Telling Lies escrita por Yokichan


Capítulo 9
Como conquistar uma mulher vaidosa


Notas iniciais do capítulo

Shipper: Nara Shikamaru x Yamanaka Ino
Classificação: +13



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Ele não se lembra quando aquilo começou.

Apenas viu-a arrumando o cabelo um dia desses enquanto caminhavam juntos para qualquer lugar, tão bonita — e sensual — ajeitando as presilhas com aquelas unhas pintadas de cor-de-rosa, e soube que estava perdido. Já não eram mais crianças brincando de ninja, haviam crescido e mudado — as curvas do corpo dela agora costumavam perturbá-lo —, e a descoberta o assustou um pouco. O tempo havia passado e só então ele se deu conta disso.

E agora estava ali, tremendamente apaixonado por aquela garota.

Foi então que Shikamaru decidiu conquistá-la.

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Antes disso, porém, foi aconselhar-se com quem entendia do assunto. E se havia alguém naquele mundo que sabia ler a alma feminina — depois do finado Jiraiya, é claro — era Hatake Kakashi. As mulheres viviam se jogando aos seus pés, mesmo as casadas, e Shikamaru pensou que aquilo era um bom sinal, pelo menos no seu caso. Ele com certeza poderia lhe dizer por onde começar.

E depois da terceira dose de sake, tomou coragem suficiente para perguntar:

— Então, como se conquista uma mulher?

— Depende. — Kakashi bebeu mais um gole. — Uma mulher de que tipo?

— Do tipo... Vaidosa.

— Ora, mas isso é fácil. — e abriu um sorriso torto. — Com presentes.

Presentes.

Shikamaru perguntou-se como é que não havia pensado naquilo antes.

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Hanami*

Eram fins de março e a lembrança de que Ino adorava flores iluminou-o como um holofote. Primeiro, pensou em dar-lhe flores, algo romântico como um buquê, mas então percebeu que seria a coisa mais estúpida que alguém como ele poderia fazer. A família dela era dona de uma floricultura, não era? Então teve a idéia de levá-la para o festival das cerejeiras na cidade vizinha. Um passeio a dois.

Parecia perfeito.

E sentindo-se receoso e empolgado ao mesmo tempo, sem saber ao certo o que fazer com as mãos, Shikamaru vestiu sua melhor roupa — nada do colete surrado de Konoha que ele usava todo dia —, preparou as palavras certas na ponta da língua — “hey, Ino, estava pensando se você não gostaria de ir ao Hanami comigo” — e caminhou até a casa dela com um par de ingressos nos bolsos. Bateu na porta e esperou, o coração querendo subir pela garganta. Então quando pensou que ninguém apareceria, a porta se abriu e o Sr. Inoichi o encarou com uma sobrancelha erguida.

Shikamaru começou a suar frio.

— Ah, é você, Shikamaru.

— Bem, sim... Eu gostaria de falar com a Ino.

— Ino? Oh, não. — e abanou a cabeça. — Ela saiu mais cedo com a Sakura.

Droga.

Ele murmurou qualquer coisa em resposta e virou-se para ir embora, os ombros pesados de fracasso e todos os seus planos sendo engolidos por um buraco negro de decepção, quando o Sr. Inoichi falou, ainda parado na porta:

— Elas foram ver o festival das cerejeiras, você sabe.

Mas tudo o que Shikamaru sabia era que estava se sentindo ridículo.

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Aniversário

A casa dos Yamanaka era como um vaga-lume gigante no escuro da noite. Podia-se ouvir o burburinho de vozes e a música animada do outro lado de Konoha — o Sr. Inoichi havia contratado músicos especialmente para o aniversário da filha. Garotas de vestido e salto alto conversavam e soltavam risinhos cúmplices amontoadas nos sofás da sala de estar e os garotos confabulavam pelos cantos com copos de bebida que estavam sempre meio vazios. Naruto e Sasuke discutiam por uma bobagem qualquer e Chouji atacava os garçons que passavam com bandejas de salgadinhos pra lá e pra cá. Ino apenas sorria de tudo e para tudo, linda em seu vestido vermelho como nada que Shikamaru já tivesse visto na vida.

Ela estava fazendo dezoito anos.

Ele simplesmente não pôde tirar os olhos dela durante toda a festa — e de suas pernas e de seu decote e de seus olhos azuis como o céu e de seus lábios pintados de batom vermelho —, e quando a maioria dos convidados já tinha ido embora e seu pai cochilava numa poltrona com a gravata meio torta, ele a pegou pelo braço e fugiu com ela para o jardim. Eles se olharam em silêncio durante um tempo longo demais e Ino sorriu.

— O que foi? — ela quis saber.

— Bem, eu... — ele enfiou as mãos nos bolsos e pigarreou.

O que era mesmo que ele tinha pra dizer?

— Você...? — Ino ergueu as sobrancelhas, um meio sorriso vermelho no rosto.

— Eu só queria...

— Ino! — Sakura gritou lá de dentro. — O Akamaru está mordendo seu sofá!

— Oh, meu Deus! — e virou-se para a casa. — Eu já vou!

Shikamaru deixou os ombros caírem e perguntou-se como diabos poderia fazer aquilo quando o maldito cachorro estava destruindo a casa e ninguém os deixava em paz por míseros cinco minutos. Além dos mais, a garota parada à sua frente era tão bonita que toda a sua coragem nunca durava muito, de qualquer jeito.

Ela o encarou outra vez e ele abriu um sorriso amarelo.

— Então, você estava dizendo o que mesmo?

— Ah, só que a festa estava muito divertida.

Ino piscou, esperando por uma coisa que não viria. E quando retornou para as luzes da casa, os longos cabelos loiros balançando às suas costas, Shikamaru cobriu o rosto com as mãos em garras e sentiu vontade de uivar. Que droga tinha sido aquela de “a festa estava muito divertida”?

Ele nunca havia se sentido tão idiota. Porque parecera mesmo um idiota e porque a caixinha com os brincos de pedra azul que ele havia comprado para ela ainda estava no bolso de sua calça.

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Dia dos namorados (White Day*)

Há um mês, Shikamaru havia aberto a porta de casa e encontrado um pacotinho de chocolates pendurado no trinque. Estava embrulhado com um papel colorido com estampa de flores e nele havia o nome de Ino. Os bombons eram tão bonitos, em forma de coração, que ele quase teve pena de comê-los. Então quando chegou o White Day, ele comprou uma linda caixa de chocolates — que lhe custou os olhos da cara — e esperou escondido do outro lado da rua até que ela saísse da floricultura no final da tarde.

Ensaiou por horas o que dizer a ela e, quando chegou o momento, havia decorado palavra por palavra. “Ino, sei que isso pode parecer estranho, afinal temos sido amigos por tanto tempo, mas você quer ser minha namorada? Eu te amo.” Mas outra vez sentiu como se todas as luzes tivessem se apagado e ele caísse numa escuridão sem fim. Ela estava saindo da floricultura e indo embora pra casa.

Com os braços cheios de caixas de chocolate.

Quantos malditos admiradores ela tinha? Mas não importava. Shikamaru apenas deu de ombros e pensou que agora não importava mais. Sentiu vontade de jogar fora os bombons que havia comprado para ela. Afinal, que diferença faria mais um para quem já tinha tantos?

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Natal

A Hokage havia dado uma festa de Natal para os shinobi da vila e então ele estava ali, sentado numa cadeira com um copo de bebida na mão e Chouji falando sem parar ao seu lado — e embora ele não estivesse prestando a mínima atenção, podia apostar uma mão como o assunto era comida. Havia um enorme pinheiro enfeitado com fitas e bolas brilhantes no meio do salão e gente conversando e bebendo por todo lado. Aquele clima de felicidade o estava irritando.

Shikamaru não estava feliz.

Porque Ino estava conversando há horas com um cara que ele não conhecia.

Bebeu o resto do sake num só gole e acendeu um cigarro. Já tinha imaginado todos os assuntos sobre os quais eles pudessem estar conversando e nenhum o agradara muito. Na verdade, ele nem queria que ela falasse qualquer coisa com aquele sujeito. Então começou a pensar em diferentes maneiras de terminar com aquilo e em todas o homem acabava sem a cabeça.

Ino o viu de longe com aquele olhar cheio de trevas e sentiu vontade de rir. Shikamaru estava com ciúmes. Alguém cutucou-a no ombro e ela virou-se para cumprimentar uma antiga colega de turma dos tempos da Academia — e, oh, que mau gosto a mulher tinha para se vestir.

Quando procurou-o novamente, Shikamaru não estava mais lá.

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Tão logo chegou em casa, o rosto ainda duro de raiva, ele pegou uma garrafa de sake do armário, jogou-se no sofá e ligou a TV em qualquer canal. Acendeu seu segundo cigarro naquela noite. Maldito Natal. Maldita Ino. Maldito desgraçado que ele não sabia de onde tinha saído. Xingou baixinho e pensou que iria ficar ali, longe de toda aquela felicidade irritante da qual não fazia parte, bebendo e fumando até que a imagem dela se apagasse de sua mente e ele caísse num sono sem sonhos.

E então tudo ficaria bem, pelo menos até o dia seguinte.

Shikamaru pensou que talvez tivesse conseguido se ela não tivesse aparecido. Virou-se para trás, o cigarro ainda pendurado num canto da boca, e viu-a parada na sua porta, um ombro escorado na moldura de madeira e uma perna insinuando-se pela fenda ousada do vestido. Quase correu para tomá-la nos braços e beijá-la, mas então lembrou-se do quão empolgada ela parecera com aquele homem na festa e voltou-se outra vez para a TV como se não a tivesse visto.

— O que você quer?

— Você foi embora.

— Pensei que estivesse ocupada demais para notar.

Ouviu o som dos saltos dela pelo assoalho e tentou manter-se firme. Ino postou-se na frente da TV, os braços cruzados e um sorriso que desafiava. Ele fechou os olhos — ela estava tão perto que vê-la se tornava insuportável — e suspirou.

— Ino. Saia da frente.

— Não.

— Por que está fazendo isso?

— Quero meu presente.

Ele abriu os olhos e encarou-a surpreso. Como ela sabia?

— Que presente?

— Meu presente de Natal, oras.

— Não comprei nada pra você.

— Está mentindo. — ela sorriu.

— Não estou.

— Mentiroso.

Shikamaru levantou-se e olhou-a nos olhos.

— Pois bem. — disse com raiva. — Já que quer tanto.

— Sim, eu quero.

Então enfiou uma mão no bolso e tirou dali uma delicada presilha de cabelo em forma de borboleta, cravejada de pedrinhas azuis que reluziam como diamante. Pedrinhas azuis como os olhos de Ino. Era a coisa mais bonita que ele já tinha visto numa vitrine.

Colocou-a no cabelo dela e ficou ali admirando-a, sentindo-se um tolo enquanto toda a sua raiva e ressentimento iam embora. Ela tocou a borboleta sobre a cabeça e sorriu — não um sorriso de sarcasmo como antes, mas um sorriso de entrega. Depois enlaçou os braços no pescoço dele e estalou-lhe um selinho nos lábios. Shikamaru baixou o rosto e soltou o ar devagar, sua testa apoiada na dela.

E pensou em como amava aquela mulher.

— Venha. — ele pediu. — Quero te mostrar uma coisa.

Enganchou um braço na cintura dela e a conduziu pelo interior da casa até o quarto escuro. Então acendeu a luz. E Ino viu, sobre a cama de casal que logo também seria sua, os presentes que ele nunca lhe dera. A caixa de bombons envolta numa fita dourada, a caixinha com os brincos e os dois ingressos para o Hanami. Seus olhos se encheram de água e ela voltou-se para ele.

— Por que você...

Ele sorriu e a abraçou.

— Kakashi disse que mulheres vaidosas gostam de presentes.

— Oh, aquele Kakashi... — e riu baixinho, secando as lágrimas.

— Então, funcionou?

Ino puxou-o pela camisa e mordeu-lhe o lábio inferior.

— Se está perguntando se quero ser sua namorada, a resposta é sim.

E pensou que Shikamaru era mesmo um cara problemático.


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Notas finais do capítulo

*Hanami: trata-se de um festival tradicional japonês em que as pessoas se reúnem para apreciar as flores de cerejeira e acontece entre fins de março a meados de abril ou maio, dependendo da região.

*White Day: é celebrado no Japão um mês depois do Valentine’s Day, o tradicional Dia dos namorados. No Valentine’s Day, as mulheres dão chocolate de presente aos homens; e no White Day, os homens que receberam chocolate devolvem o favor às mulheres, presenteando-as também.



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