O belo dia ensolarado foi repentinamente escurecendo, as nuvens negras tomaram o céu, eram esmagadas por raios e marcadas por reflexos luminosos, como se algo estivesse tentando se libertar. A cidade permanecia em suas casas, acometidos pelo medo.

Apesar dos sons horripilantes na rua, Catherine Mills não teve medo, esta era uma das únicas oportunidades que tinha de privacidade. Repousada em seu quarto, sua mente transcendia mundos em uma agradável leitura, criando um refúgio seguro, seu escape do mundo real. Sua maravilhosa jornada foi bruscamente interrompida pelos estilhaços da janela, que fora inundada por uma brisa gelada, acompanhada de uma nuvem de fumaça roxa, que aos poucos irrompia o quarto. Catherine foi banhada por sentimentos desconhecidos, e a calmaria que antes reinava, fora substituída por um turbilhão de vozes em sua cabeça, que pouco a pouco tomavam forma, transformando-se em memórias perdidas.

Lembrou-se de sua infância solitária, de sua adolescência conturbada e da indiferença com que era tratada por seu pai. Imagens de uma mulher presa por seus deveres reais e sombras do homem que a salvou de tudo aquilo, prendendo-a à ele no Dark Castle. Um quadro começou a passar por sua cabeça: seu salvador tornou-se seu senhor, e logo dono de seu coração. Por mais que expulsasse a ideia, Rumplestilstkin conquistou-a a cada dia. Ao contrário de todos, ele era verdadeiro, e demonstrou sentimento deixando-a ir. A partir desse dia, sua vida mudou completamente. Sua espinha gelou ao finalmente perceber que sua vida baseava-se em uma prisão eterna. Mas agora estava livre, e podia partir a qualquer momento.. Instantaneamente foi preenchida pelo medo, receio do que a esperava quando cruzasse a porta rumo à liberdade. O que teria que enfrentar? Sentiu raiva e angústia, pois a causa de todo o seu sofrimento foi Regina, que a enganou e a trancafiou por anos, separando-a de seu grande amor.

A dor de décadas atrás voltou impetuosa, reinando seus sentimentos. Por quatro anos fora sequestrada e encarcerada no palácio, então, pelos próximos vinte e seis anos esteve presa no sanatório da cidade e em seguida enganada pela rainha novamente. Durante os últimos dois anos, assumiu a identidade de Catherine Mills, irmã mais nova de Regina, sendo influenciada a seguir a mesma conduta: fria, calculista e vingativa, sem contar o ódio doentio do dono da cidade e rival da prefeita. Não perdia uma chance de acabar com os argumentos daquele homem tão presunçoso e mau caráter.

Como pode dizer-lhe tantas coisas ruins? Como a mulher doce e gentil que costumava ser fora substituída bruscamente por uma tão amarga, injusta e perturbada?

Perguntas sem resposta saltavam de sua mente, confundindo-a. Deveria pedir perdão ou aproveitar essa segunda chance de recomeçar? O que aconteceria se o procurasse, o que ele diria? Sofrera tanto pela rejeição e presumiu que o Sr. Gold deveria estar sentindo o mesmo. “O amor mata mais que qualquer doença”. Isso foi o suficiente para convencê-la: tinha que encontrá-lo.