Fazia alguns meses que não se falavam. Sabia que ele estava viajando a estudos, pensou varias vezes em telefonar, usar a internet ou até mesmo mandar uma carta. Mas e se estivesse incomodando? Possuía fama de chato, já pensou se telefonasse e acabasse atrapalhando? Se sentiria horrível, Sorento odiava essas coisas, odiava sentir-se um peso, um incomodo para os outros, ainda mais para ele.

E se tivesse encontrado alguém mais interessante? Não! Ele não faria isso.

Achou melhor escrever-lhe logo uma carta. Afastaria de vez as incertezas. Mas ele sabia que podia demorar a chegar ou ele demorar a responder, mas o que a de mal em tentar.

Sentou-se na cadeira da escrivaninha, pegou papel e caneta.

“Eu não sei como devo começar... faz um bom tempo que não nos falamos...

Como vai o tempo aí em Atenas? E os estudos? Tem se alimentado direito, tem dormido direito? Fico aqui imaginando você na cozinha, sempre foi um desastre!

Fiz sopa de massinha ontem, sei que você adora...

Você anda se agasalhando? Não está dormindo tarde, não é. Você sempre teve essa mania...

Eu ando preocupado...

Kanon, não queria ser sentimental ou parecer chato. Mas eu sinto sua falta. Falta de suas toalhas molhadas sobre a cama, falta de seus carinhos antes de dormir...

Quero que entenda, não pensei em nenhum momento me afastar de você, mas sabe como eu sou. Sempre pensei que estivesse incomodando-o. Atrapalhando seus estudos. Mas a saudade apertou e machucou. E o medo... há o medo de você ter achado alguém melhor, alguém que seja aquilo que eu nunca consigo ser. E não pense que estou insinuando que esteja me traindo, mas pode acontecer, não pode?...

Toda vez que eu penso nisso sonho com você, com suas juras de amor e com seus carinhos. Aí meu coração se acalma.

Eu espero que esteja bem...

Mande-me noticias logo, sabe como sou preocupado e chato.

E sabia que eu o amo, amo mais que a mim mesmo... Amo acima de tudo. “

Dobrou a carta e a colocou em um envelope, adicionou destinatário e a deixou sobre a mesa. Colocaria no correio pela manhã.

-x-

Tinha passado um mês desde que ele mandará a carta e nada de resposta. Sentiu-se mal, talvez ela não tivesse chegado, talvez não tivesse tempo para responder, talvez...

Chegou exausto em casa, seu dia tinha sido cansativo e piorou ao ficar pensando na tal carta. Adentrou o apartamento, não ascendeu as luzes. Trancou a porta e foi para o quarto, tomaria banho e dormiria.

Deixou a chaves e o celular sobre a escrivaninha, sentou-se na cama e ficou ali um tempo, encarando o breu.

- Kanon... - Suspirou.

Ficou ali mais alguns minutos até ser tirado de seus devaneios pelo toque do celular, sem animo algum e sem nem ao menos ver quem era atendeu.

- Eu amo você. –

Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.

William Shakespeare. —