A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 15
Capítulo 15 - Contratempo


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que deveria ter postado entre quarta e quinta da semana passada, e peço mil desculpas por não ter feito isso. O motivo foi que tive uma maldita de uma virose e fiquei mais pra lá do que pra cá, foi impossível terminar o capítulo.
Espero que me desculpem pelo atraso :)
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Esse é dedicado especialmente a: Helo, LCerri, aninhax3 e Maria Malik Cullen que recomendaram a fic. Muito obrigada meninas, é uma felicidade enorme quando vocês recomendam o/
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Simbora ler o/



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Cerca de uma hora depois, após jantar com a família, Emmett voltou para o apartamento com a filha. Julia não quis de forma alguma retirar a roupa de ballet e pôr uma roupinha normal. A única coisa cujo ela aceitou retirar foram as sapatilhas, ficando apenas de meia-calça, pisando no chão. Inicialmente Alice quase teve um ataque, alegando que dessa forma iria estragar as meias, mas acabou cedendo após Emmett olhar torto para ela.


Minutos depois, quando chegaram ao apartamento, o relógio marcava vinte horas e quinze minutos. Julia correu para o quarto de hospedes – que temporariamente estava sendo seu –, para pegar o caderno de colorir e o giz de cera.


Emmett a observou correr, com perninhas trôpegas. Ainda mais graciosa usando roupa de bailarina. Desde que Julia chegou para ficar com Emmett que ele notara que ela se desequilibrava facilmente. A Dra. Kate o havia alertado que estava relacionado à má alimentação que Julia teve na casa em que vivia antes. Que aos poucos seu corpinho iria se restabelecer com a nova alimentação.


- Gotinha, o papai vai tomar banho – Emmett avisou vendo-a entrar no quarto. Ele foi até a porta e parou observando-a. Julia abriu a caixinha de giz de cera e os jogou sobre a cama. Ela tentava subir na cama alta, segurando o caderno de colorir ao mesmo tempo, mas parecia extremamente difícil. Emmett maneou a cabeça, sentindo vontade de sorrir. Mas sabia que sua gotinha estava bem abaixo da linha de crescimento por causa do descaso com o qual estava sendo criada antes. Vendo-a travar uma luta para sentar na cama, ele entrou no quarto e a ajudou. – Você ouviu o que o papai falou?


- Você vai tomá bainho e ficá cheiloso, né papai?


Emmett sorriu. – O papai vai ficar bem cheiroso. E depois vai ser a sua vez.


- Não pecisa – disse ela, mexendo a mãozinha –, eu já tô cheilosa.


Emmett maneou a cabeça, já imaginava que ela fosse dizer as mesmas palavras que disse para a avó pouco antes do jantar. Por isso decidiu deixar o banho dela por último, para que ficasse mais tempo com as roupas de ballet que tanto amou.


- Eu vou tomar banho, mas eu volto. Não pense que vai escapar não, mocinha.


- Calinho que bincá, papai.


- Carinho é? Sei... – murmurou Emmett, saindo do quarto. – Eu vou, mas volto.


[...]


Minutos depois, já de banho tomado, usando uma roupa confortável, ele voltou para ajudar Julia com o banho.


- Gotinha – a chamou ao chegar à porta do quarto.


Julia ergueu a cabeça, olhando para o pai, segurando um giz de cera amarelo em uma das mãozinhas.


- Olha papai – disse ela, erguendo o livro de colorir com a mão livre. – Você gotô?


- Ficou muito bonito, gotinha – respondeu com um sorriso bobo. Embora estivesse colorido por fora das margens ele não teve coragem de mencionar, não naquele momento. Havia tantas coisas que sua gotinha de amor ainda não sabia – O papai gostou muito, mas agora é hora do banho.


Julia abaixou o livro de colorir, deixando-o sobre as perninhas. – Não quelo papai... – ela fez beicinho. – Eu goto dessa opa de bailalina que a titia compô pla mim.


Emmett chegou mais perto da cama. – O papai já deu bastante tempo para você ficar com a roupa de bailarina. Agora vai ter que ir tomar banho e depois vestir o pijaminha que o papai vai preparar a sua mamadeira. Depois você escolhe uma historinha e o papai ler para você.


- Eu não quelo tilá, papai – seu beicinho tremeu e ela piscou os olhinhos, mesmo sem intenção, dando sinais de que riria chorar. – Eu goti mesmo dessa opa... Pô pavô, papaizinho.


Emmett passou a mão na cabeça sem saber como agir. Não queria gritar com ela e obrigá-la a retirar a roupa de ballet. Julia já havia chorado bastante desde o incidente com o cigarro da senhora Jones. Foi então que ele lembrou-se da sacolinha com os quatro kinder ovo que havia comprado quando voltava da empresa, mas, como Julia estava chorando quando ele chegou, acabou esquecendo-se de entregar para ela. Porém ao voltarem para casa ele pegou os doces de volta. Mesmo sabendo que era errado e que a Dra. Kate o advertiu sobre doces à noite, ele desobedeceu à regra. Tentando uma barganha.


- Se o papai te der um chocolate você aceita tirar a roupinha de bailarina sem choro, e tomar banho?


Desfazendo o beicinho ela maneou a cabeça positivamente. Emmett disfarçou um sorriso, porque sabia que o que estava fazendo era errado. Entretanto, ainda não sabia como agir com a filha em certas ocasiões.


- Então espera um pouco que o papai vai buscar o chocolate.


Julia se remexeu voltando a posição em que estava antes, deitada sobre os cotovelos, para poder colorir mais um pouco. Quando Emmett voltou, trazendo o kinder ovo, ela ficou de pé na cama, com o rostinho feliz, estendendo a mãozinha para receber o doce.


- Não, senhora – murmurou Emmett, erguendo a mão no alto. – Primeiro você deixa o papai retirar essa roupinha de bailarina, só então eu deixo você comer o doce.


Olhando para o doce, Julia ergueu os bracinhos para que Emmett retirasse sua roupinha de bailarina, mas não era o tipo de roupa que retirava por cima. Então ele sorriu, começando a retirar a roupinha dela. Primeiro foi o tutu, depois collant e por último a meia-calça. Quando Julia ficou só de calcinha ele entregou o kinder ovo para ela. Os olhinhos azuis brilharam enquanto suas mãozinhas desembrulhavam o doce, um tanto atrapalhada. Quando dividiu o ovo em duas metades, ela sorriu olhando para o pai. Retirou o brinquedinho de brinde em uma das metades, na outra havia recheio, em seguida deu a primeira mordida.


Emmett a deixou comendo o doce, sentadinha na cama, e foi ao closet pegar a pijama e a calcinha que ela iria vestir depois do banho. Ele demorou um pouco a voltar, porque acabou derrubando algumas peças de roupas no chão sem querer. Quando retornou ao quarto Julia estava com as mãos e o rosto todo lambuzado pelo recheio de uma das metades do doce, e lambia os dedinhos.


- Eu comi todo o toconate, papai.


Emmett se aproximou colocando as peças de roupa limpa sobre a cama.


- É, o papai está vendo – respondeu, pegando-a no colo. – Não deixou nenhum tiquinho para o papai. Que garotinha mais gulosa.


- Não sabia que você quelia, papai. Diculpa, tá bom? – se desculpou mostrando as mãozinhas sujas. – Oto dia eu te dô um pedaço.


Emmett segurou a mãozinha dela e lambeu a palma, onde havia um pouco do recheio.


- Hummm... – murmurou ele. – Esse era gostoso. Por isso você não deixou nada para o papai né, filha?!


Julia sorriu oferecendo a outra mãozinha para ele lamber.


- Ela mesmo muito gotoso esse toconate – respondeu sorrindo. – O Calinho gotô também.


Emmett beijou o rostinho sujo dela, murmurando. – Gotinha do papai.


- Julinha é gotinha do papai – disse ela, sorrindo, colocando as mãozinhas no rosto de Emmett enquanto entravam no banheiro.


- Suas mãozinhas estão grudando, sabia? – Emmett a advertiu, mas em tom de brincadeira. Julia inclinou o rostinho para o lado e lhe sorriu.


Ele prendeu os cabelos dela dentro da touca de banho, com tema de patinhos, da melhor forma que conseguiu, para não molhá-los. Deu banho no chuveiro mesmo, já passava da hora do banho dela. Quando terminou a enrolou em toalha de banho da moranguinho e a levou para o quarto. Secou seu corpinho, cuidou dos machucados e a vestiu com um pijaminha lilás, das princesas Disney. Calçou pantufas de gatinho, o que a fez ficar remexendo os pezinhos, achando uma graça. Deixou para pôr a fralda somente quando ela já estivesse sonolenta.


Como já haviam jantado na casa de Esme, Emmett foi somente preparar a mamadeira, enquanto ela ficou brincando pelo apartamento. Indo de um lado para o outro com o carro motorizado da Barbie, esbarrando nos móveis pelo caminho.


De onde estava Emmett podia ouvir o barulho do motor do carrinho, móveis sendo atropelados e Julia conversando com o pônei.


- Vamo bucá a mamãe nesse cauô da Babie, tá bom Calinho?


Emmett sorriu maneando a cabeça enquanto preparava a mamadeira de Julia. Desde que a levou na consulta médica vinha seguindo as instruções da Dra. Kate. Em cima do balcão estavam o leite, o nutren de chocolate, e o mucilon. Preparou a mamadeira com a quantidade especifica de cada um dos alimentos, depois que chacoalhou acrescentou as vitaminas. O Noripurum para anemia e o Cetina que é um complexo de vitaminas. Quando terminou deixou as latas organizadas sobre o balcão, guardou os remédios para que ela não os visse e saiu da cozinha com a mamadeira na mão.


- Vem papá, gotinha. O papai já preparou sua mamadeira – avisou indo ao encontro dela na sala.


- Eu e o Calinho vamo bucá a mamãe da foto – respondeu erguendo a cabeça. – Eu quelo a mamãe, papai.


- Eu sei gotinha. O papai também quer, mas nesse carro você não vai chegar lá tão cedo. E acho que não vai dar para trazer a mamãe aí. É muito pequeno esse seu carro – Emmett se inclinou retirando-a do de dentro do carrinho cuidadosamente.


- Então vamo com o seu cauô que é gande, bucá a mamãe Ose – ela gemeu dengosa, e Emmett beijou o seu rostinho. – Já tá esculo ota vez e você não foi bucá a mamãe, papai... – gemeu outra vez se contorcendo no colo do pai.


- É você tem razão. Já está escuro outra vez. Mas é que o papai não pode ir ainda. Você desculpa o papai? – Julia maneou a cabeça positivamente, embora tivesse ficado um pouco triste. – Certo, então vem tomar o seu leitinho, enquanto o papai jogo uma partida de vídeo game. Depois eu leio uma historinha para você dormir.


- Papai eu quelo a mamãe... – choramingou, com as mãozinhas no rosto de Emmett.


- Eu sei gotinha... Mas a mamãe vai chegar logo, logo.


- E já é agola?


Emmett se abaixou com ela no colo, para pegar o Carinho dentro do carro da Barbie.


- Não. Não é agora, mas ela vai chegar bebê.


- Não chega nunca, palece... – sussurrou tristonha.


Emmett foi com Julia para a sala de TV e sentou no sofá com ela em seu colo. Colocou o pônei de pelúcia ao lado, entregando a mamadeira para ela. Na mesinha de canto, ele pegou o controle da grande TV de plasma e o joystick do vídeo game. Foi então que se lembrou de como Rosalie reclamava quando pedia sua opinião a respeito de algo, quando ele estava jogando, e ele simplesmente concordava com que quer que fosse sem ao menos olhar para ela. E naquele momento ele jurou a si mesmo que nunca mais faria isso, como muitas outras coisas que fez no passado, se tivesse a chance de tê-la de volta.


Julia se aconchegou ao colo do pai com a mamadeira na boca enquanto ele iniciava o jogo. Ela inclinou o rostinho olhando para ele com amor. Esticou o bracinho alcançando o queixo do pai, onde fez um carinho com sua mão pequenina. Sem retirar as mãos do joystick, Emmett beijou a mãozinha da filha. Julia recolheu a mãozinha, segurando a mamadeira, agora, com as duas mãos. Suspirou tomando seu leitinho no colo do pai enquanto ele jogava vídeo game distraído com seus próprios pensamentos, e na falta que Rosalie lhe faz.


[...]


Em San Diego, Rosalie conversava com a mãe, fazendo um pequeno relato de sua conversa ao telefone com Emmett, enquanto tomava um chá de camomila que Grace ofereceu após ela ter dito que sentiu como se algo ruim estivesse para acontecer enquanto falava com o marido. Embora tivesse achado estranha a sensação que a filha sentiu, Grace ficou feliz em saber que ela havia conversado com o marido sem discussão. Repetiu mais de duas vezes que Rosalie havia feito à coisa certa. Ryan esteve o tempo inteiro ao lado da filha, segurando uma xicara de café, tomando um gole vez ou outra enquanto ouvia a conversa das duas.


Sentindo-se estranhamente feliz como há tempos não se sentia Rosalie realizou uma ligação para o aeroporto e fez uma reserva. Supostamente voltaria para Detroit no dia seguinte no voo das quinze horas. Decidiu que ligaria para Emmett e lhe daria mais detalhes quando estivesse com a passagem em mãos.


[...]


Antes mesmo de mudar de fase, coisa que nunca havia acontecido antes, Emmett desligou o vídeo game. Pegou a filha no colo e foi escovar seus dentinhos, depois se aventurou lhe colocar uma fralda. Certamente travou uma luta. Embora tivesse prestado atenção nas instruções de Esme, na noite anterior, ele destruiu mais de quatro fraldas. Julia já estava impaciente e dava sinais de que iria chorar, quando enfim ele conseguiu. Sentindo-se vitorioso por ter conseguido, ele a colocou na cama sob os cobertores macios e perfumados que a senhora Jones havia trocado recentemente, e lhe contou uma historinha para dormir. Julia já nem conseguia ficar com os olhinhos abertos e acabou não ouvindo nem a metade da história.


As horas se passaram e a temida madrugada chegou. Julia teve mais uma crise de choro regida pelos pesadelos e Emmett foi ao seu encontro reconfortá-la. Ele a pegou no colo e a trouxe para dormir em seu quarto, na sua cama, deitada sobre seu peito enquanto a ninava e fazia carinho em cada um de seus dedinhos.


Quando o dia chegou, Emmett acordou e tentou sair da cama, mas Julia se remexeu ao seu lado. Pensou em como faria para sair dali sem acordá-la. Foi então que teve uma ideia. Com muito cuidado ele puxou o travesseiro e foi substituindo pelo seu corpo. Julia o abraçou em busca do cheiro, calor e proteção dos braços do pai. Notando que parecia ter dado certo, Emmett saiu da cama arrastando os próprios pés. Cansado e sentindo-se solitário. Fez sua higiene matinal se vestiu e foi à cozinha. Preparou a mamadeira em silêncio, voltou ao quarto e deu para Julia enquanto ela ainda estava sonolenta. Quando Julia terminou, ele voltou à cozinha para preparar seu café da manhã.


Longos minutos se passaram. O café pingava lentamente na cafeteira. Ele estava absorto em seus pensamentos quando Julia chegou à cozinha, seguindo os sons que ele fazia ao se movimentar pelo cômodo. Ela estava de fralda e usava a blusinha do pijama. A chupeta na boca e o seu inseparável pônei cor de rosa embaixo do braço.


- Papai... – murmurou ela, com a voz sonolenta enquanto coçava os olhinhos.


Emmett deixou a cesta de pães sobre o balcão e virou-se para vê-la. Esboçou um sorriso achando-a tão fofinha usando fraldas, com a chupeta na boca e sempre arrastando o pônei para todos os lados. Tão pequenina e tão dependente de seus cuidados paterno. Como pode maltratá-la um dia? Foi o martelou em sua mente.


- Bom dia gotinha do papai – disse ele, indo até ela a pegando no colo. – O que você quer para o café da amanhã? Fala para o papai. Quer cereal? – Julia maneou a cabeça negativamente. – Quer pãozinho com margarina? – ela negou novamente. – Com geleia? – outra vez negou. – Uma frutinha? – novamente ela negou. No entanto, apontou o dedinho indicador para o bolo que estava sobre a mesa. – Ok, você quer bolo com suquinho? – ela maneou a cabeça afirmativamente. – Acho que o gato comeu a língua da Julinha hoje, porque ela não responde nada para o papai – brincou Emmett cutucando a barriguinha dela.


- Comeu não papai. O gatinho não come linga, só comidinha. Nem tem gatinho nessa casa do papai. Só na foleta da casa da vovó que tem.


- É você está certa gotinha, não tem gatinho aqui. Mas o papai já estava ficando preocupado. Sabia o que o papai estava pensando? – ela olhou para ele com os olhinhos curiosos. – Agora que o gato comeu a língua da Julinha, como é que ela vai conversar com o papai? E como é que ela vai falar que eu sou o papai mais lindão desse mundo? – ele deu uma piscadela ao finalizar sua fala.


Julia olhava para ele, ameaçando um sorriso. E quando Emmett beijou seu rostinho, ela encostou a cabeça no ombro dele. Ergueu sua mãozinha e afagou o queixo do pai.


- Papai bonitinho... – murmurou ela.


Emmett segurou a mãozinha, que afagava seu queixo, depositando um beijo na palma.


- Vamos retirar essa fralda cheia de xixi e tomar banho? Depois você vem comer o bolo com o suquinho.


- Não quelo lavá esse cabelo agola – resmungou tocando na própria cabeça.


- O papai não vai lavar seu cabelo agora não. Ele está cheiroso – disse Emmett, após um cheirinho nos cabelos dela.


Julia lhe sorriu revelando suas covinhas idênticas. Era incrível a sensação maravilhosa que Emmett sentia a cada vez que a via sorrir. Houve um tempo remoto onde ele não imaginava que algo assim pudesse existir.


Já no banheiro, Emmett puxou as fitas adesivas da fralda, Julia a empurrou com as mãozinhas, deixando cair no chão, Emmett recolheu e jogou no lixo. Julia levantou os bracinhos para ele poder puxar a blusa do pijama. Antes de entrar no box, ela correu para o peniquinho, que em pouco tempo começou a tocar uma musiquinha. Pai e filha sorriram ao mesmo tempo, o sorriso de um se refletindo no outro. Quando Julia terminou ele juntou os cabelos dela dentro da toca de banho infantil para não molhá-los.


Enquanto Emmett lhe dava banho, Julia descobriu que dava para desenhar no box do banheiro devido o vapor. Ela saltitou animada quando começou rabiscar no vidro embaçado. Levou um escorregão e rapidamente Emmett a segurou pela cintura.


- Ei, gotinha, não pode pular aqui, não – Julia estava com os olhos arregalados quando olhou para o pai, assustada pelo quase tombo. – Você viu o que iria acontecer se o papai não te segura a tempo? – Emmett a colocou de pé, mas Julia se agarrou a ele com medo de escorregar novamente. – Está tudo bem agora. O papai está te segurando. Não vou te deixar cair.


Julia apontou o dedinho para os desenhos feitos no vidro do box.


- Eu fiz esse desenho, papai.


Emmett olhou para o box, e lá estavam os rabiscos feitos por ela, inclusive as marcas de suas mãozinhas.


- Que legal gotinha – disse ele. Julia sorriu enquanto o papai lavá-la o seu corpinho. – Agora você vai ter que lavar essa florzinha aí, para gente sair do banheiro. Lava direitinho.


- Papai, titia tem flózinha também, pulque ela é menina que nem a vovó e Julinha.


Emmett sorriu enquanto pegava a toalha de banho dela. Ele a enrolou na toalha e retirou a touca de banho a pegou no colo e levou para o quarto. Depois de ter cuidado dos machucados, que já estavam melhorando, ele a vestiu com um short jeans, de botões em formato de morango. Uma blusinha cor de rosa com a estampa da moranguinho na frente. E nos pezinhos, sandalinhas cor de rosa.


- Papai faz assim – pediu, mexendo nos cabelos, como se tentasse prendê-los no alto da cabeça, em duas chiquinhas, como Esme havia feito no dia anterior.


- O papai não sabe gotinha. Deixa solto mesmo, o papai põe um tic-tac e fica bonito também. Outro dia a vovó ou a titia faz penteado bonito em você.


- Pulque não sabe papai? Eu quelo assim – choramingou, puxando duas mechas de cabelos no alto da cabeça.


- O papai não sabe por que nunca fez isso antes.


- Eu quelo assim papaizinho – insistiu com as mãozinhas nos cabelos.


- Mas o papai não sabe gotinha. Assim está bonito também, filha.


Ela abaixou as mãozinhas, permitindo que o pai penteasse seus cabelos e colocasse um par de tic-tac da moranguinho. Quando terminou, ele a pegou no colo e a levou para a cozinha. Como ainda não tinha comprado a cadeirinha especial para crianças pequenas, Julia ficou de pé na cadeira normal. Enquanto comia, ela furava a fatia de bolo com o dedinho, derrubando farelo sobre o jogo americano.


Após o café da manhã Emmett pegou o notebook para checar os e-mails na sala de TV, enquanto Julia assistia ao Discovery Kids deitada em um puff de couro preto. Seus olhinhos azuis vidrados na tela da grande TV de plasma enquanto começava o desenho da ratinha, Angelina Ballerina.


De repente Julia deu um salto, ficando de pé, apontando o dedinho para a tela da grande TV.


- Olha papai. Olha, que linda – seus olhos estavam extremamente atentos, quase arregalados, enquanto falava.


Rapidamente Emmett desviou a atenção da tela do notebook e olhou para a filha, que saltitava em frente a grande TV, apontando o dedinho para aquela direção.


- Que linda! – ela repetia sem desviar o dedinho. – Ela tem uma opa de bailalina também. Uma bailalina cô de osa. Muito linda.


Julia estava surpresa, era a primeira vez que via aquele desenho. E Emmett, surpreso com a reação dela. Julia correu até onde o pai estava depois voltou para perto da TV.


- Tão linda, papai.


Emmett sorriu pensando. “Pelo jeito vai ser tão apaixonada por ballet quanto à tia”. “Ontem não quis tirar a roupa, hoje fica toda empolgada ao ver uma ratinha usando roupas e ballet.”


- Uma ratinha que dança ballet, filha? – perguntou, arqueando uma sobrancelha.


- Uma atinha cô de osa, muito linda, papai.


A ratinha chamada, Angelina Ballerina, fazia passos de ballet no desenho, e Julia observava sem ao menos piscar, achando tudo aquilo uma graça.


Durante toda a manhã Emmett esteve ocupado realizando algumas ligações e respondendo alguns e-mails importantes. Julia se manteve distraída assistindo desenho. Tomou um Danoninho antes do horário do almoço. Por volta das treze horas o almoço foi entregue, esse veio especialmente da casa de Esme. Julia deu trabalho para comer, insistiu que queria salsicha, apenas salsicha, mas Emmett disse que não tinha. Depois que Emmett fez desenhos com a comida no prato, e sugeriu uma ida ao playground, ela comeu bem pouquinho.


Como prometido, Emmett desceu um pouco com ela, e a empurrou no balanço. Ele a colocou no alto do escorrega e deu a volta para esperá-la. A fotografou em vários momentos, com o tablet, sempre sorrindo junto filha, de seu jeitinho e reações a cada descoberta. Poder brincar sem medo, e sentir-se feliz, era algo que a pequena Julia estava descobrindo aos poucos.


Cerca de uma hora depois, quando Julia já estava com as bochechas coradas, eles voltaram para o apartamento. Emmett lhe deu banho, e, dessa vez, lavou os cabelos. Cuidou novamente dos machucados. Sempre que dava banho em sua filhinha o remorso o atingia, ao ver as cicatrizes das torturas que ela fora submetida por três anos. Vestiu nela um vestidinho floral que fazia par com uma legging rosa bebê. Nos pezinhos ele colocou um par patilhas bege.


Emmett a deixou no quarto, onde ela enfileirou as bonecas, sentadas na cama, com pequeninas xicaras de chá, junto ao porta-retratos com a foto de Rosalie, e o seu inseparável pônei, o Carinho, enquanto ele tomava banho na suíte do casal.


[...]


Na noite anterior Rosalie havia dormido melhor que nos últimos dias. Sentiu, pela primeira vez desde que chegara a casa dos pais, que poderia ter esperanças de voltar a ser feliz. Ter conseguido conversar com o marido sem brigas havia lhe enchido de esperanças.


Como a maioria de suas coisas estavam em Detroit, no apartamento do casal, ela precisou, nos últimos dias, fazer compras em San Diego. Mas para a viagem que teria logo mais, ela preparou apenas uma mala com itens básicos, e quando chegou o horário Ryan foi levá-la ao aeroporto. Grace se despediu da filha e lhe desejou boa sorte. Disse que desejava que se acertasse com o marido, mas se sentisse que deveria voltar a aceitaria de braços abertos. Como mãe, Grace sabia que nunca poderia negar amparo à filha. Assim como também sabia que ela estava muito ferida por não poder realizar o sonho de uma vida.


Rosalie estava no aeroporto, em frente ao balcão da companhia aérea, fazendo o Check-in enquanto Ryan aguardava fora da fila. Quando tudo estava ok, Rosalie recolheu seus documentos juntamente com a passagem aérea. Como sua mala era pequena, apenas recebeu a identificação necessária para embarque. Ela voltou para perto do pai com um sorriso ansioso. Ryan a abraçou e beijou sua testa.


- Preparada, querida? – perguntou, com as mãos nos ombros de Rosalie, após o abraçou.


Rosalie afirmou com um maneio de cabeça.


- Acho que está na hora de ligar para ele... – murmurou, sentindo um frio na barriga. –Daqui a pouco o voo será anunciado e eu fiquei de dar mais informações antes de embarcar.


Ryan beijou o rosto da filha e se afastou lhe dando espaço para poder mexer na bolsa. Rosalie abaixou a cabeça remexendo no interior da bolsa repleta de itens pessoais em busca do aparelho e, quando o encontrou, ouviu um toque, mas não era do seu celular, mas sim do de Ryan.


Ela direcionou sua atenção ao pai quando o viu levar o celular ao ouvido. Viu a expressão dele mudar rapidamente de tranquila para preocupa. Ryan olhava para a filha, que o encarava, enquanto ouvia o que a pessoa do outro lado da linha falava.


- O que aconteceu? – precipitou-se Rosalie, esquecendo-se do que iria fazer.


Ryan fez sinal para que ela aguardasse um segundo. Então ele ouviu mais algumas palavras, da parte da pessoa do outro lado da linha, e concordou com o que quer que fosse. A ligação fora finalizada, ele guardou o celular no bolso sem desviar do olhar preocupado da filha.


- Sua mãe... – murmurou Ryan, com a voz carregada de preocupação.


- O que? O que tem a mamãe? – Rosalie praticamente suplicou, mesmo temendo a resposta.


- Ela passou mal. Estão levando-a para o hospital agora.


- O que? Mas como? – exigiu uma Rosalie com olhos arregalados.


Ryan prosseguiu. – Grace estava no jardim quando a nossa vizinha, Emma, viu, o que parecia ser um desmaio. Emma correu até lá e chamou uma ambulância, que chegou em poucos minutos. Ela está com eles agora, a caminho do hospital.


- Mas o que tem a mamãe?


- Emma disse que minutos antes Grace e ela conversaram através da cerca do jardim e que sua mãe disse que estava sentindo dor no braço esquerdo, mas que não deveria ser nada. Que passaria logo. Mas ela se enganou, e antes de alcançar os degraus da varanda desmaiou. Quando os paramédicos chegaram disseram que era um principio de enfarto e a levaram rapidamente para o hospital.


Enquanto a mente de Rosalie absorvia a informação, o voo para Detroit teve sua primeira chamada, mas aos seus ouvidos aquilo soou bem distante, como se ela estivesse em outra dimensão.


Rosalie olhou de um lado para o outro sem saber o que fazer. Precisava resolver, de uma vez por todas, a situação de seu casamento com Emmett. Precisava saber o que ele tinha de tão importante para lhe dizer, mas o destino, mais uma vez, decidiu brincar com suas vidas, lhe impondo mais uma prova no caminho.


- Pai... – sussurrou ela, aflita.


- Vá para Detroit. Vá conversar com seu marido e tentar salvar seu casamento – rapidamente Rosalie maneou a cabeça negativamente, como se fosse uma criança assustada cujo pai pedia que enfrentasse o perigo para salvar sua vida. – Sua mãe vai ficar bem. Os médicos vão cuidar bem dela. Eu estarei aqui com ela – Rosalie continuava negando. – Grace é forte, ela vai ficar bem.


- Não papai... Não posso fazer isso. Não posso entrar em um avião sabendo que minha mãe está a caminho de um hospital. E se for ainda mais sério do que imaginamos?


O voo para Detroit teve sua segunda chamada, enquanto pai e filha se olhavam, sentindo o mesmo sentimento de medo. Entretanto, Ryan não tinha intenção de desfazer os planos da filha, continuou insistindo para que ela fosse. Ele sabia que Grace queria que fizesse isso.


- Vá! – disse Ryan, apontando para o portão de embarque.


 Rosalie negou com a cabeça mais uma vez. – Eu vou ficar – afirmou. – Irei para o hospital com você. Minha conversa com Emmett pode esperar mais alguns dias. Para quem já esperou um mês, dias a mais não fará diferença.


O voo teve sua última chamada. Rosalie ficou segurando o puxador da mala, com cara de choro. Viu sua necessidade de falar com Emmett ficando em erguendo plano, embora isso também afetasse seus sentimentos. Mas, estar ao lado de sua mãe, naquele momento, havia se tornado mais importante.


Ryan segurou a mão, que segurava o puxador da mala. Rosalie abriu os dedos e Ryan pegou a alça do objeto. Com o braço livre, ele abraçou a filha e a trouxe para perto de seu corpo. Rosalie o abraçou e recebeu em troca um beijo no topo da cabeça.


Juntos, pai e filha caminharam em silêncio de volta ao estacionamento. Ryan abriu o porta-malas de seu veículo, guardando a mala da filha novamente. Fez a manobra e saiu do estacionamento em silêncio enquanto Rosalie olhava para fora através do vidro da janela, distraída em seus pensamentos. Quando uma lágrima escorreu em seu rosto, ela passou a mão secando-a.


- Sua mãe vai ficar bem, filha. Vamos não se desespere – Ryan tentava tranquilizá-la, escondendo por trás de sua calma que também estava com medo. Ele amava Grace desde que se conheceram na juventude, de forma alguma conseguiria ficar sem ela. Embora, às vezes, Grace tivesse o temperamento forte. Temperamento esse que a filha herdara e ele as amava mesmo assim.


- E se não ficar... – Rosalie sussurrou, como uma criança perdida na incerteza do medo.


Ryan segurou a mão dela com um breve aperto.


- Vamos evitar pensar nisso agora, está bem. Vamos pensar que tudo vai ficar bem. E em breve você poderá falar pessoalmente com seu marido.


- Está bem – concordou Rosalie, afagando o braço do pai.


[...]


Minutos mais tarde, Rosalie estava sentada na sala de espera do hospital, para o qual levaram sua mãe, a espera de notícias de seu estado de saúde.


Seus olhos e a ponta de seu nariz estavam levemente vermelhos. Em seu rosto havia caminhos de lágrimas. Distraída com seus próprios pensamentos Rosalie nem notou quando Ryan se aproximou e sentou ao seu lado. Somente se deu conta de sua presença quando ele passou o braço em volta de seus ombros e a trouxe para descansar em seu peito.


- A mamãe vai ficar bem, Rose – ele lhe sussurrou enquanto encostava seu rosto nos cabelos dourados da filha.


- Como ela está? Foi mesmo o que a Emma falou? Será que já podemos vê-la?


Emma, a vizinha dos Hale, estava afastada, em um canto da sala, colocando um pouco de água em um copo descartável para Rosalie beber.


- Ainda não. Os médicos estão finalizando os exames. Vai demorar alguns minutos até instalá-la em um quarto. Vamos manter a calma e aguardar mais noticias.


Rosalie esboçou um sorriso fraco, imaginando a reação da mãe quando descobrisse que ela não embarcou como tinha garantido.


- Ela vai achar que a enganei... Que nunca tive a intenção de voltar para Detroit. Ela sabe que eu o amo, por isso fala aquelas coisas. Ei sei que ela só fala porque sabe que, de alguma forma, suas palavras irão ficar martelando em minha cabeça. E ela tem razão. Preciso mesmo me resolver com Emmett. Não podemos ficar desse jeito.


- Grace vai ficar bem, querida. Sua mãe é uma mulher forte. E você puxou a ela, sabia?


Rosalie sorriu fracamente, passando ambas as mãos no rosto, secando as lágrimas. Emma se aproximou e lhe entregou o copo com água.


- Obrigada, Emma – Rosalie agradeceu, levando o copo à boca, tomando um pequeno gole. Ela suspirou antes de tomar mais dois pequenos goles e dispensar o copo na pequena mesinha ao lado do sofá de espera. Ajeitou a postura, ainda com o braço do pai em volta de seus ombros, e pegou o celular na bolsa.


- Vou ali fora tentar falar com Emmett pelo celular. Eu já voltou, pai. Qualquer coisa, se eu não estiver aqui, por favor, me procure.


- Leve o tempo que precisar filha. Eu estarei aqui esperando por noticias.


Rosalie ficou de pé, caminhou devagar até as portas duplas da sala de espera e as empurrou. Caminhou pelo corredor vazio até encontrar um banco de madeira branco, onde se sentou, começando a procurar o contato de Emmett na agenda do celular.


Rapidamente deu início a chamada. Enquanto a ligação era realizada, com o celular ao ouvido, inclinou a cabeça levemente para trás encostando-a a parede fria do corredor hospitalar.


[...]


Emmett estava na cozinha preparando um lanche para Julia quando ouviu toque de seu celular, que estava sobre o balcão. Ele se aproximou e sorriu consigo mesmo ao notar que era uma chamada de Rosalie. Seu coração se encheu de esperança imaginando que ouviria informações a respeito de seu retorno.


- Oi amor – disse ele, feliz, sorrindo para o nada. – Você já comprou a passagem? Para que horas é o voo?


- Emmett... – ela o interrompeu, com a voz chorosa ao lembrar-se do porque de não ter embarcado como prometera.


O sorriso de Emmett se desfez quando capturou a angustia por trás do timbre de sua voz.


- Rose... – murmurou ele, deixando os ombros cederem, sentindo-se um fracassado.


- Eu não poderei ir... – revelou, fechando os olhos, esperando a reação explosiva do marido estressado que conhecia.


Entretanto, Emmett respirou fundo, controlando a vontade de esbravejar por achar que era mais uma das desculpas de Rosalie para não vir ao seu encontro. Julia brincava no quarto de hospedes, temporariamente seu, e ele não quis assustá-la. Empurrou o pratinho com bananas amassadas e a lata de farinha láctea para o lado, espalmando a mão livre sobre o balcão.


- Primeiro você me fez acreditar que viria hoje ao meu encontro. Não consegui nem dormir direito pensando em sua chegada. Esperando um telefonema seu, com mais detalhes, como havia prometido. E agora você me liga somente para avisar que não vem. Que tipo de brincadeira você pensa que está fazendo Rosalie? Parece que sou o único que está tentando salvar esse casamento...


Rosalie o interrompeu.


- Emmett você pode, por favor, me escutar?


- Para que? Para você dizer que não vem. Que nosso casamento está mesmo fadado ao fracasso.


- Minha mãe acabou de ser hospitalizada... – confidenciou, beirando as lágrimas, pelo medo de perder a mãe e pela tristeza em ver o caminho que seu casamento havia tomado. Mesmo se amando eles não conseguiam se entender, porque faltava juntar as peças do quebra-cabeça.


De repente a expressão de Emmett mudou, de frustração e raiva, para preocupação.


- O que aconteceu com sua mãe?


- Pelo pouco que sabemos, foi principio de enfarto. Não temos certeza ainda de que ela ficará bem. Ainda estão terminando os exames. Disseram para mantermos à calma que a situação estava controlada, mas não voltaram ainda com mais informações. Estou com medo de que seja muito sério e ela precise de algum tipo de cirurgia, ou aconteça algo pior... – Rosalie soluçou, mesmo tentando se controlar.


Emmett suspirou. Decepcionado por ela não poder vir, mas preocupado por ela estar passando por isso sozinha. De repente ele ficou em silêncio pensando no que fazer. Sabia que deveria ir até lá, abraçá-la, apoiá-la, garantir que tudo acabaria bem. No entanto, havia Julia. Mesmo que Rosalie já soubesse de sua assistência na vida de Emmett, não poderia levá-la para um hospital. Mas também não podia falar a seu respeito assim, por telefone, e, ainda por cima, em um momento como esse, de incerteza e dúvida.


Preocupada com o silêncio repentino do marido, Rosalie tentou fazê-lo entender.


- Emmett não fica bravo comigo. Eu juro que comprei a passagem e cheguei até a fazer o check-in, mas o meu pai recebeu uma ligação minutos antes de eu embarcar que acabou mudando os nossos planos...


- Não estou bravo. Só estou pensando... Sei que agora sou eu quem deveria ir até aí. E, por Deus, como sinto sua falta, Rose. Mas é que não sei o que fazer depois do que aconteceu aqui. Não posso te falar por telefone. Precisa ser pessoalmente.


- Eu sabia que tinha algo acontecendo. Minha intuição não falha – sussurrou Rosalie. – Mas o que pode ser Emmett?


- Não podemos falar sobre isso por telefone, Rose. Também não posso passar muitos dias fora da cidade, mas vou tentar ir até aí. Se eu conseguir, irei ainda hoje. Quero ficar perto de você, mesmo que não queria minha presença. Não posso ficar aqui sabendo que está sofrendo com o medo de perder sua mãe. Mesmo que minha visita seja breve quero que sinta que estou ao seu lado. Me envie, com mais calma, o endereço do hospital por e-mail ou uma mensagem de texto. Ou de qualquer outro lugar onde eu possa te encontrar, caso não esteja na casa dos seus pais, quando eu chegar aí.


- Tudo bem. Eu farei isso – garantiu.


- Poso esperar?


- Pode.


Rosalie viu o pai apontar no corredor a sua procura. Quando ele a viu, acenou para que fosse ao seu encontro.


- Emmett eu preciso desligar agora. Acho que meu pai acabou de falar com os médicos. Preciso ir até lá. Nos deseje sorte – pediu, angustiada.


- Toda sorte do mundo, meu amor.


Rosalie deslizou o telefone pelo rosto ao finalizar a ligação. Preocupada e com medo do que iria ouvir, ela caminhou ao encontro do pai, guardando o celular de volta na bolsa.


Emmett dispensou o celular sobre o balcão pensando em como faria para ir até lá, tendo Julia para cuidar. Ele puxou para mais perto o pratinho com as bananas amassadas e a farinha láctea, distraído nem viu Julia chegar à cozinha.


- Papai, o Calino tá com fominha.


- É, mas será que é só o Carinho que está com fominha? Vem cá – ele a chamou estendendo os braços. – O papai amassou bananinha com farinha láctea para você.


- E plo Calinho também?


- Pro Carinho Também – respondeu ao pegá-la no colo e sentá-la sobre o mármore do balcão da cozinha.


Emmett beijou o rostinho dela antes de pegar a colherzinha e enche-la com banana amassada. Julia abriu a boca e Emmett lhe serviu, imitando um aviãozinho. Mas quando ela fechou a boca novamente que sentiu a textura da banana fez cara de nojo, colocando a língua para fora.


- O que foi? Não gostou?


Ela negou com um maneio de cabeça.


- Assim não goti – disse ela ainda mexendo a língua com nojo.


Emmett empurrou o prato para o lado e pegou outro.


- E se o papai fizer assim? – perguntou cortando as bananas em rodelas.


Julia olhava o que ele fazia, mexendo as perninhas enquanto segurava Carinho no colo. Emmett colocou por cima uma pequena quantidade de farinha láctea, depois pegou uma rodelinha com a colherzinha e colocou na boca dela. Dessa vez, Julia comeu sem fazer cara de nojo. Emmett sorriu, sabendo que dessa vez tinha acertado.


Após um longo suspiro ele sentou em um dos bancos e entregou a colherzinha para Julia, que colocou Carinho do outro lado do prato e começou a comer as bananas, enquanto Emmett comia a metade de um melão. Ele perguntou se ela queria, mas Julia negou, dizendo que nem ela nem o pônei gostavam daquilo.


Quando Julia terminou, ele a pegou no colo e a levou para a sala onde teriam uma breve conversa. Emmett sentou-se no sofá com ela no colo. Antes de falar afagou os cabelos finos da filha.


- Gotinha, você vai ter que ficar um pouquinho com a vovó e o vovô porque o papai vai precisar sair.


- Não – ela negou, reforçando com a cabeça.


- O papai vai visitar uma pessoa que está dodói.


- Quem fez o dodói nela? – perguntou preocupada.


Emmett beijou seu rostinho. – Não foi ninguém gotinha. É que às vezes as pessoas ficam dodói mesmo sem ninguém machucá-las. Assim como a sua titia que machucou o pezinho. Não foi ninguém, mas machucou.


- E ela tá cholano? Tá com medo? O Calinho tem medo.


- Não. Ela não está chorando. Talvez ela esteja com um pouquinho de medo. Ela deve estar dormindo um pouquinho agora. Mas o papai precisa ir até lá para dar apoio a uma pessoa que ficou triste porque gosta muito da que está dodói.


- Dá um ablaço nela papai que ela não fica tliste.


- O papai vai dar um abraço nela, bebê. Mas para isso eu preciso que você fique com a vovó e o vovô – Julia abraçou o pescoço do pai, sem soltar Carinho, negando-se a separação. – Você fica com eles até o papai voltar?


Agarrada ao pescoço do pai ela disse:


- Quelo ficá com você papai...


- A titia e o titio também vão estar lá. Você não quer brincar com eles? Brincar de ser uma bailarina com a titia? Montar castelos de lego com o titio? Ouvir historinhas contadas pelo vovô e comer bolinho de chocolate feito pela vovó? E ainda receber mimos de todos eles?


Julia soltou o pescoço do pai, e olhou para ele menos tristonha.


- Você vai demolá muitão?


- Papai promete que não vai demorar. Então você fica com a vovó, sem chorar?


Ela maneou a cabeça afirmativamente. – Calinho fica também.


- Ótimo – Emmett sorriu e beijou a testa da filha. Julia ofereceu Carinho para ele beijá-lo também. E assim ele o fez, beijou a cabeça do pônei cor de rosa, deixando-a satisfeita com o gesto.


Emmett ficou de pé, colocando Julia no chão. Ela correu pelo apartamento e ele foi para o quarto fazer a malinha dela para ficar na casa dos avós, para somente depois fazer a mala que levaria na viagem até San Diego. Julia o seguiu, e ele segurou sua mãozinha ao entrarem no quarto.


Ela havia prometido que ficaria com os avós, mas aquilo de nada significava que não choraria e Emmett sabia bem disso. Era uma criança muito pequena e estavam desenvolvendo um elo muito forte.


Mesmo Julia adorando os avós e os tios, mesmo não querendo pensar nisso, Emmett sabia que ela choraria. Principalmente quando chegasse a hora de dormir e não o visse por perto. E ainda havia as crises de choro noturna regidas pelos pesadelos, que o preocupava, mas ele tinha certeza de que sua mãe saberia como agir.






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Notas finais do capítulo

Nada saiu como Emmett esperava. Mas pelo menos ele decidiu que vai vê-la. E, bem, ele não falou para Julinha que iria ver a Rose senão ela não aceitaria ficar de jeito nenhum. E considerando a situação pela qual ele está indo, ele não pode levá-la.

Ai essa gotinha, querendo ir buscar a mamãe Ose no carrinho da Barbie. Não chegaria lá tão cedo, coisa linda da mamãe ♥

O capítulo ficou enorme, tomara que tenham gostado.
Para quem acompanha Amor Amigo, pretendo atualizá-la amanhã.

Espero vocês nos reviews :)

Beijo, beijo

Sill