A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 35
Capítulo 35 – Uma Mamãe Ansiosa


Notas iniciais do capítulo

Oi gente bonita! Capítulo novo chegando o/



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Entre uma coisa e outra para fazer durante a manhã, Emmett mal reparou nas horas passarem. Para Rosalie, no entanto, não foi bem assim. Se pegou verificando o relógio de segundo em segundo e sempre bufava, frustrada, ao perceber que pouco tinha se passado desde a última checada.

Não via a hora de poder voltar à escolinha e receber a filha de volta em seus braços. Realizando assim mais um de seus desejos envolvendo a maternidade. Ainda assim, não podia negar o fato de que queria reencontrar o marido. Novamente estando juntos os três.

Emmett sequer conseguiu tempo para ligar pra ela antes do horário que combinaram de se encontrar para pegar a filha na escola, isso estava incomodando-o um pouco.

Estava de saída, deixando o escritório, a caminho do elevador, mexendo no celular em busca do contato dela.

De cabeça baixa, apenas deu um “até logo” a secretária.

– Senhor McCarty, por favor... – ela o chamou, um tanto apressada, ficando de pé, cobrindo o receptor de voz do telefone com uma das mãos. – É um telefonema pro senhor. É o representante... – ela não pôde terminar, pois ele a interrompeu antes mesmo de levar o celular ao ouvido.

– Estou indo buscar minha esposa agora. Iremos juntos buscar nossa filha na escola. De lá estamos indo almoçar, não posso assumir outro compromisso nesse momento, senhorita Janine. Cuide disso pra mim.

– Eu sei senhor. Mas, é que...

– Seja qual for a urgência, passe pro meu irmão. Nesse momento nada é mais importante que minha mulher e minha filha. Perdi muito tempo de minha vida sendo um completo imbecil, dessa vez quero fazer a coisa certa.

– Senhor lamento informar, mas seu irmão não está...

Emmett apertou o botão do elevador e ficou aguardando.

– Meu pai pode resolver isso. Caso não consiga, marque outro dia, em outro horário, e eu mesmo cuidarei disso. Agora realmente não posso.

– Sim, senhor. Um bom almoço para você e sua família.

– Obrigado – respondeu ele, dando alguns passos à frente, entrando no elevador. Novamente apertando o botão.

Imediatamente concluiu a ligação para Rosalie.

– Oi amor – do outro lado da linha, a voz dela soou doce.

– Estou saindo agora. Em alguns minutos estarei aí.

– Faz alguns minutos que estou te esperando. Já finalizei tudo o que tinha pra resolver por aqui. Estou totalmente livre para estar com vocês. Onde você está? Está dirigindo? Se estiver, desligue o telefone agora.

– Calma amor. Eu ainda estou no elevador – as portas se abriram no térreo enquanto ele ainda falava. – Quer dizer, estava, estou saindo nesse momento. Vou pegar o carro agora. Em dez minutos, no máximo, estarei aí.

– Dirija com cuidado, ursinho. Não precisa ter pressa. Segurança em primeiro lugar.

– Por você e Julinha, sempre – ele afirmou, causando grande satisfação a ela. – Beijo!

– Beijo – ela falou, com a voz suave.

No minuto seguinte, ele estava dentro do carro se preparando para ir ao encontro dela.

Foi exatamente onze minutos, apenas um minuto a mais, o tempo que levou para chegar até ela.

Ele ao menos teve tempo de sair do carro para recebê-la, ela já o aguardava na portaria da casa de festas. Equilibrando-se graciosamente sobre os saltos, deu uma corridinha cautelosa para poder alcançar, o quanto antes, o carro do marido.

Mesmo estando dentro do veículo, Emmett abriu a porta para ela entrar. Após sentar-se no banco ela se inclinou para beijá-lo, seus lábios se unindo demoradamente. Ambas as mãos espalmadas no rosto dele, sentindo a textura da barba por fazer.

Por fim, quando começou se afastar, ele segurou firme em sua cintura, querendo mais daquele beijo.

– Senti saudades... – ele confessou, com as palavras sendo sufocadas pelo beijo.

Um sorriso radiante brincou nos lábios de Rosalie.

Conseguindo se afastar um pouco, embora também estivesse curtindo aquele momento, ela avisou:

– Precisamos buscar nossa filha...

– Sim – ele concordou, porém, puxando-a para mais um beijo. – Ela já deve estar nos esperando – disse após beijá-la. – A professora dela já sabe o horário que passo para buscá-la em determinados dias. Ela apenas fica o dia inteiro quando tem atividades importantes no período da tarde, ou realmente preciso que fique por causa do meu trabalho.

Enquanto esteve falando, Rosalie brincava, com as pontas dos dedos, com as covinhas que marcavam as bochechas dele. Tão exibidas e incrivelmente adoráveis.

– Então, vamos buscar nossa gotinha. O que estamos esperando? Estou que não me aguento de vontade de vê-la, de segurá-la novamente em meus braços. Sentir novamente seu cheirinho... Que saudades do meu bebê.

– Amor faz apenas algumas horas que você a viu – ele sorriu. Contudo, sabia exatamente como a mulher se sentia.

– Pra mim parece uma vida inteira... – ela lamentou, formando o beicinho proposital nos lábios.

Emmett a abraçou firme pela cintura. Beijou de leve seus lábios. E então aspirou o perfume do pescoço com uma longa fungada.

Ainda enquanto se afastava, fez um pedido.

– Feche a porta, amor.

Só então ela se deu conta de que não tinha fechado a porta ao entrar no carro.

– Estava tão cheia de saudades desse meu urso que acabei me esquecendo da porta... –comentou.

Afastou-se dele para fechar a porta, depois aprumou a postura no assento, escovando os cabelos com as pontas dos dedos.

– Está linda assim – ele comentou, olhando-a de canto de olho, ao mesmo tempo em que ligava o motor do carro.

E foi enquanto dirigia que segurou na mão dela, que descansava na coxa.

– Fique sempre comigo – pediu em um murmúrio.

– É o que pretendo.

Com essa confirmação, as covinhas voltaram a brincar nas bochechas dele fazendo-o parecer um garotinho, na manhã de natal, ao encontrar o presente que tanto desejava.

Durante o trajeto até a escola da filha, um perguntou ao outro o que tinha feito durante as horas que estiveram afastados, e como havia sido.

Quando o carro se aproximou da rua exata, a rua que Rosalie jamais esqueceria mesmo que vivesse mil anos, ela ficou inquieta no assento, louca para saltar do veículo.

Emmett estacionou ao lado da calçada. No mesmo instante Rosalie arrancou o cinto de segurança se preparando para abrir a porta.

– Vai com calma. Rose, amor, o que pensa que está fazendo? Ei, isso não é uma competição. Você não precisa chegar à frente.

Ela se virou para olhá-lo, mesmo com um dos pés já tocando o meio-fio.

– Eu sei, mas, é que não aguento. Estou muito ansiosa, carambola. Quero minha gotinha de amor de volta. Aquelas pessoas tiveram mais sorte que eu, pois estiveram com ela durante toda a manhã.

Dizendo isso, se retirou do carro, fechando a porta atrás de si. Olhos vidrados nos portões da escolinha, onde um segurança pairava, usando um terno preto.

Emmett deu a volta, passando em frente ao carro, em seguida, subindo na calçada. Manteve a grande mão espalmada nas costas da esposa, ao caminharem para mais perto dos portões. Mesmo o segurança pairando o local, foi Sabine, a monitora, quem falou com eles, logo após entregar um garotinho aos cuidados da mãe.

– Eu irei buscá-la agora mesmo – avisou. – Ela está muito ansiosa a espera de vocês. Não fala em oura coisa.

Emmett olhou de Sabine para Rosalie, acrescentando um comentário.

– Pelo visto ela não foi a única.

Sabine sorriu. Rosalie olhou para o marido, em seguida, suspirou longamente. Deixou as costas se acomodarem nos músculos do peito dele, enquanto ele lhe beijava o topo da cabeça.

A monitora sumiu corredor adentro, voltando minutos depois, de mãos dadas com uma garotinha entusiasmada.

Mesmo a escolinha sendo período integral Julia não era a única que, por vezes, saída mais cedo.

Julinha trazia a lancheira em uma das mãos, e Carinho embaixo do braço. A mochila de rodinhas estava com Sabine. Na mesma mãozinha que segurava a lancheira, trazia também uma folha de papel com um desenho feito por ela mesma, em giz de cera.

Aquele par de olhos azuis imaculados vagueou ansioso buscando a presença dos pais. Bastou vê-los do outro lado dos portões, para largar a mão de Sabine e correr até eles, com passinhos vacilantes.

O sorrido de covinhas, herdadas do pai, brincava em seu rostinho inocente.

– Papai. Papaizinho. Mamãe Ose – ela cantarolou feliz, em meio à corrida, com bracinhos erguidos, como que dessa forma adquirisse mais equilíbrio.

Rosalie se afastou do marido, com lágrimas nos olhos. O segurança abriu o portão o suficiente apenas para Rosalie passar. Ela atravessou para o outro lado, e se abaixou esperando pela filhinha com os braços abertos.

– Você veio mamãe Ose. Você veio mesmo – dizia Julia ao mesmo tempo em que se lançava aos braços da mãe.

– Minha gotinha de amor – murmurou Rosalie, envolvendo-a em seus braços, com um amor imenso. Imutável.

– A mamãe não prometeu que estaria aqui te esperando quando você saísse?! Humm...? Então, a mamãe veio – Rosalie ficou de pé, dando vários beijinhos e cheirinhos por toda ela. – Minha bebê linda. Você sentiu saudades da mamãe? Porque a mamãe estava quase sufocando sem você por perto minha vida.

– Julinha sentiu uma sodadona – respondeu, envolvendo o pescoço da mãe com bracinhos curtos.

A mãe a abraçava com afagos nas costas.

– E o papai não ganha um abraço também – pediu Emmett, chegando mais perto das duas, repousando a mão nas costas da filha.

– Meu papaizinho – Julia murmurou, estendendo os bracinhos para ele, que a levou para o colo. Ele beijou, cheirou e afagou o rostinho da filha.

– Gotinha do papai – disse ele.

Mesmo sabendo que era impossível ele deixar a filha cair, Rosalie se manteve pairando a criança.

Sabine se aproximou de mansinho, sem querer ser invasiva. Entregou a mochila de Julia a Rosalie, que murmurou um abrigado. A moça lhe sorriu educadamente e se afastou.

Emmett retirou a lancheira das mãos de Julia e entregou a Rosalie, que também já segurava Carinho.

– O que é isso, gotinha? – ele pediu ao notar o papel que a filha segurava.

– É um desenho papai.

Ela mexeu a mãozinha tentando uma forma de ver melhor as figuras no papel.

– Foi você quem fez?

Ela meneou a cabeça afirmativamente.

– Mostra pro papai o que você fez aí – ele pediu.

– É a famila de Julinha.

– É a família de Julinha? – ele repetiu orgulhoso. – Mostra pra mamãe também.

Julia olhou para Rosalie, seus olhinhos brilhavam, e entregou a ela o desenho.

– É plá você, mamãe Ose.

– É pra mamãe – disse ela, comovida. – Que lindo amor.

Antes de recebê-lo beijou a pequena mão que o segurava. Enquanto observava o desenho, uma lágrima solitária percorreu sua bochecha, vindo cair no desenho que Julia havia lhe entregado.

Em traços infantis e indefinidos havia a ilustração de uma família naquele papel. Sendo os membros dela: Grace, Ryan, Esme, Carlisle, Edward, Isabella, Alice, Emmett, a própria Julia, Carinho e Rosalie. Exatamente um ao lado do outro, nessa mesma sequencia, todos de mãos dadas.

Julia havia usado tons de cores semelhantes pra definir a cor dos cabelos de cada um deles, o mais próximo que conseguiu segundo sua visão de criança. Porém um fato a mais atraiu o olhar da mãe; Julia havia desenhado a si mesma com cicatrizes sendo fiel a sua realidade.

Emocionada, Rosalie afagou a menininha do desenho com a ponta dos dedos.

– É os dodóis – Julia explicou, inocente.

A mãe tentou não chorar, embora tenha sido extremamente difícil. Ainda segurando o desenho, abraçou a filha, acolhendo o marido junto.

Com o rosto colado ao da garotinha, murmurou:

– Mamãe te ama tanto... Tanto... Tanto.

Julia puxou o bracinho que havia ficado preso entre eles, passando logo em seguida em volta do pescoço da mãe, prendendo os cabelos dourados junto. Em seus lábios rosados um beicinho se formou.

– Mamãe tá cholano – disse ao pai, o beicinho tremendo.

Emmett passou a mão na testa dela. Rapidamente Rosalie passou as mãos no próprio rosto afastando as lágrimas.

– Não fique triste, minha vida. A mamãe não está mais chorando – ela esclareceu. – Me dá ela, Emm – e então estendeu os braços solicitando a filha de volta.

Emmett lhe entregou Julia de bom grado. Em seguida foi abrir a porta do carro. Guardou a mochila, a lancheira e Carinho. Esperou a esposa colocar a filha em sua cadeirinha, no banco de trás.

– Eu irei aqui atrás com ela – Rosalie avisou.

Assim que ela entrou no veículo e se acomodou ao lado da cadeirinha de Julia, Emmett fechou a porta, logo depois seguiu para seu lugar, no assento do motorista.

Antes de ligar o motor, olhou as duas através do espelho retrovisor. Rosalie acariciava os cabelos de Julia com tanto carinho que era quase palpável. Satisfeito com o que vira, manobrou o veículo voltando para o trânsito.

– Fala pra mamãe quem são as pessoas que você desenhou aqui – Rosalie pediu. Mesmo sabendo que era toda a família, gostaria de ouvi-la falar.

Julia encostou o dedinho na folha de papel cheia de cores e rabiscos que a mãe segurava.

– Aqui – ela pediu, com os olhinhos indo do papel para a mãe.

– Isso amor. Quem são todas elas?

Conforme ia encostando o dedinho indicador na figura, ela revelava seus nomes.

– Vovó Geice, vovô Yan, vovó Emes, vovô Calai, titio das histólias plíncipe, titia Bella, que não é da Fela, minha titia bailalina, o papaizinho, Julinha, Calinho e mamãe Ose – seu dedinho que tocava na Rose do desenho passou a tocar na Rose real. – Minha mamãe.

Rosalie segurou a mãozinha cobrindo de beijos a palma e o dorso.

– Sim, eu sou sua mamãe. A única, minha vida.

Emmett ouvia a tudo em silêncio, com o coração dando cambalhotas dentro do peito, tamanha satisfação.

Assim que parou o carro no estacionamento do restaurante, Rosalie retirou Julia da cadeirinha e trocou seu uniforme escolar por um vestidinho floral. Retirou os tênis e calçou nos pezinhos dela um par de sapatilhas que combinava com o tom da estampa do vestido.

Ela saiu do carro com a filha no colo. Emmett os aguardava com a porta aberta. Como Julia segurava Carinho, ele pegou a bolsa de Rosalie e levou com ele, pendurada na mão.

Manteve a mão livre o tempo inteiro na lombar da esposa, guiando-a para dentro do restaurante.

O garçom trouxe para junto da mesa uma cadeirinha para Julia. Eles reversavam na tarefa de cortar os alimentos no prato da filha. E quando ela se recusava a comer algo, um dos dois se encarregava de servi-la anulando sua chance de escola.

Pouco antes de terminarem a sobremesa, Julia os alertou.

– Peciso fazê cocô.

Nenhum dos dois ficou surpreso. Principalmente o pai, que já passara por esse momento muito mais vezes que a mãe. O organismo dela funcionava como um reloginho.

– A mamãe vai te levar, tá? O papai precisa fechar a conta – Emmett avisou.

Antes mesmo de ele terminar de falar, Rosalie já estava retirando Julia da cadeirinha.

– Nos encontre assim que puder – avisou, saindo de lá com a filha no colo.

Julia mantinha as duas mãos sobre a barriga, alertando da emergência.

– Está doendo à barriguinha filha?

– Não. Só que tem que í ápido.

– Ah, já estamos indo. Aguenta só mais um pouquinho.

Não levou mais que alguns segundo para chegarem ao banheiro feminino. Tão limpo e perfumado quanto o do apartamento deles.

Quando a mãe ergueu o vestidinho dela, ela olhou em volta, parecendo buscar por algo.

– Cadê o tloninho? Cadê, mamãe?

– Não tem troninho aqui filha. Vai ter que ser no vaso de gente grande mesmo.

– Titia balalina case deixô Julinha caí no vaso de oto dia.

– Mas a mamãe vai te segurar. Não vou deixar você cair dentro do vaso.

Alguns muxoxos de choro se seguiram, por culpa da insegurança adquirida recentemente.

– No tloninho, mamãe – choramingou, com as mãozinhas na barriga.

– Não tem troninho aqui, gotinha.

– Põe o negócio.

– Que negócio filha? Ah, o adaptador para crianças – concluiu consigo mesma. –Também não tem aqui. Você não vai cair, eu te seguro. Vem, deixa a mamãe te ajudar.

Rosalie finalizou com a roupinha dela, e quando a levou para sentar no vaso, ela estremeceu agarando-se em seus braços, como se na privada tivesse um monstro a sua espera.

– Mamãe. Ma-mãe.

A mãe desistiu, deixando-o de pé ao lado do vaso.

– Se o papai te segurar você ainda tem medo?

– Quelo o papai... – ela pediu, beirado o choro.

– Está bem, a mamãe vai chamar o papai.

Rosalie remexeu na bolsa em busca do celular. Ligou pra Emmett assim que localizou o contato dele na agenda.

– Cadê vocês? – pediu ele, um tanto agoniado.

– Estou com problemas amor. Não tem troninho, nem adaptadores. Por causa do incidente com Alice no outro dia, ela está com medo. Acho que ela só vai aceitar se for você a segurar.

– Mas eu terei que entrar no banheiro feminino... – comentou receoso.

– Só tem a Julinha e eu aqui – avisou. – Só dá uma batidinha na porta antes, pro caso de alguém aparecer antes de você chegar.

– Tudo bem, eu já estou indo.

Ela guardou o celular novamente na bolsa.

– O paizinho já está vindo – avisou a filha.

– Ai, ai, ai... – Julia choramingou.

– A mamãe vai forrar o chão com papel então, daí você faz cocô. Depois é só jogar fora.

Julia fez carinha de espanto. No minuto seguinte, Emmett bateu na porta.

– Rose... – ele meio que sussurrou.

– Viu só, o papai já chegou – avisou ao ficar de pé.

Deixou Julia sozinha na divisória que ocupavam e se aproximou um pouco da porta do banheiro.

– Pode entrar ursinho. Não tem mais ninguém aqui.

– Cadê ela? – ele pediu assim que entrou no banheiro.

– Papai.

– Aqui, Emm – Rosalie indicou a divisória correta.

Emmett se apressou até lá.

– Vem que o papai te segura.

– Ápido, ápido, papai.

Como ela já estava preparada para usar o vaso, ele apenas a ergueu e se manteve segurando até que terminasse.

– Julinha ia fazê cocô no papel, no chão, a mamãe que disse.

O pai achou graça do comentário e acabou rindo.

– Quase iria fazer cocô no chão?! Tudo bem, o papai limpava depois.

Encostada a porta da divisória, Rosalie sorria.

– Ela se lembrou do adaptador que eles usam no hospital. Me pediu para pôr um aqui também.

– Igual o da escolinha também, né filha? – disse ele.

– Já teminô, papai – ela avisou.

Não pediu pra Rosalie limpá-la, ele mesmo fez isso. Uma vez a mais, uma vez a menos, não fazia diferença pra quem antes cuidava dela sozinho. Depois ajeitou a roupinha dela novamente.

– Adeus cocô – ele brincou ao apertar a descarga. Julia caiu na gargalhada. – Vai com a mamãe, lavar essas mãozinhas.

Rosalie nunca conseguiria esconder a satisfação de vê-lo ser tão cuidadoso com a filha. Amava demais o homem que ele havia se tornado com a paternidade.

Ela logo pegou Julia no colo.

– Dá adeus pro cocô também mamãe – Emmett provocou, arranco risos da esposa.

– Adeus cocô – mãe e filha disseram juntas.

As duas usaram a mesma pia para lavar as mãos. Emmett ficou com a pia ao lado.

– Se eu soubesse que ia ser assim, já tinha vindo com vocês – ele acrescentou, enquanto secava as mãos. – Acontecesse que não posso visitar o banheiro feminino. Temos que dá um jeito de ela esquecer o incidente com a tia.

– Inventaremos alguma coisa – afirmou Rosalie.

Ela saiu de lá com Julia no colo, sorrindo, brincando de dar adeus ao cocô. Culpa do pai que foi inventar.

[...]

Alguns minutos depois, os três entravam de mãos dadas no consultório da psicóloga. Novamente Emmett segurava a bolsa de Rosalie, uma vez que ela segurava o pônei de pelúcia da filha.

Da mesma forma que havia feito na escolinha, Julia apresentou a mãe a sua médica.

Depois das apresentações, o casal estava pronto pra ir para a sala ao lado, de espelho duplo, mas Julia não aceitou que a deixasse sozinha com a psicóloga. Eles acabaram tendo que permanecer na sala. Mesmo ela buscando o colo de um e de outro, em intervalos pequenos, eles tentaram não interferir na sessão.

No final da consulta, Julia se distraiu com o balde de lego. O casal aproveitou sua distração para questionar alguns pontos.

– Tenho notado que os pesadelos de Julinha tem diminuído desde que Rose retornou – começou o pai. – Algumas vezes ela passa duas noites inteiras sem sinal algum de terrores noturno. Mas, quando menos esperamos, lá estão eles de volta na noite seguinte. Estamos felizes que estejam diminuindo. Mas gostaria de saber se há alguma razão para estarem deixando de ser frequentes. Talvez possamos focar mais nesse caminho.

– Não posso afirmar com certeza, senhor McCarty. Lidar com uma criança pequena nos dar mais suposições que certezas. Mas penso que, mesmo sendo muita pequena, Julia tenha processado que a violência provinha do papel materno. Os namorados de Savannah deviam ir e vir, e a violência continuava. Então ela entendeu que só deixaria de sofrer os abusos quando a figura materna fosse substituída.

Rosalie olhou da psicóloga para o marido, depois para a psicóloga novamente.

– Quando ficamos sozinhas depois da cirurgia, ela me perguntou se eu brigava, batia e queimava. Aquilo me pegou tão desprevenida... Mas, acho que foi isso mesmo. Ela devia estar se certificando de que eu seria diferente de Savannah – Rosalie explicou, relembrando a primeira noite em que ficou com Julia no hospital. Porém, assim como a psicóloga, teve cuidado ao mencionar o nome de Savannah.

– Exatamente, senhora McCarty. Ela escolheu você para amar infinitamente. Imutavelmente. Mas, seu instinto e autodefesa a levou questionar sua bondade e amor por ela. Todo o carinho dos avós, dos tios e do pai, a resgataram para um mundo de amor, brincadeiras e afagos, mas é seu cuidado e carinho que vai lhe dar a confiança que falta, a certeza de que tudo isso é permanente. Desde a primeira consulta, Julia sempre manteve sua foto por perto. Quando chorava o pai sempre vinha resgatá-la, contudo, sua foto jamais foi rejeitada. Continuaremos trabalhando nisso. Tenho certeza de que com o tempo vocês vão perceber os terrores noturnos ainda menos frequentes. Contudo devo alertá-los que é possível regressar em outra fase da vida. Por tanto devem estar sempre atentos e prontos para ajudá-la novamente.

– Certamente estaremos – afirmou Rosalie. – Obrigada doutora.

Ambos se puseram de pé.

– Vem gotinha! Vem com a mamãe. Vamos para casa agora.

Julinha largou os blocos de montar no tapetinho colorido e correu para os braços da mãe.

– Nos vemos novamente em alguns dias, Julinha – disse a doutora Abigail, afagando as costas de Julia. – Até logo! – disse ela, ao casal.

Enquanto caminhava com a filha nos braços, Rosalie podia sentir o calor da mão do marido espalmada em sua lombar. À medida que se aproximavam do estacionamento Julinha parecia ficar sonolenta. Coçava o olhinho, lutando contra o sono, aconchegada aos braços materno.

– Está com soninho amor? – Rosalie sussurrou.

– Quelo a pepeta – pediu, depois de confirmar com a cabeça.

– O papai vai pegar a “pepeta” assim que entrarmos no carro. Ela ficou na mochila da escolinha, lembra?

Rosalie deu dois beijinhos na cabeça dela, em seguida, ajeitou-a melhor em seus braços.

– Tenta tirar um cochilo sem a “pepeta” mesmo.

– Minha pepetinha, mamãe. Cadê? – pediu, com os olhinhos abertos em uma fenda. – Eu vô domí muitão e Calinho também.

– Vai dormir muitão? – esse foi Emmett, enquanto retirava a chave do carro de dentro do bolso da calça.

– Vamo plá casa, papai – ela pediu.

– Nós já estamos indo, gotinha.

Ele abriu a porta traseira e novamente Rosalie se acomodou ao lado da filha, depois de deixá-la na cadeirinha. Pegou a chupeta na mochila e entregou a ela.

Ficou ali, acariciando os cabelos da filha, com as pontas dos dedos, assistindo-a adormecer pouco a pouco.

[...]

– Hora da soneca – disse Emmett no instante em que entravam no apartamento.

Rosalie foi direto para o quarto de hospedes colocar Julia na cama. Retirou a sapatilhas dos pezinhos, e as presilhas tic-tac dos cabelos dela. Deu um cheirinho na bochecha rosada. Depois a cobriu até a cintura.

Verificou a babá eletrônica ciente de que o outro aparelho se encontrava na suíte principal.

Emmett, que até então estava parado no umbral da porta, entrou no quarto e se curvou para beijar a cabeça da filha.

– Ela está bem cansadinha... – ele sussurrou, tornando se afastar.

– Eu sei, foi um dia e tanto – estendeu a mão direita para Emmett. – Vem ursinho, vamos deixá-la descansar.

– Quer tomar um banho comigo? – ele sussurrou ao pé do ouvido, no momento em que deixavam o quarto.

– É o que mais quero nesse momento – ela respondeu, igualmente sussurrando.

– Humm... – ele murmurou contra a pele do pescoço dela, o calor de seu hálito quente causando formigamento na pele sensível.

– Humm... – ela gemeu, quase ronronando.

Isso bastou para que as covinhas exibidas surgissem nas bochechas dele. Sabia exatamente o que a resposta dela queria dizer.


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Notas finais do capítulo

Se puder, deixe um comentário.
Beijo, beijo
Sill