Araignée au Plafond escrita por obnxslyth


Capítulo 3
Novo Começo.


Notas iniciais do capítulo

Então, antes de começar a falar, eu preciso dar um aviso: esse capítulo não foi betado pela minha linda beta oficial. Eu não consegui encontrar com ela direito essa semana (faculdade ocupando meu tempo, oi) e, então, caso vejam algum erro, me falem, corrigirei assim que ver/tiver tempo.
De qualquer forma, boa leitura. :3



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Dizem que, quando estamos fazendo algo que não gostamos ou se estamos vivendo uma época difícil, o tempo passa devagar, como se estivesse parado. Um ano e meio que mais pareceu uma eternidade. Era como se ele fosse prolongado, como se eu visse cada segundo passar numa velocidade incrivelmente baixa. Com o passar dos dias, eu acabei perdendo a noção do tempo, e se não me dissessem em qual dia estávamos, eu provavelmente não saberia responder.

Estou aqui há uma semana. A rotina está me deixando entediado constantemente - acordar, tomar banho, fumar, comer, atividades, banho, mais atividades, comer, fumar, dormir. Um loop sem fim. Minha família ainda não pode me visitar, e pra falar a verdade, eu também não quero vê-los tão cedo. Estou um pouco magoado por terem me jogado nesse asilo para loucos.

Mas eu fico com inveja quando vejo que outras famílias estão aqui. Como agora que a família de Katya veio visitá-la. Ela não tem muitos parentes - uma irmã chamada Natalia que, como Kat, tem cabelos platinados e olhos azuis, mas é séria; e um irmão chamado Ivan, também com cabelos platinados e olhos violáceos. Eram uma família diferente, estranha... Mas engraçada, de fato. Apesar da irmã ser séria e do outro irmão ser muito estranho, ambos pareciam felizes de ver que ela estava se recuperando.

— Sua família ainda vai te visitar, só dê um tempo — Scott falou, percebendo que eu olhava demais para a nossa amiga.

— Pra ser sincero, não sei se quero vê-los — Comentei, respirando fundo e tentando focar na minha comida sem gosto e sem graça. — Só estava impressionado. Eles parecem se dar bem... De uma forma estranha — Ri, olhando pra baixo.

— Você não tem ideia — Scott riu, mordendo um pedaço do sanduíche natural dele — Eu não devia fazer isso, mas se você quiser, posso lhe contar a história da Katya — Fiquei interessado. Assenti, então Scott se sentou do meu lado — Olha, eu não sei muita coisa. Quando ela chegou aqui, não deixava ninguém se aproximar, principalmente homens. Eu achava isso estranho. Ela ficou na sessão dos distúrbios alimentares, e um dia, descobri que era bulimia. Mas isso não é o pior de tudo...

“Um dia, quando passei na frente do escritório, ouvi o diretor conversar com uma das enfermeiras sobre o caso dela. Ela era uma ótima aluna, e um dia, resolveu tentar virar líder de torcida. Mas parece que as piranhas magrelas descobriram e começaram a perseguir ela. Na escola e online. E pra piorar, o professor filho da puta dela começou a assediá-la. Ameaçou fazer ela, dizendo que a faria repetir o ano se ela não cedesse. Acho que deu pra entender o que aconteceu em seguida...

“Depois de um ano, a irmã dela entrou na mesma escola, então o professor descobriu. E tentou fazer o mesmo com a Natalia. A Katya viu... E avançou nele. Mas ele era mais forte e a segurou... Ele estuprou a Katya na frente da irmã dela, Francis. E depois disso, ameaçou mata-la se Natalia contasse para alguém, mas isso não a impediu. Então ele foi preso e o governo a mandou pra cá. A outra faz acompanhamento psiquiátrico, parece que já se recuperou. E o irmão mais velho... Ele quase matou o professor quando o encontrou. Não o culpo, teria feito a mesma coisa.”

Eu estava chocado. Era difícil acreditar que aquela garota tão sorridente e simpática tinha passado por tudo isso. Quem teria coragem de fazer aquilo com ela?! Isso me deixou revoltado.

— Nada disso teria passado pela minha cabeça se você não tivesse contado, Scott — Falei, sério. Aquilo era difícil de engolir.

Como homem, posso dizer que minha vida sexual, desde a adolescência, foi bem agitada, nunca me importei bem com quem eu dormia - poderia ser um estranho e não faria diferença para mim -, mas sabendo como as mulheres eram... Aquilo deve ter sido o inferno para ela. E por dentro, senti um pouco de admiração pela garota - mesmo com tudo que aconteceu, ela estava lá, lutando pra deixar o passado pra trás e seguir em frente.

— Pensando bem sobre isso, me sinto até culpado de estar aqui por motivos idiotas — Falei, olhando pra baixo.

— Não fique, Francis. Cada um tem o seu limite. Nem tudo que me afeta pode afetar você, e vice-versa. Cada um tem os seus problemas, e é nosso objetivo superá-los. — Ele me respondeu, limpando a boca e jogando o papel no lixo. Era estranho ouvir isso do Scott.

Mas talvez ele tivesse razão.

—x—

Eu não consigo dormir. Já tomei o meu remédio e um chá pra tentar ficar com sono, mas nada funcionou. Parece que meu cérebro está a mil. Ainda não fumei, esse deve ser o problema. De acordo com o relógio na parede, são quatro e vinte - talvez, se eu for silencioso, consigo sair para fumar sem ser pego por nenhuma enfermeira.

Em silêncio, me levantei, calçando os chinelos de vovô com o emblema daquele manicômio - a cada dia que passava, eu achava mais e mais que aquele lugar era um tipo de asilo para jovens loucos -, coloquei minha blusa de frio - também branca com o emblema azul-marinho -, peguei dois cigarros e o isqueiro, saindo do quarto em seguida. Para minha sorte, o corredor parecia estar vazio. Dei passos leves até a escada - o que não foi difícil graças aos meus míseros cinquenta e sete quilos -, então tentei descer sem fazer nenhum barulho. Os chinelos dificultavam isso, então os tirei, segurando na mão. E quando escutei o barulho de uma porta bater no segundo andar, apressei mais o passo. Logo cheguei na área de recreação.

Uma vez lá, procurei um lugar mais isolado... Então percebi que tinha uma árvore lá - e pra completar, ela tinha uma escadinha pregada nela para quem quisesse subir no galho. E parece que é uma árvore anti-suicídios - tem um galho firme, mas ele é baixo, não dá pra amarrar uma corda e se enforcar. Isso é quase tão cômico - e deprimente - quanto as facas de manteiga que usamos para cortar aqui. Vai tentar se matar com uma dessas.

Eu subi na árvore, me sentando no meio do galho. Sem olhar pra trás ou pensar duas vezes, peguei meu precioso cigarro e o acendi, dando um trago mais longo de início. Ah, o gosto da nicotina e alcatrão, a fumaça, minha garganta ardendo... Não tenho a chance de fumar há três dias, desde que eu esqueci de escovar os dentes antes de ir dormir e acordei com o cheiro de queimado na boca. Até o Scott, que também é fumante, reclamou comigo. E a enfermeira entrou no quarto antes que eu escovasse os dentes - ela também percebeu o cheiro, mas não falou nada. Resolvi ficar uns dias sem fumar pra ver se eu despistava. Mas aqui estou eu.

Antes do acidente, eu procurava fumar apenas socialmente, e nada mais que dois cigarros. O mesmo valia para bebida - duas taças de vinho branco, no máximo. Só passava disso se realmente estava chateado ou se queria comemorar. Não que eu ficasse bêbado, tenho uma boa resistência, mas não fazia bem para minha saúde.

Bem, eu não ligo mais.

Depois do que aconteceu, eu passei a fumar dois maços por dia. No início, eu apenas comprava marcas mais fracas, mais leves. Depois que eles passaram a não fazer mais efeito, tentei de tudo pra voltar a sentir o “barato” de antes - cortar o filtro no meio, fumar mais, trocar de marca. Então parti para os mais fortes. Não vivo mais sem o meu Marlboro vermelho. E o mesmo conta para bebidas - vinho e champagne são para comemorar, agora estou na base de bebidas fortes. Absinto, licor, uísque, rum. Qualquer coisa que me mantenha fora dessa realidade.

Minha saúde está se deteriorando, também. Eu costumava jogar futebol com meus amigos, mas não tenho muito fôlego pra correr. E eu estou muito magro. Antes do acidente, eu estava dentro da média, setenta quilos, se não me engano. E agora... Ainda não entendo como não estou morto.

— Então você curte xadrês, árvores e nicotina? — Ouvi uma voz falar, então olhei para baixo. Matthew.

— Tem uma corda ai? Acho que vou fazer uma forca e tentar me matar. — Respondi, apagando o cigarro no meu braço e acendendo outro. Matt subiu a escada, então se sentou no galho, mais perto do tronco. — Aceita?

— Não fumo. — Ele sorriu, balançando as mãos e espalhando a fumaça. Me lembrou vagamente o jeito da minha irmã reclamar desse meu hábito — E você não vai se matar aqui. O máximo que vai conseguir é machucar sua perna.

Eu ri, seco, e soltei a fumaça. Ele franziu o cenho, tossindo e balançando a mão novamente. Era até engraçado. Mas percebi algo que não era tão engraçado assim - Matt estava com olheiras discretas e com os olhos inchados. Será que alguma coisa tinha acontecido?

— Você não me parece muito bem. Algum problema, Matthieu? — Perguntei, soprando a fumaça para o outro lado dessa vez. Ele balançou a cabeça e sorriu, negando. Lembrei do que Scott me falou... Ignorar e esperar com que eles se aproximassem. Isso seria difícil.

— Francis... Eu posso te perguntar uma coisa?

— Já está perguntando — Sorri, virando o rosto pra frente — Pergunte.

— Você e sua irmã eram muito próximos? — Eu olhei para ele, levantando uma sobrancelha. Mas que pergunta era aquela?! — Sabe... Sei que isso te afetou, e dizem que quando um irmão morre, o gêmeo que está vivo fica completamente abalado... Mas como era a relação de vocês?

— Era perfeita. — Eu respondi, rápido. Ele levantou as sobrancelhas, impressionado, e eu sorri — Eu e a Amy éramos melhores amigos. Eu era mais agitado e ela era mais quieta, mas isso não nos impedia de comunicar. Aliás, nos comunicávamos bem até demais um com o outro. — Eu ri, tragando o cigarro em seguida e soltando a fumaça — Eu me sentia confortável com minha irmã, e vice-versa. Nunca escondemos nada um do outro, nunca mentimos um pro outro. Já brigamos, mas nada sério. Eu sinto a falta dela.

Aquela última frase saiu sem que eu visse. Olhei pra baixo, respirando fundo. É... Eu sinto falta da minha soeur. Não tem um dia que eu não me culpo pelo que aconteceu a ela. Eu poderia ter salvado minha irmã, ela poderia estar viva agora. Eu estaria na metade do curso, provavelmente na comissão de formatura, eu e Michelle estariamos juntos... Minha vida mudou tanto desde que a minha gêmea morreu.

— Queria poder dizer o mesmo do meu irmão — Matt comentou. Eu pensei em perguntar, mas ele me cortou antes que eu começasse — Vamos descer? Daqui a pouco as enfermeiras acordam e você precisa tirar esse cheiro do seu corpo — Ele falou, então começou a descer as escadas.

Apaguei o cigarro da mesma forma de antes, então desci também.

—x—

Eu pareço um doente. Essa é a primeira vez que realmente paro para me olhar no espelho... E o que vejo não me agrada nem um pouco. Eu tenho olheiras. Estou muito magro... Perdi a maioria dos músculos que consegui quando ainda estava na faculdade. Não era muito malhado, mas não era fraco. O meu cabelo está sujo, sem corte, totalmente desleixado... Está batendo um pouco abaixo do ombro. Quando eu estava na faculdade, ele costumava ser brilhante, com um cacheado discreto. Minha barba por fazer me faz parecer mais velho... Nem parece que eu tenho vinte e um anos. Meus antebraços tem pequenas cicatrizes redondas - resultado dos cigarros que já apaguei neles.

Preciso me cuidar mais. Meu rosto está extremamente magro... Eu pareço uma caveira, só pele e osso. Lembro que, durante a adolescência, eu passei por uma época ruim, então minha irmã simplesmente me tirou da cama e foi fazer compras comigo. Me fez experimentar sei lá quantas roupas, não saímos de lá antes dela mandar cortar meu cabelo e hidratar... Ela odiaria me ver agora. Provavelmente me mandaria criar vergonha na cara e lavar o cabelo. E se visse as cicatrizes... Caramba, ela iria gritar comigo até eu ficar surdo, então provavelmente me levaria num dermatologista para ver se eu consigo tirá-las.

Pensando nisso, entrei no banheiro, pegando a espuma de barbear do Scott e passando no rosto. Então peguei meu aparelho de barbear - um presente da minha mãe. Uma pequena mudança não vai fazer mal pra mim.


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Notas finais do capítulo

Então, é isso. Also, antes que me esqueça, baseei a aparência do Francis um pouco na do 2p! dele.
Enfim, reviews, por favor?



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