A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 37
Capítulo 37 – O Espaço Vazio Já Não Existe Mais


Notas iniciais do capítulo

Voltei o/
Antes de qualquer coisa, preciso esclarecer um pequeno mal entendido com quem chegou a vê a foto da menininha, mas não viu a nota. Pessoal Julinha não tem cabelos loiros, ela continua com o mesmo tom, igual o do pai.

Divirtam-se com capítulo :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/328735/chapter/37

Foram dois dias de empolgação e entusiasmo com a decoração do quarto da pequena. A mãe coruja fez questão de observar tudo de perto, dando seu veredito final.

Durante esses dois dias, Julia ficou proibida de entrar no quarto que a equipe de decoração trabalhava. Só poderia vê-lo quando estivesse totalmente pronto. Rosalie gostaria que a lembrança que ela guardasse daquele momento fosse a melhor possível. Estava ansiosa para ver a expressão em seu rostinho quando entrasse lá, pela primeira vez, depois dele pronto.

Seu próprio mundo encantado, com pôneis e unicórnios, em suas cores favoritas.

Por esse motivo Julia precisou ficar em período integral na escolinha. Claro que isso não agradou, e acabou chorando. Ficou extremamente manhosa. Deu trabalho para comer, pois tinha se habituado a almoçar na companhia dos dois desde que Rosalie retornou.

Mas sempre ficava radiante quando eles apareciam para buscá-la.

Estava sendo feito os últimos detalhes no quartinho dela. Rosalie mal via a hora de chegar o horário de ir buscá-la. Hoje sua gotinha de amor teria uma linda surpresa ao retornar.

– Prontinho Rosalie. Você já pode conferir o resultado final do quartinho de sua filha – Virginia, a decoradora, avisou. Já que Rosalie insistia em esperar do lado de fora do quarto.

Para ela, o toque final era a confirmação do futuro perfeito batendo à sua porta. O espaço vazio deixaria de existir em sua casa assim como em seu coração já não existia mais.

Emmett afagou os ombros dela, de pé atrás de suas costas. Ela parecia ansiosa e ao mesmo tempo indecisa.

– O que foi amor? Humm...?

– Talvez eu só devesse ver o resultado final com ela ao meu lado – lembrou. – Assim não me parece justo.

– Ela vai estar aqui daqui a pouco. Minha mãe já foi buscá-la – ele deslizou as mãos suavemente até encostar à barriga dela. – Eu poderia dizer para fazer de conta que ela estaria aqui – Rosalie estremeceu com a ideia, pois esse foi seu sonho em grande parte da vida. Contudo, o que disse a seguir fez aquilo parecer pequeno. Ele subiu a mão ao peito dela, no lado do coração. – Mas ela está aqui e daqui ninguém jamais poderá tirá-la. Em um ventre ela foi gerada, mas também foi rejeitada. Atacada. Mas aqui, Rose – ele afagou onde ficava o coração dela. – Aqui ela sempre foi amada. Desejada como poucas crianças foram. E como poucas terão a sorte de ser. Você a carregou consigo mesmo sem saber quem ela era.

Rosalie soluçou, emocionada. Ele desceu novamente o braço até a cintura dela, abraçando-a por trás, apoiando o queixo na curvatura de seu pescoço.

– Você tem razão, ursinho. Julia está e sempre esteve comigo. Meu útero pode ser seco. Pode não ter sido onde ela foi gerada, mas meu coração é fértil em abundância para amá-la por toda vida.

Emmett beijou demoradamente a curvatura do pescoço dela, roçando os lábios, sem pressa, na pele macia.

A porta do quarto foi aberta e a decoradora apareceu sorridente.

– Então gente?! Vocês já podem entrar pra ver como tudo ficou depois do toque final. Juro que segui ao pé da letra. Podem olhar sem medo. Digam o que acham antes de a filhinha de vocês chegarem.

Emmett deu mais um beijo no pescoço de Rosalie e deixou que ela fosse à frente. Ela parou ao dar o primeiro passo para dentro do quartinho, se permitindo observar toda a decoração que vira enquanto estava em andamento, porém, agora com seus retoques finais.

Paredes em tons de rosa exatamente como sua filhinha gostava. Com móveis modulados seguindo os padrões infantis. A cama de dossel – com laterais um pouco elevadas que impediam que caísse enquanto dormia – lembrava a cama de uma verdadeira princesa. Um jogo de cama rosa com almofadas no mesmo tom. Um laço em cada lateral do dossel. Tapetinhos macios. Algumas estantes de brinquedos e outras de livros. Pôneis em vários tamanhos se destacavam em algumas peças. Uma pequena penteadeira com um banquinho de assento almofadado. Mesinhas de cabeceira com pequenos abajures. No teto, uma iluminação suave. Mas seus olhos se fixaram em duas coisas que não havia sido ela a escolher. Em uma das paredes se destacava uma enorme moldura com uma foto de Julia, usando suas roupas de bailarinas, sentadinha no chão, no estúdio de ballet da tia Alice. Junto às almofadas havia uma folha de papel sulfite lilás. Havia algo escrito nela em uma caligrafia distorcida e infantil cercada de vários outros rabiscos.

Independente do que estivesse escrito nela, Rosalie sabia que Emmett tinha segurado na mãozinha da filha para que ela escrevesse.

A passos lentos ela se aproximou da caminha nova. Se curvou desviando das bordas do dossel para pegar a folha de papel. Mesmo obtendo ajuda do pai, seus errinhos de dicção foram preservados. Imaginou que Emmett tivesse deixado assim de propósito. Para fazer parecer que ela tinha escrito sozinha.

Você me amô mesmo cando ainda ela apenas uma estlelinha no céu. Me amô mesmo sem me conhecê ainda. E eu, eu te espelei, que té palecia que não chegava nunca. Eu só quelia um mamãe que me amasse, a mamãe da foto, e essa ela você. Minha mamãe Ose.

Um beijo lambuzado de danoninho

Julinha, sua gotinha de amô que faltava

Quando percebeu as lágrimas surgirem no rosto da esposa, Emmett se aproximou outra vez.

– Eu escrevi com ela quando você estava no banho.

Um sorriso suave alcançou os lábios dela, mesmo estando com lágrimas nos olhos.

– Eu sei ursinho... Nossa gotinha ainda não sabe escrever.

– Mas é a mais pura verdade o que está escrito aí.

– Eu sei que sim amor. Tenho tido um pouco do que está aqui a cada dia, a cada momento que estou com ela – sorriu, olhando a cartinha em suas mãos. Em seguida olhou para Emmett inclinando-se para beijá-lo.

Abraçada a ele, em um abraço lateral, continuou olhando a cartinha. Seu coração bombeando com alegria incomparável.

– Obrigada, ursinho.

Ele se curvou um pouco, beijando o topo da cabeça dela. Foi nesse momento que ouviram a voz infantil ecoar pelo apartamento, vindo da sala de estar, exigindo a presença dos dois.

– Papai ulsinho? Mamãe Ose? Julinha já chegô. A vovó Emes foi bucá Julinha e Calinho na ecolinha – como eles não lhe responderam de imediato, ela questionou a avó. – Vovó cadê o papai e a mamãe? Cadê vovó?

Esme sorriu vendo-os chegar à sala por trás das cotas de Julia, de mãos dadas.

– Olha eles chegando aí. Estão bem atrás de você, meu pedacinho do céu.

Ainda estava com a expressão tristonha quando virou o rostinho, no entanto, bastou vê-los para a carinha triste ceder lugar a um imenso sorriso de covinhas. De braços abertos e passinhos trôpegos, correu ao encontro deles, mas foi o pai quem a pegou no colo primeiro.

– Cadê seus tênis, docinho? – a mãe pediu, notando que ela usava apenas as meias brancas nos pezinhos, quando segurou sua perninha para da um beijo.

– Perdeu os tênis foi gotinha? – o pai brincou.

– Foi a vovó Emes que tilô. Pô caso que tava coxando aqui nesse pé, ó – ela segurou o pezinho esquerdo, como que mostrando onde havia sido tal da coceira.

– Estava coçando o pezinho – disse Rosalie. – Deixa a mamãe ver.

Julia esticou a perninha enquanto a mãe retirava a meia de seu pezinho e analisava todo ele.

– Encontrou alguma coisa amor? – Emmett pediu, tentando ver também.

– Não. Deve ter sido apenas uma coceirinha mesmo.

– Tinha alguma coisa dentro dos tênis dela quando você retirou mãe?

– Não tinha nada. Estava limpinho exatamente como está agora.

Rosalie tentou pôr a meia de volta no pezinho de Julia, mas ela se recusou.

– Não, mamãe. Não quelo mamãe.

– Não pode ficar descalça por aí filha senão você vai acabar ficando dodói.

– Tá coxando – ela resmungou.

– Não está coçando. Mas se ficar descalça vai coçar mesmo.

– Tem um chulé. Tá fidido muito de chulé.

– Não tem chulé. Você está tentando enrolar a mamãe. Deixa o papai ver se é verdade mesmo – ele puxou a meia que Rosalie segurava, fingindo estar mesmo fedida. – Nossa gotinha, que chulé.

Julia estendeu a mãozinha tentando alcançar à meia.

– Deixa eu chelá. Deixa eu papai.

Emmett encostou a mão de Rosalie, que ainda segurava a meia, ao narizinho dela. Desconfiada, deu uma fungadinha na meia. A expressão dos pais era de puro divertimento.

– Não tá fidido, papai. Não tá.

– Não?

– Não, você ganô Julinha. Não pode fazê isso, ganá as pessoas. Papai do céu fica blavo. Fica gimal.

– Mas você estava tentando enganar a mamãe.

– Eu pensava que ela fidido.

– Ah, tudo bem. Então deixa a mamãe pôr a meia de volta em seu pezinho.

– Tá. Põe mamãe – pediu, estendendo a pezinho.

– Está bem amor.

Rosalie passou a palma da mão no pezinho dela antes de pôr a meia de volta. E então a levou para seus braços.

– A mamãe e o papai tem uma surpresa pra você.

– Supesa?

– Isso gotinha.

– Calinho gota de supesa. E é o que mamãe?

– Se a mamãe falar deixa de ser surpresa amor. Você tem que ir até lá e ver com seus próprios olhinhos.

– E vovó Emes pode também?

– A vovó Esme pode também. Claro. Chama a vovó pra ir com a gente.

– Vem vovozinha – convidou, gesticulando a mão pequenina.

– A vovó já está indo, meu pedacinho do céu. Vai indo na frente. Estarei bem atrás de vocês.

– Supesa de que? – ela pediu novamente, dessa vez, encostando a mãozinha o rosto da mãe.

– Você já vai ver amor.

O casal foi à frente com a filha e a avó logo atrás. Não queria atrapalhar o momento tão especial para eles. Porém, estava pronta para registrar tudo com a câmera de seu celular.

Ainda no corredor, Julia avistou Virginia, de pé ao lado da porta, que estava fechada novamente.

– Oi, moça – ela saudou.

– Oi, princesa.

– Você tá visitano a gente?

– Digamos que sim.

– Olha o que tem lá dentro, filha – Emmett incentivou, levando a mão à maçaneta, girando devagar para abrir a porta.

– Não tem nada, papai, já equeceu? Só Julinha, Calinho e as bonecas que ficava lá epelano a mamãe. Té que não chegava nunca palece. Mas só palece – ressaltou com a mãozinha erguida.

– Olha lá dentro agora, gotinha – ele insistiu.

Rosalie chegou um pouco mais perto, com ela ainda em seus braços. Julinha se inclinou pondo a cabeça para o lado dentro, na brecha da porta.

– O que foi amor? – pediu Rosalie, ao notar um biquinho se formando nos lábios dela, e o azul de seus olhinhos ficarem cristalinos de lágrimas.

– Tem uma coisa muito bonita lá dentlo – falou, com muxoxos de choro.

– E você gostou?

O lábio inferir tremeu.

– Gosti. É de quem mamãe?

– É seu, minha vida.

Ainda com o lábio tremendo, piscou os olhinhos e lágrimas logo fizeram o caminho pelo seu rosto.

– Não. De Julinha é aquele – ela indicou com o dedinho o quarto que vinha ocupando desde que chegou para viver com o pai.

– Aquele é o de hospedes, meu anjo. A partir de agora o seu será esse daqui.

– Julinha é hospi?

– Não. Você é nossa filha. Nossa bebê linda. Lembra-se do dia em que você, o papai e eu estávamos no escritório daquela moça ali – Rosalie indicou Virginia, ao lado. – Então, estávamos escolhendo a decoração de seu quartinho. Você se esqueceu, né amor?!

Julia concordou meneando a cabeça positivamente. Ainda enquanto falava Rosalie entrou no quarto com ela nos braços. Emmett vinha logo atrás delas. Esme os seguia de perto, registrando tudo pelo celular.

Rosalie afagava as costas de Julinha, vez por outra beijando a testa oculta pela franja escura, de cabelinhos finos.

– Isso tudo é pra você, meu anjo. Mamãe e papai, com ajuda de Virginia, fizeram tudo especialmente para você. Ele antes era vazio porque estávamos esperando você chegar. Da mesma forma que você veio aqui e ficou no chão esperando a mamãe chegar, a mamãe também ficou aqui inúmeras vezes esperando e sonhando com o dia em que você chegaria. Você, minha gotinha, é o presente mais lindo e mais valioso que a vida me deu. Não é para você ficar assim, tristonha. Anda, meu bebê, cadê o sorriso lindo, igual o do papai, o sorriso que a mamãe ama.

Julia olhou para o pai, e lá estava ele exibindo suas covinhas. Ao olhar novamente para a mãe, estava com o mesmo sorriso estampado no rosto. Impossível resistir, Rosalie acabou esmagando os lábios em uma de suas covinhas. Logo depois a colocou no chão.

– É inteiramente seu, minha gotinha – estimulou.

Julia ia de um lado para o outro, encantada com cada detalhe, soltando pequenos suspiros de satisfação. Algumas vezes um risinho lhe escapava. A mãozinha o tempo inteiro mudando de direção enquanto exclamava:

– Que lindo, mamãe. Olha papai que lindo.

Tomada por emoções fortes, Rosalie apenas passava as mãos no rosto limpando as próprias lágrimas. Pensando que nada no mundo se igualava a sensação maravilhosa de ter seu sonho de ser mãe realizado. E a sensação inigualável de fazer um filho sorrir.

Quando Julinha subiu na cama, admirada por ser parecida com de uma princesa de contos de fada, deitando de barriguinha pra cima, observando o dossel, Rosalie encostou a cabeça ao peito do marido, e um soluço lhe escapou.

– Julia é a melhor coisa que você já fez por mim, e para mim.

Emmett sentiu os olhos arderem com lágrimas que se acumularam com a confissão dela. Ele também olhava a filha naquele momento.

– Sabe que eu as amo, não sabe?! Amo como nunca antes amei nada na vida – ele sussurrou.

– Eu a amo tanto que às vezes penso não ser boa o bastante, e então sinto medo.

– Você é a melhor mãe que Julia poderia ter. E, o mais importante de tudo, ela escolheu você. E eu também.

– Nossa bebê, ursinho. Nossa.

– Sim – ele murmurou, com os lábios próximos aos cabelos dela. – Nossa. Nós conseguimos amor... Nossa gotinha está exatamente onde tinha que estar. Que é ao nosso lado. Com os pais dela. Com as pessoas que amam mais que tudo na vida.

– Papai – a voz de Julia atraiu a atenção dos dois imediatamente. – Eu vô domí nessa cama? – ela deslizava as mãozinhas pela superfície do jogo de cama macio.

– Vai, sim. Com Carinho e todos esses pôneis que decoraram o quarto. Eles vão mandar seus medos embora. Para uma terra de onde os pesadelos nunca mais voltam.

Rosalie apertou os dedos na camisa do marido, comovida. De canto de olho viu Julinha descer da cama, correndo para os braços do pai.

– Isso tudo é muito lindo. Camasi lindo. E é muito cô-de-osa. Julinha ama cô-de-osa. Cô-de-osa é de plíncesas, pôneis e meninas.

– É – disse Emmett. – Tudo como minha gotinha gosta.

– É tudo de eu, de gotinha?

– Sim.

– Bigado, papai. Bigado mamãe Ose. Bigado papai do céu.

Depois de beijar várias vezes o rostinho de Julia, Emmett a colocou de volta no chão. Antes de ela sair correndo de um lado para o outro, mexendo em tudo o que lhe pertencia, agarrou as pernas da mãe em um abraço apertado.

[...]

Com a chegada do fim de semana eles planejaram algumas atividades.

No sábado foram à mansão almoçar com o resto da família. Na parte da tarde o casal levou a filha para assistir, no cinema, uma animação infantil.

Sentada no colo do pai, olhinhos azuis vidrados na grande tela, Julia sequer lembrou-se de comer das pipocas e suco que a mãe comprou para eles. Estava completamente fascinada. Embora quando chegaram quase tenha chorado por não ter uns óculos 3D para Carinho também. Foi ai que Emmett teve a ideia de pôr os óculos de sol de Rosalie no pônei de pelúcia da filha. E assim Carinho ficou, durante toda a sessão de cinema, fingindo estar usando um.

[...]

No domingo bem cedinho, em um avião particular, eles foram a San Diego visitar os pais de Rosalie.

Mesmo sua família tendo um hotel de luxo na cidade optaram pelo aconchego e comodidade do lar, na casa dos sogros.

Passava das quinze horas quando juntos decidiram levar Julia a praia para conhecer o mar.

Emmett já usava a sunga sob sua bermuda de sarja. Seus óculos de sol descansavam na aba do boné.

Conversava com o sogro, Ryan, enquanto Rosalie e Julia se trocavam no quarto. Grace estava trancada lá dentro com as duas a um bom tempo. Ambas tentavam convencer Julia deixar Carinho em casa para não sujá-lo, ou pior ainda, perdê-lo.

Rosalie teve que barganhar a “soneca de Carinho” com um baldinho de praia.

Emmett e Ryan sorriram quando Julia surgiu na sala de estar usando roupas de banho: um maiô cor-de-rosa, com babadinhos nas laterais, da Lilica Ripilica. Seus pezinhos estalavam no chão ao caminhar descalça. Na cabeça, um chapeuzinho florido chamava atenção.

Embora uma parte de suas cicatrizes ficasse exposta, as da barriguinha estavam encobertas pelo maiô.

– Papai – ela cantarolou. – Vovô Yan. Olha só plá Julinha. Ficô munita? Ficô?

– Está linda, gotinha – afirmou o pai.

– E você vovô Yan, gostô de Julinha com essa opa de paia?

– Sim. Está uma gracinha. Uma bonequinha toda em cor-de-rosa.

– Tem lilás também vovô.

– Ah, sim, tem lilás também.

Emmett ainda sorria quando a figura de Rosalie atraiu seu olhar. Sobre o biquíni preto ela usava uma saída de praia em um tom grafite transparente, e um elegante chapéu de sol na cabeça. Embaixo do braço, uma bolsa devidamente escolhida para a ocasião. Seus óculos de sol estavam descansando na alça da bolsa junto ao de Julia. Em uma das mãos segurava um par de chinelinhos de borracha, obviamente em tons de rosa.

– Vem filha. Vem calçar os chinelinhos. Olha a mamãe também está de chinelo. E até o papai. Vem gotinha.

– Vai com a mamãe para ela pôr os chinelinhos nos seus pés – Emmett incentivou.

Sem reclamar Julia correu ao encontro da mãe, que se abaixou para pôr os chinelinhos nos seus pés.

Toda rolicinha naquele traje de banho, ela caminhou a passos curtos rumo à porta de saída.

– Vamo plá paia.

– Vamos sim gotinha – disse Rosalie, indo atrás dela. O sorriso em seus lábios era apenas o reflexo da felicidade encontrada em seus olhos.

Como o pai não se moveu Julia o chamou.

– Vamo, papai. Vamo plá paia.

Emmett gargalhou, meneando a cabeça. Ao olhar para o sogro disse:

– Ela está toda animada, quero só ver quando chegar lá que vê o mar.

– Se ela ficar medo, melhor não forçar – avisou Ryan.

– Se for assim deixaremos que fique apenas na areia. Deus me livre de causar mais traumas em minha filha.

Enquanto Emmett falava com o sogro Rosalie abria a porta para uma Julia impaciente passar.

– Dá tchau pra vovó e para o vovô. Fala pra eles que você volta daqui a pouco.

– Tchau vovó Geice. Tchau vovô Yan. Julinha volta daqui de poco, tá bom?! Vai só vê a paia com o papai e a mamãe.

– Sim, minha netinha linda – concordou Grace. – Vovó vai te esperar com um bolo. Já sei até qual o seu favorito.

– Toconate – Julinha quase gritou de empolgação.

– Isso. É exatamente de chocolate que a vovó vai fazer. E o vovô Ryan vai ajudar pondo o granulado em cima.

– Já tá plonto?

– Não. Ainda não, meu amor. A vovó vai fazer enquanto você estiver na praia.

– Tá. Então vamo logo plá paia.

Ela passou para a varanda levando o baldinho na mão. Enquanto seguiam atrás dela, Emmett sussurrou a Rosalie.

– Onde está Carinho? Pensei que ela fosse chorar para trazê-lo também.

Rosalie olhou dele para Julia, depois para ele novamente, e então sussurrou.

– Ficou em nossa cama, enrolado em nosso cobertor. Ele está dormindo – ela ressaltou com divertimento.

– Ah, isso explica. Vem cá – ele pediu, segurando na mão dela. – Julinha espera o papai e a mamãe.

– Quelo í plá paia – disse ela, parando de andar.

– Já estamos indo filha. Vem cá, segura na mão da mamãe.

Julia olhou na outra mão dele. Estava ocupada segurando um guarda-sol.

– Que isso, papai? Que isso?

– É para proteger você do sol enquanto estiver brincando na areia.

– Julinha gota de blincá na aleia.

– É eu sei. Você brinca na caixa de areia da escolinha e também na da casa da vovó Esme. Vai ser como uma caixa de areia gigante.

Ainda olhando o objeto na mão do pai, ela se aproximou estendendo a pequena mão para a mãe.

Como não ficava muito longe foram a pé mesmo.

Assim que alcançaram a orla marítima Julia pediu colo. Estava com medo do barulho que o mar fazia.

– Não tenha medo amor – disse Rosalie.

– Balulo esse? – pediu chorosa.

– É do mar, gotinha – Emmett foi quem respondeu.

– É um montlo.

– Não é um monstro, filha.

– Quelo í plá casa da vovó Geice.

– Mas você não estava ansiosa pra vir na praia? – continuou Rosalie.

– Não quelo masi í na paia. Quelo ficá com Calinho. Ele tá com medo.

– Ele não está com medo, gotinha. Carinho está dormindo gostosinho, lá na nossa cama, na casa da vovó Grace.

– Ele tá com medo – ela repetiu, fazendo beicinho, dando sinal de que iria chorar.

– Não precisa ter medo, gotinha. O papai e a mamãe estão aqui com você – disse Emmett.

Pouco a pouco foram chegando mais perto da faixa de areia. Emmett se encarregou do guarda-sol e Rosalie estendeu uma toalha na areia. Julia esteve agarrada a perna dela durante esse processo. Como ela já estava encoberta de protetor solar, apenas o casal passou, um no outro.

Depois de um tempinho brincando na areia com ela, Emmett decidiu que era hora de um mergulho.

– Rose, eu vou lá – avisou.

Ela estava focada na brincadeira na areia com a filha, mas ergueu a cabeça por instante.

– Tudo bem.

Após bater as mãos uma na outra ele ficou de pé. Esticou os braços pra cima e pros lados, como se estivesse fazendo aquecimento. Sem pressa começou ir em direção ao mar.

– Não papai, não – Julia se apavorou ao perceber para onde ele estava indo. – Papai. Papai volta. Volta papai.

E quando o pai mergulhou, desaparecendo embaixo das ondas, Julia ficou aos prantos.

– Papai... Pa-pai. Pa-pai.

Rosalie a pegou no colo tentando consolá-la. Caminhou com ela nos braços até onde o mar lambe a praia, esperando Emmett aparecer para aliviar o coração de sua pequena.

– Tem tubalão... – ela soluçou.

E então ele apareceu entre as ondas, com água escorrendo por todo o corpo. Os olhinhos de Julia se tornaram ansiosos no mesmo instante. Ele iria mergulhar outra vez, quando Rosalie começou chamar seu nome.

– Emmett. Emmett. Emm.

– O que? – ele pediu, ainda enquanto se virava na direção que elas estavam.

– Volta. Volta ursinho, ela está chorando. Ela está com medo.

– Medo do que? – pediu ele, retornando. As ondas quebravam em suas pernas a todo instante.

– Medo de alguma coisa acontecer a você. Medo de tubarão.

Um sorriso curvou os cantos do lábio dele e as covinhas surgiram salientes.

– Eu iria lutar com ele – brincou.

– Bobo – disse Rosalie, observando-o se aproximar.

Julinha ainda chorava quando ele parou ao lado delas. Seus bracinhos logo se estenderam na direção do pai. Ela fungava quando ele a levou para seus braços, molhados pela água do mar.

– Pronto o papai já está aqui. Não precisa chorar gotinha. O papai não vai mais.

– O colação fica muito pulano papai. O colação de Julinha... Não vai masi na paia, papaizinho. Não vai masi.

– Está bem o papai não vai mais.

– Nem a mamãe – ela avisou.

– A mamãe não vai amor – esclareceu Rosalie. Depois de vê-la em pânico por causa do pai, não iria arriscar tudo outra vez.

Enquanto isso, Julia ficava molhada pela água salgada que escorria dos cabelos e peito de Emmett.

Eles retornaram a faixa de areia e ficaram por ali mesmo, por mais alguns minutos, brincando sob o guarda-sol.

Rosalie foi a primeira a dizer que era hora de ir embora. Emmett recolheu tudo sem reclamar. Ela retirou o excesso de areia do corpinho de Julia lavando ela com água do mar, que pegou com o baldinho.

– Só pra não dizer que não encostou na água do mar, né filha – comentou, sorrindo.

Logo depois eles partiram. Rosalie levava Julia no colo, e Emmett todas às outras coisas, inclusive a bolsa dela. No celular dos dois havia novas fotos, algumas delas eram selfies, onde apareciam os três.

No caminho de volta Julia tomou água em seu copinho com tampa. Assim que eles chegaram à varanda ela se lembrou da promessa da avó Grace de lhe fazer um bolo de chocolate.

– A vovó feze bolo de toconate – se remexendo no nos braços da mãe, tentando ir para o chão.

– Nem pensar. Primeiro vai tomar banho com a mamãe. Olha só, estamos sujas e grudentas. Vai sujar toda a casa da vovó.

– Quelo í – choramingou.

– Primeiro o banho.

Ela fez beicinho.

– E o papai?

– O papai vai tomar banho também, mas antes somos você e eu.

– Já estão de volta? – disse Grace, surgindo na porta.

– Uma pessoinha – respondeu Rosalie, olhando sugestivamente para Julia em seu braço – não quis entrar no mar de jeito nenhum.

– Não acredito.

– Teve um medo danado – disse Emmett. – Nem mesmo Rose e eu tivemos chance de ficar na água. Eu ainda dei um mergulho, mas, Rose nem isso. Chorou demais quando eu entrei.

– Oh, meu Deus – Grace olhou para Julinha. – Pronto, meu anjo, agora já está na casa da vovó. Vai tomar um banho com a sua mamãe e depois vem pra vovó te dar um pedaço do bolo de chocolate.

– Cadê o vovô Yan?

– O vovô está lá na cozinha terminando de confeitar o bolo pra você.

– Ah. E ele já comeu do bolo de toconate?

– Não, estávamos esperando por vocês.

– E vai epelá Julinha tomá bainho e lavá com pupu cheiloso o cabelo?

– Vamos sim. Vai lá com a mamãe.

–Tá.

Os três se retiraram da sala. No banheiro do quarto que estavam ocupando, Julia tomava banho com a mãe enquanto o pai esperava sentado no chão, de costas para o box. Às vezes ele se pegava sorrindo das coisas que as duas falavam. Assim que elas deixaram o banheiro, enroladas em toalhas, ele correu para dentro do box gritando para Rosalie que fechasse a porta ao sair.

Minutos depois uma garotinha fugia do quarto, interessada no bolo de chocolate que a avó materna havia feito.

Acabou que todos, sentados à mesa, comeram do bolo e tomaram um copo de suco de uva. Alguém sempre acabava rindo de algo que Julia fazia ou falava. E seu rostinho todo lambuzado de chocolate não ajudava. Rosalie teve que improvisar uma fralda como babador para que ela não se sujasse ainda mais.

Pouco tempo depois todos os cinco saíram juntos no carro de Ryan. O destino seria o parque de diversões Belmont Park, localizado na área da baía. Tendo muitos locais divertidos e atrações para todas as idades.

Em meio a tantas famílias com crianças Grace e Ryan caminhavam um pouco mais a frente de mãos dadas com a netinha. Julia tinha acabado de ir em alguns dos brinquedos.

O casal vinha logo atrás, de olho no jeitinho como a filha se encantava fácil com tudo o que via. Algumas vezes até pulando.

De tempos em tempos, trocavam um beijo e um carinho, os levando parecer um casal de namorados. Com uma mão na dele, ela carregava na outra uma toalhinha que estava sendo usada para limpar a boca de Julia sempre que comia algo. Assim como Emmett, que na outra mão carregava uma girafa de pelúcia, em tamanho médio, cujo ele mesmo tinha ganhado pra ela no tiro ao alvo.

Um pouco mais a frente Rosalie assistiu a filha pedir pra ir ao colo do avô. Mas assim que olhou para o lado viu algo que sabia que Julia iria se apaixonar: o carrossel.

– Ei, papai, espera um pouco – pediu Rosalie. Ryan estava prestes a pegar Julia no colo, quando parou para olhar pra filha. – Eu quero vê-la no carrossel.

– Aonde? – ele não ouviu direito por conta de todo o barulho em volta.

– No carrossel – disse ela, largando a mão do marido, indo receber a filha. – Vem amor. A mamãe vai te levar pra dar uma volta no carrossel.

Os olhinhos, de um azul imaculado, brilharam feito a mais preciosa joia quando avistou o carrossel completamente iluminado.

– O caoxel – ela comentou animada. Os pais gargalharam quando soltou um gritinho de empolgação. – Os cavalinhos! – gritou outra vez.

– Em qual deles você que ir amor?

– O que tem o negócio de cô-de-osa.

– Claro, porque não pensei nisso antes – falou consigo mesma.

Todos eles se aproximaram da cerquinha branca que mantinha as pessoas afastadas do brinquedo. Emmett pegou Julia no colo e foi colocá-la em cima do cavalinho que ela mesma escolheu.

– Segura firme, gotinha. Não solta isso de jeito nenhum.

Com um beijinho na testa, ele se afastou. Rosalie pegava o celular para fotografá-la quando ele ficou novamente ao seu lado. Ao lado de Ryan a avó Grace fazia o mesmo com seu celular.

O brinquedo começou sua primeira volta, levando uma Julinha sorridente. Rosalie a fotografava todas as vezes que o cavalinho que ela estava passava em frente a eles. Emmett ficou atrás dela, com os braços em volta da cintura, mesmo com a girafa de pelúcia atrapalhando um pouco. Em um dos momentos que o cavalinho voltou-se para o outro lado, retirou um selfie com o marido.

Algumas voltas depois o brinquedo parou. Novamente Emmett foi buscar a filha. Dessa vez Julia ficou nos braços dele enquanto caminhavam pelo parque.

O avô Ryan se afastou deles por um instante e ao retornar trouxe consigo um balão de gás hélio com estampas de pôneis, em tons de rosa e lilás. Julia adorou o presente. Agora ela levava não só Carinho, mas também segurava a corda de um bonito balão.

Alguns minutos depois, com Julia adormecida nos braços do pai, acharam melhor voltar pra casa. Quando Ryan estacionou na entrada de carros, Rosalie estava com ela no colo, ao lado de Grace no banco traseiro.

Emmett logo tratou de pegar todas as coisinhas da filha – e isso incluía uma maçã do amor – e levá-las para dentro de casa. Ele seguiu Rosalie pela casa dos sogros rumo ao quarto que estavam ocupando.

Mesmo com dor no coração por ter que fazer isso, ela precisou acordar Julia para lhe dar um banho e escovar seus dentinhos. Ela estava grudando de tanto algodão doce que comeu, além de outras guloseimas.

Ela chorou um pouquinho, mas o banho foi rápido. Depois a sentou na bancada da pia enquanto escovava seus dentinhos. Como fazia todas as noites, colocou uma fralda nela para não fazer xixi na cama. Como já estava enjoadinha por causa do sono, a mãe nem vestiu o pijama deixou apenas de fralda mesmo. De qualquer forma, estava fazendo calor.

Emmett já se encontrava largado na cama, usando apenas sua cueca boxer preta. Julia só sossegou quando a mãe lhe entregou a chupeta com o paninho.

Cutucando nas costas do marido perguntou:

– Ei, ursinho, você não vai tomar banho não?

– Estou cansadão – resmungou, com o rosto grudado no travesseiro.

– Está igual à Julinha. Mas acontece que Julinha tomou banho.

– Nada disso. Você deu banho nela na marra.

– Ela estava grudando. Não foi por mal – esclareceu, empurrando com a mão as costas do marido. – Olha só pra ela, está tão cheirosinha. Não que dar um cheirinho papai?

Ele sorriu ainda com o rosto escondido no travesseiro. Se remexeu um pouco e logo estava olhando a filha ao seu lado. Devagar encostou o nariz do rostinho dela aspirando seu cheirinho bebê.

– Está cheirosona – constatou, sorrindo. – Ela iria adorar me ouvir dizer isso se estivesse acordada.

– Com certeza que sim. Ursinho, eu vou tomar um banho antes de me deitar.

Ela já saia da cama quando ele mudou de ideia.

– Acho que um banho agora cairia muito bem.

– Jura?! – ela debochou.

No minuto seguinte os dois entravam no banheiro juntos. Acabou que o banho demorou mais que o previsto. Toda preguiça dele pareceu ter evaporado ao entrar no box com ela.

[...]

Quando a manhã chegou, estavam dormindo com a filha entre eles. Nada de pesadelos. Aquela havia sido mais uma noite de sono tranquila para Julia.

Com o sol ainda brilhando fraco lá fora, Julia tinha uma perninha em cima da barriga da mãe, a chupeta na boca, o paninho em uma mão e Carinho ao lado do corpo. A respiração tranquila e suave.

Rosalie abriu os olhos devagar. Bocejou uma vez, e olhou para os dois dormindo ao seu lado. Acariciou os cabelos finos da filha, voltando adormecer segundos depois com a certeza de que não havia mais espaço vazio em sua vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E o quartinho ficou pronto ♥
Hoje é aniversário de quem, de quem, do Kellan Gostoso Lutz ♥. Meu marido e pai dos meus filhos sqn, caí da cama e vi que tudo não passava de um sonho. Sonho lindo que se foi. Esperança que esqueci... Opá, isso já é uma música do Paulo Ricardo rsrs
Se puder deixe um comentário :)
De acordo com o que planejei, o próximo deverá ser o último.
Beijo, beijo
Sill