Telling Lies escrita por Yokichan


Capítulo 3
Seis


Notas iniciais do capítulo

Shipper: Nara Shikamaru x Sabaku no Temari.
T-rated (+16).



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1º dia

            Ela o olhou por cima dos papéis que fingia ler.

            Sentado do outro lado da mesa de reuniões do Kazekage, parecendo achar tudo aquilo muito tedioso, Nara Shikamaru bocejou pela décima segunda vez. E enquanto um dos ministros tagarelava sobre a segurança das fronteiras e toda aquela parafernália burocrática que não a interessava — o negócio dela era lutar —, Temari percebeu os olhos dele espetados em seu rosto.

            Aqueles olhos audaciosos que pareciam desvendá-la.

            E, ruborizada, escondeu-se rapidamente atrás dos papéis.

— Então, Shikamaru, o que pensa sobre isso? — um dos ministros quis saber.

— Vou precisar conversar com a sua Unidade de Inteligência.

            Ela não pôde evitar pensar que a voz dele era tão atraente naquele tom calmo e sério e preguiçoso e fechou os olhos com força na esperança de afastar aquela idéia estúpida.

— Se o Kazekage não se importar, é claro. — ele acrescentou.

— Faça o que precisar fazer. — disse Gaara. — A Unidade de Inteligência está à sua disposição.

            Os outros homens sentados ao redor da mesa começaram a juntar suas pastas e documentos e Temari afastou os papéis da missão da frente do rosto. Tentou não olhar para ele e estava conseguindo.

            Até que o irmão mandou sua concentração para o inferno.

— Aliás, Temari o auxiliará em tudo. Fale com ela sempre que precisar.

O quê? — ela o encarou sem saber onde enfiar o rosto em chamas.

            O Kazekage ergueu uma sobrancelha desdenhosa.

— Algum problema?

— N-Não, é que...

— Então está resolvido. — e enquanto deixava a sala: — Mostre-lhe o caminho.

            Ótimo. E agora ela estava sozinha ali com aquele homem esquisito.

            Quando virou-se para olhá-lo, ele estava bem atrás de si. Perigosamente perto. Havia um cigarro pendurado no canto da boca e uma intenção obscura naquele olhar astuto. Ele soprou uma nuvem de fumaça que a acertou em cheio e a fez tossir enquanto abanava o ar.

— Tire essa porcaria de perto de mim! — ela grunhiu.

           

            E saiu marchando da sala como uma tempestade de areia.

            Shikamaru simplesmente deu de ombros antes de segui-la.

— Problemática...

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2º dia

            Sentada atrás de sua mesa, Temari percebeu que era impossível trabalhar enquanto ele a olhava o tempo todo. Cuspiu uma maldição quando se deu conta de que estava lendo e relendo o mesmo parágrafo do maldito relatório havia mais de meia hora.

            Cruzou nervosamente as pernas debaixo da mesa e virou a folha.

            Silêncio.

            E a sensação constrangedora de estar sendo observada.

            Enfim, ela ergueu o rosto e fulminou-o com o olhar.

— Você não tem mais nada pra fazer?

            Shikamaru parecia muito confortável na poltrona em que estava recostado.

— Estou esperando que me tragam uns relatórios da Unidade de Armas.

— E não pode esperar em outro lugar?

            Irritada, ela tamborilava com os dedos sobre a mesa.

— Não está sendo tão gentil e prestativa quanto o Kazekage disse que seria.

            Havia uma curva de sorriso no rosto dele e Temari sentiu-se estremecer.

— Vá para o inferno. — e virou sua cadeira para o outro lado.

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3º dia

            Ele iria ficar seis dias em Suna.

            Seis dias!

            E Temari não sabia se seria capaz de fingir até lá. Fingir que odiava o cheiro de cigarro dele, quando na verdade estremecia ao sentir as próprias roupas rescendendo a fumaça e a tabaco. Fingir que odiava as horas em que ele passava olhando-a em silêncio, quando se sentia desejada por aquele olhar. Fingir que odiava levá-lo para cima e para baixo pela cidade o dia inteiro, quando gostava do modo como seus braços se tocavam às vezes enquanto caminhavam. Fingir que se sentia melhor na ausência do que na presença dele.

            E isso tudo era tão difícil...

           

— O que vai fazer hoje à noite? — ele perguntou enquanto voltavam do prédio da Unidade de Inteligência.

            O entardecer era um borrão vermelho no céu que se apagava.

— Não é da sua conta.

— Deixe-me adivinhar: ler relatórios tediosos de missões ainda mais tediosas.

— Cale a boca! — e virou-se para encará-lo. — Eu não vou sair com você!

— E quem disse que eu a chamaria para sair?

— É claro que ia!

— Por que tem tanta certeza? Por acaso você estava pensando em sair comigo?

            Temari teve consciência de ter ficado tão vermelha quanto aquele pôr-do-sol.

— Ora, seu...

            E enquanto corria de volta para casa, ela se perguntou como ele havia descoberto.

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4º dia

            Ela estava definitivamente ficando doente.

            Chegou a essa conclusão depois de perceber que começava a suar frio toda vez que ele a olhava fixo, que tinha tremores terríveis quando ele a tocava — e principalmente quando precisavam passar juntos por lugares escuros e estreitos —, que sua voz lhe dava dores no peito e os sonhos que tinha com ele todas as noites só lhe rendiam olheiras no dia seguinte.

            Temari precisava se curar daquela maldição.

            E quando, naquela noite, flagrou-se murmurando o nome dele no escuro, tomou uma decisão: acabaria com aquilo de uma vez por todas.

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5º dia

            Quando planejou aquilo, estava certa do que iria dizer — as palavras estavam todas ali, na ponta de língua. Quando esperou pelo momento certo, tudo estava muito claro e parecia bem simples. Quando se esgueirou no escuro da noite que caía, não havia nenhuma insegurança.

            Era só falar de modo que parecesse verdade e ir embora.

            E esperar que ele também fosse.

            Então quando ele saiu do prédio em que esteve trabalhando o dia inteiro sobre documentos idiotas e mapas empoeirados e caminhava em direção à pousada em que estava dormindo, Temari o agarrou pelo colete e o puxou para as sombras do beco. Mas não previu que ele fosse tão ágil.

            Shikamaru torceu-lhe o braço pelas costas e a prendeu contra a parede.

            Poderia ter sido um ataque inimigo, não poderia?

Me solte! — ela gemeu.

            A força com que ele a imobilizara se foi, mas seu corpo ainda estava bem perto.

— Oh, é você...

— Quem você pensou que fosse, idiota? A Akatsuki?

            Ele a analisou na penumbra do beco e ergueu uma sobrancelha.

— O que estava tentando fazer?

Falar com você!

            Shikamaru acendeu um cigarro e recostou-se na parede em frente a ela.

— Então fale.

— Bem, eu queria dizer que... — o que era mesmo que ela tinha pra dizer?

            Silêncio.

            Os olhos dele a perscrutando no escuro a incendiavam. Temari sentiu-se subitamente sufocada e apoiou-se na parede arenosa às suas costas. De repente a voz havia sumido e a vontade de ser beijada tomara o seu lugar.

            Sentiu que ele se aproximava e não foi capaz de protestar.

— E então?

            Shikamaru encostou seu corpo ao dela e inclinou a cabeça para falar-lhe ao ouvido. Temari parecia feita de cera e o calor a estava derretendo.

— Você não tinha algo para me dizer? — sua voz rouca a fez estremecer.

— Eu...

— Estou bem aqui.

— Pare... — conseguiu pedir num sussurro.

— Parar com o quê? — e seus lábios tocaram-lhe a orelha.

            Temari nunca entendeu como pôde ser tão forte naquele momento.

Pare de me seduzir!

            Ela empurrou-o e ele segurou-a pelo pulso quando estava prestes a fugir.

— Então quer dizer que está funcionando?

            Havia um sorriso nada decente no rosto de Shikamaru quando ela desvencilhou-se e saiu correndo como louca pelas ruas de Suna. Sentia o cheiro dele impregnado no corpo e demorou-se ao menos uma hora no banho, esfregando-se com uma fúria desesperada, para então perceber que não adiantaria. Nada adiantaria.

            Shikamaru a havia marcado por dentro.

           

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6º dia

            Não o viu durante todo o dia.

            Trancou-se no quarto e Kankurou saiu espalhando a quem quisesse ouvir que ela estava com dor de barriga. Temari se lembraria de acertar as contas com o irmão depois. Não saiu nem mesmo para comer e a empregada foi levar-lhe a comida numa bandeja só para se assustar com seu rosto amassado e constatar que ela estava mesmo péssima.

            Ela não estava lá quando o Kazekage o cumprimentou solenemente pelos serviços prestados e recomendou lembranças à Hokage. Não estava lá quando ele juntou os seus papéis e as suas poucas mudas de roupa. Não estava lá quando ele deixou furtivamente um bilhete pedindo desculpas sobre a sua mesa de trabalho. Mas quando Shikamaru ia atravessar os portões de Suna, viu-a parada ali e pensou que ela era tão bonita quanto uma flor do deserto.

            Não precisaram dizer coisa alguma.

            Ela simplesmente foi até ele, tirou-lhe o cigarro da boca para jogá-lo no chão e beijou-o. Deixou que ele lhe abraçasse pela cintura e enroscou os braços em seu pescoço. Deixou que ele lhe tirasse o ar até o último segundo, quando se separaram ofegantes e ficaram se olhando em silêncio durante um tempo que pareceu eterno. Deixou que ele desmascarasse sua mentira que, afinal, não enganava ninguém.

            E ele entendeu que ela seria sua toda vez que ele voltasse a Suna.

            A única coisa que Temari disse foi:

— Não demore demais.

            Então o deixou partir.

            Enquanto atravessava aquele deserto que parecia não ter fim, Shikamaru lembrou-se daquele beijo com gosto de areia e sorriu.

            Ela era tão problemática...

           


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Notas finais do capítulo

Ah, como eu adoro esse shipp.
Pessoal, no capítulo anterior recebi só um review. Aí fiquei pensando: será que vocês não leram porque é M-rated? Ou leram e não gostaram? Ou simplesmente nem deram as caras?
OEHAOEHOEHOHEOHEO
Não me deixem no escuro, please.