Nossa Eterna Usurpadora escrita por moonteirs


Capítulo 78
The words


Notas iniciais do capítulo

Sabe aquele velho ditado "Quem é vivo sempre aparece?", pois é, estou aqui.
Meus amores, desculpem pela demora, na verdade tudo se juntou contra esse capitulo, foi minha formatura, fiquei doente, meu computador simplesmente decidiu que não ia me deixar digitar, parecia até karma. Mas enfim, tudo isso passou e hoje estou aqui postando um capitulo que acho que vai agradar.
Queria agradecer também a Julianny que foi um linda e recomendou a fic (agradeçam vocês também pq ela me achou no wpp e me botou contra a parede hahahha não).
Ah! Durante esse capitulo é importante que vocês escutem a música The Words da Christina Perri.
Boa leitura :)



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Tudo o que ela imaginou, tudo o que ela supôs, tudo que ela julgou ser certo, caía por terra em cada palavra mencionada por Carlos Daniel. O nó na garganta e as lágrimas que se formavam em sua mirada estavam quase impossíveis de controlar ou ignorar. Ela, Paulina Martins, não foi a única vitima da situação, seu coração era destroçado, suas mãos suavam e a dor que sentia em si vinha junto das afirmações de seu pior temor. Ela passou 15 anos sem o marido, ele passou 15 anos sem entender como um amor poderia morrer sem deixar rastros de que um dia foi vivo e forte, já seus filhos, seus tesouros passaram 15 anos sem ter a mãe por perto e acreditando que ela os havia deixado de amar. Paulina acreditava que eles era felizes, acreditava que ela havia sido o atrapalho de uma família, acreditava que não pertencia a aquele amor, acreditava que eles não tinham sido capazes de perceber a troca. Foram capazes, viveram anos infernais, só não encontraram outra explicação além da lógica.

Infelizmente, eu não me dei conta antes, mas ainda acredito naquilo que você me falou há muitos anos atrás “Uma vida seria pouco para te amar”

Depois que ela ouviu aquela frase sendo proferida pela única pessoa que poderia e tinha o direito de o fazer, naquele momento as forças que ainda a sustentavam desapareceram instantaneamente. Fechando os olhos, ela desligou-se do mundo, sua cabeça estava pesada e conturbada demais; ecoavam as palavras de Carlos Daniel e sem misericórdia sua imaginação projetava cada um dos momentos que ele falará. “Carlinhos saiu de casa com uma mochila e dor no olhar” “Lizete fugiu de casa e desapareceu por 7 dias... Ela só tinha 16 anos e se eu chegasse um pouco mais tarde, o homem, ele a tinha violado” “Paulinha e Gustavo não esperavam mais nenhum carinho materno” “Gabriela era rejeitava”. A dor de um machado sendo cravado em seu peito era o que ela sentia em cada vez que imaginava o sofrimento dos filhos, eles não mereciam, a briga não era deles, mas foram eles as principais vítimas da história.

Paulina pensava em cada momento em que viveu feliz ao lado de Alejandro e Fernando, ela pensará que havia ganho uma nova oportunidade, uma segunda chance pra recomeçar, mas como era poderia recomeçar se o seu passado estava interminado? Enquanto ela ria, seus filhos sofriam, e isso era pior do que qualquer coisa. Paulina voltou para o México acreditando que ali faria sofrer quem a fez chorar, mas não aconteceu desse modo, seu pior castigo foi ver que estava enganada, que de vítima ela era a vilã da vida de sua própria família. “Se eu tivesse lutado, eles não teriam sofrido, eu sou a culpada, eu não lutei. Meu Deus, que tipo de mãe eu sou?”

Sem aguentar o peso da culpa, Paulina desabou e deixou que o choro, que tanto evitava, a dominasse. Com a mesma frequência que caiam as gotas de chuva daquela tempestade, ela sentia seu rosto ser inundado com as lágrimas que não paravam de sair de seus olhos. A dor que sentirá por 15 anos, a mesma que a motivou a seguir o caminho da vingança, não se equiparava nem um pouco com o que estava sentindo ao saber do sofrimento dos filhos e do inferno que foi a vida deles pela ausência da mãe.

— Paulina? Calma, amor, calma.

Carlos Daniel entendia, mas mesmo assim não podia deixar de ficar preocupado e assustado com a reação de Paulina. Sua pele branca estava ainda mais clara, a palidez causada por tanto nervosismo, apenas era quebrada pelo tom rosado de em seu nariz, ocasionado pelo choro intenso. Por um tempo, ela não respondia nada, não conseguia; com o corpo todo tremendo e com o choro alto e interminável, Paulina estava a beira de um colapso emocional.

— COMO VOCÊ PODE ME PEDIR ISSO? A CULPA FOI MINHA, CARLOS DANIEL, MINHA!!

O sofrimento que ela estava sentindo pode ser percebido pelo desespero presente no tom da sua voz e pela vermelhidão de seu olhar.

— Do que você está falando?

Carlos Daniel procurou tocar em suas mãos para tentar acalma-la, mas foi em vão, ela não deixou ser tocada e gritou novamente em resposta.

— EU DEVIA TER LUTADO POR VOCÊS, DEVIA TER LUTADO PELOS MEUS FILHOS, POR NOSSO CASAMENTO, MAS NÃO, EU FUI EGOÍSTA. A CULPA É MINHA, TODO ESSE SOFRIMENTO É MINHA CULPA.

Carlos Daniel sabia que ela precisava desabafar e que os gritos de desespero eram partes disto, mas se recusava a vê-la daquele jeito. Sua Lina culpava-se por tudo de ruim que havia acontecido, sua dor era principalmente pelo sofrimento dos filhos, pelo inferno que se resumiu a vida deles. Naquele momento ele havia se arrependido amargamente por ter dito cada fato e cada um dos terríveis detalhes que faziam parte da história, mas era tarde demais, ele não poderia fazê-la esquecer, mas poderia fazer com que ela enxergasse a verdadeira vilã de suas vidas.

— Ei, calma, não, não é verdade.

— CLARO QUE É VERDADE! EU DEVIA TER...EU...A CULPA É MINHA, MINHA...

Desesperando-se com o desespero dela, Carlos Daniel segurou o delicado rosto de sua amada com as duas mãos, com firmeza bastante para fazer ela o olhar, mas com a suavidade necessária para segurar algo precioso.

— Paulina, me escuta. A culpa não é tua. Se tudo isso aconteceu foi por causa da Paola, não adianta você jogar a culpa de tudo para os seus ombros ou os meus. Se erramos? Sim, erramos. Mas lembre-se meu amor, o demônio da nossa história é a Paola. Foi por causa daquela doente que esse inferno começou.

— Mas eu devia...devia...

— Shhh...não se atormente com possibilidades, nem se culpe. Não faça isso contigo, minha vida.

Carlos Daniel aproximou-se um pouco mais e sem perguntar nada a ela, ele simplesmente a puxou para os seus braços para acalma-la. Com o rosto amparado peito dele e sentindo o afago que ele fazia em seus cabelos, Paulina se rendeu ao choro mais uma vez. Diferente do seu quase colapso de nervoso de momentos antes, ali, inalando o cheiro inebriante de Carlos Daniel, sentindo o calor de seu corpo, o carinho feito por ele e a proteção que seus braços sempre a deram, Paulina apenas deixou que aquelas emoções e angústias saíssem de seu peito de forma natural e calma. Chorou por longos minutos, mas chorou nos braços dele.

Ainda com lágrimas dominando o seu rosto, ela separou-se um pouco dele, o suficiente apenas para olhar em seus olhos, e falou tentando não ter a voz embargada pelo pranto.

— Eu passei 15 anos acreditando que vocês eram felizes, me perdoa.

— Shhh...se acalma, respira.

— Não, Carlos Daniel, eu não posso. Nossos filhos, nós dois, meu deus, eu devia ter lutado por nossa família.

— Não chore, minha Lina...

Carlos Daniel a puxou de volta para seus braços tentando acalma-la, mas ao ouvir o doce chamado dele, Paulina se afastou abruptamente. “Minha Lina” foi o apelido que ele deu a ela em seus primeiros meses de matrimônio, quando eles ainda viviam em seu próprio paraíso, em seu felizes para sempre.

— Não faz mais isso.

— Fazer o que?

— Não me abraça assim, não me chama mais de Lina, não tenta me consolar, por favor, Carlos Daniel, isso é tortura.

— Tortura??

— É sim, porque me lembra tudo o que eu já não tenho mais. Por causa do meu estupido egoísmo, eu perdi tudo, minha família, não vi meus filhos crescerem, não pude os proteger, nem os amar. Eu perdi meu casamento, perdi a felicidade que construímos, perdi você...

— Lina...

— Não! Não me chama mais assi...

Paulina não teve tempo para terminar sua frase, antes disso, Carlos Daniel tomou seu rosto em suas mãos e selou seus lábios com os dele. Não era um beijo apaixonado ou com segundas intenções, era puro, calmo e carinhoso. Carlos Daniel não aguentava vê-la sofrendo demasiadamente por uma culpa que não era inteiramente dela, a vilã da história não era sua amada, ela também foi uma vitima das maldades de sua própria irmã. Mas ao beija-la, ele queria mostrar não apenas isso, mas queria cura-la com seu amor.

O beijo foi rápido, durou alguns segundos ou o mesmo que algumas batidas frenéticas de seus corações, nenhum dos dois se importou com o tempo, apenas sentiram. Quando ele a calou com o toque de seus lábios, o mundo parou, a chuva parou de cair, o vento parou de soprar... a dor deixou de ser sentida. A realidade continuava existindo, com o mundo caindo em gotas d’agua e com inúmeros problemas ao redor dos dois, mas Paulina e Carlos Daniel estavam anestesiados com um velho sentimento, presos em seu próprio mundo, permitindo-se que um beijo os libertassem.

Carlos Daniel separou-se dela devagar e esperando seu desprezo ou fúria por aquele ato impensado, ele a observou por algumas piscadas de olhos, mas nada, Paulina permaneceu parada, com os olhos fechados e sem esboçar nenhuma reação.

— Lina?

Ela abriu os olhos lentamente e deixou que as lágrimas que segurava escorressem de seus olhos. Paulina o olhou, mas não pronunciou nada. Ela o observava, mas sem deixar pistas do que pensava.

A falta de sorriso, ou de algum sinal que mostrasse sua raiva, confundiu Carlos Daniel. Ela havia gostado do beijo? Ela estava magoada com a atitude dele? Será que ela pensava que ele havia se aproveitado de seu momento de desabafo? Guiado pela falta de reação dele, ele entendeu que havia ido longe demais.

— Paulina, desculpa, eu...

Foi a vez dele não poder terminar a frase. Contrariando tudo o que ele esperava, Paulina puxou Carlos Daniel pela gola da camisa e o beijou.

Carlos Daniel demorou um pouco para reagir ao toque dos lábios dela, tanto pela surpresa quanto por não acreditar que aquilo não era um sonho; em todas as vezes que tinham se beijado naqueles dias, em todas ele havia tomado iniciativa, ela tentava negar no começo, mas sempre se rendia à paixão. Entretanto, daquela vez era diferente, Paulina não apenas o calou com a doçura de seu beijo, mas também deliciava-se com seus lábios e buscava sentir o sabor dele cada vez mais. Sonho ou realidade, Carlos Daniel desistiu de compreender o que aquilo seria e retribuiu o beijo de forma intensa, como havia ansiado durante dias. 

Como se fosse o primeiro ou o último, aquele beijo era doce e selvagem, desesperado e carinhoso, urgente e apaixonado; o fôlego não era importante, suas línguas dançavam na mesma sintonia, e seus lábios provavam uns dos outros sempre deixando o rastro daquele sentimento que por fim havia sido liberto. Carlos Daniel e Paulina permitiram-se amar, por um momento, por aquele momento, esqueceram-se de problemas, causas do passado e consequências do futuro, deixaram que apenas o presente pudesse reinar naquele terno beijo.

Separassem seria como acordar para a realidade, nenhum dos dois queria deixar de viver naquele sonho, mas a falta de ar que já os incomodava os obrigou a parar. Com suas bocas um pouco distantes e suas testas coladas, eles respiravam ainda com os olhos fechados, desfrutando do que havia acontecido.

Abrindo os olhos ao mesmo tempo, eles ficaram mirando-se como se pudessem conversar através do olhar, o que de fato podiam. Foi ali que os temores que Carlos Daniel acabaram, naquela íris verde que tanto amava, ele não via culpa ou qualquer outro sentimento negativo, ele via amor. Sua Paulina o amava, ela continuava o amando.

— Meu amor...

— Shh, não fala nada, só me faz esquecer.

— Esquecer?

— Só me beija, Carlos Daniel, só me beija.

Sorrindo perante o pedido dela, ele a puxou um pouco mais para si e segurando levemente o seu rosto, começou a depositar pequenos beijos em sua face, fazendo uma trilha de amor até sua boca. Paulina se sentia no céu com as caricias de Carlos Daniel, com o calor que emanava de seu corpo e com a proteção que o abraço dele garantia. Quando ele deixou os beijos em seu rosto e foi em direção aos lábios, instantaneamente sua pele se arrepiou e ela voltou a sentir aquelas borboletas em seu estômago. Como se fossem adolescentes descobrindo o amor, Paulina e Carlos Daniel se permitiram a amar, deixaram o passado para trás, ou até mesmo, simplesmente o deixaram de lado, não poderiam nem queriam controlar o que sentiam. O clamor de seus corações fora atendido e apesar dos problemas da realidade, o amor se fez maior.

And I know the scariest part is letting go

Cause love is a ghost you can't control

Mesmo não querendo, Paulina interrompeu o beijo e separou-se de Carlos Daniel o suficiente  para observa-lo, ela se permitiu tocar em seu rosto com a ponta dos dedos e deixar que eles passeassem por toda a face como se estivesse reconhecendo aquela pele ou simplesmente aguardando na memória. Quando seus olhares se cruzaram, ela teve a certeza que deveria falar o que há muito tempo estava guardado, algo que ela prometeu nunca mais repetir ou sentir.

— Você sabe o que vê nos meus olhos. Por que não faz logo a pergunta?

— Tenho medo de estar errado, tenho medo de tudo ser uma ilusão.

— Pergunte.

—  Estou certo? O que eu senti no seu beijo é verdade? Você ainda me ama, Paulina?

I promise you the truth can't hurt us now

So let the words slip out of your mouth

— Nunca poderia deixar de sentir o que sinto por você, Carlos Daniel. Sim! Eu te amo. Tentei te esquecer de todas as formas, tentei te odiar desesperadamente, mas tudo foi em vão, mesmo com os anos e com tudo que aconteceu eu sigo te amando, e agora, isso é algo que eu não posso mais ocultar. Te amo. Te amo, Carlos Daniel.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
@deafmonteiro