama, mesmo não admitindo, o Bruno e o Gil não é o tipo de cara que fica com uma garota apenas por ficar.” Ela sorriu cinicamente diante das minhas palavras.

“Ninguém é capaz de fazer algo errado ate fazê-lo. Mas qual o meu direito de cobrar alguma coisa dele, né? Tecnicamente é com você que estou envolvida.”

“Chega! Esse absurdo já foi longe demais. Eu vou falar com o Gil... Explicar toda essa história. Desculpa, Ju. Eu só tenho causado confusão desde que cheguei, mas eu vou concertar as coisas.”

“Não.” Ela disse calma.

“Não!?”

“O Gil não ia acreditar em você e eu também não quero prolongar essa situação. Tá na hora de eu seguir em frente. Superar.”

“Ju...”

Tentei argumentar, mas sua decisão estava tomada. Só não sei se foi uma escolha acertada. Conversamos durante algum tempo mais. Apenas falar com ela já era o bastante pra aliviar um pouco as frustrações... Éramos mais parecidos do que se podia imaginar. Vivenciávamos histórias semelhantes e isso acabou por criar uma espécie de elo entre a gente.

“Já é tarde. Quer que eu te acompanhe ate em casa?”

“Casa?! – Juliana suspirou – Já não bastasse tudo o que aconteceu hoje, ainda vou ter que confrontar o meu irmão raivoso! O nosso encontro de mais cedo não foi muito agradável. Não quero enfrentá-lo. Só por hoje quero um pouco de paz... Posso dormir aqui?” Pediu cansada.

“Dormir aqui? – A surpresa do pedido fez minha voz se elevar – Tá... acho que não tem problema. Você fica com a cama e eu me viro aqui no chão.”

“Não. Eu não quero incomodar!” Ela parecia querer desistir da ideia.

“Hey, não é incomodo. E eu não sou tão insensível ao ponto de deixar uma mulher passar a noite no chão duro.” Falei olhando para o local nada atraente.

Eu e minha educação!

Após lhe entregar artigos de higiene, ela trancou-se no banheiro. Enquanto isso, estendi um lençol no chão e peguei dois travesseiros. Já havia dormido em lugares nada confortáveis enquanto estive viajando e uma noite no chão não seria um sacrifício tão grande. Devo isso a Juliana, uma noite calma... Bem, calma ate ela sair do banheiro.

Ju estava... Linda. De cabelos soltos, usando uma camisa minha que terminava um pouco acima dos joelhos fazia-me lembrar da menina, de pouco mais de um ano atrás, por quem eu me apaixonei.

Péssima ideia ter uma garota no quarto depois de tantos meses de abstinência!

“Por que tá me olhando assim?” Questionou-me envergonhada.

“Assim como?”

“Com cara de quem não come há muito tempo, quase de... TARADO!” Nós dois caímos na risada.

“Desculpa... É que: NOSSA! O Gil não sabe o que tá perdendo! Se eu ainda fosse ‘Dinho, Ó Pegador’ nós teríamos problemas. Você tá igual à noite que a gente ia dormir juntos... Não sei por que, mas essa imagem me veio à mente.”

“Hum... não sabia que tinha esse efeito sobre você. Lembra-se de quando a gente namorava? Tudo parecia tão certo. Eu e você... Era bom.” Juliana sentou-se na cama e pareceu recordar os nossos momentos.

Era bom... Sim. Era simples e sincero. A menção ao passado me fez pensar em novas possibilidades. Nós dois já havíamos namorado... E se?

“A gente podia tentar... Fazer dar certo. Eu já to jogado na lama mesmo, tá todo mundo pensando que a gente tem um ‘rolo’. Por que não fazer jus à fama? Ate que pode funcionar...”. Ju me olhou desconfiada.

“Não tá falando sério, né?”

Me abaixei diante dela com a visão na mesma altura que a sua.

“Não sei... Talvez seja só o cansaço. Talvez eu só queira me sentir feliz novamente. Você mesmo disse... Era bom. Não é como dizem? Que só é triste quem quer? Eu não quero viver eternamente brigando com o mundo. E se não for pra ser? Nós dois nos gostamos, nos entendemos. Poderíamos apenas deixar acontecer.”

Para enfatizar minhas palavras aproximei meu rosto do dela. Juliana não demonstrou reação ou medo, e suponho que também queria saber como seria entre nós dois. Calmamente, toquei os seus lábios com os meus num beijo terno e explorador. Senti seu gosto... Morango! Saboreei aquela emoção e isso era tão bom. Aprofundei o beijo, tocando o interior aveludado da boca de Ju macia e receptiva. Ela passou os braços em torno do meu pescoço e permitiu a ‘invasão’ da minha língua.

Sem ao menos nos dar conta, já a deitava na cama e colocava-me ao seu lado. Interrompi a nossa ligação por alguns segundos e olhei para seu rosto. Com os lábios vermelhos, a respiração ofegante, vi refletido no castanho do seu olhar certeza e excitação. Viveríamos aquilo e faríamos dar certo... Era uma promessa proferida em silêncio por nós dois.

Retomei o beijo e deslizei a mão pelo seu corpo delgado. Senti o calor da sua pele sob o meu toque, cada curva tendo como barreira apenas o fino tecido. Senti falta disso, de ser desejado e estar com alguém... Mas não era alguém que eu queria. Era a Lia. A lembrança da sua decepção ao saber da traição e da Valentina se abateu sobre mim trazendo-me à realidade.

Era como se ela estivesse naquele quarto vendo tudo o que acontecia. Eu e a ju... Com o ressentimento estampado no rosto. Não era isso o que eu desejava... Agora eu compreendo o que meu pai quis dizer sobre as emoções passageiras. Não importa o quanto lutemos ou nos mantenhamos distantes nada nunca será o suficiente. O que há gravado em mim permanece. E ela está em mim. Eu posso ficar com a Ju, mas não será por inteiro. Ela não é a Lia.

Afastei-me da Juliana e sentei na cama. Passei a mão nos cabelos na vã esperança de controlar as emoções.

“Dinho?” Ela estava confusa. Respirei pesadamente... Não deveria ter ido tão longe.

“Perdão Ju, mas não dá. Não é que eu não te ache atraente, você é linda... Só que...”.

“Eu não sou a Lia – Não havia raiva nas palavras, apenas uma profunda compreensão – E você não é o Gil. Agradeço por ter interrompido o que tava acontecendo, sabe? Talvez funcionasse entre a gente, eu acredito que funcionaria, mas não somos o tipo de pessoas que se contentam com uma parcela de felicidade. É tudo ou nada, a metade não é suficiente. Tudo bem Idiota... Pensemos nisso como um aprendizado: Somos dois ‘cabeças duras’ que não sabem a hora de desistir!”

“Um belo par de ‘mal amados’!” Sorri e a abracei.

Ficamos assim por alguns instantes. Estar junto dela – romanticamente falando – seria simples e bom, como o nosso namoro havia sido. Mas amor, amor entre um homem e uma mulher, não é feito só de bonança. É necessário tempestade.

“Bem, se não se importa eu quero dormir agora.”

“Tá... já vou dormir também. Mas antes tenho que tomar um banho frio. Pode, por favor, fechar os olhos?” Meu juízo estava no lugar, mas levava um tempo ate o corpo entender que não haveria mais NADA essa noite.

“DEUS! Há-há-há!” Ela ri da minha desgraça enquanto sigo para o banheiro.

A água atingiu o meu corpo tirando-me a sensação desagradável de derrota. Eu havia feito o certo, mas talvez... Talvez só isso não adiantasse. Fechei os olhos e concentrei-me no barulho da água que saia do chuveiro. Depois de uma longa ducha GELADA, retornei para o quarto e me deitei no leito improvisado. Revirei-me por alguns minutos ate escutar a voz sonolenta de Ju.

“Dinho?”

“Oi?”

“Quer vir logo pra essa cama?! Ficar rolando ai de um lado pro outro não tá adiantando muito. Aqui é grande e dá pra nós dois. Só não ronca tá?” Ela abriu espaço e deitei-me ao seu lado. Juliana manteve-se com os olhos fechados.

“Amo você sabia?”

“Também amo você! Mas não muito agora: Eu quero dormir!”

Sua respiração, aos poucos, foi ficando lenta e ritmada sinalizando que adormeceu. Olhei-a dormir calmamente e acabei por cair no sono também. Não sonhei essa noite ou tive pesadelos... Só havia paz. Entretanto, não sabia que o pesadelo aconteceria ao abrir os olhos.

O barulho da porta sendo aberta me fez despertar. Imaginei ser Fatinha vindo me acordar, mas estava enganado. Ao olhar em direção à pessoa parada na entrada, vi aquela que adorava povoar meus pensamentos: Lia. O ressentimento que eu havia visto antes – na minha cabeça – estava lá misturado à raiva e sentimentos mais sombrios. A diferença é que agora era real.

Mirava-me na cama com Ju – sua amiga – que de alguma forma abraçou-se a mim durante a noite. A cena do crime perfeito. Embora, sem um crime e todos sendo vitimas.

“Dinho...”

Foi apenas um murmúrio, uma única palavra e o fim.


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Notas finais do capítulo

Capítulo by: Érica!

"Ouvi dizer que só era triste quem queria... Cuidado com seus passos!" Ah... já cantava essa 'bola' o sábio Chorão. O jeito é esperar e ver como se desenrola essa história. Hoje vocês tiveram uma 'overdose' de capitulos By Érica, mas terça tem Mariana R. em dose dupla! Gostou? Comente! Beijos!