Steve estava sentado em minha cama, bem ao meu lado. Estávamos em silêncio e eu não conseguia dizer nada.

- Você está bem? - quebrei o silêncio. 

- Sim, bem melhor, e você? 

- Confusa, - tentei sorrir. - mas vou ficar bem. 

Ao invés de responder, Steve segurou minha mão e olhou no fundo dos meus olhos. 

- Lexie... - ele não sabia muito bem por onde começar e eu notava o nervosismo em sua voz. 

- O que, Steve? - toquei seu rosto. Ao fundo escutava Myles Kennedy cantando In Loving Memory. 

- Eu não queria ter que te dizer isso um dia, mas eu vou ter que partir. 

- Partir? - eu estava confusa. 

- Sim. - ele estava triste. - Eu vim para te salvar e descobri que quando você ficasse bem, eu partiria. 

- Não tem um jeito do ficar? - eu disse me levantando. Lágrimas desciam pelo meu rosto. 

- Olha, Lexie. - ele disse colocando a mão na minha perna, como se pedisse para que eu me sentasse ao seu lado. - Você foi a melhor coisa que me aconteceu, e mesmo eu voltando apenas para ser seu protetor, eu acabei me apaixonando, e faria isso quantas vezes fosse possível. É difícil ter que me afastar, mas eu não posso fazer nada para impedir isso. Você precisa seguir sua vida. - passou a mão em meus cabelos. 

- Não, não é possível. - disse. - Eu vou sempre me lembrar de você, e vou sempre te amar. 

- Lexie, eu te amo. Mais do que já amei qualquer pessoa. E você não faz noção do tanto que me dói ter que te deixar. - seus olhos verdes estavam inundados de lágrimas que hesitavam em sair. - Eu sinto tanto. - disse abrindo minha mão e colocando um anel de prata em meu dedo. - Você poderá me sentir quando estiver com ele. 

- Eu posso te sentir de qualquer jeito. - disse triste.

Steve ficou calado, e vi que por trás do silêncio, ele escondia algo de mim. 

- Steve... 

Inclinou seu rosto e me beijou. Aquele seria um último beijo, última vez que o sentiria, última vez que meu coração dispararia na presença dele. 

- Sinto muito. - Steve disse colocando o dedo em minha testa. 

Segundos depois, eu vi uma luz branca, e deitei na cama sonolenta. 

"And I know, you're a part of me and it's your song that sets me free, I sing it while I feel I can't hold on. I sing tonight cause it comforts me."

*

- Acorda, Lexie. - Rosie estava em cima de minha cama, pulando como um louca. 

- Rosie, - disse tentando abrir os olhos. - eu tive outro sonho estranho, mas não consigo me lembrar o que era. 

- Um sonho? - Rosie disse como se compreendesse realmente o que eu queria dizer. - Ok, não importa. - fiquei assustada com o fato de que ela não havia perguntado de que se tratava o sonho.

- Rosie, eu andei bebendo desde a morte de tio Daniel? Eu não me lembro de nada, a não ser de Rafael. - coloquei a mão na cabeça. - Oh meu Deus, Rafael. Nós nos beijamos. E eu estava o evitando. Por quê? - eu não entendia nada. 

Rosie riu, mas eu via tristeza em seus olhos. 

- Você andou meio atrapalhada. 

Passei a mão em meus cabelos, mas senti alguns fios prenderem em meu dedo. Olhei para minha mão e vi um anel de prata. 

- O que é isso? - eu olhava para Rosie.

- Eu não sei. - ela disse gaguejando. - Você chegou um dia com ele no dedo e disse que era especial. Mas, você está bem? - ela tentou mudar de assunto. 

- Sim, estou, e você? 

- Acho que sim. 

Precisava de um banho. Entrei no banheiro, me segurando na porta, eu parecia ter bebido muito e sentia minha cabeça doer. 

- O que aconteceu comigo? - me perguntei baixinho. 

Sentia a água quente cair no meu corpo, ao mesmo tempo que tentava lembrar o que havia acontecido. 

Sem sucesso. 

*

Saí do banho enrolada em uma toalha. Sentia frio e por trás da minha janela, conseguia ver a neve caindo. 

Liguei o som, e logo estava cantando ao som de In Loving Memory.

"Thanks for all you've done, I've missed you for so long, I can't believe you're gone. You still live in me, I feel you in the wind, you guide me constantly."

Olhei para aquele anel em minha mão e pude sentir meu coração disparar. Aquela música, aquele anel... me lembravam algo, mas eu não conseguia me lembrar o que. 

Coloquei jeans, um sobretudo preto e desci as escadas correndo. Precisava me distrair, pois de tudo o que havia acontecido em minha vida depois da morte de Daniel, eu só me lembrava de Rafael. Não entendia porque vinha ignorando ele esse tempo todo, mas precisava falar com ele. 

Parei em frente a uma mesinha, olhando o vaso cheio de flores azuis. Elas estavam secando, e por um motivo, sorri. Elas continuavam lindas. 

- Vai sair, Lexie? - Florence me perguntou. 

- É, acho que vou visitar, Rafael. Estou um pouco confusa. - sorri. 

- Acho que sei como você se sente. - disse. - Mas, vá. Você está linda. 

- Obrigada! - disse saindo de casa.

*

- Oi, Rafael. - disse com um tom tímido. 

- Lexie! - ele parecia surpreso e feliz. Seu belo sorriso estampava seu rosto. - É bom te ver. 

- Bom te ver também. - sorri. 

Ficamos em silêncio. 

- Entre. - Rafael riu. - Estou sozinho em casa. 

Olhei-o confusa, ao mesmo tempo que tinha vontade de rir. 

- Oh, me desculpe. - ele disse rápido. - Não foi isso que eu quis dizer. 

- Tudo bem. - ri da situação. 

*

Estava andando pela neve acompanhada de Rafael. A noite já havia caído, e nós tínhamos passado o dia todo juntos. Conversávamos sobre quando éramos amigos, sem tocar no assunto do beijo. 

Olhei para o céu estrelado. 

- Olhe como o céu está bonito. - disse para Rafael. 

Ele continuou olhando para o meu rosto. Levantou sua mão e me tocou.

Senti minha barriga revirar, ao mesmo tempo que sentia um vazio envolvido por mistério.