Era um dia frio de Dezembro, se me lembro bem era o quinto dia de Dezembro o que me fez recordar que faltavam apenas quatro dias para o meu aniversário e consequentemente o dia em que as aulas acabavam para mim. Eu não sou nenhum nerd, na verdade sou um dos garotos “menos capacitados” como dizia minha professora de matemática, a senhora Aliner, porém sempre tinha aquele momento em que você cola algo do colega da frente ou dá um daqueles felizes chutes certeiros acertando as questões de múltipla escolha, então passava raspando nas matérias. Estava saindo de casa as 5 e meia da manhã para pegar o ônibus que me levaria a uma prisão chamada escola, não havia comido nada como de costume e logo o meu estômago suplicaria por comida.

Puxei o capuz de meu casaco negro e coloquei o fone nos ouvidos para me desligar desse mundo louco em que vivemos, logo Linkin Park começara a tocar, ouvia a musica enquanto passava por pessoas com caras emburradas e poucos minutos depois estava em minha parada naquela manhã escura e fria, cada respirada fazia erguer uma leve névoa em meus olhos e isso me fez lembrar dos tempos de criança quando pegava gravetos em dias frios e fingia estar fumando. Não demorou muito e meu ônibus chegou e como sempre, estava atrasado. Por fora até que aprecia bem cuidado, mas por dentro estava pichado por garotos estúpidos, como de costume sentei-me na primeira cadeira, a única cadeira que não possuía um banco ao lado então era apenas eu, sem velhas para encher-me o saco ou trabalhadores reclamando de suas vidas “injustas”, como sempre eu aumentei no máximo o meu celular fazendo o bom e velho rock preencher os meus ouvidos. Infelizmente meus fones eram baixos e como de costume um funkeiro fazia aquela poluição sonora erguer-se sobre o silêncio do ônibus, fazendo soar as “letras” ofensivas e simples que tratavam a mulher como se fosse apenas um objeto para se usar e jogar fora. Poucos minutos depois uma leve garoa começou cair limpando a sujeira dos vidros deixando rastros ondulados entre o marrom de barro que estampava as janelas. Música vai musica vem, acabou por parar naquela; sempre me esquecia de tirar o modo de reprodução aleatório e não tinha coragem de apagá-la, portanto segundos depois “Here Without You” do 3 Doors Down começara a tocar e juntamente com a letra vinha lembranças das quais precisava esquecer, senti meu nariz umedecer enquanto mudava de musica, estava chorando.

Eu poderia falar mais sobre minha escola e sobre a aula, mas adivinhem, eu a matei, além claro, todos sabem como escolas são chatas então não preciso enche-los com isso. Vaguei pelos arredores da escola, observando seu muro branco, também pichado, e suas grades verdes desbotado, cujo topo possuía arames farpados, que erguiam-se sobre o solo impossibilitando a fuga daqueles menos corajosos. As ruas encontravam-se estranhamente vazias e fúnebres, com a chuva ainda a cair comecei a andar, simplesmente andar sem ter nenhum lugar especifico. Ela sempre gostou tanto de chuva, pensei tristemente, sabia que não era legal pensar nela, mas era algo inevitável, tanto o coração quanto a mente não deixavam-me esquecê-la. Pensar em Cristina deixou-me tanto furioso quanto triste, caminhei em praguejamentos e quando dei por mim já estava próximo a rodoviária. Sentei-me no meio-fio e observei o horizonte, a luz do sol fazia com que as gotas de água brilhassem de forma bonita e amistosa, exatamente como ela, sussurrou minha própria voz dentro da minha cabeça. Não adiantava! Não havia como fugir, era algo muito recente, muito forte então acabei por deixar-me ficar perdido em minhas lembranças. Lembrei-me do ultimo dia em que a vi e nos seus olhos azuis escuros perdendo a cor, lembrei-me daquele dia, o pior dia da minha antiga vida, o dia em que a vi morrer.