A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 25
Capítulo 25 – Diagnóstico


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas!
Capítulo novo chegando o/ para alegria de quem estava à espera.
**
Muitíssimo obrigada às lindas que recomendaram a fic: Gina Finnigan Valdez, Ká e thplacebo, super amei, e pirei do cabeção também.
*
A todos boa leitura :)



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Uma vez que Julia fora deitada na maca para ser examinada, Emmett ficou de pé ao seu lado segurando sua mãozinha para que não sentisse medo. O médico se aproximou devagar, a expressão de seu rosto dava a percepção de um homem bastante tranquilo.

– Oi, Julinha – disse ele tão logo se aproximou da maca. – Eu sou amigo da Dra. Kate, meu nome é Thomas Brown. O pessoal do hospital costuma me chamar de Dr. Brown. Mas como você é minha amiguinha, pode me chamar de Dr. Thomas. Agora diga-me, onde está o seu dodói princesa?

Com olhinhos tristonhos Julia olhou do médico para o pai. Emmett beijou sua mãozinha como se dissesse que estava tudo bem. Ela tornou a olhar para o médico e, por fim, falou.

– Tá dodói na baíguinha. Muito, muito dodói – disse ela com a voz chorosa. Seu rostinho era o reflexo da dor que estava sentindo.

– Vamos ver – murmurou o médico passando a examiná-la cautelosamente, deixando barriguinha por último. Assim que apalpou a barriga, Julia soltou um grito desesperado de dor, ato esse que fez Rosalie saltar da cadeira com o coração acelerado, indo rapidamente para perto da maca.

Bastou apenas uma olhada na criança deitada na maca e o mundo se tornou pequeno. Naquele momento os olhos de Rosalie presenciaram pela primeira vez o absurdo número de marcas e cicatrizes pelo corpo de Julia. Sabia, pela historia contada por Emmett, que ela tinha sido maltratada pela mãe biológica. Depois de ver como o corpinho de Julia era marcado pela violência, nem conseguia pronunciar o nome da mulher. Mas nem de longe imaginou a gravidade da situação. Foi inevitável e, sem que se desse conta, lágrimas se cumularam em seus olhos. Entorpecida pela angustia que aquelas marcas lhe causaram, ouviu a voz do médico soar como se estivesse distante.

– Me desculpe anjinho – disse o médico –, eu precisava mesmo pegar em sua barriguinha – lançando um olhar breve para Rosalie, ele completou. – Pode vesti-la mãe.

Rosalie não rejeitou o tratamento dado pelo médico. Pelo contrario, aquilo fez seu coração se aquecer com uma emoção nunca sentida antes. Discretamente, passou os dedos no canto dos olhos limpando as lágrimas.

Emmett, preocupado demais, não percebeu o modo como o médico se dirigiu a Rosalie; como mãe de sua filha.

O médico voltou a sentar e Emmett o acompanhou. Enquanto ele mexia no computador, o pai apreensivo aguardava pelo diagnostico.

Ali, no lado oposto onde eles estavam, Rosalie cuidava de Julia como se estivesse cuidasse do cristal mais valioso de todo o mundo. Com muito cuidado ela a colocou sentadinha na maca. Julia gemeu sentindo dor, imediatamente Rosalie afagou sua barriguinha. Os olhinhos azuis, cheios de lágrimas, estavam vidrados na mamãe que tanto esperou.

A cada peça do uniforme escolar que vestia em Julia, Rosalie afagava e beijava cada uma das cicatrizes. Seus olhos cheios de lágrimas custando acreditar em tamanha crueldade. Apesar de toda dor que estava sentindo e da febre alta, aquele momento, cheio de carinho e gestos singelos, se tornou mágico para a criança ferida.

Era a primeira vez, em seus três aninhos de vida, que recebera carinho materno. Sim, porque essa era sua mamãe. A mamãe que esperou por tanto tempo. A mamãe que o destino lhe reservou. A mamãe da fotografia. A mamãe “Ose”.

Os olhinhos de Julia se fecharam apreciando o gesto de carinho, um pequeno sorriso de covinhas ameaçou surgir em seus lábios. Jamais soube o prazer de receber um carinho materno até aquele momento. Por consequência de toda a falta que aquele carinho lhe fez nos primeiros anos de vida, não estava sabendo como reagir, seu rostinho encostou ao ombro enquanto juntava as mãozinhas com um jeitinho tímido.

Até então o consultório estava em silêncio, apenas o som do teclado do computador emitia um pequeno barulho enquanto o médico digitava algo no prontuário.

Mas a audição materna se aguçou ao ouvir a voz dele quebrando o silêncio.

– Vou passar um exame de sangue e um ultrassom de abdômen apenas por desencargo de consciência. Mas estou certo de que é uma crise de apêndice. Pelo que estou vendo é necessário interná-la para uma pequena cirurgia.

Suas palavras deixaram o casal ainda mais preocupado, espantado.

– Cirurgia – repetiu Emmett, ainda não acreditando que fosse mesmo verdade. – Ela passou por um checkup completo há pouco mais de um mês. Fora a anemia e está um pouco abaixo da linha de crescimento está perfeitamente normal.

– Não se preocupe, é algo bem comum – tranquilizou o médico. – Não sabemos explicar qual o processo que leva o apêndice a inflamar, mas acontece e é imprevisível. Se houver vaga a operamos ainda hoje, e depois de amanhã já terá alta. Faremos um procedimento por laparoscopia. Três cortes pequenos. Claro que em toda cirurgia há riscos, mas este é um procedimento bem seguro e temos a melhor equipe de cirurgia pediátrica da região. Cuidaremos bem de sua filha. Sua garotinha estará em boas mãos. Pode ficar tranquilo.

Com semblante assustado, tentando reagir ao choque que o diagnostico lhe causou, Rosalie sentou na cadeira ao lado de Emmett, com Julia no colo. Ele era o reflexo do desespero. Ainda com bastante dor, Julia estava amuada no colo da mamãe “Ose”, algumas vezes passava as mãozinhas na barriga, com muxoxos de choro.

– Aguardem um minuto – comunicou o médico, enquanto chamava uma enfermeira.

Com olhar consternado Emmett acarinhou os cabelos finos de sua gotinha, imaginando a luta que seria para realizar os exames.

Não levou mais que alguns segundos, uma enfermeira entrou no consultório trazendo os papeis necessários para que fosse realizado o procedimento médico.

– O senhor pode assiná-los, por favor – ela pediu.

Angustiado, Emmett afastou a mão que acarinhava os cabelos da filha, para poder receber os papeis. Antes de assinar, ele olhou brevemente para Rosalie, que estava com semblante preocupado, concentrada, dando carinho a Julia.

– Vocês podem me acompanhar, por favor – comunicou a enfermeira.

– Nos encontramos em alguns minutos – avisou o médico.

O casal angustiado ficou de pé ao mesmo tempo. Rosalie encostou a cabecinha de Julia ao seu ombro, lhe fazendo afago nas costas em uma tentativa fracassada de lhe dar um pouco de alivio no desconforto que a dor lhe causava.

A enfermeira os conduziu pelos corredores até um quarto, onde entregou uma roupinha do hospital para que vestissem em Julia. Os olhos de Rosalie arderam com acumulo de lágrimas ao segurar aquela roupa. Não era pra ser assim. Não podia ser assim, foi o que pensou ela.

Emmett desejou poder mudar aquela cena, quis poder trocar de lugar com a filha. Faria qualquer coisa para não vê-la sofrer. Não era justo que depois de tudo ainda tivesse que passar por mais essa provação. Tudo isso lhe deixava impotente, totalmente fracassado.

Mais uma vez, Rosalie trocou a roupinha de Julia com todo cuidado do mundo. Era uma tarefa bastante incomoda considerando que a criança estava sentindo fortes dores abdominais.

A primeira luta foi o exame de sangue. Por consequências das torturas cometidas por Savannah, Julia adquirira pavor de agulhas. Foram muitas às vezes em que foi tortura por meio delas.

Bastou ver a enfermeira se preparando com a seringa na mão, para Julia entrar em pânico.

– Não. Gula não, papai. Gula não... – implorou em meio ao choro.

Emmett engoliu em seco, lutando contra o aperto que se formava no peito, ao ouvir a filha implorando para que não usassem agulhas. Ele sabia, depois de ter conversado com a psicóloga, o porquê de todo aquele medo sempre que envolvia agulhas.

Cuidadosamente, ele a retirou dos braços de Rosalie e sentou na poltrona com ela no colo.

– Papai não vai mentir amor, dói. Mas é bem pouquinho. É só um furinho e acabou. Ninguém vai te machucar. Papai vai ficar aqui com você o tempo inteiro. Não tenha medo gotinha.

– Não papai. Gula não. Não... – mais uma vez Julia implorou, com os lábios tremendo, pendendo em um beicinho. O medo aterrorizante cravado em seus olhinhos.

Emmett olhou resignado para a enfermeira e então avisou:

– Vou ter segurá-la.

E foi exatamente o que ele fez. A enfermeira foi rápida e agiu no procedimento, mas, mesmo assim, Julia se esperneou, gritou e se contorceu nas mãos no pai. As lembranças aterrorizantes a perturbavam de forma bastante cruel.

Rosalie abraçou o próprio corpo sentindo o desespero de Julia tomar conta de seu coração. Apertou o tecido da blusa, no lado esquerdo do peito, sofrendo junto com ela. Queria consolá-la, desejava protegê-la. Queria obrigá-los a parar com aquilo, mas não podia, era um mal necessário.

Mesmo com o coração apertado, Emmett se manteve firme segurando sua gotinha de amor contra a vontade dela. Os gritos de Julia podiam ser notados ao longe, no corredor. Se não estivessem em um ambiente hospitalar, algumas pessoas podiam acreditar que eles estavam torturando a criança.

Depois de muita luta, a enfermeira colocou um acesso no bracinho dela e de lá retirou um pouco de sangue. Injetando em seguida um analgésico e um antitérmico receitado pelo médico.

Em meio a toda aquela luta, choro e gritos, o celular de Emmett tocou. Não tendo como atender, pediu ajuda a esposa.

– Rose – ele a chamou, ela levou alguns segundos para perceber que ele a chamava. A dor de Julia havia se tornado sua dor. Estava mergulhando no sofrimento da criança sem que pudesse evitar. – Rose – ele insistiu. Ela o olhou parecendo bastante assustada, confusa também. – Atende pra mim, por favor. Se for minha mãe explique a ela o que está acontecendo – ele indicou com a cabeça, o celular dentro do bolso. Rosalie chegou mais perto, infiltrando a mão no bolso da frente, alcançando o celular.

Levando o celular ao ouvido, ela saiu do quarto.

Emmett não tinha dúvidas de que o irmão já tinha avisado a mãe que ele tinha sido chamado na escolinha de Julia às pressas. Outra vez tinha ligado para o irmão na hora do desespero. Mesmo que estivesse livre para falar, ele não queria, na verdade, não conseguiria. Sabia que choraria. Estava se sentindo impotente e apavorado, jamais imaginou que passaria por algo assim e, muito menos, com sua gotinha de amor.

Alguns segundos depois, o analgésico começava a fazer o afeito temporário, Julia tinha parado de chorar, exausta, encolhida no colo do pai.

Ele estava distraído, pensando em tudo que estava acontecendo em sua vida, quando Julia chamou a sua atenção.

– Papai... – ela suspirou com a voz arrastada, erguendo a mãozinha, do braço sem o acesso, para poder tocar o rosto dele.

– Oi, gotinha – disse ele, cansado.

– Bigado... – ela sussurrou.

Emmett passou a mão delicadamente no rostinho dela secando as lágrimas. Os olhinhos com o azul dilatado por causa de tanto choro estavam agora fixos no pai com adoração e amor.

– Porque está me agradecendo bebê. Hummm... Porque amor? – murmurou, beijando o rostinho dela.

– Você bucô minha mamãe da foto. A mamãe Ose. Igual no livo do macaco.

– No livro do macaco – repetiu Emmett, sabendo perfeitamente a que livro, e a que historia, Julia estava se referindo.

Há poucos dias ele havia recebido da escola, em casa, um livro – Macaco Danado, Brink-book. Da autora, coincidentemente, Julia Donaldson. Junto ao livro veio uma ficha para ser preenchida. Era o exercício de casa, para o fim de semana. Ele precisaria contar a historia à filha e registrar com ela o que acharam do enredo e das ilustrações. Mas ao começar a leitura percebeu que Julia sabia algumas falas de cor, inclusive os nomes dos outros animais.

A história começa com um macaquinho sentado, recostado ao tronco de uma árvore, com semblante triste, no meio da floresta. Uma única frase para uma ilustração rica e colorida: “Perdi minha mamãe”

Foi aí que Emmett entendeu o porquê de sua gotinha se sentir tão ligada à história.

Uma borboleta se oferece para ajudá-lo a encontrar a mãe e a cada descrição – ela tem uma cauda elegante, mas não é uma cobra; tem pernas compridas, mas não é uma aranha... –, leva o filhote para ver os mais diversos animais. A maior dificuldade da borboleta está em entender que a mãe do macaco é parecida com ele, pois filhote de borboleta – a lagarta – não se parece com borboleta adulta. No final eles encontram um macaco, que é o pai. E ele enfim leva o macaquinho até a mãe. A última pagina é uma gravura do macaquinho no colo do pai se jogando para os braços da mãe, falando: “mãe”.

A recordação fez um sorriso involuntário surgir nos lábios de Emmett. E, de repente, ele se viu pensando como seria feliz se pudesse fazer o mesmo. Dar uma mãe a sua filha. Não. O que ele queria mesmo era dar à sua filha, Rosalie como mãe.

O sorriso sumiu cedendo lugar a um suspiro de pesar. Ele estava emocionalmente esgotado. Não obstante a briga com Rosalie no restaurante, naquele mesmo dia havia dado socorro à filha e descoberto que ela passaria por uma cirurgia. Agora teria que lidar com a frustração de sua garotinha.

Sabia o quanto Julia havia desejado e esperado por Rosalie. Sabia também que a esposa não queria nenhum relacionamento com sua filha. Com nenhum dos dois, na verdade. Não conseguia imaginar uma forma de dizer isso a Julia sem despedaçar seu pequenino coração.

– Filha... – ele pareceu buscar as palavras certas para falar. – Não sei se a mamãe vai ficar com a gente.

Julia recolheu a mãozinha que estava encostada ao rosto do pai.

– Pulque? A mamãe Ose não gota da gente? Eu não sivo plá sê filhinha, não? Pô caso que sô feia?

Surpreso com a pergunta, ele questionou rapidamente.

– Quem disse que você é feia?

Ela abaixou os olhinhos, encarando as mãozinhas.

– Avannah... – sussurrou ela em resposta.

– Savannah era uma mentirosa. E papai do céu está muito triste com ela. Você é a bebê mais linda que o papai já viu. E é claro que a mamãe Rose deseja uma garotinha maravilhosa como você. Você é a melhor filha que o papai poderia ter. A melhor de todo o mundo. Você é perfeitinha do jeito que é. E o papai te ama muito, muito mesmo – ele sentiu vontade de explicar a verdade sobre Rosalie, sobre a rejeição dela, mas ao ver os olhinhos tristes encarando os seus, não teve coragem. – É só que a mamãe Rose tem muitas coisas pra fazer... Cuidar da mamãe dela...

– A otla vovó? Ela tá mais dodói não. Ela cantô a musiquinha do jacalé plá mim, lá no lugá das cadeilas. Ela gotô de mim papai. Gotô da Julinha, sim.

Emmett esboçou um leve sorriso, embora angustiado, ao beijar o topo da cabeça da filha.

– É claro que sim. Quem não se encanta com uma princesa tão linda como essa do papai? – ele deu mais um beijinho na cabeça dela. – Depois vemos isso, está bem? –suspirou encostando a cabeça no encosto da poltrona, e então sussurrou. – Os adultos é que complicam tudo amor.

Ele não se deu conta disso, mas, Rosalie voltara, ainda com o celular na mão, depois de ter esclarecido a situação toda a sogra e, antes de abrir a porta, acabou ouvindo parte da conversa entre ele e Julia. Por um momento ela se viu sem reação. Pode quase sentir toda tristeza nas palavras ditas pelo marido.

Antes de girar a maçaneta respirou fundo sabendo o que tinha que fazer. Nunca esteve tão certeza sobre seus sentimentos. Estava prestes a entrar naquele quarto e dizer à filha que jamais a abandonaria, dizer ao marido que o amava e que tudo não havia passado de uma turbulência. Mas não teve tempo. Assim que girou a maçaneta, uma enfermeira apontou no corredor, pedindo licença ao passar por ela, entrando no quarto. Rosalie entrou logo atrás, e naquele momento soube que era hora de mais um exame.

Os olhinhos tristes de Julia capturaram imediatamente a presença materna.

– Mamãe Ose, você vai embola?

Rosalie se aproximou e entregou o celular ao marido. Depois estendeu a mão para tocar os cabelos finos de Julia, sendo tomada por uma forma de amor jamais sentida antes.

– Não. Eu vou ficar com você princesinha.

Os olhinhos de Julia brilharam com a resposta que recebera. Ela virou o rostinho, buscando o olhar do pai.

– Ela não vai embola papai. A mamãe Ose vai fica até ontem.

Emmett afagou a mãozinha dela. – É amor, ela vai ficar... – murmurou, mesmo não tendo certeza de que ela realmente ficaria. Ultimamente Rosalie vinha se mostrando imprevisível e isso o assustava, porque a amava demais.

Educadamente a enfermeira, mais uma vez, pediu que eles a acompanhasse. Dessa vez para a sala de exames onde seria realizado o ultrassom abdominal. Ela verificou o acesso no bracinho de Julia antes de liberá-la, e Emmett a levou no colo.

Já na sala de exames, pediu que ele a colocasse na maca. O médico já estava na sala à espera deles, e educadamente os recebeu.

– Não, papai – Julia pediu apavorada, tentando levantar da maca. – Mamãe, mamãe... Papai.

– Não vai doer gotinha – sussurrou Emmett. – Não tenha medo filha. Papai vai ficar aqui com você o tempo todo.

Rosalie se aproximou da maca tocando o bracinho de Julia, fazendo um afago, lhe confortando.

– Não precisa ter medo bebê – murmurou Rosalie, com a voz suave. – É só um gelzinho gelado na sua barriga para que o médico possa ver dentro do seu corpinho. Ele precisa ter certeza do que está lhe causando o dodói.

Mesmo não querendo ficar na maca, ela aceitou. Rosalie ficou o tempo inteiro fazendo carinho em sua mãozinha. Emmett estava ao lado, observando as duas, sonhando acordado com a possibilidade de uma família feliz. Ele olhou para o rostinho de Julia e percebeu que os olhinhos dela estavam vidrados na mulher que ela tinha como mãe.

Por causa da sensibilidade da área o exame acabou se tornando doloroso. Julia choramingou, agitando os bracinhos tentando se levantar. Emmett a segurou cuidadosamente, lhe sussurrando que o exame seria rápido. Ela começou a chorar e então Rosalie sentou na beirada da maca, tentando consolá-la, fazendo carinho nos cabelos, lhe sussurrando palavras de conforto.

– Já vai passar amor. Acredite em mim, Julinha. Estou aqui com você bebê, não tenha medo. O papai também está aqui... Nós vamos cuidar de você docinho.

Ela continuou chorando, mas não tentou levantar novamente. Não se mexeu até o médico dizer que tinha terminado.

Os exames confirmaram o diagnostico. O exame de sangue indicou uma melhora considerável na anemia. As vitaminas e o sulfato ferroso junto à nova alimentação estavam fazendo efeito. A cirurgia foi marcada para as vinte horas daquele mesmo dia.

Julia foi levada de volta ao leito onde aguardaria o momento da cirurgia. Depois dos resultados confirmados, Emmett ficou ainda mais quieto e preocupado.

Rosalie sempre ao lado de Julia, cuidando e lhe dando carinho. Às vezes se pegava olhando para o marido, e tentava decifrar o que ele estava pensando. Ele havia mudado tanto. Havia se tornado uma caixa de surpresas e, ela tinha que admitir, estava gostando muito daquele homem maduro e responsável.

Poucos minutos depois os familiares começaram a chegar. Rapidamente lotando o pequeno quarto do hospital. Esme e Carlisle foram os primeiros a chegar acompanhados por Alice, que já não usava mais a botinha ortopédica. Há poucos dias ela havia dado inicio a fisioterapia e tinha grandes chances de voltar a dançar em breve. Edward e Isabella chegaram logo depois.

Julia nutria um carinho especial pela tia Isabella. Bella como todos a chamavam, era paciente com crianças e sabia contar varias historias de princesa. Julia se encantava com o fato dessa titia ter o nome de sua princesa favorita.

Grace também estava no quarto. Ela fez questão de ficar e dar apoio à filha, e agora, à sua netinha também.

Preocupados com a saúde da criança nenhum deles comentou a presença de Rosalie no quarto. Embora tivessem ficado bastante surpresos ninguém tocou no assunto. Estavam todos constantemente ladeando a maca tentando fazer a garotinha se sentir melhor.

Houve um momento em que Alice até tentou, mas foi impedida pela mãe. Esme lhe deu uma discreta cotovelada e a olhou de modo que a fez entender que deveria encerrar o assunto.

– Ela vai ficar bem, não é mãe? – essa era a milésima vez que Edward repetia a mesma pergunta.

– Vai filho – ela o assegurou.

Esme o olhou carinhosamente, demonstrando o orgulho que sentia pelo carinho que ele nutria pela sobrinha. Edward vinha se mostrando um tio maravilhoso, e Julinha o adorava. No entanto, era seu primogênito quem roubava a atenção de seus olhos.

Em um canto do quarto, longe de todos, Emmett estava taciturno e quieto, mas Esme sabia que era apenas um indicio de que estava prestes a entrar em colapso.

Ver sua gotinha de amor doente já era difícil e saber que era caso para cirurgia acabava com suas forças. Embora o médico tenha lhe garantido que era uma cirurgia simples e rápida, ele não conseguia relaxar.

Esme apenas desviou a atenção do filho mais velho, quando Grace chegou ao seu lado. Poucos segundos depois as duas estavam envolvidas em uma conversa sussurrada, a revelia do casal, montando um plano para harmonizar a nova família.

Pouco tempo depois, o médico entrou no quarto atraindo a atenção de todos rapidamente.

Apesar de estar com semblante triste, Julia chamou pelo o tio.

– Titio – Edward chegou mais perto da cama, e então ela fez a denuncia. – Foi ele titio que apetô a baíguinha da Julinha.

O médico sorriu para Julia, não dando muita importância para a denúncia.

– Como vai a minha amiguinha? – disse ele. – Está se sentindo melhor?

De repente a expressão no rostinho dela se tornou emburrada, chegando a curvar a sobrancelha e um biquinho formou-se em seus lábios.

– Tô gimal. Você petô minha baíguinha. Doeu sabia?! A dotola Kate dá pilili e não apeta o dodói.

Somente então, Emmett se aproximou da maca, abrindo espaço entre a família.

– Desculpe-me, depois da escolinha ela aprendeu essa de ficar de mal. Já ficou de mal de todo mundo em casa.

Novamente o médico sorriu, maneando a cabeça como se aquilo não significasse grande coisa.

– Ô princesa, eu só estava tentando entender porque sua barriguinha estava doendo. Prometo que quando fizer a revisão da cirurgia te dou um pirulito também.

– Jula, julandinho?

– Vai me dar um beijo?

– Vai, Julinha vai dá beijinho.

– Então tá bom.

O médico se aproximou da cama para receber o beijo na bochecha, enquanto toda a família observava encantada a graciosidade da garotinha.

Depois disso, ele verificou brevemente como ela estava. Quando estava se retirando do quarto, Emmett o acompanhou até o corredor.

Ainda perto da cama, Edward fingiu olhar para o médico com cara de bravo.

– Eu vou lá fora brigar com ele, está bem? Fique quietinha aí bonequinha. Se comporte, titio já volta.

– Eu me compoto titio. Mamãe Ose vai ficá aqui com a Julinha.

Rosalie afagou os cabelos dela e se inclinou para lhe beijar a testa.

– Vou sim amor... – ela sussurrou. – Eu vou estar bem aqui.

O médico se dirigiu ao corredor acompanhado pela família, com exceção de Alice, Grace, Isabella e Rosalie que ficaram no quarto.

Já no corredor, Emmett, assim como o irmão Edward, o encheu de perguntas. O médico respondia a todas com calma e compreensão. Sabendo que todos estavam angustiados e preocupados com a recuperação da criança.

– Então ela acorda sozinha na sala do pós-operatório? – espantou-se Emmett. – Não, minha filha vai surtar. Ela tem pavor de ser abandonada, e por causa dos maus tratos entra em pânico quando se vê apenas com estranhos. Isso não me parece uma boa ideia – queixou-se preocupado.

O médico mantinha a mesma expressão serena diante de todas as perguntas.

– Sr. McCarty entendo sua preocupação. Como eu já expliquei você pode ficar com ela até que seja sedada. Ela será levada às 19h30 para o preparatório. A cirurgia leva em média de quarenta minutos à uma hora. Depois da cirurgia esperamos até que ela tenha movimentos voluntários de respiração e retiramos o tubo.

– Vão retirar o tubo com ela acordada? – precipitou-se Edward, apertando a mão da mãe.

O médico, mais uma vez, respondeu com calma. Dessa vez, porém, olhando para o tio da criança.

– Sim e não. Ela vai estar acordada, mas não desperta. Ela não se lembrará da extubação. Só despertará no pós-operatório, vamos checar seus reflexos e depois que a oxigenação regular ela volta para o quarto. Vai ficar sonolenta até amanhã. Quanto ao pós, a Dra. Kate se ofereceu para ficar e acompanhar. Dessa forma, Julia verá um rosto familiar e assim que a oxigenação estive ok, traremos a garotinha de volta para o leito de origem. Ela provavelmente dormirá até o dia seguinte.

Aflito, Emmett passou a mão na cabeça, suspirando longa e pesadamente. Andou de um lado para o outro, abaixou a mão e, por fim, disse.

– Tudo bem.

Enquanto o filho vivia uma luta interna entre a razão e o coração. Esme fez mais algumas perguntas ao médico. De canto de olho, viu Emmett voltar para dentro do quarto.

Rosalie estava distraída, sussurrando uma música infantil para Julia, quando viu o marido voltar. Ele não disse nada, apenas pegou a mochila e pônei da filha.

– Calinho – Julia se preocupou quando o viu pegá-lo.

– Empresta ele só um pouquinho para papai, filha?! – pediu.

– Você tá com medo, papai?

Emmett se inclinou para beijar a testa dela.

– Só um pouquinho – confessou –, mas Carinho vai fazer o medo passar, não vai? –Julia balançou a cabeça afirmativamente. – Papai já volta... – sussurrou ele, dando mais um beijinho na testa dela. Sem que ele percebesse, Rosalie observava cada gesto seu.

Ele saiu do quarto levando consigo os objetos. Rosalie o seguiu com o olhar. Foi inevitável, precisava saber o que estava acontecendo.

Ela se levantou e fez sinal com a mão para Alice se aproximar.

– Faz um favor pra mim – sussurrou. – Distrai a Julinha enquanto eu vou lá fora. Preciso saber o que eles tanto conversam. Não posso ficar aqui sem saber o que está acontecendo. Isso está acabando comigo.

– Tudo bem – Alice assentiu. – Vai lá! Distrair minha jujuba linda é comigo mesma.

– Se ela ameaçar chorar diz que já volto. Por favor, mantenha ela tranquila.

– Pode deixar – murmurou Alice, já se aproximando da cama. Antes mesmo de Rosalie sair do quarto, ela deu inicio a uma historia inventada, de forma teatral. Mesmo assim Julia continuou observando a mãe temendo perdê-la de vista. Mas, Alice logo deu inicio a uma sessão de caras e bocas atraindo a atenção da sobrinha por completo.

Apesar de toda preocupação que os cercava, Grace achou graça do exagero de Alice para atrair a atenção de Julia. Ela estava se esforçando o máximo para a sobrinha não chorar. Mesmo sabendo que talvez não fosse o bastante.

No corredor, Emmett havia retomado a conversa com o médico.

– Esse é Carinho, o objeto de transição dela. É...

O médico o interrompeu com um ar despreocupado.

– Sei o que é um objeto de transição Sr. McCarty. Temos que estudar um pouco de psicologia infantil para passarmos na residência da pediatria.

Mesmo assim, o pai inseguro prosseguiu com sua explicação.

– Ela se projeta nele também. “Carinho está com medo”, “Carinho tá com saudade da vovó”, “Carinho que tomar sorvete”, “Carinho que ver desenho”...

– Entendo... – murmurou o médico.

Emmett abriu a mochila de Julia, e de lá retirou outro objeto.

– Geralmente ela brinca com esse porta-retratos por perto – começou ele. – Não costumo deixar que leve a escola, mas como hoje ela estava triste por ter que ficar lá o dia inteiro, e também muito inquieta para ver os animais que o biólogo levaria, acabei deixando que o levasse.

Rosalie havia acabado de sair do quarto, a tempo de ouvir parte da conversa.

Ela se aproximou da cena, um tanto curiosa, e sorriu ao reconhecer o porta-retratos com sua foto favorita nas mãos no médico. Seu coração irrevogavelmente se enchendo de afeto pela garotinha que já a amava mesmo quando era apenas uma fotografia.

“Vou brincar muito com você docinho, pode acreditar.”, pensou Rosalie.

Sem que se desse conta, seus olhos estavam cheios de lágrimas novamente. Emocionada com tamanho carinho e espera. Agora entendia o porquê ao vê-la a primeira vez Julia havia lhe chamado de “mamãe da foto”.

– A mamãe está aqui amor. A mamãe está aqui... – sussurrou consigo mesma, limpando uma lágrima que lhe escapou no canto do olho.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar. Estarei esperando vocês nos comentários, combinado?
Beijo, beijo
Sill